sexta-feira, 30 de abril de 2010

CHICO BUARQUE DECLARA VOTO EM DILMA, MAS...

Do blog do Fernando Rodrigues 

...afirma que se Serra fosse eleito "não haveria muita diferença"

 O cantor e compositor Chico Buarque de Holanda declarou seu voto na eleição presidencial deste ano. Deve apoiar Dilma Rousseff (PT). "Vou votar na Dilma porque é a candidata do Lula e eu gosto do Lula". Em seguida, fez uma ressalva: "Mas, a Dilma ou o Serra, não haveria muita diferença".

 A declaração de Chico aparece na revista "Brazuka", uma publicação mensal distribuída gratuitamente em Paris, ile-de-France e Bruxelas. O compositor respondia a uma pergunta sobre declaração polêmica no ano passado de Caetano Veloso criticando Lula. Eis a íntegra da pergunta e o que respondeu Chico:

 Revista Brazuca: E o que você acha da entrevista recente do Caetano Veloso, onde ele falou mal do Lula e depois acabou sendo desautorizado pela própria mãe?

 Chico Buarque: "Nossas mães são muito mais lulistas que nós mesmos. Mas não sou do PT, nunca fui ligado ao PT. Ligado de certa forma, sim, pois conheço o Lula mesmo antes de existir o PT, na época do movimento metalúrgico, das primeiras greves. Naquela época nós tínhamos uma participação política muito mais firme e necessária do que hoje. Eu confesso, vou votar na Dilma porque é acandidata do Lula e eu gosto do Lula. Mas, a Dilma ou o Serra, não haveria muita diferença".

 A revista também pergunta a Chico sobre o comportamento da mídia brasileira, se haveria tratamento adequado à administração federal do PT ("Você acha que a mídia ataca o Lula injustamente?"). E a resposta: "Nem sempre é injusto, não há uma caça às bruxas. Mas há uma má vontade com o governo Lula que não existia no governo anterior".

 Tudo considerado, as declarações de Chico Buarque têm o poder de resumir mais ou menos o pensamento de uma certa parcela da intelectualidade quase sempre simpática a Lula, mas que não está alheia à realidade: 1) o lulismo ainda é forte entre certos intelectuais; 2) muitos acham que há um pouco de pegação no pé do governo (mas não a ponto de ser uma campanha persecutória como alguns petistas entendem) e 3) a tendência é votar em Dilma Rousseff para presidente, mas o apoio é muito menos convicto do que se possa imaginar.

 Abaixo, imagens da revista "Brazuca" e das declarações de Chico Buarque:

 

 

 

MOA REASSUME PRESIDÊNCIA DA ARUC

ESCOLA DE SAMBA 30 VEZES CAMPEÃ DO CARNAVAL BRASILIENSE EMPOSSA SEU NOVO PRESIDENTE
 
O jornalista Moacyr de Oliveira Filho, o Moa, reeleito presidente da ARUC, no último sábado, toma posse hoje, às 19h30, numa solenidade na quadra da escola, no Cruzeiro Velho.
 
A nova diretoria, que tem Márcio Barbosa Coutinho, o Careca, como vice-presidente; Abelardo Lopes Monteiro Filho, como diretor de Escola de Samba; Eduardo Siqueira, como diretor administrativo/financeiro; Gilgo Seixas, como diretor de esportes; Dudu Monteiro, como diretor de promoções e marketing, e Rafael Fernandes, como diretor de cultura, terá, entre outras, a responsabilidade de programar os festejos dos 50 anos da  ARUC, que serão comemorados no dia 21 de outubro de 2011.
 
Entre os desafios da nova diretoria da ARUC estão o início da construção da Vila Olímpica, que se arrasta há quase 4 anos, a implantação de cursos de formação profissional para a cadeia produtiva do Carnaval e oficinas da Bateria, Mestre-Sala e Porta-Bandeira e Passistas e a realização de eventos culturais e shows. Além é claro da conquista do 31º título de campeã do Carnaval de Brasília, em 2011. 
Os dirigentes da maior campeã do carnaval de Brasília querem fazer uma grande festa, com a presença de dirigentes das demais escolas de samba, políticos, parlamentares, intelectuais e personalidades da cidade para mostrar a força da entidade e do Carnaval de Brasília que, segundo os cruzeirenses, foi totalmente esquecido nas comemorações dos 50 anos de Brasília. 

quinta-feira, 29 de abril de 2010

ÍNTEGRA DA APRESENTAÇÃO DE LULA NO "TIME"

No texto sobre Lula, o documentarista Michael Moore apresenta no TIME uma breve biografia do presidente.
 
"O que Lula quer para o Brasil é o que nós [dos Estados Unidos] costumávamos chamar de sonho americano", avalia.

A indicação é uma tradição da revista que anualmente lista as 100 pessoas mais influentes do mundo. Líderes, heróis, artistas e pensadores.
 
Bill Clinton aparece na lista dos heróis e teve sua apresentação redigida por Bono, e Lady Gaga na lista de artistas mais influentes, apresentada por um artigo de Cyndi Lauper.
 
Na categoria pensadores, está o  ex-governador do Paraná Jaime Lerner.

Em 2009, Lula foi eleito o personagem do ano pelo jornal espanhol El País e pelo francês Le Monde.

 

EIS A ÍNTEGRA DA APRESENTAÇÃO DE MICHAEL MOORE NO TIME

 


When Brazilians first elected Luiz Inácio Lula da Silva President in 2002, the country's robber barons nervously checked the fuel gauges on their private jets. They had turned Brazil into one of the most inequitable places on earth, and now it looked like payback time. Lula, 64, was a genuine son of Latin America's working class — in fact, a founding member of the Workers' Party — who'd once been jailed for leading a strike.

By the time Lula finally won the presidency, after three failed attempts, he was a familiar figure in Brazilian national life. But what led him to politics in the first place? Was it his personal knowledge of how hard many Brazilians must work just to get by? Being forced to leave school after fifth grade to support his family? Working as a shoeshine boy? Losing part of a finger in a factory accident?

No, it was when, at age 25, he watched his wife Maria die during the eighth month of her pregnancy, along with their child, because they couldn't afford decent medical care.

There's a lesson here for the world's billionaires: let people have good health care, and they'll cause much less trouble for you.

And here's a lesson for the rest of us: the great irony of Lula's presidency — he was elected to a second term in 2006 and will serve through this year — is that even as he tries to propel Brazil into the First World with government social programs like Fome Zero (Zero Starvation), designed to end hunger, and with plans to improve the education available to members of Brazil's working class, the U.S. looks more like the old Third World every day.

What Lula wants for Brazil is what we used to call the American Dream. We in the U.S., by contrast, where the richest 1% now own more financial wealth than the bottom 95% combined, are living in a society that is fast becoming more like Brazil.

TIME INDICA LULA COMO LÍDER INFLUENTE

Do blogdonoblat
 
A revista americana "Time" elegeu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva um dos líderes mais influentes do mundo em 2010.

Em um primeiro momento, a imprensa chegou a divulgar que ele seria o líder mais influente, já que a publicação abria a reportagem com um perfil do presidente brasileiro e o colocava como o "número um" da lista publicada no site da revista - uma lista numerada de 1 a 25 e que não está em ordem alfabética.

A revista posteriormente explicou que não há um ranking entre os líderes citados. Segundo o setor de Relações Públicas da revista, a decisão de colocar Lula com o "número um" se deu meramente por "razões editoriais".

"Os editores da revista consideraram que seria mais interessante colocar o texto de Michael Moore sobre Lula como o primeiro, o que não significa que exista um ranqueamento", explicou a assessoria.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

OS DIAS LINDOS, DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

Não basta sentir a chegada dos dias lindos. É necessário proclamar: "Os dias ficaram lindos".

Drummond

Drummond na foto que inspirou a estátua em Copacabana

Acontece em abril, nessa curva do mês que descamba para a segunda metade. Os boletins meteorológicos não se lembraram de anunciá-lo em linguagem especial. Nenhuma autoridade, munida de organismo publicitário, tirou partido do acontecimento. Discretos, silenciosos, chegaram os dias lindos.

E aboliram, sem providências drásticas, o estatuto do calor. A temperatura ficou amena, conduzindo à revisão do vestuário. Protege-se um tudo-nada o corpo, que vivia por aí exposto e suado, bufando contra os excessos da natureza. Sob esse mínimo de agasalho, a pele contente recebe a visita dos dias lindos.

A cor. Redescobrimos o azul correto, o azul azul, que há meses se despedaçara em manchas cinzentas no branco sujo do espaço. O azul reconstituiu-se na luz filtrada, decantada, que lava também os matizes empobrecidos das coisas naturais e das fabricadas. A cor é mais cor, na pureza deste ar que ousa desafiar os vapores, emanações e fuligens da era tecnológica. E o raio de sol benevolente, pousando no objeto, tem alguma coisa de carícia.

O ar. Ficou mais leve, ou nós é que nos tornamos menos pesadões, movendo-nos com desembaraço, quando, antes, andar era uma tarefa dividida entre o sacrifício e o tédio? Tornou-se quase voluptuoso andar pelo gosto de andar, captando os sinais inconfundíveis da presença dos dias lindos.

Foi certamente num dia como estes que Cecília Meireles escreveu: "A doçura maior da vida flui na luz do sol, quando se está em silêncio. Até os urubus são belos, no largo círculo dos dias sossegados". Porque a primeira conseqüência da combinação de azul e leveza de ar é o sossego que baixa sobre nosso estoque de problemas. Eles não deixam de existir. Mas fica mais fácil carregá-los.

Então, é preciso fazer justiça aos dias lindos, oferecer-lhes nossa gratidão. Será egoísmo curti-los na moita, deixando de comentar com os amigos e até com desconhecidos que por acaso ainda não perceberam o raro presente de abril: "Repare como o dia está lindo". Não precisa botar ênfase na exclamação. Pode até fazê-la baixinho, como quem transmite boato e não deseja comprometer-se com a segurança nacional. Mesmo assim, a afirmação pega. Não só o dia fica mais lindo, como também o ouvinte, quem sabe se distraído ou de lenta percepção sensorial, ganha a chance de descobri-lo igualmente. Descobre e passa adiante a informação.

