sexta-feira, 17 de maio de 2013

MANOEL DE BARROS, O POETA PASSARINHO

o manejador de invencionices MANOEL DE BARROS!
@[183582651662046:274:Manoel de Barros]  " O menino que carregava água na peneira"      Tenho um livro sobre águas e meninos.  Gostei mais de um menino  que carregava água na peneira.  A mãe disse que carregar água na peneira  era o mesmo que roubar um vento e sair  correndo com ele para mostrar aos irmãos.  A mãe disse que era o mesmo que  catar espinhos na água  O mesmo que criar peixes no bolso.  O menino era ligado em despropósitos.  Quis montar os alicerces de uma casa sobre orvalhos.  A mãe reparou que o menino  gostava mais do vazio  do que do cheio.  Falava que os vazios são maiores  e até infinitos.  Com o tempo aquele menino  que era cismado e esquisito  porque gostava de carregar água na peneira  Com o tempo descobriu que escrever seria  o mesmo que carregar água na peneira.  No escrever o menino viu  que era capaz de ser  noviça, monge ou mendigo  ao mesmo tempo.  O menino aprendeu a usar as palavras.  Viu que podia fazer peraltagens com as palavras.  E começou a fazer peraltagens.  Foi capaz de interromper o vôo de um pássaro  botando ponto no final da frase.  Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela.  O menino fazia prodígios.  Até fez uma pedra dar flor!  A mãe reparava o menino com ternura.  A mãe falou:  Meu filho você vai ser poeta.  Você vai carregar água na peneira a vida toda.  Você vai encher os  vazios com as suas peraltagens  e algumas pessoas  vão te amar por seus despropósitos."     BARROS, Manoel de. Exercício de ser criança. Rio de Janeiro: Salamandra, 1999
Manoel de Barros " O menino que carregava água na peneira" 
Tenho um livro sobre águas e meninos.
Gostei mais de um menino
que carregava água na peneira.
mãe disse que carregar água na peneira
era o mesmo que roubar um vento e sair
correndo com ele para mostrar aos irmãos.
A mãe disse que era o mesmo que
catar espinhos na água
O mesmo que criar peixes no bolso.
O menino era ligado em despropósitos.
Quis montar os alicerces de uma casa sobre orvalhos.
A mãe reparou que o menino
gostava mais do vazio
do que do cheio.
Falava que os vazios são maiores
e até infinitos.
Com o tempo aquele menino
que era cismado e esquisito
porque gostava de carregar água na peneira
Com o tempo descobriu que escrever seria
o mesmo que carregar água na peneira.
No escrever o menino viu
que era capaz de ser
noviça, monge ou mendigo
ao mesmo tempo.
O menino aprendeu a usar as palavras.
Viu que podia fazer peraltagens com as palavras.
E começou a fazer peraltagens.
Foi capaz de interromper o vôo de um pássaro
botando ponto no final da frase.
Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela.
O menino fazia prodígios.
Até fez uma pedra dar flor!
A mãe reparava o menino com ternura.
A mãe falou:
Meu filho você vai ser poeta.
Você vai carregar água na peneira a vida toda.
Você vai encher os
vazios com as suas peraltagens
e algumas pessoas
vão te amar por seus despropósitos." 

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