terça-feira, 20 de setembro de 2011

UMA TOKIO BEM PRA LÁ DE BRASILEIRA



Roda de samba no bar Alvorada, em Tokio. Todos cantam "Samba, a gente não perde o prazer de cantar"
Fotos de Maxtunay França
 
 Irasshaimasê!
Tokio é uma cidade muito grande para se conhecer plenamente em apenas 10 dias de visita. Por isso, curta ao máximo o que for possível dentro do seu roteiro e aquilo que estiver no caminho dos objetivos da sua viagem.
 
No nosso caso, estivemos lá para filmar cenas e entrevistas para o documentário "Samba no Japão", produção de Maxtunay França, da agência IN9, custeado pelo FAC-DF. Éramos quatro: além do diretor-produtor, o repórter-cinematográfico sergipano Luis Carlos Costa, a cantora de samba japonesa Masako Tanaka, a Mako, nossa intérprete, que mora no Rio e participa do grupo "Mulheres de Chico", e este que vos escreve, repórter do projeto.


Nosso hotel em Asakusa teve localização estratégica: próximo da estação do metrô, perto do rio Sumidagawa e a duas quadras do grande parque onde se localizam pelo menos cinco templos budistas do grande shogun Tokugawa. O templo de Sensoji, também conhecido como Asakusa Kannon, foi fundado no ano 645, sendo o mais antigo de Tóquio com 1300 anos de existência. Cada ano, cerca de 20 milhões de pessoas visitam esse templo, construído em homenagem à deusa Kannon.
A Kaminarimon (Porta do Trovão) dá acesso à rua Nakamise Dori, um bulevar comercial com mais de 90 pontos-de-venda que leva o visitante até Hozomon (Porta do Tesouro), a entrada principal do templo. Nessa via comercial, você poderá comprar uma infinidade de produtos típicos, tais como: osembe (o famoso biscoito japonês), hachimaki (fita típica para a cabeça), kimonos e souvenires dos mais variados tipos.
No recinto do templo de Sensoji, também poderá ver o O-koro, um grande incensório. De acordo com a tradição, a fumaça desse incensório fortalece os fracos e cura os doentes. Se sobrar um tempinho, aproveite para ver o Demboin, um verdadeiro oásis de tranqüilidade e espiritualidade em forma de jardim. O parque é lindo, repleto de flores e de belos recantos, bem cuidado ao extremo e com imagens de Budas aqui e ali. Tudo nesse parque celebra a paz e o bem-estar entre os humanos. É o espaço mais tradicional na capital japonesa.


Antes de visitar o templo principal, você pode participar da cerimônia de purificação. Na fonte sagrada, beba no mínimo três goles de água límpida. Em silêncio absoluto, suba as escadas do templo e vá até o altar de Buda, harmonizado por arranjos florais. Mestres estarão lhe acompanhando nessa cerimônia e, ao final, se você for escolhido, ganha uma pulseira de pedrinhas marrons e brancas - sinal de sorte e prosperidade para sempre.
Há também inúmeros restaurantes tradicionais em torno do Parque Budista. Alimentação à base de arroz, com uma variedade enorme de sushis, tempurás, missoshirus, yakissoba, sunomomo, hamrumaki, sobas e outros pratos que se eternizarão em seu paladar. Lembre-se: toda a alimentação é acompanhada de chás. Arranjos de ikebana e bandeirolas com ideogramas fazem parte do visual.


Ah, sei ! Você quer fugir um pouco do Japão tradicional. Busca a modernidade nipônica, né? Hay! Vão aí duas dicas: 1ª - pegue o metrô Ginza Line (Linha laranja) e vá até a estação de Shibuya, onde fica aquele famoso cruzamento de seis diferentes avenidas e todo mundo atravessa ao mesmo tempo. Na praça de Shibuya você poderá tirar fotografias com a estátua do cão Hachiko, famoso personagem do filme "Sempre ao seu lado" e dar uma volta no entorno para conhecer as lojas mais fashion de Tokio, onde centenas de meninas literalmente fantasiadas como bonequinhas tomagotchis ao estilo de Amy Winehouse. Saias curtíssimas, celulares cheios de correntes e balagandans, saltos altíssimos e andares trôpego cruzando as pernas. Falam o tempo todo ao celular e nunca se tocam. Os rapazes também botam pra quebrar. Quase todos têm as sobrancelhas bem definidas, trabalhadas milimetricamente, usam óculos com aros bem grossos e se maquiam a valer. É a porção gay do Japão.


Mas se você gosta mesmo é de bugingangas eletrônicas, o rumo é outro, o da estação de Akihabara, onde fica o hipermercado Yodobashi, com seus nove andares de aparelhagens digitais. Reserve no mínimo umas quatro/cinco horas para essa visita. É lá que você pode adquirir um tablete iPad 64 gigabites por apenas R$ 1.400,00 ou 65 mil yenes. Por um de 32 gigabites você vai pagar 49 mil yenes, ou mil reais com o compromisso de só abrir o bichinho fora do Japão. Ah, você terá um desconto (tax free), mas a nota fiscal ficará presa no seu passaporte e será recolhida pela guarda alfandegária japonesa.