A reação em cadeia pode contribuir para amenizar um tanto o que eu chamo de desconcerto do mundo. De onde se conclui: deixar de lado, mesmo por instantes, o peso dos acontecimentos mundiais trágicos, esmagadores, para degustar a finura da atmosfera e a limpidez das imagens recortadas na luz, é um passo dado para reduzir o desconcerto, na medida em que a boa disposição de espírito de cada um pode servir de prefácio, ou rascunho de prefácio, à pacificação, ou relativa pacificação, dos povos e seus dominadores. Em vez de alienação, portanto, o prazer dos dias lindos é terapia indireta.

Pode ser que o desconhecido lhe responda com um palavrão, desses em moda na sociedade mais fina. Não faz mal. Não se ofenda. Ele descarregou sobre a sua observação amical o azedume que ameaçava corroê-lo no íntimo. Livre desse fel, talvez se habilite a olhar também para o céu e a descobrir mesmo certa beleza esvoaçante no urubu. De qualquer modo foi avisado. Já sabe o que estava perdendo: a consciência de que certos dias de abril e maio são mais lindos do que os outros dias em geral, e nos integram num conjunto harmonioso, em que somos ao mesmo tempo ar, luz, suavidade e gente.

Carlos Drummond de Andrade, crônica publicada no Jornal do Brasil, no final dos anos 1970

domingo, 25 de abril de 2010

GILBERTO GIL, IN LUMINOSO CONCERTO

 
GIL EMOCIONA EM SHOW ACÚSTICO E HISTÓRICO

Por Luis Turiba

Foi simples e ao mesmo tempo o máximo. Gilberto Gil fez na noite do último sábado (24/04) um apresentação esplendorosa do concerto acústico "Bandadois " no Centro de Convenções em Brasília. Aplaudido de pé por mais de duas mil pessoas, Gil voltou ao palco e terminou o bis com"Louvação", música que se apresentou no Festival da Record de 1967, portanto há 43 anos.

Depois de servir por seis anos como ministro da Cultura ao governo Lula, onde revolucionou o conceito de gestão cultural no País, Gil retoma agora sua carreira artística com uma retrospectiva das principais canções que arquitetou sua carreira musical. Dentro desse objetivo, o show é quase perfeito. Faltou ele cantar algumas canções ícones como A Paz, Aquele Abraço e Não chores mais.

Independente disso, há três coisas a dizer sobre a performance de Gil no concerto.

Primeiro: Gil está com a garganta afinadíssima e cantando limpidamente à maneira de João Gilberto, seu mestre.

Segundo: no palco, cabelo curto e já muito grisalho, com uma trança rastafari caindo para o lado direito, Gil lembra Dorival Caymmi, seu outro mestre zen.

Terceiro: o show é o fino da bossa, com a luxuoso auxílio do cello de Jaques Morelenbaum e o bom violão de Bem Gil, seu filho. Um espetáculo classudo como o também grisalho e mestre Augusto de Campos.

Gil nos traz lembranças de tempos idos e curtidos ao cantar Esotérico, Abacateiro, Abapala Xangô, Copo D'Água, Expresso 2222, Andar com fé.

Mas o ponto de maior (a)tensão do show fica por conta da sua interpretação quase à capela, marcando somente no violão, da inspirada "Não tenho medo da morte", um tema filosófico na vida de Gilberto Gil.

Não deixem de conferir essa extraordinário momento da Madura Música Brasileira.

sábado, 24 de abril de 2010

TODOS OS SONS - Domingo no CCBB

OSWALDO AMORIM & PAULO ANDRÉ TAVARES

ANDRÉ VASCONCELLOS & DANIEL SANTIAGO

HAMILTON DE HOLANDA QUINTETO

TODOS OS SONS – DOMINGO CCBB

 

Dia 25 de abril, Domingo, às 17 horas

Gramado do Centro Cultural Banco do Brasil

Setor de Clubes Sul, próximo a Ponte JK

Entrada franca!

 

Começa amanhã no gramado do CCBB Brasília o projeto que recuperou a vocação de Brasília para os grandes concertos ao ar livre: TODOS OS SONS – DOMINGO CCBB.

 

Em 2010 o projeto homenageia os músicos da cidade, no ano em que Brasília comemora seu cinquentenário. Com direção de Guilherme Reis, curadoria de Bia Reis e cenografia de Dalton Camargos, os concertos acontecem ao ar livre e com entrada gratuita, sempre no último domingo de cada mês, de abril a setembro, com exceção do mês de julho.

 

E quem irá abrir este concerto será o duo Oswaldo Amorim & Paulo André Tavares, com participação especial do baterista Leander Motta. Nesta apresentação eles irão apresentar músicas do cd "Na Estrada", entre outras. O disco primogênito do duo, vem agradando público e arrancando elogios da crítica especializada. Este trabalho é o resultado da vivência musical de dois músicos que transitam pela música erudita, popular brasileira, passando pelo baião, samba, bossa, forró, além da linguagem jazzística, o violonista e guitarrista Paulo André Tavares e o baixista Oswaldo Amorim. Os dois têm mestrado em jazz em universidades de Nova Iorque além de uma vasta experiência com outras culturas. Entre as faixas do CD, podemos observar as consequências dessa vivência. Destaque para as músicas "Bye bye, Brasília", uma toada brasileira com uma forte influência da música folk norte-americana; "Belo Horizonte", uma bossa nova lírica com forte influência "Pat Metheniana", além da faixa final, "Baião de dois", uma brincadeira despretensiosa onde se percebe baião, afoxé e country.

 

A programação deste domingo se completa com o show de André Vasconcelos e Daniel Santiago, que contará com as participações do jovem e talentoso saxofonista Josué Lopez e do grande baterista Xande Figueiredo, tocando músicas autorais e interpretando clássicos com releituras inusitadas.

 

E depois, fechando este concerto será a vez do renomado Hamilton de Holanda Quinteto, um dos grupos mais premiados da música brasileira, indicado em 2007 ao Prêmio Grammy. O quinteto de Hamilton é formado por Hamilton de Holanda no bandolim, Gabriel Grossi na gaita, Daniel Santiago no violão, André Vasconcellos no baixo e Márcio Bahia na bateria.

 

O som começa às 17h, na área externa do Centro Cultural Banco do Brasil em Brasília. Entrada franca. Imperdível!!!

 

 

 

Naná Maris Produções

Seu endereço de e-mail faz parte de um mailing cultural, caso não queira participar

envie um email com o ASSUNTO: REMOVA-ME


--
Naná Maris Produções Culturais
Mail: nanamaris@gmail.com
Fone: (61) 9115.7687  .  Skype: nanamaris

http://www.youtube.com/watch?v=unegFP0f0As
www.brasiliaoutros50anos.com.br


sexta-feira, 23 de abril de 2010

ORAÇÃO DE SÃO JORGE

Publicado neste blog no dia 23 do ano passado. Rezem novamente

 
MEU SANTO GUERREIRO,

INVENCIVEL NA FÉ EM DEUS,
QUE TRAZEIS EM VOSSO ROSTO A ESPERANÇA E CONFIANÇA,
ABRE MEUS CAMINHOS.

EU ANDAREI VESTIDO E ARMADO COM VOSSAS ARMAS PARA QUE MEUS INIMIGOS TENDO PÉS NÃO ME ALCANCEM, TENDO MÃOS NÃO ME PEGUEM, TENDO OLHOS NÃO ME ENXERGUEM E NEM PENSAMENTOS POSSAM TER PARA ME FAZEREM MAL.

ARMAS DE FOGO O MEU CORPO NÃO ALCANÇARÃO, FACAS E LANÇAS SE QUEBRARÃO SEM AO MEU CORPO CHEGAR, CORDAS E CORRENTES SE ARREBENTARÃO SEM O MEU CORPO AMARRAR.

GLORIOSO SÃO JORGE, EM NOME DE DEUS, ESTENDEI VOSSO ESCUDO E VOSSAS PODEROSAS ARMAS, DEFENDENDO-ME COM VOSSA FORÇA E GRANDEZA.

AJUDAI-ME A SUPERAR TODO DESÂNIMO E A ALCANÇAR A GRAÇA QUE VOS PEÇO ( FAÇA AGORA SEU PEDIDO ).

DAÍ-ME CORAGEM E ESPERANÇA, FORTALECEI MINHA FÉ E AUXILIAI-ME NESTA NECESSIDADE.

REZAR PAI NOSSO, AVE MARIA E FAZER O SINAL DA CRUZ

INVASÃO USOU O TWITTER

Chamamento pelo Twitter

Da Folha de S. Paulo: "Aquele seu brother, que você sabe que vai vir, liga pra ele. Quem tiver celular com internet, manda por e-mail, pelo Twitter", pedia Yuri Soares, 24, estudante de história da Universidade de Brasília e um dos invasores do prédio que abrigará a nova sede da Câmara Legislativa.

Yuri era um dos poucos com verdadeira bagagem no assunto invasão, a começar por ter sido um dos líderes da tomada da reitoria da UnB, em 2008. Para convocar adeptos contra o ex-reitor Timothy Mulholland, porém, não existia Twitter.

Foi assim, midiática e multimídia, a primeira noite estudantil no edifício ainda em construção. A Folha acompanhou as primeiras 12 horas.
Ontem os cerca de 60 estudantes decidiram deixar o local depois que a Justiça determinou a reintegração de posse. Eles deixaram o prédio por volta das 20h45.

Os primeiros invasores entraram por uma janela aberta pouco depois das 19h de anteontem. À meia-noite, a reportagem contou mais de 70 pessoas, reunidas para uma discussão política: "o que queremos exatamente?"
Uma coisa era certa: desejam a impugnação da eleição indireta que elegeu Rogério Rosso (PMDB) governador.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

ESTUDANTES OCUPAM SEDE DA CÂMARA LEGISLATIVA

Ocupa, ocupa e resiste

Por Pedro César Batista

Ao longo das comemorações de 50 anos de Brasília o melhor e maior presente dado a cidade foi o exemplo dos integrantes do Movimento Fora Arruda e toda a máfia. Se não fosse por eles diria, tristemente, que tudo estava dominado. Felizmente não está, ainda há resistência e gente que sonha e luta pela dignidade.

Em abril de 2008 um grupo de estudantes da Universidade de Brasília – UnB ocupou a reitoria da instituição com uma extensa pauta de reivindicações. Começava com questões específicas chegando às gerais, como a saída do então reitor Timothy Martin Mulholland, que, entre usava desrespeitosamente o dinheiro da universidade, chegou a pagar R$ 9 mil reais por uma lixeira para o luxuoso apartamento funcional que ocupava. A ocupação na reitoria durou 18 dias, contribuindo para sensibilizar a população da importância da luta em defesa dos direitos dos estudantes e da universidade pública.

