domingo, 29 de janeiro de 2012

DURMA-SE COM UM BARULHO DESSES

Luis Turiba


Foto de Katja Schilirò, do Clube de Engenharia

De repente tudo tremeu. Um violento estrondo tirou milhares de
moradores de Copacabana daquele sono gostoso de uma tarde pós-praia.
Quem estava na rua procurou abrigo. Acordei assustado, mas logo voltei
a adormecer. Não durou muito e todos os moradores do bairro mais
popular do Rio começaram a ouvir sirenes histéricas e sobrevôos de
helicópteros como se estivessemos numa cena de um filme sobre Vietnam.
Logo a absurda notícia veio a público: um bueiro explodiu na Rua
Bolívar, a quatro quarteirões de onde estávamos hospedados. Isso há
quase dois anos. Não havia sido o primeiro nem o último "buuummm!!"
dos perigosos bueiros. Cada estouro com suas histórias, suas vítimas,
seus mortos, seus prejuízos.
De qualquer maneira, era um zumbido diferente para o cotidiano dos
cariocas, esse povo que inventou a batida do samba com suas bossas e
marcações. Antes, os ouvidos até já estavam acostumados aos
estampidos dos tiros de trintoitões, fuzis e metralhadoras na guerra
pelo domínio do tráfico de drogas nas favelas. O Rio de Janeiro
conviveu muitos anos com esse bang-bang urbano e chegou mesmo a
incorporar e banalizar o ratatatá das metrancas na convivência social
da cidade, via letras de funks.
Mas finalmente – ufa! –, vieram as UPPs e com elas aquele velho sonho
de paz e bons sons nas comunidades. Paz sim, mas barulhos de novas e
venenosas explosões começaram a acontecer de maneira surpreendente. Um
restaurante foi aos ares na Praça Tiradentes por excesso de gás e
falta de fiscalização. Um bondinho de Santa Teresa descarrilou por
corrupção comprovada e falta de fiscalização. Barcas ficaram à deriva
na Baía da Guanabara, pedras rolaram em cima de túneis.
Foi na sequência dessa ensurdecedora escalada de barulhos e explosões,
que o (quase) impossível aconteceu. E cá entre nós,nenhum roteirista
alucinado teria a ousadia de pensar em auto-implodir três prédios ao
mesmo tempo no coração do centro da cidade para um filme de horrores.
Assim, sem mais nem menos, outro e tenebroso barulho e tudo vem abaixo
como um castelo de cartas produzindo mortes e milagres. O Theatro
Municipal, patrimônio histórico, arquitetônico e cultural do Rio,
escapou por um dedo mindinho.
Agora estamos todos nos sentindo ameaçados. Ninguém é surdo. Nós,
cariocas. E nós, não cariocas mas habitantes do planeta Terra. Aliás,
todos que amam tanto o Rio de Janeiro e desejam curtir suas praias e
seu carnaval como turista. Também os que querem debater a
sustentabilidade planetária na Rio+20; e torcer por nossos países na
Copa de 2014 e nas Olimpíadas de 2016.
Não há outro caminho para a cidade: ou restaura-se a confiança
imediatamente ( e nisso, todos somos responsáveis: governos, Clube de
Engenharia, Crea, síndicos, etc) ou ficará impossível viver aqui livremente com
barulhos como o do desabamento do edifício Liberdade.

PELADONAS NO FORUM DE DAVOS

Feministas protestam seminuas culpando Fórum em Davos por crise
Grupo protestou em frente a resort que sedia Fórum Econômico Mundial.
Com os seios à mostra, ativistas foram detidas na cidade suíça.
Do G1, com agências internacionais

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Mulheres que fazem parte do grupo feminista ucraniano Femen fizeram um
protesto seminuas neste sábado (28) em Davos, na Suíça, onde está
sendo sediado o Fórum Econômico Mundial.

As ativistas pintaram os corpos e levaram cartazes com frases como
"Pobres por causa de vocês" e "Crise - feita em Davos", culpando o
Fórum pela crise econômica que impôs medidas de austeridade a vários
países da Europa.

O grupo de feministas ucranianas ficou famoso no país ao realizar
pequenos protestos contra uma gama de assuntos, como opressão
política, prostituição e machismo. O apelo à nudez é marca do grupo,
que passou a fazer manifestações também em outros países da Europa.


Ativistas erguem placas culpando o Fórum Econômico Mundial pela crise
econômica (Foto: Anja Niedringhaus/AP)
Mulheres foram detidas pela polícia após se aproximarem do perímetro
do local onde o encontro é sediado (Foto: Arnd Wiegmann/Reuters)

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Luis Turiba

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

CARTÃO POSTAL RASGADO

Cartão postal

José Roberto da Silba

Se os flagelados pelas inundações chocam a alma nacional,
que dirá a queda de prédios quase centenários bem no epicentro carioca
- a Cinelândia e seu entorno de monumentos arquitetônicos e o chopp do
"Amarelinho"?
Estados e Prefeituras dilapidam subsídios federais (FPE e
FPM) e royalties do petróleo em estádios e shows mastodônticos, mas
não conseguem fiscalizar obras clandestinas em áreas urbanas
deterioradas nem realocar cidadãos pobres como os moradores expulsos
de Pinheirinho. É o caso do Rio: em 447 anos de vida não realizou uma
"revolução urbana" como São Paulo, por sua vez festejando 458 anos com
ovos sobre o prefeito liberal que "optou".
É a maldição dos tempos atuais – o lulopetismo e a "visão
de mundo" de uma república do R$1,99 - a fúria de transformar
problemas reais em escapismo, como um eterno carnaval de 365 dias e
fantasias de papel colorido que se desmancham nas águas de março.
Não se cuida bem do velho, tombado ou não. Não há dinheiro
para investir no novo porque a espoliação fiscal e a malandragem
chegaram ao limite – a taxa de poupança nacional mal chega aos 17%. A
União está abarrotada pelo aparelhamento político a ponto da recente
reunião ministerial assemelhar-se a piquenique de estudantes de
intercâmbio que nem se conheciam antes.
As obras de contenção das enchentes restam no papel. A
"central de crise" - anunciada com bravura no início de 2011 sob o
comando do ministro Mercadante - foi para "inglês ver". A transposição
do São Francisco, redenção da lavoura, estiola em obras paralisadas. O
monopólio dos supermercados economiza uma baba com a cassação das
sacolinhas e espeta o custo da embalagem no consumidor. A "nossa"
Petrobrás deteriora nas Bolsas e o PAC continua empacado, mas a Apex
patrocina o porre final em Davos com R$5 milhões.
Todavia, nem tudo são lágrimas no campo da cidadania.
Coerente, Dilma, autorizou a entrada de Yoani Sánchez em nosso
território democrático. O problema de ambas, contudo, é "sair" – a
jornalista, da humilhada pátria cubana sob o tacão autoritário; a
Presidente, do enevoado jogo político que sabota a ação de seu
governo.


in Jornal de Brasília - 29 janeiro 2012 - reprodução livre, citado o autor.

OBRA NO PRÉDIO QUE CAIU ERA CLANDESTINA

Obra no edifício de 20 andares não estava registrada no Crea
Conselho acredita que retirada de uma viga é a causa mais provável do desabamento
Isabel de Araújo, Paulo Roberto Araújo, Waleska Borges
Publicado: 26/01/12 - 9h11 

G1- Equipes de resgate trabalham na busca de feridos no desabamento que aconteceu na Rua Treze de Maio Marcos Tristão / O Globo
RIO - O engenheiro civil, especialista em estrutura do Crea, Antônio Eulálio Pedro vistoriou na manhã desta quinta-feira o local onde três prédios desabaram no Centro do Rio e informou que as obras que aconteciam no terceiro e no nono andar do prédio Liberdade, de 20 andares e que desabou primeiro, não estavam registradas no Conselho. O engenheiro responsável já está sendo procurado. A última obra no prédio que teve registro no Crea aconteceu em 2008.


