terça-feira, 27 de maio de 2014

O RIO NA COPA (4)


REAPARECEU O AMARILDO

O homem que substituiu Pelé

 

Ninguém é insubstituível. Nem mesmo Pelé, o melhor do mundo. Quem provou isso foi Amarildo, aquele meia-esquerda do Botafogo, driblador e goleador, que em 1962, na Copa do Chile, entrou no lugar de Pelé, que se contundiu, contra a Espanha e fez dois gols, garantindo a ida do Brasil para as quartas de final.

Pois Amarildo campeão do mundo - ao contrário do outro Amarildo, ajudante de pedreiro que foi preso, torturado, morto e cujo corpo não apareceu até agora-; reapareceu ontem na Blooks Livraria, em Botafogo, na palestra que marcou o relançamento do "Didi, o gênio da folha-seca", de Péris Ribeiro.

 

Amarildo Tavares Silveira nascido em Campos dos Goytacazes, está com 75 anos e teve dois apelidos marcantes na sua vitoriosa carreira: "Possesso", por causa da sua vontade, sua garra e seu destemor em campo – "nunca quis ser reserva de ninguém, nem de Pelé", disse ele ontem – e "Papagaio", porque falava muito o tempo todo.

Amarildo foi um dos mais importantes heróis da minha geração, a que torceu pelo Brasil na Copa de 62, no Chile. Fez um golaço contra a Tchecoslováquia na partida final e deu um passe mágico para Zito fazer o terceiro gol de cabeça. Companheiro de Garrincha, Nilton Santos, Didi no Botafogo, jogou ao lado de Pelé, substituindo Vavá em 1963; ganhando a Copa Roca, contra a Argentina, por 5 a 2.

Ao falar para um pequeno público presente na Blooks Livraria, na praia de Botafogo, ele saudou e desejou boa sorte à seleção de Felipão e lembrou que esses jogadores atuais – David Luis, Daniel Alves, Marcelo, Paulinho, Fred, Neymar – têm uma grande responsabilidade pela frente; responsabilidade perante a nação.

"O drama vivido na Copa de 50, quando o Brasil perdeu a partida final para o Uruguai, ainda existe. O fantasma e a dúvida ainda paira sob o Maracanã. Precisamos vencer essa Copa do Mundo para encerrar de vez esse capítulo. Tenho certeza que seremos campeões do mundo outra vez. É o presente que todos estamos esperando", disse ele.

E mais: "Nunca me considerei reserva do Pelé, ao contrário: sempre quis jogar ao seu lado, o que só aconteceu em 1963 na Copa Roca, quando vencemos a Argentina por 5 a 2 – Pelé fez três e eu fiz dois. Portanto, fui a altura de Pelé e de Garrincha. Sempre fui um jogador livre, adorava driblar, pois o drible é a razão e a magia do futebol. Na minha época os jogadores pertenciam aos clubes. O Botafogo foi para mim uma universidade do futebol. Depois, fui campeão pelo Milan e pelo Florença, na Itália. Nunca fui reserva de ninguém. Queria entrar e decidir. Foi isso que aconteceu em 62. Por isso, tenho orgulho de tudo que fiz. Tenho o nome limpo e o reconhecimento dos brasileiros. Hoje, alguns jogadores passam a maior parte do tempo ajeitando o cabelinho e fazendo publicidade."

Recado mais direto não poderia ser dado. É sempre bom rever esse Amarildo, herói da minha geração em campo e fora dele

 

 

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