Em novembro foi descoberta a bandidagem comandada por José Roberto Arruda, governador do DEM. O policial – bandido, Durval Barbosa, havia filmado toda a divisão do butim dos recursos públicos. Brigaram entre eles e as imagens vieram a tona, depois do P2 fazer acordo para a delação premiada. Inicia-se uma grande mobilização contra a corrupção e os mafiosos que controlavam o governo em Brasília.

Em 2 de dezembro, durante a entrega de um abaixo assinado à Câmara Distrital pedindo o afastamento de Arruda, movimentos estudantil, sindicatos e organizações populares ocuparam o prédio do legislativo local. Saíram depois de uma semana de ocupação e com a ação da PM/DF, que cumpriu um Mandado de Reintegração de Posso, solicitado pelo presidente da Casa, deputado cabo Patrício (PT/DF). Na época o coordenador do DCE da UnB, Raul Cardoso, afirmou "nosso intuito é que a coisa funcione, mas como uma parcela considerável de parlamentares aparece envolvida nesse lamaçal de corrupção, a ocupação é importante para denunciar esta situação e cobrar respostas efetivas".

Foi quando partidos e centrais sindicais chamaram um ato contra a corrupção em frente ao Palácio Buriti. Uma manifestação onde a preocupação com a institucionalidade estava em primeiro lugar. Quando os estudantes, mostrando mais uma vez criatividade e ousadia, em uma ação combativa ocupa o Eixo Monumental, em vários momentos em pontos diferentes. Foi quando os líderes sindicais pediram, usando todo o ar de seus pulmões nos microfones do enorme caminhão com som, que deixassem a rua livre. Os jovens ganharam apoio dos presentes, deixando os dirigentes partidários e sindicais falando sozinhos. A violência da PM, comandada pelo coronel Luis Henrique Fonseca – um desequilibrado serviçal do poder, foi mostrada a todo o mundo. "Os manifestantes quebraram o acordo e invadiram a pista, por isso houve o confronto". O cinismo clássico dos militares a serviço dos governantes. Durante horas os estudantes e populares não recuaram, mesmo enfrentando a cavalaria, bombas de efeito moral e balas de borracha.

A luta dos jovens cresceu, ganhou espaço e forças. Em 11 de fevereiro de 2010 o Superior Tribunal de Justiça, por 12 votos a 3, decretou a prisão do chefe da gang, o então governador José Roberto Arruda, e mais quatro comparsas, a pedido da subprocuradora-geral da República, Raquel Dodge . O especulador imobiliário Paulo Otávio, vice de Arruda, assumiu o governo por alguns dias, terminando por renunciar ao mandato, diante do enorme volume de denúncias e pressão da sociedade. Foi como um castelo de cartas. Um terço dos deputados distritais foi denunciado por estar diretamente envolvido com a roubalheira. O novo presidente da Casa, um laranja do esquema, o deputado Wilson Lima, acabou assumindo o governo. Marcou-se então a eleição indireta para a escolha do novo governador, quando o pupilo de Roriz e Arruda, Rogério Rosso, surpreendentemente, conseguiu 13 votos - nove deles denunciados pela Caixa de Pandora, vencendo a eleição em primeiro turno. Gatos e ratos se uniram.  Uma mudança para deixar tudo do mesmo jeito, como dantes na casa de Abrantes. O que importava era manter a quadrilha no comando do Distrito Federal.

No dia da eleição indireta, foi realizada uma vigília por estudantes e populares denunciando a nova farsa. Mais uma vez as ordens eram invertidas. A PM desceu o cassetete, espancando e prendendo. A Polícia Civil chegou a torturar o estudante Diogo Ramalho preso durante a resistência. Tudo para impedir o acesso dos populares às galerias da "casa do povo".

No dia 21 de abril de 2010, milhares de pessoas foram a Esplanada ou a Funarte comemorar o aniversário de 50 anos de Brasília. Música e shows acobertavam, com a ajuda da mídia, a podridão que assola o Distrito Federal, que continua comandanda por mafiosos do velho esquema coronelista do Planalto. Enquanto a festa rolava, lá estavam os jovens na luta, com seu grito de guerra: ocupa, ocupa e resiste, mostrando a indignação e a esperança dos que muitas vezes nem sonhos têm. Os estudantes que ocuparam a reitoria, a Câmara Distrital, enfrentaram inúmeras vezes a truculência policial demonstrando a indignação que deveria ser a alma de uma população que tenha a cidadania assegurada. Nessa noite da comemoração do aniversário da capital do Brasil, o novo prédio da Câmara Distrital foi ocupado. Esse pode ser considerado o verdadeiro presente que a capital do país merece. O exemplo da resistência, da luta pela transparência, por políticas públicas, na defesa da punição dos corruptos e a intervenção, para que se convoquem, imediatamente, eleições diretas para a escolha do novo governador do DF. Os jovens lutadores da UnB, militantes da Assembléia Popular e de outros movimentos autogestionários de Brasília tem mostrado que ainda há resistência e gente que sonha e luta por um mundo melhor. Esse foi o verdadeiro e o melhor presente para Brasília. Brasília merece luta, não apatia, banditismo ou a mentira.


--
Pedro César Batista
pcbatis@gmail.com
www.pedrocesarbatista.blogspot.com
www.militantedocampo.blogspot.com

BRASÍLIA TEM ESPAÇO ATÉ PARA AS NUVENS

Paulo José Cunha

 

        Clarice Lispector espantou-se com o visual que encontrou quando veio a Brasília pela primeira vez. E falou de uma Brasília artificial, por ter sido construída na linha do horizonte. Tão artificial como o homem quando foi criado. E acrescentava: "Quando o mundo foi criado, foi preciso criar um homem especialmente para aquele mundo". Ela previa a chegada do homem de Brasília, um ser especial que habitaria a cidade especial. Clarice amava o que ela chamava de "a paz do nunca", espalhada pela paisagem de Brasília. E o grande silêncio visual que se podia respirar na cidade.

 

        Aos 50 anos, já existe, sim, o homem de Brasília, previsto por Clarice, o homo cerratensis, de que falava o historiador Paulo Bertran. O homo brasiliensis, espécime  nascido e criado nas superquadras, ou morador das satélites que circundam o Plano Piloto, traduz com facilidade os espaços e o cipoal de signos e siglas da cidade, que ainda confundem os mais antigos. Os nativos traduzem Brasília com a mesma facilidade com que um adolescente mexe num computador, para espanto dos que ainda não se conformam com a aposentadoria das máquinas de escrever.

 

        O brasiliense nascido aqui, que brincou debaixo do bloco, que subiu no foguete do Parque Ana Lídia, que atravessou o eixão, que escorregou na grama do Congresso, integrou-se à geometria da cidade planejada. Sente-se deslocado e estrangeiro é quando tem de enfrentar o caos das cidades tradicionais.

 

        Clarice espantou-se com o artificialismo e a exatidão. Já os nativos estranham que alguém não consiga traduzir os signos e as siglas. Para eles, espantoso é não circular com desenvoltura por dentro do vídeo-game gigante, da fazenda iluminada, do autorama em tamanho real, da arquitetura de possibilidades infinitas, com a mesma desenvoltura com que navegam por entre os sites, links, blogs, spams e pop-ups da internet. Cada vez mais, o espanto com a radicalidade estética da cidade vai ficando distante de quem vive aqui.

 

        Sim, já nasceu o homem de Brasília. O alegre filho de uma cidade tão exata e precisa que uma certa Clarice Lispector chegou a dizer um dia que ela tinha espaço calculado até... para as nuvens.

 

terça-feira, 20 de abril de 2010

NIEMEYER E AS CURVAS DE BRASÍLIA

Não é o ângulo reto que me atrai.
Nem a linha reta, dura ostensiva criada pelo homem.
O que me atraí é a curva livre e sensual.
A curva que encontro nas montanhas do meu país,
na curva sinuosa dos seus rios,
nas nuvens do céu,
no corpo da mulher amada.
 
Das curvas é feito todo o Universo.
O Universo curvo de Einstein.
 
                              Oscar Niemeyer
                                        

MÁRIO FONTENELLE FOTOGRAFOU BRASÍLIA NO COMECINHO l



 
 
SENSACIONAL!!!!!!
 
OS PRIMEIROS MOMENTOS DE BRASÍLIA NA LENTE DE MÁRIO FONTENELLE

 

Mostra resgata o valor histórico do trabalho de um dos principais fotógrafos da época

A CAIXA Cultural Brasília expõe de 21 de abril a 23 de maio a mostra "O Passageiro da Esperança", do fotógrafo Mário Fontenelle. As imagens apresentam a memória visual dos primeiros momentos da construção de Brasília, resgatando, para os cinquenta anos da cidade, o valor histórico do trabalho do fotógrafo, que chegou à Brasília com Juscelino Kubitschek. A abertura para imprensa e convidados acontece na terça-feira (20) às 19h.

 

Fontenelle é o autor da foto histórica dos dois Eixos se cruzando no cerrado ainda inabitado, feita em julho de 1957. É dele também a foto de Lúcio Costa e JK encostado numa placa de Avenida Monumental, em abril de 1957. Seu olhar preciso e a sensibilidade de captar, a bordo de um avião, o símbolo de posse de uma cidade desconhecida do Brasil, nascida do gesto singular de seu inventor, Lucio Costa, assinala a primeira fase do trabalho do "Passageiro da Esperança".

 

As imagens ambientam-se nos espaços expositivos sem preocupação cronológica, agrupando-se em cenas que interagem entre si e com o público – retratos de um tempo sem parâmetros na história do povo brasileiro. Passeando pela Mostra, é possível sentir esse momento, em que as lentes de Fontenelle estão focadas na monumentalidade das obras de Oscar Niemeyer, no cotidiano dos candangos, nos canteiros de obras, nos acampamentos pioneiros e na despojada Cidade Livre; rostos anônimos – esperança, suor, labuta e euforia – mesclam-se a personalidades e a figuras ilustres.

 

Passada a grande epopeia, os anos pós JK, Fontenelle foi condenado ao esquecimento e atormentado por lembranças de um tempo de glória, em que era considerado "autoridade". Foi-se isolando e passou a fotografar rostos desconhecidos e a fazer fotomontagens, segunda fase do seu trabalho.