— Pior é que isso é feito por leigos, e a lei pune como contravenção quando deveria ser crime — disse Antonio.
Funcionários da empresa Tecnologia Organizacional, TO, que não quiseram ser identificados, disseram que a firma estava fazendo uma grande obra no nono andar, derrubando até paredes. Pessoas que trabalhavam no Liberdade contam que viram areia caindo dentro do prédio, sobre o elevador. Victor Ferreira, que trabalhava no oitavo andar numa escola de idiomas, viu pessoas reclamando com o zelador sobre o problema por volta das 18h, quando ia para casa.
Segundo Antônio, há três hipóteses para a queda do prédio de 20 andares, o que teria desabado primeiro. O corte de uma viga, com ruptura brusca, a corrosão e infiltração da laje da cobertura ou o entulho de obra como sacos de cimentos, latas de tintas, que provocou o excesso de peso e o rompimento da estrutura. Ele também descarta a possibilidade de vazamento de gás, e diz que o prédio caiu de cima para baixo. Por isso, a hipóteses mais provável é mesmo a de retirada de uma viga.
O Clube de Engenharia criou uma comissão esta manhã, a fim de avaliar as possíveis causas da queda dos prédios. O clube já trabalha com a possibilidade de a tragédia tenha sido provocada por um problema estrutural do prédio de 20 andares, já que, segundo a entidade, 90% dos casos de queda de prédio têm origem na estrutura da construção. À frente da comissão, está o vice-presidente do clube, Manuel Lapa, especialista em engenharia estrutural.
O presidente da Comissão de Análises e Prevenção de Acidentes do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea), Luiz Antonio Cosenza, não descarta qualquer hipótese de causa dos desabamentos. Nem mesmo uma explosão provocada por vazamento de gás, a mais remota das hipóteses.
— Normalmente os prédios do Centro são bem construídos. Não posso afirmar o que provocou os desmoronamentos. Pode ser fruto de outras obras irregulares que mudaram as vigas ou colunas. Depois do resgate das vítimas, é preciso limpar o local para uma melhor análise do que houve — disse Cosenza.
Professor de engenharia geotécnica da Coppe Mauricio Ehrlich acha pouco provável que a queda do prédio de 20 andares tenha sido causada por problemas em sua fundação. Segundo ele, embora a região tenha tido alguns aterros e o solo ali seja de material de baixa resistência e argiloso, o prédio daria sinais claros que poderia cair.
— Se o problema fosse na fundação, haveria fissuras grandes nas paredes. Acho que a hipótese de uma obra ali ter comprometido uma viga ou um pilar é maior do que a fundação. Mas, por enquanto, nada pode ser descartado - disse o professor.
O secretário de Estado e Defesa Civil do Rio, coronel Sérgio Simões, disse no início da tarde desta quinta-feira que a Defesa civil já considera descartada definitivamente a hipótese de que uma explosão por gás poderia ser a razão do desabamento. Segundo Simões, se tivesse ocorrido uma explosão, teria havido a projeção de fragmentos como lajes, janelas e outros tipos de mobiliários que tivessem dentro do edifício a uma certa distância do ponto de desabamento.
- Pela característica do desabamento, a hipótese mais provável é de colapso da estrutura. Resgatamos um operário de uma obra que ocorria no prédio mais alto e, o fato de haver uma obra é um bom indicativo para o início das investigações - afirmou o secretário.
Cerca de 100 bombeiros trabalham no local do acidente. Quinze deles, fizeram parte da equipe enviada ao Haiti em novembro do ano passado, quando ocorreram terremotos na região.
- A situação é muito similar ao que aconteceu no terremoto do Haiti. Pela forma como se deu o acidente e a compactação das diversas lajes, a possibilidade de bolsões de ar vai diminuindo com o tempo - disse o secretário.
O coronel Simões disse ainda que a Defesa Civil está reforçando o trabalho no local do desabamento para tentar concluir o resgate de possíveis vítimas até a noite desta quinta-feira. Segundo ele, isso porque os bombeiros trabalham com o prazo de 24 horas, baseado na expectativa de sobrevida das pessoas que possam estar soterradas.
- O Corpo de Bombeiros sempre trabalha com a expectativa de haver pessoas vivas no local. É nossa esperança. Claro que na medida que o tempo passa, a expectativa diminui. É uma corrida contra o tempo. A nossa meta é chegar à conclusão na noite desta quinta-feira, ou pelo menos, estar muito próximo disso - ressaltou Sérgio Simões.
Prefeito também não acredita em vazamento de gás
O prefeito Eduardo Paes, que logo após a tragédia esteve no local, também não acredita que os desabamentos tenham sido provocados por escapamento de gás. Para ele, deve ter sido um problema estrutural no prédio de 20 andares, que estava em obras. Porém, ele ressalta que ainda é cedo para uma informação precisa sobre as causas da tragédia.
— Há fiscalização permanente da prefeitura dos prédios, e é preciso saber exatamente o que aconteceu, porque existem prédios muito mais antigos e que não têm problemas - ressaltou Paes.
CEG não fornecia gás para prédios que desabaram
Agentes da Companhia Estadual de Gás (CEG) interromperam a passagem de gás para os edifícios da rua. Numa medida de emergência, os funcionários da CEG quabraram à noite as calçadas da Avenida Almirante Barroso, na esquina com a Avenida Rio Branco, para conseguir fechar a tubulação de gás subterrânea. A CEG, porém, informou que não fornecia gás para nenhum dos três prédios que desabaram e que não há registro de pedido de vistoria para esses prédios.
Durante toda a manhã desta quinta-feira, focos de incêndio surgiram no local. Não houve prejuízos ao prédio do Teatro Municipal, nem danos estruturais, de acordo com a assessoria de imprensa da instituição. A única parte atingida por escombros foi a bilheteria, no prédio anexo, mas nenhum funcionário foi atingido.
Cedae também descarta explosão
O presidente da Cedae, engenheiro Wagner Victer, acredita que um problema estrutural tenha sido a causa do desabamento dos prédios na Cinelândia. Ele passou a madrugada no local, disse que não sentiu cheiro de gás e que a hipótese de explosão está praticamente descartada:
— Naquele tipo de construção, as paredes têm função estrutural. A perícia vai avaliar se derrubaram alguma parede que possa ter provocado o colapso na laje do Edifício Liberdade. Ele pode ter inclinado, provocando um efeito dominó, com a queda dos demais prédios - disse Victer, lembrando que ao lado dos prédios funciona o Fundo de Previdência da Cedae.
Segundo Victer, a Cedae, a Light e a CEG se mobilizaram com rapidez, cortando a energia e o fornecimento de gás no local da tragédia. A Cedae fez manobras e cortou o fornecimento apenas na área do vazamento.

Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/rio/obra-no-edificio-de-20-andares-nao-estava-registrada-no-crea-3766473#ixzz1kaOxn6rE
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REFLEXÃO SOBRE O DESABAMENTO DE PRÉDIOS NO CENTRO DO RIO

Diariamente, quando acordo, vou à janela, olho pro Cristo Redentor,
esfrego as mãos junto ao peito, reverencio o Sol ou o Tempo, e
agradeço ao Amigo lá de cima pela noite que tive e pelo dia que vou
viver.
Almoço na Cinelândia e passo diariamente em frente aos prédios que
desabaram bem atrás do Theatro Municipal.
Hoje não vai dar pra passar por lá.
Obrigado Senhor!