 

 


MEU JAPÃO BRASILEIRO


A paixão do povo japonês pelo samba brasileiro é coisa antiga e verdadeira, que já está virando tradição. Há mais escolas de samba no Japão do que em Brasília, por exemplo. Enquanto na capital brasileira são três ou quatro no primeiro grupo, lá são 10. Há 31 anos essas escolas desfilam sempre no final de agosto pela avenida principal de Asakusa, fechando o verão no Oriente. Cerca de 500 mil pessoas vão às ruas assistir à folia, todo mundo com máquinas de fotos à mão. Embora com roupas bem mais comportadas (o fio dental ainda não chegou por lá), é aquele festival de flashes em cima das japonesas que falam no pé.
Fomos a Tokio documentar esse encantamento. Esse ano, infelizmente, por causa do terremoto/tsunami não teve o desfile, mas houve um grande encontro promovido pela Liga das Escolas de Samba no porto de Yokohama. Para os brasileiros presentes, foi emocionante e inesquecível. É como diz um samba de Cacá Pereira: "dos meus olhos o Japão/ coisa mais linda/ não sairá/ (...) leva meu samba brasileiro/ sayonara."


Imaginem, pois, uma bateria com 350 japoneses, sendo que só o naipe de cuíca contava 25 instrumentos tirando onda e fazendo um som que lembrava as grandes baterias do Rio de Janeiro. Primeiro, houve um minuto de silêncio. Mas em seguida, resoou o grito de "chora cavaco" e dezenas de agogôs, caixas, repiniques, tamborins, surdos marcando com firmeza e a galera mandando ver no pé e principalmente com os braços.
Durante uma hora todas as baterias tocaram juntas, depois cada qual fez seu show particular. A Escola Alegria, verde-e-rosa como a Mangueira, campeoníssima do carnaval de Asakusa, fez um arranjo para os agogôs, misturando música oriental com samba. Foi de arrepiar.
Mas o samba está presente no dia a dia da cultural nipônica. A japa-carioca Mako, por exemplo, fez uma temporada de 15 shows do show Brasileiríssima, nesse verão japonês. Se apresentou, inclusive, com o virtuoso trio Choro Club, no pub Livehouse, cantando sambas de Guilherme de Brito e Nelson Cavaquinho. Também houve rodas de samba nos bares "Folha Seca", "Praça 11", "Balança mas não cai", "Alvorada", todos localizados em diferentes bairros de Tokio. Lá, entre tantas atrações, podemos ouvir a japonesa Yoshimim Katayama, que canta choro e se considera sucessora da veterana Ademilde Fonseca. Isso sem falar do legendário produtor Katsunori Tanaka, que gravou mais de 15 CDs com históricos sambistas brasileiros no Japão, entre os quais a Velha Guarda da Portela, Monarco, Xangô da Mangueira, Guilherme de Brito e Nelson Sargento.


Metrô, uma cidade por baixo de Tokio


O metrô que serve à capital japonesa – Tokio Subway – é uma história (cidade) à parte e traduz muito bem o espírito tecnológico e a praticidade nipônica. Olhando o seu mapa, super colorido e repleto de ideogramas, vamos descobrir uma plástica teia de linhas, estações, entrocamentos que as vezes chegam a quase meio quilômetro abaixo da terra com jardins, passarelas, shoppings e restaurantes.
São 13 linhas com cores e nomes diferentes e outras seis de trens urbanos, inclusive os trens-bala e os expressos, que se conectam entre si em mais de 200 estações diferentes e transportam diariamente mais de cinco milhões de pessoas. De Narita, você pode pegar um trem direto para Tokio, estação de Asakusa, e depois fazer conexões. São 40 minutos de viagem e custa 400 yenes.
Para um visitante estrangeiro (brasileiro, principalmente), mergulhar numa cidade de transporte como o metrô de Tokio, pode parecer um desespero e uma aventura sem saída. Mas, (vírgula aqui) muita calma nessa hora. Com um mapa na mão e um inglês básico, você chega até com facilidade ao seu destino. Os guardas, sempre de camisa social listrada e quepe, são atenciosos e pacientes com turistas.
O "Route Map" vai lhe indicar o rumo. Guarde-o sempre, dentro do passaporte. No mais, dinheiro para comprar o tíquete e saber exatamente aonde deseja ir. O preço da passagem (em yen, é claro) você vai descobrir no mapa em inglês que fica ao lado das máquinas. Da estação de Asakusa até Shibuya, por exemplo, custa 190 yenes. Você pode colocar até dez mil yenes,(vírgula aqui) que a máquina irá lhe devolver em fração de segundo seu troco direitinho, sem tirar nem pôr.
Toda estação de metrô é muito bem sinalizada. É só seguir a cor da linha que você vai usar e ir passando pelas catracas. Mas cuidado: não ande na contra-mão, que você pode ser atropelado pela multidão que vem em sentido contrário. Japonês quando se esbarra não pede desculpas. Por isso, olhe para o chão e siga as setas. Às vezes há umas cinco catracas pra entrar e outras tantas pra sair. É só colocar o tíquete e a máquina lhe devolve. Depois da viagem, na saída, a catraca fica com o bilhete.
O povo japonês não se comunica no metrô, onde é proibido falar no celular. Mas todo mundo fica plugado. Ninguém olha pra ninguém. A individualidade é super-preservada. Todos teclando seus celulares o tempo todo. Passando mensagens, respondendo, fazendo joguinhos. Ou lendo livros e jornais, de trás pra frente e na horizontal.
Uma da madrugada o metrô pára. Bem à noite, depois de jornadas de trabalho que duram até 12 horas seguidas e muitas doses de saquês, os japoneses apagam na viagem de volta para casa. Alguns dormem em pé, aproveitando o trem cheio.
Nos vagões, o serviço de comunicação com os passageiros é permanente. Anunciam estações e até acordam os bebuns. Quando o metrô freia bruscamente, eles caem por cima de quem estiver mais próximo.