 

Vivendo seu tempo ou esquecido no tempo, Fontenelle foi um grande profissional. Brasília deve a ele as homenagens pelo precioso acervo, doado ao Patrimônio Histórico, de fundamental importância para memória visual da cidade, exibido nesta mostra à população como prêmio à capital de todos os brasileiros.

 

Biografia

 

Natural do Delta do Parnaíba, Piauí, Mário Moreira Fontenelle nasceu em 29 de maio de 1919, filho de Manoel Moreira Fontenelle e de Maria José Dias Fontenelle. Casou-se com Carmen Andréa Paes Leme aos 26 anos, em 1945, com quem teve sua única filha, Sandra Sybila Fontenelle, nascida em 1946. No ano seguinte, o casal se separou.

 

De estatura média, olhos verdes, traços marcantes, Fontenelle era homem simples e de pouca instrução, como tantos outros nordestinos que aqui chegaram. Viveu seus anos de glória, proporcionados pela convivência com os presidentes Juscelino Kubitschek e João Goulart, contatos que lhe permitiu circular nos palácios presidenciais, entre políticos e autoridades, o que o tornou uma celebridade.

 

O encontro com Juscelino Kubitschek deu-se a partir de 1954, no governo de Minas Gerais, onde foi trabalhar como mecânico de avião, profissão que exercera antes dos vinte anos, nos Serviços Aéreos Condor, posteriormente, Cruzeiro do Sul. Em 1956, Fontenelle veio para Brasília, acompanhando a comitiva do Presidente Juscelino Kubitschek. Fotógrafo por acaso, é dele a mais célebre de todas as imagens – o cruzamento dos dois eixos, em forma de cruz, o Monumental e o Rodoviário, do projeto de Lucio Costa.

 

Fontenelle não tinha residência fixa, vivia num quarto do Hotel das Nações. Alimentava-se mal, bebia muito (cachaça e rum), não se preocupava com a saúde. Casou-se apenas uma vez, embora fosse um grande admirador da figura feminina, isso explica as muitas idas aos bordeis e o gosto por fotografar mulheres.

 

Em 1960, Fontenelle contraiu tuberculose, mas a aposentadoria ocorreu em 1969, com a ajuda de Lucio Costa. Nos últimos três anos de sua vida, doente, esquecido e abandonado, Fontenelle viveu no Lar dos Velhinhos Maria Madalena, no Núcleo Bandeirante, onde faleceu aos 67 anos. Macérrimo, o lado esquerdo do corpo paralisado por um derrame e a perna esquerda amputada, consequência de uma gangrena, Fontenelle acalentou seus últimos dias com a ilustre visita de Lucio Costa.

 

No seu sepultamento, em 23 de setembro de 1986, apenas três amigos , os fotógrafos Jankiel Goncvaroska e Sálvio Silva e o arquiteto Sílvio Cavalcante, à época, Diretor do Patrimônio Histórico e Artístico do DF.

 

 

Informações e entrevistas:

Objeto Sim: Gioconda ( 81420112)

Edenise de Sousa ( curadora da exposição)

(61) 8130 1021

edenise.sousa@gmail.com

 

SERVIÇO:

 

Entrada franca

Acesso para portadores de necessidades especiais

 

UMA JOVEM DE 50 ANOS, BRASÍLIA É HOMENAGEADA NO JORNAL NACIONAL

Brasil inteiro se curva a grandeza da cidade de Brasília que está acima de tudo - até dos políticos corruptos



 

 

segunda-feira, 19 de abril de 2010

MOVIMENTO CINQUENTÃO CONVIDA!

 

Movimento Cinquentão convida!


O Movimento Cinquentão irá ocupar pacificamente o prédio da nova Câmara Legislativa (denominado Cinquentão), das 10h às 12h, do dia 21 de abril. Neste dia, poetas, músicos, atores, cineastas, artistas plásticos, e todo cidadão que tem amor por Brasília, irão ocupar o prédio fazendo muita arte, com atrações teatrais, brechó e uma grande Feira de Troca de livros, discos, cds, vídeos, roupas, objetos de arte etc., quando também o grupo irá lançar seu segundo Manifesto (ver abaixo e anexo).

A condição para participar do evento é levar muita alegria, cores, balões e disposição para este gesto de amor e celebração do aniversário da cidade.  O Movimento Cinquentão espera que Brasília passe por ali e festeje com poesia, música, indignação e amor esses 50 anos da cidade.

MOVIMENTO CINQUENTÃO CONVIDA! – Ato pacífico e artístico de celebração do aniversário de Brasília, com a participação de artistas e do povo brasiliense em geral. No espaço térreo defronte ao prédio destinado à Câmara Legislativa do DF (batizado de Cinquentão). Dia 21 de abril, de 10h às 12h.


MANI     FESTA    CORAÇÃO !

Quando chove, ela nos abre o milagre do arco-íris. Ela nos ensina o espanto do renascer após cada longo período de seca.

Quando por ela passeamos vemos painéis do Athos, cores dos Volpis e Bianchettis, as formas leves do Oscar, árvores e jardins do Burle-Marx, nesses amplos espaços engendrados pelo gênio de Lúcio Costa, a síntese de uma modernidade que encantou o mundo e continua dando mais vida e beleza a nossos olhares.

Em sua expansão de cidades irmãs, abrigam-se tantas expressões de um país continental, de etnias, falas e culturas distintas.       

Ela é Brasília – Pasárgada encontrada – sem rei e sem trono, mas que tem dono. E o dono da cidade somos nós, seu povo, sua gente que não se cansa nunca de a construir.        

Patrimônio Cultural da Humanidade onde o humano é o seu lado mais forte. Que digamos nós candangos que tiramos leite de pedra e ofertamos a Brasília nossos filhos – nosso mel. Como profetizava Dom Bosco ao sonhar com a terra onde verteria leite e mel.       

Hoje, todos nós, poetas, músicos, artistas visuais, atores, cineastas e cidadãos incansáveis no amor à cidade, tomaremos posse, ocuparemos as ruas, as quadras e as avenidas de Brasília. Vamos celebrá-la. Vamos cantá-la.        

O Movimento Cinquentão, com o poder que lhe é outorgado pelo amor, pela poesia e pela cidadania, hasteará estandartes e ofertará à cidade o prédio Cinquentão (a sede da nova câmara legislativa). O Cinquentão, financiado pelo dinheiro do povo, estará hoje nas mãos de seu único dono: o brasiliense.       

A cidadania quer que ele abrigue um Centro de Estudos e Prática da Ética e da Cultura. E mais, para fiscalizar a obediência aos princípios constitucionais e a conduta ética dos representantes do povo, propõe a observância do artigo 12 da Lei Orgânica do DF, que dispõe que "cada região administrativa terá um conselho de representantes comunitários, com funções consultiva e fiscalizadora, na forma da lei". A regulamentação desse artigo trará a comunidade para o centro das decisões.       

Nos seus 50 anos Brasília lava com chuva abundante a lama que lhe jogaram. Vai dar um basta à corrupção e à ilegalidade. Vai repensar sua representação política. E vai continuar a escrever em sua história um grande, um imenso poema de amor, de paz e de solidariedade. 


 

 

 



domingo, 18 de abril de 2010

LUÍSA LULUSA NA PRIMEIRA DO CORREIO



O jornal CORREIO BRAZILIENSE publicou na primeira página uma chamadaça para o lançamento do livreto LUÍSA LULUSA, A ATRIZ PRINCIPAL

sexta-feira, 16 de abril de 2010

POETAS HOMENAGEIAM 50 ANOS DE BRASÍLIA EM SARAU

 
1º SARAU DO BONA
 
Nesta terça-feira, dia 20 (véspera da grande festa do Cinquentenário), os poetas integrantes do grupo "Poetas da Lua" realização um sarau em homenagem a Brasília.
 
Vamos cantar a cidade, fazer um carinho na querida Brasília, que anda precisando de abraços, beijos, cheiros e xamegos. Vamos dizer o tanto que gostamos dela. E vamos dizer isso da maneira mais gostosa que existe: em versos. Dizendo poemas sobre ela ou compostos por poetas que moram nela, no coração dela.
 
Na ocasião, vamos homenagear também dois poetas de Brasília que já nos deixaram: Cassiano Nunes e Joanyr de Oliveira.  
 
O sarau ocorrerá a partir das 21h no Restaurante Bona Fide, do Deck Brasil ( QI 11 - Lago Sul). 
 
Venha comemorar com a gente o Cinquentenário Poético da Capital do Século XX!
 
Informações: Paulo José Cunha - (61) 9983-4590.
   

terça-feira, 13 de abril de 2010

LIVRO INFANTIL "LUÍSA LULUSA", UMA AVENTURA MÁGICA

Um livro feito livre

 

Guido Heleno

 

Mal abri o livro "Luísa Lulusa – a atriz principal" e me bateu a certeza de que estava diante de uma obra literariamente ousada.

 

Não estavam ali ousadias para afrontar ou para exibir modernidades inconsistentes.  Ao ler, ao deixar os olhos correrem livres pelas páginas no livro do Luís Turiba, se é guindado não apenas à condição de leitor, mas de cúmplice, co-participante de uma ventura que, de tão simples, é mágica.

 

Como anuncia o autor, o livro é um segredo guardado por mais de 10 anos, uma gestação histórica, familiar, literária.  Não há personagens: há pessoas. A figura principal é a filha Luísa, já sendo alguém mesmo antes de nascer. Uma criança que catalisa atenções e provoca emoções. Ao passar as páginas, movimenta-se o tempo. Aleatoriamente se é apresentado a imagens, alguns desenhos característicos do mundo infantil.  É aí que se dá a mágica transformação e se dá conta que não é apenas um livro infantil ou para criança. É um livro sem idade, para todas as idades.

 

Como não lamber delícias como "uma gotinha solta no verde/querendo chover-se sorvete"; ou saciar no pomar encantado dos jogos de palavras recheadas de ideias: "caramba/carambolas/sou de jambo/não me amora"?

 

Livro bom é assim, desses que não se pega para ler, mas que permite mergulhar em seu universo criativo com um prazer novo de quem também é personagem. Ninguém é proibido de brincar e todos são livres perante o mundo de Luísa. No caso, um quintal que convida ao sonho e nos faz acordar bem melhor.