Ou a gente se Raoni
Ou a gente se Sting

Luis Turiba

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

A VILA DESCE COLORIDA PARA MOSTRAR SEU AFRO-CARNAVAL

 


Cuícas marcam a passagem da bateria Swingueira dos mestres Paulinho, Wallan e o eterno Mug


Luis Turiba, diretamente da ala de cuícas da bateria Vila


A Vila Isabel flutuou na madrugada de domingo no Sambódromo. Aquilo não foi um ensaio, foi uma celebração, um sacode de primeira grandeza – quase um tsunami de samba.

Público de mais de 60 mil pessoas e integrantes da escola sambaram e cantaram a plenos pulmões o samba de Arlindo Cruz que homenageia Angola e faz todo mundo dançar o kuduro – cruzando as pernas com o corpo abaixado como fazem os angolanos. Nesse momento, a bateria pára geral e rufam apenas os atabaques.

A rainha da bateria, a japa-paulista Sabrina Sato, deu um show vestida de africana, e se divertiu muito. Maria Quitéria, a musa do Ancelmo Gois, fez seu espetáculo à parte como sempre.

Durante quase duas horas nos divertimos muito tocando nossas cuícas e fazendo nossa escola fluir.

Por mim, valeu o carnaval. Foi demais. Foi uma noite inesquecível!



DECÁLOGO DA CUÍCA

DECÁLOGO DA CUÍCA

P/ leigos e ligados

Por Luis Turiba

1- A cuíca é, provavelmente, o único instrumento do mundo tocado às
escondidas. Ninguém vê, mas todos ouvem.

2- Tocá-la é fácil, mas muito complexo. Requer tempo, atenção,
agilidade e muito treino. Os dedos de uma das mãos deslizam
molhadamente por dentro do instrumento, apertando a vareta de bambu
coberta pelo latão. A outra mão fica por fora, apertando o couro, com
toques firmes, rápidos e suaves. No meio da mão que está dentro do
instrumento, entre os dedos, vai um pedaço de gorgurão molhado, cujo
impulso "Y" combinado com uma pressão "X" cria sons graves e agudos. O
aperto exterior com o dedo cata-piolho comanda as variações: o tal
tu-tum-tu tum-tu-tu. Daí começa o leva-e-trás, o fuk-fuk. Quando
muitas, produzem uma flutuação sonora como um mantra que bate no
chakra genital das dançarinas que, mesmo não desejando, rodopiam o
corpo em movimentos sensuais. O cuiqueiro vai ao chão para não
frustrar ambas:

3- O corpo da cuíca visto detrás lembra a turbina de um caça de
guerra, com aquela potência supersônica à mostra para vôos
acrobáticos.

4- Seus princípios aerodinâmicos também são complexos. A boca larga
recebe um couro dobrado num arco de madeira (atualmente usa-se também
de metal). Os couros oriundos dos surdos são melhores, pois estão
malhados e pegam melhor afinação, além de permitir a formação de um
bico central como se fosse um umbigo para fora. Esse bico é formado
pela cabeça da vara de bambu e preso por uma linha de resistência
comprovada. Ali, na frente do mundo, o dedo aperta o couro e marca o
ritmo. A mão que fica dentro do bocão dá o tom, marca a levada.

5- Trinta cuícas marcando ao mesmo tempo na sombra dos surdos, das
caixas e dos chocalhos produzem um zumbido espacial sinfônico no
samba.

6- "(...) Na África banta, o tambor de fricção que deu origem ao
instrumento brasileiro chamava-se, em quimbundo, MPWITA (Puía)(..). É
possível que no Brasil, esses nomes tenham sido contaminados pelo
brasileirismo cuíca, do tupi, designação de várias espécies de
mamíferos marsupais, talvez numa referência ao couro utilizado no
instrumento (...) – verbete da palavra no "Dicionário Bando do
Brasil", de Nei Lopes.

7- Cuí@, no fundo, é meio maricas. É manhosa, um pouco gata: apertada
e afrouxada a toda hora, tem o seu ponto G ou o ponto @ de cuí@.
Precisa ter intimidades com seus dono e, muitas vezes, é ela que é
dona do cuiqueiro. Se o usuário forçar a barra, o couro estouro e aí,
babau...não produz mais sons. Pode também quebrar a vareta ou soltar a
cabecinha. Instrumento sensual, ritualístico, traz o transe corporal
via repetições de sonoridades, combinações de graves, agudos e médios,
em variações que vão de 2-1, 3-1 e 3-3-6 na subida dos sambas.

8- "Em 1928, a "Deixa Falar" (atual Estácio de Sá), primeira escola de
samba do Rio, fez seu desfile já com cuiqueiros na bateria. (...)
Alguns de seus nomes em outros idiomas: rouca, em Portugal; buha, na
Romênia; pouti-pouti, na Itália. No Brasil, também conhecida como
omelê, aqui no Rio; tambor-onça no Maranhão; roncador, no Pará;
adulfo, em Alagoas. (Da matéria "Agoniza mais não morre")

9- "O médico pesquisador Hiram Araújo, 60 anos, chefe do Departamento
de Pesquisa do Museu do Carnaval, conta que o aparecimento da cuíca
pode ser datada no século 1 ou 2 depois de Cristo, quando era
utilizada nas festividades dos povos sarracenos do Egito. O
instrumento, simpático como ele só, conquistou vários países, de Cuba
à Romênia, Holanda, Portugal, Japão, Alemanha... (Informações de
"Agoniza mas não morre", de Adriana Castelo Branco e Cláudio Henrique,
publicada na revista "Domingo", do Jornal do Brasil, em 2 de fevereiro
de 1997.

10- "Meu violino de bambu/ meu tambor de sutilezas/ libertação minha
presa/ meu cristal e meu vodu" (...) "Cuiqueiro é presepeiro/ vai na
frente e mostra os dentes/ ele e sua palhaça/ até os dedos
dormentes"(...) "toco cuíca como quem dá tiro/ atiro, aturo, atalho,
embrulho" (...) "mas cuíca também falha/ em plena Sapucaí/ quebra a
vara, rompe o couro/ te deixa de pau na mão"(...) Por isso: tenho duas
cuícas/ Nikita e Florença/ enquanto Nikita aflora/ Florença quica/ E
assim floreiam o mundo/ desafinadas, as cuícas. (Poema "Minha Cuí@",
do livro "Cadê?", de 1998, Luis Turiba, dedicado a Roberto Salvatore)

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Luis Turiba

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

O CARNAVAL ESTÁ CHEGANDO: VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA

Vou-me Embora pra Pasárgada
 
Manuel Bandeira


Vou-me embora pra Pasárgada

Lá sou amigo do rei

Lá tenho a mulher que eu quero

Na cama que escolherei

 

Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada

Aqui eu não sou feliz

Lá a existência é uma aventura

De tal modo inconseqüente

Que Joana a Louca de Espanha

Rainha e falsa demente

Vem a ser contraparente

Da nora que nunca tive

 

E como farei ginástica

Andarei de bicicleta

Montarei em burro brabo

Subirei no pau-de-sebo

Tomarei banhos de mar!

E quando estiver cansado

Deito na beira do rio

Mando chamar a mãe-d'água

Pra me contar as histórias

Que no tempo de eu menino

Rosa vinha me contar

Vou-me embora pra Pasárgada

 

Em Pasárgada tem tudo

É outra civilização

Tem um processo seguro

De impedir a concepção

Tem telefone automático

Tem alcalóide à vontade

Tem prostitutas bonitas

Para a gente namorar

 

E quando eu estiver mais triste

Mas triste de não ter jeito

Quando de noite me der

Vontade de me matar

— Lá sou amigo do rei —

Terei a mulher que eu quero

Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada.


