quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

OBRA NO PRÉDIO QUE CAIU ERA CLANDESTINA

Obra no edifício de 20 andares não estava registrada no Crea
Conselho acredita que retirada de uma viga é a causa mais provável do desabamento
Isabel de Araújo, Paulo Roberto Araújo, Waleska Borges
Publicado: 26/01/12 - 9h11 

G1- Equipes de resgate trabalham na busca de feridos no desabamento que aconteceu na Rua Treze de Maio Marcos Tristão / O Globo
RIO - O engenheiro civil, especialista em estrutura do Crea, Antônio Eulálio Pedro vistoriou na manhã desta quinta-feira o local onde três prédios desabaram no Centro do Rio e informou que as obras que aconteciam no terceiro e no nono andar do prédio Liberdade, de 20 andares e que desabou primeiro, não estavam registradas no Conselho. O engenheiro responsável já está sendo procurado. A última obra no prédio que teve registro no Crea aconteceu em 2008.


— Pior é que isso é feito por leigos, e a lei pune como contravenção quando deveria ser crime — disse Antonio.
Funcionários da empresa Tecnologia Organizacional, TO, que não quiseram ser identificados, disseram que a firma estava fazendo uma grande obra no nono andar, derrubando até paredes. Pessoas que trabalhavam no Liberdade contam que viram areia caindo dentro do prédio, sobre o elevador. Victor Ferreira, que trabalhava no oitavo andar numa escola de idiomas, viu pessoas reclamando com o zelador sobre o problema por volta das 18h, quando ia para casa.
Segundo Antônio, há três hipóteses para a queda do prédio de 20 andares, o que teria desabado primeiro. O corte de uma viga, com ruptura brusca, a corrosão e infiltração da laje da cobertura ou o entulho de obra como sacos de cimentos, latas de tintas, que provocou o excesso de peso e o rompimento da estrutura. Ele também descarta a possibilidade de vazamento de gás, e diz que o prédio caiu de cima para baixo. Por isso, a hipóteses mais provável é mesmo a de retirada de uma viga.
O Clube de Engenharia criou uma comissão esta manhã, a fim de avaliar as possíveis causas da queda dos prédios. O clube já trabalha com a possibilidade de a tragédia tenha sido provocada por um problema estrutural do prédio de 20 andares, já que, segundo a entidade, 90% dos casos de queda de prédio têm origem na estrutura da construção. À frente da comissão, está o vice-presidente do clube, Manuel Lapa, especialista em engenharia estrutural.
O presidente da Comissão de Análises e Prevenção de Acidentes do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea), Luiz Antonio Cosenza, não descarta qualquer hipótese de causa dos desabamentos. Nem mesmo uma explosão provocada por vazamento de gás, a mais remota das hipóteses.
— Normalmente os prédios do Centro são bem construídos. Não posso afirmar o que provocou os desmoronamentos. Pode ser fruto de outras obras irregulares que mudaram as vigas ou colunas. Depois do resgate das vítimas, é preciso limpar o local para uma melhor análise do que houve — disse Cosenza.
Professor de engenharia geotécnica da Coppe Mauricio Ehrlich acha pouco provável que a queda do prédio de 20 andares tenha sido causada por problemas em sua fundação. Segundo ele, embora a região tenha tido alguns aterros e o solo ali seja de material de baixa resistência e argiloso, o prédio daria sinais claros que poderia cair.
— Se o problema fosse na fundação, haveria fissuras grandes nas paredes. Acho que a hipótese de uma obra ali ter comprometido uma viga ou um pilar é maior do que a fundação. Mas, por enquanto, nada pode ser descartado - disse o professor.
O secretário de Estado e Defesa Civil do Rio, coronel Sérgio Simões, disse no início da tarde desta quinta-feira que a Defesa civil já considera descartada definitivamente a hipótese de que uma explosão por gás poderia ser a razão do desabamento. Segundo Simões, se tivesse ocorrido uma explosão, teria havido a projeção de fragmentos como lajes, janelas e outros tipos de mobiliários que tivessem dentro do edifício a uma certa distância do ponto de desabamento.