Parabéns Turiba. Opa!  Parabéns Luísa e quem mais chegar.

"MESMA MINEIRA EM BRASÍLIA", um poema de João Cabral para a capital

 

MESMA MINEIRA EM BRASÍLIA

 

No cimento duro, de aço e de cimento,

Brasília enxertou-se, e guarda vivo,

esse poroso quase carnal da alvenaria

da casa de fazenda do Brasil antigo.

Com os palácios daqui (casas-grandes)

por isso a presença dela assim combina:

dela, que guarda no corpo o receptivo

e o absorvimento de alpendre de Minas.

 

*

 

Aqui, as horizontais descampinadas

farão o que os alpendres remansos,

alargando espaçoso o tempo do homem

de tempo atravancado e sem quandos.

Mas ela já veio com a calma que virá

ao homem daqui, hoje ainda apurado:

em seu tempo amplo de tempo, de Minas,

onde os alpendres espaçosos, de largo.


segunda-feira, 12 de abril de 2010

"LUÍSA LULUSA" , POESIA PARA TODAS AS IDADES

LANÇAMENTO DO LIVRETO "LUÍSA LULUSA, A ATRIZ PRINCIPAL"
 
Poesias de criança para adulto
 
Será no sábado, dia 17 de Abril, a partir das 16hs no pátio externo do CAFÉ MARTINICA, na 303 Norte, onde será montado um mundo infantil de diversão e criatividade.
 
Na ocasião, o poeta Luis Turiba e sua filha Luísa, 11 anos, estarão autografando exemplares do livreto feito dentro da filosofia de sustentabilidade ecológica; ou seja: com papel reciclado.
 
"São poemas de amor para crianças e adultos. Um livro de fantasias para a leitura do vovô, vovó, papai, mamãe, tios e tias, filhinhos, netinhos e netinhas", diz Luis Turiba.
 
Turiba faz questão de destacar o trabalho dos parceiros na edição que transformou o projeto numa pequena peça de arte. O poeta-designer Luis Eduardo Resende, o Resa, parceiro criador da Bric-a-Brac, foi o responsável pela montagem gráfica do livro.
O poeta Zuca Sardan, que mora na Alemanha, ilustrou o poema que anuncia à chegada de Lulusa no planeta Terra. Vovô Carlos Lambach ilustrou o poema das papinhas, que foi musicado por Cid Campos e está no CD "Crianças Crionças", que saiu pelo selo SESC-SP; o fotógrafo Sérgio Amaral clicou Luísa e Manu para a contra-capa do livro. Amneres e Fernanda Lambach fizeram a revisão final do texto; e as filhas Luísa e Manu participaram ativamente da edição de desenhos e fotos.
 
O livro teve o apoio fundamental dos seguintes parceiros: Colégio do Sol, Bar do Ferreira, Beirute, Café Martinica, Quiosque do Ivan, Café Bom Demais, Revista Plano Brasília, Tininha 4 Molduras, Charme Tour e foi rodado pela MAIS GRÁFICA em papel recliclato.
 
Mais informações e pedidos do livro:  turibapoeta@gmail.com
 

 

DRUMMOND PÕE FRENTE A FRENTE BRASÍLIA E CEILÂNDIA

Em homenagem aos 50 anos de Brasília, o blog publicará uma série de poemas e textos sobre a cidade.  O primeiro é do poeta maior CDA. Confronto faz parte do poema FAVELÁRIO NACIONAL, do livro CORPO, de 1984
 
CONFRONTO

 

Carlos Drummond de Andrade

 

 

A suntuosa Brasília, a esquálida Ceilândia

contemplam-se.

Qual delas falará primeiro?

Que tem a dizer ou a esconder uma em face da outra?

Que mágoas, que ressentimentos prestes a saltar

da goela coletiva e não se exprimem?

Por que Ceilândia fere o majestoso orgulho da flórea Capital?

Por que Brasília resplandece

ante a pobreza exposta dos casebres de Ceilândia,

filhos da majestade de Brasília?

E pensam-se, remiram-se em silêncio

as gêmeas criações do gênio brasileiro

sexta-feira, 9 de abril de 2010

UMA MENINA DE 8 ANOS EMOCIONA O BRASIL

 
A apresentadora-jornalista Fátima Bernardes fez o JORNAL NACIONAL da última quinta-feira, dia 8, diretamente do Morro do Bumba. Uma cobertura nota 10.
Para encerrar seu trabalho, conversou com a pequena Laura Beatriz, que contou como sobreviveu ao deslizamento de terra em Niterói. A pequena Laura deu uma lição de vida
 
Notícia do G1
 
Fátima Bernardes conversou com a menina Laura Beatriz, de 8 anos, mas que parece ter muito mais. Como se, da última quarta para esta quinta, ela tivesse ganhado muitos anos, envelhecido. A ponto dela mesma se referir à tragédia, como 'aquele dia'.

"Eu lembro que o banheiro foi o primeiro a cair. O banheiro partiu no meio e caiu. Quando eu pisquei o olho, não conseguia sair do lugar. Só via aquelas coisas caírem em cima de mim. O barro levou tudinho e me levou na direção, acho que bati com a cabeça no muro. Não doeu nada, eu não sei o que foi isso. Meu pai chorou muito no meu colo, falou: 'Laurinha, fica bem, pelo amor de Deus'. Deus me ajudou com muitas coisas. Agora vou viver minha vida, tenho muitas coisas para viver", contou a menina.

Laura Beatriz perdeu quatro primas e a avó no desabamento.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

UMA CONVERSA POÉTICA

 
O poeta Ricardo Silvestrin, gaúcho com mais de cinco livros publicados, e pessoa queridíssima dos brasilienses, me convidou para responde a algumas perguntas e conversar por e-mail sobre o doce e trabalhoso ofício do fazer poético. 
 
Aceitei o convite e começamos a papear por quase dois meses. Perguntas iam, respostas vinham e vice-versa bangalô três vezes.
 
Rendeu esse calhamaço aí que Silvestrin publicou no seu blog POESIA ALH EIA no endereço  http://silvestrin.blogspot.com/2010/03/serie-dialogos-ricardo-silvestrin-e.html
 
Resolvi publicar também. Fica aqui o registro para a história e para os que se interessarem em saber um pouco mais sobre o nosso processo de fazer poesia e construir poemas. Valeu, parceiro, bola pro mato que o jogo é de campeonato. 
 