 


QUATRO DICAS PARA UMA BOA VIAGEM AO JAPÃO


1 - Prepare com antecedência sua viagem
Lembre-se: o Japão fica do outro lado do mundo. Enquanto aqui é meio-dia, lá é meia-noite. Isso parece óbvio, mas é justamente por essa diferença de 12 horas a favor deles, que devemos nos preparar bem para a viagem. É fundamental que você escolha uma boa, experiente e confiável agência de viagem. Ela, certamente, irá lhe apresentar um cardápio de roteiros, empresas aéreas, hotéis e preços que variam bastante. Nem sempre é obrigatório voar para Narati pelos Estados Unidos. Há interessantes roteiros pela Europa - Londres, Paris, Roma, Frankfurt. Você pode até fazer escalas de um ou dois dias nessas capitais. Há também roteiros pelo Oriente Médio, via Dubai. É mais caro e mais charmoso. Outra coisa: o Japão exige Visa para visitantes entrarem em seu território. Quem libera a documentação são os consulados japoneses espalhados pelo Brasil. Exigem: Declaração de Imposto de Renda do ano, comprovante de emprego e renda mensal, passagem de ida e volta e foto atualizada;
2- Como enfrentar o jet lag de uma viagem de 24 horas
Prepare-se, pois o corpo vai sentir as 24 horas de vôo e a mudança radical no fuso horário. Há uma recomendação clássica para que você comece a tomar gotas de arnica três dias antes do embarque. É um medicamento antroposófico indicado para contusões, fraturas, distenções contraturas, restrição de movimentos, pós-operatório excessos musculares, reumatismo e até infarto do miocárdio. Ajuda bastante, pois normalmente são 12 por 12 horas de vôo. No avião, além da arnica, procure se exercitar. Ande pelos corredores de tempo em tempo, faça alongamento depois de 3 horas sentado(a), procure movimentar joelhos e a musculatura das pernas e dos braços. A bordo durma à vontade, mas lembre-se que ao desembarcar seu corpo e sua mente sentrião a diferença de horários. Você pode ter sonos de dia nas primeiras 24 horas em território japonês. Faça força mental para se adaptar. No terceiro dia tudo começa a voltar ao normal;
3- Quem não comunica se trumbica
Qual o objetivo de sua viagem? Turismo, negócio, trabalho. Se você entende e se comunica em japonês (kanjins = ideogramas), tudo bem. Mas se não, seja qual for o motivo da ida ao Japão, um tradutor ou uma intérprete é fundamental para o seu bem-estar e o sucesso de sua viagem. Imagine você desembarcando no aeroporto de Narati e, depois dos protocolares despachos alfandegários, não ter ninguém lhe esperando do saguão externo. Sim, há um serviço de informação para turistas em inglês e você terá mapas e roteiros e, certamente, saberá como chegar ao seu hotel, onde fazer seu câmbio, etc e tal. Mas ter um serviço nativo para passeios, negócios ou trabalho facilitará em 98% sua viagem. Japonês se comunica pelo sorriso e não é todos que falam inglês. No mais, nada de toques, beijinhos e intimidades. Eles não gostam de ser tocados;
4- Cuide de seus Yenes

Tokio não é uma cidade tão cara como Londres ou Paris, mas também não é tão barata como Buenos Aires ou Lisboa. Em termos de custo de vida (hotel, alimentação, lazer, transportes), digamos que há uma correpondência com o Rio de Janeiro, São Paulo ou Madri. Ao cambiar mil dólares americanos, você terá no bolso 73 mil yenes. Com 50 mil yenes você pode comprar, por exemplo, um iPad 2 de 32 megabites, o que no Brasil você não compra por menos de R$ 1.800 reais. Sim, no Japão máquinas fotográficas (Nikon, Cannon) e outras equipamentos eletrônicos são bem mais baratas que em qualquer outra parte do planeta. Aproveite e faça a festa.

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