- Pela característica do desabamento, a hipótese mais provável é de colapso da estrutura. Resgatamos um operário de uma obra que ocorria no prédio mais alto e, o fato de haver uma obra é um bom indicativo para o início das investigações - afirmou o secretário.
Cerca de 100 bombeiros trabalham no local do acidente. Quinze deles, fizeram parte da equipe enviada ao Haiti em novembro do ano passado, quando ocorreram terremotos na região.
- A situação é muito similar ao que aconteceu no terremoto do Haiti. Pela forma como se deu o acidente e a compactação das diversas lajes, a possibilidade de bolsões de ar vai diminuindo com o tempo - disse o secretário.
O coronel Simões disse ainda que a Defesa Civil está reforçando o trabalho no local do desabamento para tentar concluir o resgate de possíveis vítimas até a noite desta quinta-feira. Segundo ele, isso porque os bombeiros trabalham com o prazo de 24 horas, baseado na expectativa de sobrevida das pessoas que possam estar soterradas.
- O Corpo de Bombeiros sempre trabalha com a expectativa de haver pessoas vivas no local. É nossa esperança. Claro que na medida que o tempo passa, a expectativa diminui. É uma corrida contra o tempo. A nossa meta é chegar à conclusão na noite desta quinta-feira, ou pelo menos, estar muito próximo disso - ressaltou Sérgio Simões.
Prefeito também não acredita em vazamento de gás
O prefeito Eduardo Paes, que logo após a tragédia esteve no local, também não acredita que os desabamentos tenham sido provocados por escapamento de gás. Para ele, deve ter sido um problema estrutural no prédio de 20 andares, que estava em obras. Porém, ele ressalta que ainda é cedo para uma informação precisa sobre as causas da tragédia.
— Há fiscalização permanente da prefeitura dos prédios, e é preciso saber exatamente o que aconteceu, porque existem prédios muito mais antigos e que não têm problemas - ressaltou Paes.
CEG não fornecia gás para prédios que desabaram
Agentes da Companhia Estadual de Gás (CEG) interromperam a passagem de gás para os edifícios da rua. Numa medida de emergência, os funcionários da CEG quabraram à noite as calçadas da Avenida Almirante Barroso, na esquina com a Avenida Rio Branco, para conseguir fechar a tubulação de gás subterrânea. A CEG, porém, informou que não fornecia gás para nenhum dos três prédios que desabaram e que não há registro de pedido de vistoria para esses prédios.
Durante toda a manhã desta quinta-feira, focos de incêndio surgiram no local. Não houve prejuízos ao prédio do Teatro Municipal, nem danos estruturais, de acordo com a assessoria de imprensa da instituição. A única parte atingida por escombros foi a bilheteria, no prédio anexo, mas nenhum funcionário foi atingido.
Cedae também descarta explosão
O presidente da Cedae, engenheiro Wagner Victer, acredita que um problema estrutural tenha sido a causa do desabamento dos prédios na Cinelândia. Ele passou a madrugada no local, disse que não sentiu cheiro de gás e que a hipótese de explosão está praticamente descartada:
— Naquele tipo de construção, as paredes têm função estrutural. A perícia vai avaliar se derrubaram alguma parede que possa ter provocado o colapso na laje do Edifício Liberdade. Ele pode ter inclinado, provocando um efeito dominó, com a queda dos demais prédios - disse Victer, lembrando que ao lado dos prédios funciona o Fundo de Previdência da Cedae.
Segundo Victer, a Cedae, a Light e a CEG se mobilizaram com rapidez, cortando a energia e o fornecimento de gás no local da tragédia. A Cedae fez manobras e cortou o fornecimento apenas na área do vazamento.

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