Texto extraído do livro "
Bandeira a Vida Inteira", Editora Alumbramento – Rio de Janeiro, 1986, pág. 90

Manuel Bandeira: sua vida e sua obra estão em "Biografias".

 

domingo, 22 de janeiro de 2012

DOMINGÃO DE SOL, PRAIA, FUTEBOL, SAMBA E CUÍCAS

HOJE TEM ENSAIO TÉCNICO DA VILA ISABEL NO SAMBÓDROMO

Enfim, o verão chegou pra valer no Rio de Janeiro. Praias cheias, mate
com limão e biscoitos Globo, o Globo debaixo do braço para leituras
variadas, e muita gente bonita. O Campeonato Carioca já começou. À
noite, no Sambódromo, a Vila Isabel faz seu ensaio técnico com o
enredo "Semba de lá, qu´eu sambo de cá", em homenagem a Angola. Vamos
dançar o "kuduro" homenageando o rei Martinho.

Estaremos lá e nossas cuícas vão fazer a escola flutuar.

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Luis Turiba

sábado, 21 de janeiro de 2012

A CULTURA E A BOLA NA REDE

-- Publicado no Correio Braziliense

Por Romário Schettino, jornalista, é vice-presidente do Conselho de
Cultura do DF

Como acontece todos os anos, as redes de televisão mostraram
profissionalismo e competência na cobertura das celebrações do
Réveillon de 2012 que ocorreram em vários pontos do Brasil. As festas
e as queimas de fogos de artifício foram as grandes atrações da noite
de 31 de dezembro em cidades como Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador,
Curitiba, Fortaleza. Enquanto isso, a Capital da República foi
relegada a segundo plano. As notícias que saíam de Brasília
referiam-se ao movimento no aeroporto e nas estradas que daqui partem.
O espetáculo da Esplanada dos Ministérios não passou, mais uma vez, de
atração "local". Alguns jornais televisivos mostraram a beleza da
festa, mas o entusiasmo não estava focado aqui.

Vale a pena se perguntar o motivo para o desinteresse dos grandes
meios de comunicação. Seria porque a curta história de Brasília não
lhe garante destaque no cenário artístico-cultural? Ou a política (e,
sobretudo, os seus escândalos) sufoca qualquer outra manifestação
desenvolvida no Distrito Federal? Ou falta maior empenho por parte de
artistas e empresários para que a arte brasiliense ressoe pelo País?

É quase certo que as três perguntas anteriores mereçam a resposta
"sim". Mas se esta mesma cidade se prepara para receber a Copa do
Mundo de 2014, é possível propor que o empenho para evento de tão
grande monta possa ser útil também para que Brasília mostre a cara que
tem no campo das artes. Ou, ainda, que o legado da Copa para a cultura
local seja o centro das atenções.

A imprensa já informa que a capital do Brasil ganhará projeção
internacional com o Mundial. Não só isso: De acordo com os cálculos do
Sebrae, serão criados quase 60 mil postos de trabalho, com negócios
que girarão em torno de R$ 1,6 bilhão. Muito dinheiro? Sim. Mais R$
1,7 bilhão irão para a criação de infraestrutura. Isso significa que,
à semelhança de outras cidades que já foram sedes da Copa, Brasília
passará por uma remodelação completa, com melhorias de peso no
aeroporto, no comércio, no turismo, hotéis, bares e restaurantes.
Novas empresas surgirão. E é aí que a cultura brasiliense entra, com
poder para ser parceiro importante.

Se, conforme o prometido, Brasília chega a ter 2.268 novos quartos de
hotéis em 2014 e estiver pronta para receber os turistas, é importante
lembrar que alguns dos principais destinos turísticos brasileiros (Rio
de Janeiro, São Paulo, Salvador, Recife, Fortaleza, entre outros) têm
como atração além da natureza, suas produções culturais. Ora, quem vai
a Salvador sabe que não irá somente à praia nem se contentará apenas
em comer vatapá e acarajé: irá também ao teatro, que tem suas salas
sempre muito bem frequentadas. O mesmo para Rio e Fortaleza.

O secretário de Cultura do DF, Hamilton Pereira afirmou que o governo
Agnelo Queiroz "deve ser entendido (...) como um governo de
reconstrução". E, especificamente sobre cultura, enfatizou que o
"Fundo de Apoio à Cultura (FAC) adquiriu centralidade como instrumento
de fomento das políticas públicas de cultura. Segundo ele, a
democratização do acesso aos recursos públicos e a descentralização de
sua aplicação "significa definir a votação do FAC como ferramenta
indispensável ao desenvolvimento da economia da cultura no DF". O FAC
investiu R$ 35 milhões, por meio de editais, para apoiar iniciativas
culturais nas 30 Administrações Regionais.

A aprovação da lei de incentivos fiscais para a cultura, a ser enviada
pelo Executivo à Câmara Legislativa, será outro instrumento capaz de
alavancar o patrocínio e o investimento na produção cultural local.

Eis, portanto, a chance de se unir o útil ao agradável. O DF está
sendo reconstruído? A cultura é uma das metas? Aproveitemos, então, a
vinda dos jogadores de futebol, e a reestruturação que isso exige,
para lembrar a todos que a produção cultural gera empregos, movimento
dinheiro, forma profissionais e, sobretudo, colabora, de maneira
fundamental, para criar o perfil e a personalidade de uma cidade.

Algumas produções da cidade têm aprendido que divulgar seus eventos em
hotéis e pontos turísticos contribui para encher as salas de
espetáculo. Mas essa mudança de perspectiva deve ser também política e
empresarial, para que os artistas e a população passem a ver melhores
dias. Afinal, não serão beneficiados apenas a classe artística e o
público. Os senhores da política e os donos do dinheiro também têm
muito a ganhar.


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Luis Turiba

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

ECOTURISMO NA AMAZÔNIA: VENHA CURTIR O VERDE

Trilha etnoambiental é nova opção de turismo ecológico perto de Manaus

Turista tem a oportunidade de conhecer mais sobre indígenas e a floresta.
Passeio tem apoio de órgão governamental.

Carlos Eduardo Matos Do G1 AM

 
Trilha etnoambiental (Foto: Carlos Eduardo Matos/G1 AM)Os próprios indígenas realizam o passeio pela trilha (Foto: Carlos Eduardo Matos/G1 AM)
Turismo AM (Foto: Editoria de Arte/G1)

Em meio à agitação do centro urbano de Rio Preto da Eva (a 80 km de Manaus), município conhecido no Amazonas como a 'terra da laranja', uma área verde de 42 hectares protegida por 17 famílias indígenas de nove etnias se destaca pelo silêncio - que serve de refúgio para animais silvestres - e pela exuberância da flora medicinal.

A beleza desta selva intacta tornou-se fonte de renda para 99 índios, que formam a Comunidade Indígena Beija-Flor. Há dois meses, foi criada a 'Etnotrilha do Selvagem', a primeira trilha etnoambiental do Amazonas, roteiro obrigatório para quem curte turismo ecológico. A iniciativa ganhou apoio da Amazonastur (Empresa Estadual de Turismo do Amazonas), que está ajudando a comunidade a construir malocas e outros espaços culturais para apresentação de danças, rituais e artesanatos.

Cerca de 800 turistas já percorreram a trilha, afirmou o presidente da Comunidade Beija-Flor, Sérgio Sampaio, de 30 anos, da etnia Tukano. Segundo ele, pessoas de vários estados do Brasil e de países como a Argentina já visitaram o local.