 
Turiba: Grande proposta, Silvestrin; podemos começar com uma pergunta que ainda não consigo encontrar respostas. Ricardo, sabemos que um poema, quando bem construído, traz em si uma certa sinfonia musical de ritmos e sonoridades com e das palavras. Alguns sonetos de Vinícius, por exemplo o "Soneto da Fidelidade", induz a uma música. A obra dele é repleta desses exemplos, tanto é que Vinícius terminou deixando para trás o poeta clássico que foi para assumir o compositor meio hippie de "A tonga da mironga do cabuletê". Pessoalmente, fiz alguns poemas que descobri tempos depois que eram "letras de música". Cito o "Bico da Torre" e a "Menina do Parque" que Renato Matos, um brasiliense-baiano, musicou depois de muita propriedade. Bem, só estou apenas lançando um tema, provocando um diálogo conforme você propôs. Ou melhor; voltando a um velho tema dicotômico que é "poesia e letra de música". Os poETs, meio poetas, meios compositores-cantores, são um exemplo vivo desta trilha. Somos de uma geração de seres culturais muito mais musicais e visuais do que letrados. Antes das bibliotecas freqüentamos lojas de discos, lembra? Fomos tropicalistas antes mesmo de sermos modernistas. Por intermédio de Chico Buarque fomos conhecer melhor Machado de Assis. Enfim, toquei a bola pra frente. Qtal?
Ricardo: Grande Turiba! Como canta o Asdrúbal trouxe o trombone, "eu preciso de pessoas animadas/e ânimo tem quem conhece e vence o medo". Vamos à questão. Não se trata de nomear por nomear ou separar por separar ou mesmo juntar por juntar poesia e letra de música. Trata-se, e penso que isso seja o mais importante, de se entender que tipo de criação e elementos criativos estão presentes num texto e noutro. E esse um e outro pode até ser o mesmo texto. Voltando ao passado. Lá na Poética do velho Aristóleles, 300 a.C, ele diz o seguinte. O verso veio antes da frase. Ele é uma imitação dos conjuntos da fala. A gente fala aos pedaços. Fala um pouco, para, segue. Não se fala como a frase, do início ao fim da linha sem parar. Isso só narrador de futebol faz. Então, o verso nasceu como um critério sonoro, de fala. Um tratado de medicina era escrito em versos. Esse verso artístico, não o do tratado, era apresentado junto com outros elementos. Daí os metros. Se o verso fazia parte de uma peça com dança, era recomendável x número de sílabas. Se era falado, outro, se era entoado, outro, se era cantado, outro. A métrica nasceu como um critério funcional, não apenas uma escolha estética. A fala por si só tem uma melodia. Os sotaques são uma prova disso. Quando encontramos alguém de outro estado dizemos que ele fala cantado. E ele diz o mesmo de nós. O que houve? Como todos da mesma comunidade estão cantando a mesma música, a gente não repara. Quando ouve uma música diferente, o ouvido registra. Essa melodia não-intencional da fala é diferente da melodia intencional que se cria numa música em que se coloca uma letra. Na segunda, criamos uma melodia para ser cantada, mais cantada, do que a fala. Por outro lado, se tudo é canto, um intencional e outro não, também se pode dizer que tudo é fala. Como diz o Tatit, cantar é disfarçar que se está falando. O samba de breque, por exemplo, para e fala, como que para nos lembrar disso. Depois dos gregos, os romanos herdaram os metros e seguiram falando-cantando. Na idade média, os trovadores criaram melodias com letras e cantaram. A arte do verso era consumida pelo ouvido. Com a invenção da imprensa, da possibilidade de reproduzir o texto no papel, essa arte do ouvido passa a ser também dos olhos. Isso muda tanto a recepção quanto a criação do verso. Os poetas foram descobrindo, vendo no papel, que fica legal cortar o verso num ponto de leitura, critério visual, e não mais ou apenas num ponto métrico, critério sonoro. E outras descobertas que chegam até os poemas visuais e concretos. Foram cerca de 450 anos descobrindo isso. Hoje, temos no poema escrito para ser lido a convivência de valores sonoros e visuais. Paralelo a isso, há uma outra ramificação dessa arte do verso, a que lida com verso e construção de melodia para ser cantada. Isso vem junto, desde o início, acentuou-se com os trovadores medievais e vem até hoje. Nessa criação entre a palavra (letra) e a melodia, além dos outros elementos como ritmo, acordes, harmonia, pulso, ataque, interpretação, arranjo, gravação, execução (música), nasce um objeto estético híbrido, feito de palavras (que também são sons) e sons que não são palavras. Por exemplo, quando Tom Jobim canta "Angela, porque tão triste assim agora/e tudo quanto existe chora/teu rosto na janela (agora a melodia começa a subir junto com a letra, vai subindo na escala dos agudos)
da-que-le-a-vi-ão (subiu a melodia junto com o avião) - e segue arrasando com palavra e melodia: "lá embaixo a terra é um mapa/que agora uma nuvem tapa/não tentes evitar a dor...". Então, isso é uma arte em que a palavra convive criativamente com os elementos outros musicais. Daí, chamar-se, não por um lapso da cultura, de letra de música. É mais uma parte dessa estrutura que é a música: harmonia, melodia, letra. Mas são versos. E, como tal, lidam com surpresas de significados das palavras, com aproximações e achados sonoros das palavras, com imagens, metáforas e pensamentos construídos com palavras. Sobram ainda duas nuances dessa questão. Uma é a questão da nomeação. Ela diz respeito, por um lado, a uma raiz histórica, e por outro, ao status, também histórico, tanto da poesia quanto da letra de música. Lá no véio Ari, o Aristóteles, na Arte Poética, está a raiz histórica. Como tudo era escrito em versos, tudo era poesia. A poesia épica, a que narra a história de um herói, que hoje vive na prosa, era escrita em versos, era poesia. A poesia dramática, também em versos, que virou o teatro. E a poesia lírica, que nasce quando um dos elementos coro da tragédia vai ganhando cada vez mais fala e acaba saindo do coro e indo falar sozinha. Esse desprendimento também coincide com uma nova fase do pensamento grego. É quando o homem fala sobre o mundo a partir de si e não mais a partir do confronto com os deuses. O poeta lírico, ele e sua lira, entoa versos sobre uma base de acordes. Na raiz, tudo é poesia. Com o tempo, os trovadores, a melodia mais construída para ser cantada, essa poesia vai virando letra, parte, da música. E a poesia, com o advento da imprensa, passa a ser criada para ser lida, parte do papel, do livro. E mesmo a poesia falada terá melodia de fala, não virando letra de uma melodia. Daí, terem vingado e permanecido dois nomes para duas realizações da arte do verso: poesia (poema, a forma dessa arte) e letra de música. Como diz o Greimas, liguista da semântica estrutural, não existem sinônimos. Há palavras com traços de significado em comum, mas nenhuma palavra tem todos os traços que outra. Por isso, em alguns contextos, uma pode ser usada pela outra, mas em outros contextos não. Assim, pelo princípio da economia da linguagem, quando uma palavra passa a ter os mesmo traços de significado que outra, uma cai em desuso. É o que está para acontecer creio com poesia e poema. Dirão: poesia é o lírico, o inefável, e poema, a forma. Mas se alguém disser que escreveu uma poesia ou que escreveu um poema ninguém hoje vai perguntar "mas te referes à forma ou ao conteúdo poético?". Já letra e música seguem se diferenciando e causando, inclusive esse debate. No poema escrito, há ainda os valores visuais da palavra que o distanciam ainda mais da letra de música. O valor histórico de cada uma dessas duas realizações é a outra nuance. Como a poesia é uma arte mais antiga, nomeadamente mais antiga, como ela entrou para o mundo letrado, o mundo que usou ideologicamente a literatura para afirmar um passado histórico glorioso das nações, parece um depreciação não chamar letra de música de poesia. Não chamar um grande letrista ou compositor de poeta. Mas poesia não é elogio. É uma forma. Há péssimos poemas e péssimos poetas também. Chamar Chico Buarque de poeta, dependendo com que poeta o está comparando, pode ser um mau negócio para o Chico. Há grandes letristas, grandes criadores de letra e música (compositores) que são tão geniais como os mais geniais poetas de poesia escrita para ser falada ou lida. E há letristas fracos como há poetas de livro fracos. Uma arte não está acima da outra. Por outro lado, a não audição da relação criativa entre letra e música faz valorizar mais os letristas que escrevem letras mais parecidas com poemas escritos. Aparece o argumento que tal texto pode ser lido sem a música. Ok, pode. Mas se for ouvido com a música vai se perceber muito mais coisas dessa relação criativa. Chico Buarque não é apenas um grande letrista, mas um grande compositor. Um música como Pelas Tabelas, por exemplo, tem na melodia o movimento do cordão carnavalesco que vai pela rua, avança até o ponto máximo e depois recua lá para o começo. A letra narra as ilusões de avanço democrático quando da época das diretas já. "Quando vi todo mundo na rua de blusa amarela/eu achei que era puxando um cor (dão) oito horas e danço de blusa amarela/claro que ninguém se toca com minha aflição...". No ponto do "dão", sílbaba que vale para os dois versos, a melodia volta para lá para o íncio da frase. Isso segue até o fim da música. Chamar o Chico de poeta, pensando apenas na qualidade do seu texto escrito, é, nesse caso, uma diminuição, não um elogio. Ele não criou só o "poema", mas a letra em relação à melodia da música (que é outra em relação à melodia do texto), ao ritmo da música (que é outro além do ritmo do texto), à sequência de acordes. Existem, pra terminar, o caso do poema musicado e o caso de criar uma letra para ser musicada. O poema, como disseste, tem uma melodia, um ritmo. Isso foi construído pelo poeta. É uma melodia de fala, ou de poema mesmo. Mas é melodia para ser lida, não cantada. E ritmo para ser lido, não batucado ou dançado. Embora se possa batucar e até dançar se for repetido o texto, achando-se seu ritmo e sua melodia. Quem vai musicar pode perceber pela leitura uma melodia e um ritmo, que nasce do poema, que pode coincidir com a que poeta criou e a estrutura está realizando ou mesmo vir da própria maneira de ler. A partir daí, o músico vai criar uma melodia de canto, que pode também não ter diretamente nada a ver com a do texto. Em alguns casos, vai repetir versos formando um refrão, inserir pausas, cortes. Ou seja, vai transformar, quando cantado, o poema em letra, em parte da música. Os versos vão dançar conforme a música. Então, esse texto, passa a ter dupla cidadania: é poema no livro, no papel ou mesmo falado, e é letra quando cantado. Como já sabemos que poesia não é elogio, não perdeu nada. Só ganhou, se for bem musicado, se o músico não transformou o poema bom numa música sem graça, o que é bem comum de acontecer, pois o músico não conseguiu deixar aquele poema uma boa letras, não cortou, não repetiu ou não criou uma boa melodia, legal de cantar. Quando criou uma letra, sem melodia, já deixo a cama pronta: faço versos regulares, uso repetições, crio até refrão, e vai do estilo do músico fazer uma melodia legal ou uma chatice. E também crio melodias cantando e coloco letras, criou uma sequência de acordes, melodia e letra, ou crio junto com os poETs ou com outros parceiros melodia e letra e colaboro na sequência harmônica. Tem os casos de diálogo entre poesia e letra, mesmo musicando poemas visuais. "O que não é/não pode ser", poema circular do Arnaldo Antunes, essa frase/verso que é uma afirmação circular - se não é não pode ser; e se não pode ser não é, foi musicada pelos Titãs. Onde começa um círculo? Em qualquer ponto? Então, eles vão lendo o círculo na melodia, cantam a frase começando cada vez de um ponto: não é o que não pode ser que não é/ é o que não/pode ser que não/é! - e seguem com uma melodia circular: o que não é o que não pode ser/ o que não é o que não pode ser/ o que não é o que não pode ser que não é. Também Caetano musica os valores visuais do Pulsar do Augusto de Campos, dando sons mais graves ou mais agudo conforme os desenhos-letras-estrelas são maiores ou menores. Bom, Turiba, essa pergunta quase transformou o diálogo em monólogo. Agora é minha vez de perguntar. Quero saber da tua relação com o samba, primeiro, e com a visualidade da palavra, em segundo. Diz aí!
Turiba: Querido amigo Ricardo Silvestrin, adorei aquela história do "texto com dupla cidadania" e muitos mercis pela quase aula (sem quer chamá-lo de acadêmico) sobre esse tema que já mereceu até filme de Tete Moaes, com participação de Chico, Arnaldo, Tatit, Martinho da Vila e um carrada de gente boa. Sarava amigo, com licença de Vinícius de Moraes que nos deu aulas de poesia e letras de música. Esse praticou a "dupla cidadania" intertextual! Agô também pelo retardo na minha resposta. É que estava com a cabeça como naquele samba do Chico "Pelas Tabelas" que você citou. Mas agora, depois de férias em Salvador, muita praia, coco e acarajés, axés e ijexás, o cansaço foi substituído pela boa preguiça, que é melhor que o stress. Assim, estou em plena recuperação de meus plenos poderes mentais. Mas vamos lá: você, no seu último e filosófico papo, me propõe para falar alguma coisa sobre o samba. Aí é comigo mesmo. No ano passado, por exemplo, compus e gravei um samba em parceria com o Dr. Da Cuíca e Paulo Djorge com o título "O samba já nasceu na minha veia." Lindo por sinal. Penso em encartar um CD com 10 sambas no meu próximo livro de poesia, o "meiaoito" que já está no prelo. O fato, porém, é que o samba rola mesmo nas minhas artérias e serve como um veneno anti-monotonia. Isso desde a juventude de meus 15 anos, pois fui criado na Rua São Francisco Xavier, bem em frente ao viaduto que dá acesso ao morro da Mangueira. Assim, a Mangueira, o Buraco-Quente, suas vielas, seus barracões de zinco, fazem parte da minha primeira infância e da minha adolescência. Recentemente comecei a ter a consciência plena e ampla sobre o papel do samba na formação na nação e da cultura brasileira, do seu caráter popular, suas peculiaridades rítmicas, suas responsabilidades sociais, comunitárias e poéticas. No Brasil, o samba é o alegramento da tristeza. O "Samba na Veia" fala um pouco sobre isso. Eis a sua letra:
Samba na veia
Dr. da Cuíca, Paulo Djorge e Luis Turiba

o samba já nasceu na minha veia
o samba já nasceu na minha veia (refrão)

quando digo que o samba é o lance
a mais bela síntese do eterno instante

quando digo que o samba é o brinco
o brilho perdido achado e surtido

quando surto no samba o meu surdo
marcante e arfante amado e temido

é que o samba mistura-se ao sangue
e ferve o instinto na beira do abismo

o samba já nasceu na minha veia
o samba já nasceu na minha veia (refrão)

o samba é a herança de um berço
lembranças marcantes mistura de raças

o samba é meu pranto rolado

pra ser exaltado no meio da praça

simbora no semba e no samba
no jongo na benção da mãe africana

quem nasce no samba tem arte
alma de passista e de porta-estandarte

(quando eu nasci
um anjo torto me deu um tamborim
um pandeiro e uma cuíca
e um pedaço de cetim)

