domingo, 2 de outubro de 2011

CAETANO VELOSO E A DIVINA MÚSICA DE STEVIE WONDER

QUEM ACREDITA EM CAETANO VELOSO?

Luis Turiba

Que Caetano Veloso tem o extraordinário dom (e poder) de criar polêmicas em torno de suas obras e atitudes, ninguém mais duvida. Sua inteligência sempre subversiva, seu espírito estético crítico de "metamorfose ambulante" chega agora à idade adulta sem perda dessa essência existencial. Sim, e pelo visto (e lido), Caetano acaba de criar mais uma por intermédio do seu artigo publicado hoje (2/10) no Segundo Caderno de O Globo – "Stevie e Zé" -, onde, após divagações teóricas a respeito de conhecimentos e práticas musicais, confessa para susto de milhares de fãs:

"Acredito que, para fazer música, o cara tem que poder fazer algo muito bonito demais ou – o que não é assim tão outra coisa – mexer com o que a Humanidade entende por música." E prossegue: "Sabendo disso, olho com desprezo para tudo o que produzi. Não vejo nada essencial, necessário. Tampouco vejo algo sublime ou arrebatador. Não para quem tem exigências estéticas consideravelmente altas. Por que não me desespero? Por que o sorriso amarelo que ofereço a meu amigo agora é, ainda assim, genuinamente doce? Acho que é porque eu gosto de viver e não poria demandas elevadas ou radicais acima desse gosto."

Uma voz mais alta se levanta para Caetano Veloso fazer confissões tão estranhas e profundas: a música de Stevie Wonder.

"De que vale a vida se não respondemos ao escândalo que é existirmos com gestos igualmente extremos como a fé inabalável em Deus, a dedicação obsessiva a uma pessoa, uma arte, uma causa? Se é só para aumentar a altura do monte de lixo que se produz em arte, música, poesia – sem falar em organizações políticas, hábitos de vida, regras morais -, melhor seria o retiro do asceta, o suicídio dos que se sentem desgraçados, a loucura do que abandona o comércio com seus semelhantes, o niilismo do Homem do Subterrâneo, a alegria terrível do homem-bomba."

E conclui sua negação afirmativa de uma maneira apaixonadamente sublime: "A resposta às perguntas que encabeçam este parágrafo é consistente: a vida vale sua evidência animal – e eu não me sinto no direito de decidir se o que me parece mera contribuição para o aumento do monturo de detritos não pode ser visto como um destino se desenhando segundo volteios da dança do Espírito. E chorei ouvindo Stevie Wonder."

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