Trilha etnoambiental (Foto: Carlos Eduardo Matos/G1 AM)Durante o passeio, placas situam os visitantes e informam sobre as características do lugar (Foto: Carlos Eduardo Matos/G1 AM)
saiba mais

"A comunidade precisava manter o sustento, sem denegrir a mata e esquecer seus valores culturais. Tivemos a ideia de abrir as portas da comunidade para que as pessoas compartilhem as belezas desta floresta nativa e conheçam um pouco dos nossos costumes", explicou.

História
A Comunidade Beija-Flor nasceu da ideia do falecido empresário Richard Melnik, que reuniu membros de várias etnias indígenas para produzir artesanatos para que fossem vendidos no exterior. Com a morte do fundador, a comunidade conseguiu o apoio da prefeitura de Rio Preto da Eva e da Funai (Fundação Nacional do Índio) para se manter no local, mas com o compromisso de preservar a área, impedindo invasões.

Atualmente, índios das etnias tukano, saterê-mawe, sessano, baré, cocama, tuiuca, cambeba, arara e apurinã dividem o mesmo espaço de forma pacífica. O chefe da comunidade é o pai de Sérgio, o aposentado Sérgio Sampaio, de 62 anos, que é o benzedor da tribo. A comunidade se desenvolveu e já possui escola, posto de saúde, casa de informtica e casa de farinha.

No local, o turista pode conhecer e comprar artesanato indígena (Foto: Carlos Eduardo Matos/G1 AM)No local, o turista pode conhecer e comprar artesanato indígena (Foto: Carlos Eduardo Matos/G1 AM)

Passeio
Passear pela Etnotrilha do Selvagem pode durar uma manhã. Antes de entrar na mata, o turista é recebido com café da manhã regional e apresentação de danças típicas das etnias que vivem no local. A trilha possui um quilômetro e meio de extensão.

De acordo com Sérgio, o nome 'Selvagem' é em referência ao igarapé, com água cristalina, que corta a área preservada.

Em todo o trajeto, placas informam sobre as espécies de animais silvestres encontradas no local, e sobre plantas medicinais ao longo da trilha. No caminho, os índios, que atuam como monitores, explicam aos turistas os inventos usados para caçar e as plantas que ajudam na sobrevivência na selva.

Depois do passeio, o turista é convidado para um almoço. "Nós oferecemos um peixe assado na folha de bananeira", acrescentou. Sérgio explicou que a comunidade recebe famílias e excursões com grande quantidade de turistas, mas é importante fazer o agendamento para que os índios preparem a estrutura de recepção e atendimento.

Trilha também possibilita o conhecimento de diferentes plantas medicinais (Foto: Carlos Eduardo Matos/G1 AM)Trilha também possibilita o conhecimento de diferentes plantas medicinais (Foto: Carlos Eduardo Matos/G1 AM)

NOME: Comunidade Indígena Beija-Flor
ONDE FICA: Município de Rio Preto da Eva, bairro Monte Castelo
QUANDO FUNCIONA: De segunda a domingo, mediante agendamento prévio
QUANTO: R$ 25 turistas nacionais; R$ 15 turistas amazonenses e universitários
CONTATO: www.beijaflorrpe.blogspot.com; (92) 9382-8759 e (92) 9297-2982
 

SAMBA DE BRASÍLIA VAI CONTINUAR NA TERRA DO FORRÓ

Ou a gente se Raoni
Ou a gente se Sting

Luis Turiba

MAIS UM GOLPE NO CARNAVAL DE BRASÍLIA: GOVERNADOR AGNELO DESCUMPRE
COMPROMISSO ASSUMIDO E MANTÉM DESFILES DAS ESCOLAS DE SAMBA NA
CEILÂNDIA

NOTA OFICIAL

A diretoria da ARUC recebeu com surpresa, revolta e indignação a
decisão do GDF, anunciada nesta quarta-feira (18/01) pelo Secretário
de Cultura, Hamilton Pereira, de manter os desfiles das escolas de
samba na Ceilândia, contrariando a vontade da maioria esmagadora das
entidades carnavalescas que, em agosto passado, por 14 votos a 4,
manifestaram o desejo do retorno dos desfiles para o Plano Piloto. A
decisão é mais surpreendente, ainda, se considerarmos que no dia 28 de
dezembro do ano passado, pelo Ofício nº 437, assinado pelo Secretário
de Cultura e encaminhado ao presidente da Uniesbe, Geomá Leite, o
Secretário de Cultura afirmava oficialmente que "os desfiles serão
realizados no centro da cidade, facilitando o acesso das escolas e
proporcionando a cada comunidade o acompanhamento do desfile da
agremiação de sua cidade". (fax simile em anexo)
Mas a decisão contraria, também, compromisso assumido no ano passado,
no Carnaval, pelo próprio Governador do Distrito Federal, Agnelo
Queiroz, que anunciou, em entrevista à imprensa, no Celambódromo, que
os desfiles voltariam para o Plano Piloto porque não se justificava um
investimento tão alto, como o realizado no Carnaval, beneficiar apenas
os moradores de uma região administrativa.
O Secretário de Cultura e o Governador estavam com a razão. O Carnaval
é uma festa de todo o Distrito Federal e, assim como o 21 de Abril, o
7 de Setembro e o Reveillon, deve ser realizado no centro da cidade,
facilitando o acesso igualitário dos habitantes de todo o Distrito
Federal, com transporte, estacionamento e segurança, e dando a
visibilidade que a maior festa popular do Brasil merece.
É assim que acontece em todos os estados do Brasil. O Carnaval do Rio
de Janeiro não é em Nilópolis ou em Madureira, mas na Sapucaí, no
centro da cidade. O de São Paulo não é Santo Amaro ou na Vila
Brasilândia, mas no Anhembi, na área central. O de Salvador não é em
Itapoã ou no Nordeste de Amaralina, mas na Praça Castro Alves.
Levar o Carnaval do DF para a Ceilândia é transformar o Carnaval do DF
no Carnaval da Ceilândia, uma vez que apenas os moradores daquela
cidade assistem aos desfiles. E, como disse o próprio governador, não
se justifica investimento tão elevado beneficiar apenas uma região
administrativa.
Mas o que justifica, então, o governador Agnelo Queiroz renegar o
compromisso assumido publicamente e o Secretário de Cultura, Hamilton
Pereira, mudar de opinião em menos de um mês?
Na nossa opinião, só mesmo pressões políticas e interesses mesquinhos
e eleitoreiros, iguais aos que levaram os desfiles para a Ceilândia,
há 7 anos, no governo Roriz, podem explicar tais atitudes que
desrespeitam a vontade da ampla maioria das entidades carnavalescas, a
opinião da ampla maioria da população, que segundo pesquisas
realizadas no ano passado pela própria Secretária de Cultura, pela TV
Globo e pelo Blog da Paola mostraram que a esmagadora maioria dos
entrevistados querem a volta dos desfiles para o Plano Piloto, o
compromisso assumido pelo próprio Governador e a decisão anunciada
pelo próprio Secretário de Cultura.
Mais uma vez, a exemplo do que ocorreu nos governos Roriz e Arruda, o
Carnaval está sendo usado como instrumento político e manipulado por
mesquinhos interesses eleitoreiros. Não se pensou no que é melhor para
o Carnaval e para a população do DF. Mas sim no que rende mais
dividendos eleitorais.
Realmente, esse não é um Novo Caminho, como esperávamos e
acreditávamos. Mas sim um velho e surrado caminho.
A decisão causou profunda revolta e indignação entre os componentes da
ARUC e, diante dessa repercussão negativa, a diretoria da ARUC convoca
uma reunião geral de todos os seus diretores e componentes para a
próxima segunda-feira, às 19 horas, em nossa quadra, quando
decidiremos se a ARUC vai ou não participar do desfile na Ceilândia.
Independente dessa posição, a diretoria da ARUC repudia a manutenção
dos desfiles na Ceilândia, considera essa decisão uma traição do GDF
aos compromissos firmados com as entidades carnavalescas e um
desrespeito às entidades carnavalescas e ao povo do Distrito Federal.