Voltando ao nosso papo. O samba para mim funciona como um elixir de ânimo, um do-in rítmico e acima de tudo poético. Quando editava a revista de poesia experimental Bric-a-Brac, nos anos 80 do século passado, fiz uma entrevista com Paulinho da Viola que repercute até hoje. Foram 10 horas de gravações por dois dias seguidos. Paulinho se soltou. Recordou e contou histórias fantásticas do seu reduto de samba, o bairro de Botafogo, no Rio, e a escola de samba Portela, de Madureira, antes de ser dominada por bicheiros. Foi uma das conversas mais lindas e gloriosos que consegui editar. Será agora republicado no livro de arte que a Cosac Naify editará sobre a vida do autor de "Foi um rio que passou em minha vida" e "Sei lá Mangueira". Paulinho lembrou de nomes que formaram a Velha Guarda da Portela, uma das células mais vivas e ricas do samba carioca; inúmeros episódios envolvendo este mundo encantado e o melhor, cantou antigos sambas. Um desses sambas compostos por Jamelão e Bubu, "Quando vem rompendo o dia" foi logo depois da entrevista regravado por Marisa Montes com muito sucesso. Marisa, aliás, parece ter se inspirado na entrevista de Paulinho para roterizar um mergulho na Velha Guarda da Portela junto com o príncipe do samba. Deste mergulho nasceu o filme "O Mistério do Samba", uma obra-prima que existe em vídeo e merece ser visto, comentado e devorado por quem deseja conhecer melhor a cultura brasileira e carioca. Mas voltando a entrevista com a Paulinho, cujo título era "Um samba dominando o mundo", na Bric-a-Brac nº 4, de 1988; pude descobrir que o samba, assim como a capoeira, se enraizou pelo mundo afora. Ou seja; fez o seguinte circuito histórico: subiu o morro com a nascimento das favelas no início do século dezenove; desceu do morro para a classe média, com a evento da bossa-nova; e se espalhou além fronteiros do Rio consolidando-se nas comunidades afro de São Paulo, Minas, Rio Grande do Sul, Bahia, Pernambuco, Maranhão; e assim fez sua diáspora mundo afora. Fiz na Internet uma pesquisa que me levou ao surpreendente resultado: o samba brasileiro está se reinventando no Japão, lá do outro lado do mundo. São cerca de 20 escolas de samba em Tóquio, Azakusa e diante disso, estou agora levando adiante um projeto intitulado "Samba no Mundo". Para finalizar nosso papo sobre samba, passo pra você Ricardo a letra de um samba-enredo que fiz em parceria com o poeta português Fernando Pessoa. Uma cópia deste samba foi levado para a Casa Fernando Pessoa, em Lisboa, pela professora responsável pelos baús pessoanos. É assim:

Fernando Pessoa e o outro do outro
Luis Turiba com base em poemas de Pessoa

Deus quer
O homem sonha
A obra nasce
Deus quis

Que a terra fosse toda uma
Se a vida quase sempre imita a arte
Me coube um destino testemunha

Vou contar pra vocês
Algo que me invade
Quando tento apreender
Se revela nenhuma

(BIS)

O outro do outro no oco do eco do torto
Que carrego junto a mim
Um porto é um pacto é um parto é um fardo é um fado
Coberto de lama e de cetim

O sol hoje saiu e mandou avisar
Gente é pra brilhar fome pra quê?
Passei a minha infância no Além Mar
Bordando incertezas ao meu viver

Fernando Pessoa e a sua Mensagem
Tornou a lusa língua navegável
Fingir-se é conhecer-se é ser o outro
Um mar de vozes em um simples corpo

O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é samba
O fado que está nas gentes (bis)

Deus quer (bis

E aí vai minha pergunta, que é algo que sempre o público leitor deseja saber. Como funciona o seu esquema de criação? Como você recebe a inspiração e atraca com a transpiração? E voltando ao nosso papo inicial: há versos que nascem para ser música e como trabalham os poETs suas parcerias?

 