Brasília, 18 de janeiro de 2012

Moacyr de Oliveira Filho - Moa
Presid

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Seu Teodoro morre de parada cardíaca nesta madrugada (15-01)t

 
Uma perda muito grande. Mas o Bumba-meu-boi do DF vai continuar o trabalho o Mestre.

  O mestre da cultura popular, do Bumba-meu-boi no DF e comendador da Cultura, Seu Teodoro Freire, faleceu às 3h20 desta madrugada (15-01-2011) no Hospital Santa Helena, em Brasília. Ele estava com 91 anos e sofria de enfisema pulmonar, e já há alguns dias vinha resistindo bravamente aos revezes das saúde debilitada. Ele conseguiu, ainda em vida, a honra e o merecido reconhecimento de receber das mãos do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do também então Ministro da Cultura Gilberto Gil, a Ordem do Mérito Cultural tornando-se uma grande referência de cultura popular na cidade e sendo reconhecido o trabalho dele como patrimônio imaterial do Distrito Federal.

"Ele será cremado ainda hoje e já estamos providenciando os detalhes de seu velório", informou consternado um dos filhos dele, Guarapiranga Freire, que nos últimos anos tem assumido a responsabilidade em continuar com o trabalho cultural do Bumba-meu-boi e do Tambor-de-Crioula de Seu Teodoro.

No último dia 10 foi aberto o período de festejos de São Sebastião, que iria até o próximo dia 20. "Com o falecimento de meu pai, teremos que cancelar toda nossa programação deste mês. Não há o menor clima de continuarmos com as festividades agora. Ficou um vazio muito grande", explicou Guarapiranga Freire.

Sonhos não realizados

Seu Teodoro Freire, como idealista e grande sonhador, partiu sem conseguir realizar alguns de seu maiores sonhos: o primeiro e maior, era a construção da nova sede do Centro de Tradições Populares. "Esse sonho, lutaremos para tentar realizar e dependemos da garantia de recursos junto ao Governo do Distrito Federal e da iniciativa privada. Pena que não conseguimos realizá-lo dentro das comemorações do cinquentenário do Bumba-meu-boi e Tambor-de-crioula de Seu Teodoro. Chegamos até a lançar o projeto arquitetônico das novas instalações do Centro de Tradições Populares", relembrou Guarapiranga Freire. Segundo ele, os objetivos da nova sede são: a manutenção deste Patrimônio Cultural Imaterial do Governo do Distrito Federal, promoções de intercâmbio cultural entre Brasília -DF / Maranhão, entre outras unidades da federação, e ainda uma parceria planejada para atender os anseios da comunidade do Distrito Federal, com atenção especialmente voltada para as Escolas Públicas e Zonas rurais. " Esse espaço em Sobradinho, que abriga todas as festas maranhenses, será transformado em museu quando o novo edifício for construído", promete Guarapiranga Freire.

Outras paixões não realizadas de Seu Teodoro eram aparentemente ainda mais difíceis: a construção, em pleno Planalto Central, de um clube de regatas do Flamengo e uma versão local da Estação Primeira de Mangueira, a escola de samba do coração dele.

Seu Teodoro Freire

Seu Teodoro chegou à cidade em 1962, trabalhou na Unb, criou o Centro de Tradições Populares e seguiu mantendo viva a cultura do Bumba meu boi na cidade

O maranhense Teodoro Feire, conhecido como Seu Teodoro, nasceu na pequena cidade de São Vicente Ferrer, localizada a 280 km de São Luís (MS), em 1920. Desde os oito anos era apaixonado pelo cultura popular e dedica-se à tradição de sua região: o Bumba meu boi e outras paixões como o time de futebol Flamengo e sua escola de Samba, a Mangueira. Ele sempre usava um chapéu de palha com tira vermelha e preta, referência à paixão pelo time rubro-negro carioca. "Sempre recordo do dia que ganhei meu chapéu de palha, com uma tira preta, de um estudante da Universidade de Brasília. Depois, tive que colocar a fita vermelha já que não uso o preto sem o vermelho junto", gostava de falar.

Quando menino, em épocas festivas, saía às escondidas para acompanhar os cantadores e as toadas de boi, escondido da sua mãe. Passou uma temporada no Rio de Janeiro até chegar em Brasília, em 1962.

Assim que chegou à capital do Brasil, foi trabalhar na Universidade de Brasília e após um ano criou o Centro de Tradições Populares, em Sobradinho, com o intuito de difundir e levar adiante as festas e danças dessa importante manifestação da cultura e folclore brasileiro. "É importante manter a dança do boi viva para as novas gerações", gostava de defender.

A primeira apresentação e visita à cidade aconteceu mesmo antes de morar em Brasília. Foi no primeiro aniversário da cidade, quando veio para fazer uma apresentação. Encantou-se com o Planalto Central e veio para ficar.

O Centro de Tradições Populares, no começo, era bem simples, feito de paredes de taipa, chão de terra batida e teto de palha. Hoje, tem uma boa estrutura e reúne cerca de 75 integrantes onde faz apresentações de bumba-meu-boi, de Tambor-de-Crioula e comemora as festas de São Sebastião, São Lázaro e da Matança do Boi (essa há 49 anos). Houve também o Encontro-de Bumba-meu-Boi realizado na Funarte, em homenagem ao sempre empolgado mestre.

Fonte: Marcos Linhares e Gabriel Alves (assessoria de imprensa do Centro de Tradições Populares) 





 

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

JOÃOSINHO TRINTA, REI DO CARNAVAL, RECEBE HOMENAGEM DA BEIJA-FLOR

Beija-Flor homenageia Joãosinho Trinta em ensaio na Sapucaí

Primeiro ensaio técnico antes do carnaval aconteceu em meio a entulhos.
Chuva que caiu sobre a cidade não espantou o público da atual campeã.

Rodrigo Vianna Do G1 RJ

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Beija-Flor homenageia Joãosinho Trinta em seu primeiro ensaio técnico (Foto: Rodrigo Vianna/G1)Beija-Flor homenageia Joãosinho Trinta em seu primeiro ensaio técnico (Foto: Rodrigo Vianna/G1)

Com uma homenagem ao carnavalesco Joãosinho Trinta, que morreu em 17 de dezembro do ano passado, a escola de samba Beija-Flor abriu, na noite deste domingo (8), a temporada de ensaios técnicos na Marquês de Sapucaí, no Centro do Rio. Nem mesmo a chuva que caiu sobre a cidade espantou o público que compareceu em peso para assistir à atual campeã do carnaval carioca.

À frente dos 15 componentes da comissão de frente, a escola exibiu uma faixa com a foto do carnavalesco e a frase "Joãosinho Trinta, a família Beija-Flor se orgulha de ter feito parte de sua história". Joãosinho ficou por 17 anos na Beija-Flor, sendo campeão cinco vezes, entre 1976 e 1983, com desfiles antológicos, como o "Ratos e urubus larguem a minha fantasia", de 1989, surpreendendo o público com uma réplica do Cristo Redentor como mendigo.

Antes do samba de esquenta, Laíla, diretor de harmonia, disse que Joãosinho também será lembrado no enredo deste ano, "São Luís - O poema encantado do Maranhão", desenvolvido por uma comissão de carnaval, que vai falar sobre a cidade natal do carnavalesco: "Hoje abrimos os ensaios com uma homenagem mais do que justa ao maior mestre do carnaval", disse ele.

A pouco menos de dois meses para o carnaval, as obras de ampliação do Sambódromo seguem em ritmo acelerado. A inauguração, que estava prevista também para este domingo, foi adiada para o dia 12 de fevereiro, com uma lavagem simbólica da nova Passarela do Samba. A manicure Luciene Santos, de 25 anos, gostou do que viu.

"Eu acho que está ficando chique. Vai ficar diferente e mais espaçoso. Quem gosta de samba vai ter a oportunidade de ver o maior espetáculo da Terra de um novo ângulo. A gente estranha um pouco ao ver ainda no esqueleto, mas quando estiver tudo pronto, acho que vai ficar realmente lindo", disse ela, que mora em Pilares, no subúrbio, que foi acompanhada da família.

Comissão com a cara da comunidade
Enquanto a escola se preparava para entrar na Avenida, o coreógrafo Fabio de Mello repassava as orientações com os componentes da comissão de frente, todos da comunidade. Estreante na azul e branca de Nilópolis, na Baixada Fluminense, Fabio contou que a coreografia que será usada no dia do desfile não será apresentada durante os ensaios técnicos.

Selmynha Sorriso e Claudinho apresentaram parte da coreografia oficial (Foto: Rodrigo Vianna / G1)Selmynha Sorriso e Claudinho apresentaram parte
da coreografia oficial (Foto: Rodrigo Vianna / G1)

"Por questões técnicas não poderemos mostrar a coreografia oficial. Os componentes virão como mestres de cerimônia, puxando o samba e animando o público. Mas o tempo todo também estaremos trabalhando, discutindo as mudanças com a reforma e a posição dos jurados. O que eu posso dizer é que faremos algo nunca visto na Sapucaí", explicou ele.

Apesar da pista molhada, o casal de mestre-sala e porta-bandeira Selmynha Sorriso e Claudinho não perderam o rebolado e apresentaram parte da coreografia oficial.

"É uma honra estar aqui presente, uma satisfação. A Beija-Flor vai abrir os ensaios com chave de ouro e com chuva também, e eu estou adorando. A coreografia está afiada, ensaiadinha. E esse ano, abrindo com chuva no novo sambódromo. Esse ensaio é muito importante para todas as escolas, para treinar a coreografia e no dia fazer tudo certinho e ganhar as notas 10", disse ela.

Raíssa Oliveira exibia boa forma e samba no pé (Foto: Rodrigo Vianna / G1)Raíssa Oliveira exibia boa forma e samba no pé
(Foto: Rodrigo Vianna / G1)

Canto da comunidade foi ponto alto
Para mostrar uma prévia do que está sendo preparado na quadra da comunidade, os integrantes capricharam no visual. Com direito a flor na cabeça, fantasia de índio e até cabelo azul, em menção à cor da escola, os cerca de 2 mil mostraram a força do canto, mesmo em meio a poças d'água e debaixo de chuva.

Sob o comando do intérprete oficial, Neguinho da Beija-Flor, os componentes pareceram ignorar a chuva e "brincaram" na Sapucaí em obras. A bateria, comandada pelo mestres Plínio e Rodney, deu um show à parte.  Há dez anos à frente dos ritmistas, a rainha Raíssa Oliveira exibiu boa forma e samba no pé. Difícil foi conter o assédio dos foliões que assistiam ao ensaio na pista.

Para o carnaval deste ano, a Beija-Flor pretende levar para a Avenida o bumba-meu-boi, as lendas, a música, os grandes escritores e poetas com o enredo sobre São Luís. Segundo o carnavalesco Fran Sérgio, a escola pretende contar os 400 anos da cidade, desde a sua colonização com a chegada dos franceses, holandeses e portugueses até a miscigenação.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

CHICO BUARQUE CANTA E ENCANTA OSCAR NIEMEYER

Chico Buarque dedica noite de estreia no Rio a Oscar Niemeyer

Cantor homenageou arquiteto de 104 anos, que estava na plateia.
Músico carioca não se apresentava na cidade desde 2007.

Henrique Porto Do G1 RJ

Uma homenagem surpresa marcou a volta de Chico Buarque aos palcos cariocas na noite desta quinta-feira (5), no Vivo Rio, casa de espetáculos da Zona Sul da cidade. Próximo ao fim do show, o primeiro no Rio de Janeiro desde 2007, o músico desviou a atenção do público (e consequentemente os holofotes) para uma presença especial na plateia.

"Gostaria de dedicar esta noite ao meu querido amigo Oscar Niemeyer", disse Chico, puxando palmas para o arquiteto de 104 anos, recém-completados em dezembro último. A carinhosa saudação do músico, ele mesmo um ex-estudante de arquitetura, tomou uma rápida proporção de delírio coletivo e fez com que Niemeyer, que assistiu ao show na primeira fila, acabasse sendo aplaudido de pé por pessoas acomodadas em todos os setores da casa.

O cantor e compositor Chico Buarque se apresenta no Vivo Rio, no Rio de Janeiro, na noite desta quinta (5): músico carioca misturou canções do novo álbum, 'Chico', com antigos sucessos, como 'Sob medida' e 'O meu amor' (Foto: Alexandre Durão/G1)O cantor e compositor Chico Buarque se apresenta no Vivo Rio, no Rio de Janeiro, na noite desta quinta (5): músico carioca misturou canções do novo álbum, 'Chico', com antigos sucessos, como 'Sob medida' e 'O meu amor' (Foto: Alexandre Durão/G1)

Mas Niemeyer não foi o único agraciado da noite. De maneira mais comedida, porém igualmente delicada, Chico dá um jeitinho de relembrar parceiros e pessoas queridas ao longo dos cerca de 90 minutos de apresentação. Como Tom Jobim, seu eterno "maestro soberano", com quem compôs "Anos dourados" e "A violeira"; Edu Lobo, colaborador em "Choro bandido", "Valsa brasileira" e "Carreira" (esta última encerra o show). Ou a namorada, a cantora Thais Gullin, também presente ao Vivo Rio, para quem canta "Essa pequena" ("Meu tempo é curto, o tempo dela sobra / Meu cabelo é cinza, o dela é cor de abóbora").

É o apito de um trem, parte da introdução da canção "O velho Francisco", que anuncia a volta do malandro à sua praça, o Rio de Janeiro, cerca de 25 minutos depois do horário previsto (o show estava marcado para 21h). Elegantemente vestido de preto pelas mãos do figurinista Cao Albuquerque, Chico Buarque demonstrou nervosismo no início do show. Parecia excessivamente concentrado nas letras e nos acordes das primeiras músicas do espetáculo, dentre elas "Desalento", gravada no clássico álbum "Construção", de 1971; e "Injuriado", esta mais recente, incluída no CD "As cidades", de 1998.

"Obrigado. Boa noite, Rio", cumprimentou o compositor, ainda se aclimatando à tietagem basicamente feminina e aos gritos de "Lindo!" e "Gostoso!" e "Maravilhoso!", que ecoaram entre os números iniciais.

Mas a fisionomia tensa ficou para trás durante "Rubato", faixa de seu trabalho mais recente, "Chico". Foi quando o compositor largou o instrumento, tirou o microfone do pedestal, passeou pelo palco e brincou com Jorge Helder, coautor da música. "Este é o baixinho baixista, meu parceiro comparsa nesta música", divertiu-se Chico brincando com as palavras, uma de suas especialidades.

O arquiteto Oscar Niemeyer foi aplaudido de pé pelo público que lotou o Vivo Rio, no Rio de Janeiro, na noite de estreia de Chico Buarque no Rio (Foto: Alexandre Durão/G1)O arquiteto Oscar Niemeyer foi aplaudido de pé pelo público que lotou o Vivo Rio, no Rio de Janeiro, na noite de estreia de Chico Buarque no Rio (Foto: Alexandre Durão/G1)

A banda, ao lado lado do repertório infalível acumulado ao logo de mais de 40 anos de carreira, é um dos pontos fortes do show. Além de Helder, Luiz Claudio Ramos (direção musical, arranjos, regência e violões), João Rebouças (piano), Bia Paes Leme (teclados e vocais), Wilson das Neves (bateria), Chico Batera (percussão), e Marcelo Bernardes (flauta e sopros) vêm acompanhando Chico pelos palcos nacionais e internacionais há décadas.

É visível a intimidade dos músicos com o criador e suas canções, transpostas para o palco sob a batuta e o bom gosto do maestro Luiz Claudio — é debruçado ao violão de Ramos, por exemplo, que "Geni e o zepelim" ganha um surpreendente contorno flamenco. "Obrigado aos amigos que me acompanham há tanto tempo", agradece Chico.

Fora tradicionais apresentações e cumprimentos, não há interação entre artista e público. As músicas são executadas com um intervalo mínimo entre elas, apenas o tempo necessário para o alarido dos aplausos terminar. Mas ninguém parece se importar muito com a pouca comunicação. "Quem tem um repertório desses dispensa presença", destacou uma atenta senhora nos camarotes.

Recursos eletrônicos para ajudar com as letras, como monitores ou teleprompters, são esnobados. As únicas anotações próximas ao cantor no palco são duas folhas de papel, com a ordem das músicas, coladas no chão. Todos os versos de todas as músicas estão decorados. Ou quase todos.

Chico Buarque e parte da banda que o acompanha em quase todos os 90 minutos de show. Cantor relembra parceiros como Tom Jobim e Edu Lobo (Foto: Alexandre Durão/G1)Chico Buarque e parte da banda que o acompanha em quase todos os 90 minutos de show. Cantor relembra parceiros como Tom Jobim e Edu Lobo (Foto: Alexandre Durão/G1)

"Errei a letra", entrega-se Chico durante "Sinhá", parceria com João Bosco, que encerra seu último álbum. Aplausos. Até um deslize vira atração aos olhos e ouvidos da plateia carioca.

Os momentos mais divertidos e descontraídos da noite são os duetos com o aplaudidíssimo baterista e sambista Wilson das Neves, que canta "Sou eu" e "Tereza da praia" (Jobim mais uma vez) junto do dono da festa — é a hora em que Das Neves reverencia o amigo tirando o chapéu, literalmente, para cantar com o autor de "A banda".

A temporada carioca de Chico Buarque prossegue até o dia 12 de fevereiro. Depois, o músico segue para São Paulo, com shows entre 1º e 25 de março. Se trilhar o mesmo caminho de suas duas últimas turnês, é provável que o público possa levar o espetáculo para casa em CD e DVD ainda este ano.

domingo, 1 de janeiro de 2012

UMA CENA DO REVEILLON DIGNA DE DARCY RIBEIRO


O homem-enceradeira e a abundância de Iemanjá

Luis Turiba

O réveillon de Copacabana, cujo foguetório este ano durou exatos 16 minutos, é evento atemporal extraordinário porque está montado em cima de uma combinação transcendental de explosões sensoriais, onde nós, humanos vestidos de branco e taça de champanhe à mão, somos parte explícita da engrenagem da pirotecnia emocional.

Quando menos imaginamos, estamos ali envolvidos no tubo lisérgico participando com nossa energia de bem-estar, solidariedade e busca de esperança, paz e amor. Na festa, ninguém fica passivo. Os fogos pipocam e pipocamos juntos com o balé de luzes e sons. Gritamos, vibramos, cantamos, choramos, abraçamos nossa turma e a turma do lado, pulamos sete ondinhas com aquele ceuzão piscando imagens desenhadas a fogo e desfeitas a lágrimas.

Sim, tudo tudo tudo vai dá pé. Dois milhões de pessoas na mesma sintonia de Iemanjá. Segundo Darcy Ribeiro, "o crioléu carioca foi capaz de aposentar Papai Noel e colocar no quadro uma deusa grega. É preciso ser grego, de talento e de tesão, pra inventar Iemanjá, uma deusa que fode. A mãe de Deus faz amor – é uma idéia incrível."

Disse o mestre antropólogo certa vez com sabedoria: "dos milhões que vão à praia, do dia 31 para o dia primeiro, passar o ano na praia, molhando os pés na água do mar, ninguém vai pedir pra Iemanjá acabar com um câncer ou com AIDS – vai pedir pro marido não bater tanto, vai pedir uma amante mais gostosa, um namorado dos bons. Isso é de uma beleza incrível."

Como a festa em Copa começa 24 horas antes e só termina no dia seguinte, pude testemunhar uma cena afetiva digna de um filme de Darcy Ribeiro sobre a deusa Iemanjá. Aliás, a melhor e mais amorosa passagem que nossos olhos assistiram esse ano.

Um casal de brasileiros - ele, negro, alto, meia idade, muito parecido com Gandhy; ela, branca, baixa, rechonchuda – caminhava tranquilamente à beira-mar. Repentinamente param. Ele enche as duas mãos de filtro solar e, com gosto, começa a passar o óleo pelo corpo dela. Tudo naturalmente, ambos em pé. Ao chegar ao bumbum, o nosso herói não mediu esforços para alcançar todos os seus recônditos, côncavos e convexos. Com as duas mãos em movimentos circulares, deu um trato às desenvoltas nádegas de sua dama como se fosse, ele, uma verdadeira enceradeira humana.

Quase foi aplaudido. Darcy gostou, Iemanjá sorriu. Feliz 2012.   

 


 

DARCY RIBEIRO FALA DA FESTA DE IEMANJÁ

Iemanjá e a Utopia brasileira

Darcy Ribeiro, em depoimento a Antônio Risério e Luis Turiba na revista "Invenção do Brasil", 2000

"A Utopia brasileira é a uma utopia singela: comida, casa, escola e remédio. O resto – o espírito nacional, o orgulho de si mesmo como povo, a criatividade, a alegria – já foi feito. Nós já fizemos o mais difícil. Somos o único povo, de que tenho notícia, que foi capaz de inventar um culto nos últimos trinta anos, um culto igual ao dos gregos, que é o de Iemanjá  e a arrastou para uma posição que acabou com Papai Noel, aquele finlandês bestão que anda num carro puxão por veados, com um saco nas costas, jogando presente em chaminé. Quer dizer, acabou com um negócio tão alienado que os caras aqui gostam de se juntar pra comer fruta seca, numa época em que as frutas estão mais vistosas, com caju, mana, bacupari, pitomba, mangaba, as frutas mais prodigiosas da terra.

Minha festa de Iemanjá é isso: uma mesa cheia de frutas. Comer fruta seca é coisa de imbecil.

Sim, o crioléu carioca foi capaz de aposentar Papai Noel e colocar no quadro uma deusa grega. É preciso ser grego, de talento e de tesão, pra inventar Iemanjá, uma deusa que fode. A mãe de Deus faz amor – é uma idéia incrível.

Dos milhões que vão à praia, do dia 31 para o dia primeiro, passar o ano na praia, molhando os pés na água do mar, ninguém vai pedir pra Iemanjá acabar com um câncer ou com AIDS – vai pedir pro marido não bater tanto, vai pedir uma amante mais gostosa, um namorado dos bons.

Isso é de uma beleza incrível. Então, a criatividade nós temos. A criatividade no plano erudito também é formidável. No ano 3000 ainda vão falar de Niemeyer. E isso vai prosseguir, rodando. Tudo isso e muito mais."