Ricardo: Eu trabalho de duas formas. Uma é com projetos. A outra é sem projetos. Na segunda, são os poemas que vou escrevendo ao longo da vida. Escrevo-os tanto do nada, porque fiquei a fim de escrever, quanto por estar lendo poetas legais que me dão vontade de escrever também. E esse do nada, na maioria das vezes, é do nada mesmo. Sento para escrever porque estou com vontade, mas não tenho a priori nenhuma ideia nem de forma nem de conteúdo. Escrevo de desejo mesmo de escrever. Aí sento e vou vendo o que sai. E sai. Quando a gente vai ver, estavam coisas lá no fundo da água escura que se puxa e se olha pra elas. Quando sentei porque alguma leitura de poesia me deu o click, saem poemas, um ou mais, nascidos desse click, desse viés criativo que achei nas entrelinhas e entreformas de outros. E posso seguir escrevendo outros poemas que nada tinham daquilo que me motivou a começar. Já nos poemas que nascem de projetos criativos, a coisa se dá por descobertas. São descobertas criativas que podem render uma série ou até um livro inteiro. Em O Menos Vendido, há três partes. A primeira se chama Manchas. Nela, tem poemas isolados e séries. E todos são poemas de envergadura estética. A segunda parte se chama Quieto no meu canto. São poemas em voz baixa. Mostro ali, de uma certa forma, o oposto da divisão anterior. São poemas feitos com muito pouco, mas que para em pé por isso mesmo. E a terceira parte se chama A poesia de cada dia. Esses surgiram da leitura de uma leitura do prefácio do livro do Walt Whitman, escrito pelo Leminski. Ele diz que Whitman escreveu poesia a vida inteira. Pensei na hora, como seria se levássemos essa frase ao pé da letra. Se escrevesse poesia todos os dias. Então comece essa série, escrevendo um poema por dia até quando agüentasse. Foram 88 dias. E tantos outros projetos, como no meu livro ex,Peri,mental, por exemplo, os poemas de único verso cada, ou os poemas do infantil É tudo invenção, em que crio versões de como determinadas coisas foram inventadas. Sobre a criação nos poETs, fazemos, juntos e nesta ordem: a sequência harmônica, a melodia e, por fim, a letra. Fazemos tudo os três. É uma criação coletiva de música e letra. Portanto, os versos de música nascem quando estamos criando uma música. Tens aquele poema muito legal que diz "Sambo para dentro". Como nasceu? É uma espécie de poética tua?
Turiba: O nome desse poema é "Ábsono", uma palavra que pesquisei e escolhi no dicionário. Aliás, tenho esse mania: escrever sempre com um dicionário por perto. Eu queria escolher uma palavra como título para definir aquele negão de quase 2 metros que frequenta sambas em Brasília e tem uma maneira muito peculiar de samba. Samba absolutamente parado, ao contrário do sambista normal que é expansivo, samba pulando pra frente, pra trás e pros lados. A ginga do samba é um pouco a ginga da capoeira, coisa de negros, coisa da África. É uma espécie de linguagem do corpo que é própria dos africanos, que falam dançando, sacudindo expansivamente pés, mãos, cabeças, braços, bundas, enfim; o corpo acompanha a batucada. Os sons dos tambores, os desafios das florestas, das savanas. Já viu um mestre-sala cortejando a porta-bandeira. Você que foi a Mangueira e olhou carinhosamene o velho Jamelão ao ponto de fazer um poema-samba sobre o velho cantor, já viu o Delegado dançar, com seus 83 anos, ainda hoje é um mestre na arte de "falar no pé" que também é um tipo de linguagem. Então o "Ábsono" foi um poema de observações, sem nenhuma inspiração, um poema de pesquisa, tipo esse que você fez em cima do prefácio do Leminski para Witmann. Um poema-radiografia, quase anatomia, descrevendo partes do corpo humano. Mas funciona bem dizê-lo, pois faço um gestual do meu "muso" inspirador. Tempos depois, descobri que meu personagem tem uma pomba-gira muito forte, dessa que o Zeca Pagodinha chama de Bramará, pois bebe um engradado sem usar o toalette. Então, o samba vai esquentando e o cabra bebendo cerva e começa a rebolar pra dentro, como se estivesse se espiritualizando, recebendo um santo. Dá umas sacudidas e, de repente, pára. Também é linguagem corporal. "Ábsono" é um estado quase inerte, um estado quase ioga, hipnotizado e hipnotizante. Então, dessas contradições todas nasceu um belo poema que pra dizê-lo tenho que ter um preparação interior para ficar mais a vontade. Pretendo abrir meu CD de sambas recitando esse verso tendo ao fundo duas ou mais cuícas. E você, me parece que sua praia é mais a do rock and roll, do iê-iê-iê? Arnaldo Antunes, por exemplo, rodou, rodou, rodou e parou no iê-iê-iê. Como foi sua formação musical? O que gera essas canções tão instigantes dos poETs. Você ouvia mais Lupícínio Rodrigues ou mais aquela dupla de cantores gaúchos que dizia: "Deu pra ti/ baixo astral/ vou pra Porto Alegre e tchau"? Roda sua música aí, vai.....
Ricardo: O teu livro Bala é dedicado a tua querida esposa Vânia, que é professora de ioga. Então, achar um iogue sambista é coisa para especialista! O samba é uma das minhas paixões. Está lá na raiz da minha alma. Sou brasileiro que gosta do seu país, da sua história, da sua produção cultural. Isso vale para o nosso cinema, a nossa poesia, artes plásticas, música, teatro. As primeiras músicas que compus, sozinho, com letra e melodia, ali pelos nove anos, eram marchinhas, sambinhas. Desde criança, acompanho o carnaval. Fui a desfiles na avenida, brinquei em clubes e sempre espio na TV. Aquela virada histórica do luxo para o lixo do Joãozinho Trinta é grande arte brasileira. E o que essa comissão de frente da Unidos da Tijuca com as pessoas mudando de roupa em segundos? Se alguém precisar de um letrista para samba-enredo, sou parceiro! No meu primeiro livro, Viagem dos olhos, tem uma série de quatro poemas chamada Argumento. Todos sobre o samba na avenida. Vejo seguido no Canal Brasil aqueles filmes com Zé Trindade, Oscarito, Grande Otelo em que os cantores dos sucessos de carnaval dão uma palhinha. O poema sobre o Jamelão não é um desvio na minha história. Pelo contrário, é o resultado de tudo isso. Mas minha formação musical é mais ampla. Na primeira adolescência, a soul music, a discoteque. Na segunda fase, ali pelos 13, rock pesado: Deep Purple, Kiss, Queen, Black Sabath, Slade, Pink Floyd. Dos 16 em diante, MPB, Caetano, Gil, Chico, Alceu Valença, Moraes Moreira, Sá, Rodrix e Guarabira, Gal Costa, além dos gaúchos Musical Saracura, Nei Lisboa, Nelson Coelho de Castro, Almôndegas (a banda de rock rural de onde saíram os irmãos Kleiton e Kledir). Já pelos 19, Itamar Assumpção, Arrigo, Premeditando o Breque, Rumo Tetê. Pelo 20 e poucos, o rock brasileiro do Barão, Lulu, Paralamas, Titãs, Kid Abelha, além dos gaúchos Júlio Reny, Graforréria Xilarmônica, Cascaveletes, TNT. E perto dos 30, Beatles e jazz – Ella Fitzgerald, Billie Holiday, Louis Armstrong, Cole Porter, Gerswin. Hoje, tudo ao mesmo tempo agora. Na nossa composição dos poETs, o título do primeiro cd, Música Legal com Letra Bacana, define bem a nossa proposta. Nós três temos cada um o seu caldeirão musical. Há cruzamentos e individualidades, mas o três têm um pé no rock, o Ronald com Jimmy Hendrix, o Alexandre com Yes, Jethro Tull, eu com Deep Purple, Stones, Pete Townshed, Talking Heads. Os três com Beatles. Sempre ouvi os garotos de Liverpool, mas a ficha total caiu mesmo pelos 30 anos. O Ronald foi se apaixonar há poucos anos pelos Beatles, depois do convívio comigo e com um guitarrista que tocava com ele. O Alexandre tem já de berço e também com sua voz melódica e bonita o desenho de Beatles nas suas composições. E ele também gosta de um free jazz, Pat Methiny e essa turma. A brasilidade também em nós três é forte. Tem muita mais coisa, Bob Dylan, Neil Young, Lupicínio, tango... Saindo dos ouvidos para os olhos, teu trabalho tem sempre um forte apelo visual. No Bala, por exemplo, há uma diagramação de títulos e fontes próxima de uma revista. E ainda fotos, poemas sobre obras de arte. Isso se soma ao teu importante trabalho como editor da Bric-à-Brac, que tem muita direção de arte se unindo à palavra. Como é essa tua relação com as artes gráficas e plásticas?
Turiba: Realmente essa nossa conversa está muito ouvidos e poucos olhos. Uma das paixões da nossa geração é a visualidade poética, sem nenhuma dúvida. Costumo dizer que a Poesia Visual nos pertence, está no nosso DNA poético, vem da publicidade, da televisão, do cinema e tudo isso se consolidou recentemente com o computador como mídia poética. O designer da linguagem está na raiz do nosso tempo, pisca diante dos nossos olhos. Somos ao mesmo tempo filhos e pais da visualidade na escrita e na comunicação. Somos totalmente verbovocovisuais como designou a Poesia Concreta e assim podemos seguir a máxima do Manifesto Antropofágico de Oswald: roteiros, roteiros, roteiros. Nossa geração, aquela que entra em cena no final dos mágicos anos 60 e segue de teimosa pelos anos 70 e 80, recebeu a tradição da visualidade poética dos modernistas, dos surrealistas, dos cubistas e dos concretistas. Nossa vocação para a visualidade foi maior do que a nossa formação literária livresca. Somos visuais e também musicais, pois de certa forma, acompanhando a tradição inventada pela Poesia Concreta de Augusto e Haroldo de Campos e Décio Pignatari, antecipamos as mídias cibernéticas desde o século passado. Somos frutos do cinema, da televisão e das manchetes do jornais. Das artes plásticas e das mensagens imediáticas da digitalidade. Fizemos o ciclo da Poesia Concreta ao Grafite. Da Letra Set ao Machintoch. Do soneto ao twiter. Foi dentro deste entendimento que desenvolvemos a revista experimental Bric-a-Brac cujo lema era: "Da Idade Média à Idade Mídia". Meus livros "Cadê?" e "Bala" trazem na sua diagramação esta tradição de visualidade. Por prazer e por gosto. Aprendemos que poesia visual não é uma desalmada. Ela também tem alma, menstrua, chora, faz birra e fica manhosa como a Poesia Papel. Estou publicando agora o livro infantil "Luísa Lulusa, a Atriz Principal" que é totalmente visual-infantil. Desenhos, rabiscos, cores, luzes. Ou como escreveu o mestre pantaneiro Manoel de Barros: "há muito de lagartixa na palavra parede". Ao que Paulo Leminski concordou: "como grego/ ouço música negra/ me desagrego". Agora, caro Ricardo, fala um pouco você também de suas paixões pelas visualidades das palavras, dos versos, dos sentidos da linguagem.
Ricardo: Ando colocando uma lente mais ampla do que colocava sobre o século XX e suas conquistas. A questão da visualidade se dá muito antes. Com a invenção da imprensa, aquilo que era produzido para ser consumido pelos ouvidos, a poesia, passa a ser consumido também pelos olhos. Isso muda, num primeiro momento, a recepção e, num segundo momento, a criação. O cara vinha contando sílabas, critério sonoro, e descobre, na página, uma possibilidade de quebra do verso no espaço, na página. Desde então, as descobertas poéticas se dão pela manutenção e inovação sonora somada a criações no espaço. A palavra no papel, a letra, a sílaba, tudo isso se mostra também como desenho, como grafia. A palavra é ao mesmo tempo significado, som e desenho. O século XX é o momento de ampliação criativa desse problema iniciado lá atrás. Na minha produção, sempre lidei com as três dimensões da palavra. No aspecto visual, lido mais com a quebra do verso, com a surpresa de significado pontuada pelo corte espacial. No meu livro ex,Peri,mental, que editei pela ameopoema, tem o poema descurso em que vou de uma letra por página, passo a uma sílaba por página, depois uma palavra por página e por fim tudo emendado, sem espaços entre as palavras. Falo sobre letras, sílaba, palavra e, por fim, o descurso, esse discurso que perde o curso. Também tenho um poema no meu livro novo, inédito, em que crio com a forma visual de algumas letras. E amo a poesia de Augusto de Campos, de Décio, de Haroldo; curto o Gullar e suas letras quebrando a página, o Ronald Augusto tem coisas interessantes também. O Arnaldo Antunes, Joan Brossa, Braga... Não separo o todo da palavra: significado, som e desenho. Dessas três metades, há muito o que se tirar para quem tiver engenho e arte. Agora, pra gente encerrar, já lá se vão oito páginas, gostaria que falasses sobre o teu amor pelas girafas.
Turiba: Girafa é uma paixão africana. Nada mais África do que uma giráfrica. No andar, no molejo, no trejeito e até no ato de alimentar-se, esticando aqueles pescoços quilométricos para buscar no topo das árvores das savanas o fruto e o alimento do dia-a-dia. Passei 15 dias em Durban, na África do Sul, em 2004. Fui acompanhado uma delegação da Fundação Palmares, do Ministério da Cultura, a uma conferência internacional da ONU sobre preconceito racial. Foi simplesmente o máximo essa viagem de trabalho. Uma das mais ricas em essências que já fiz. Não negro, mas também não sou branco. Sou pardo, quase mulato, filho de uma índia com um português. Mas trabalhei muito pela constituição da Fundação Palmares, ainda no tempo que José Aparecido era, o primeiro, ministro da Cultura. Me sentia muito à vontade na delegação brasileira de ilustres negros e negras. Mãe Stela de Oxossi, Carlos Moura, Milton Gonçalves enfim; toda uma geração de militantes novos afrobrasileiros, como eles mesmos se definiam.
A conferência foi em Durban, cidade localizada a hora e meia de vôo de Joannesburg, no Oceano Índico, quase em frente e bem próxima à Ilha da Mandasgascar. Passamos uns 15 dias lá, bebendo os melhores vinhos sulafricanos e vivendo todo um movimento antipreconceito com gente de tudo quanto é parte do mundo.
Descobri duas coisas incríveis nesses dias. Primeira: foi em Durban que viveu sua primeira infância o poeta português Fernando Pessoa. Fui fotografado até ao lado de um monumento ao poeta onde pode-se ler: "Oh salty sea/ how much of your salt/ are tears of Portugal". Pessoa só voltou para Lisboa aos 14 anos e já havia escrito poemas e mais poemas
em inglês.
Também em Durban viveu o indiano Maratma Gandhi. Metade da população de Durban é indiana.
Então escrevi: "Voltei d´África impregnado de Mandela/ Cores pulsam tribos, tambor ressoa/ Ao som do vinho tinto, assim me sinto/ Um filho de Gandhi a visitar Pessoa."
No último dia de Durban, resolvemos fazer um safári numa tribo Zulu, distante três horas. Foi lá que via uma girafa solta na savana, andando como uma top model elegantemente. No Brasil, jamais poderemos ter essa idéia pois as girafas vivem presas nas baias dos zoológicos, um horror.
Um girafa liberta transforma-se num ser especial, gostosíssima. Foi daí que escrevi o poemaclip "Na Gira das Girafas", uma quase música que os poETs bem podiam gravar. Diz assim:
"Como são gostosas as girafas
olham as estrelas de frente
conversam nos olhos de Deus
penteiam em plenas nuvens
os cílios de Carmem Miranda
& aquelas antenas a ligá-las
aos desfiles das savanas
são gêmeas das senegalesas
na altura na graça & beleza

as pernas mais altas da África
são retilíneas falsas magras
as curvas cheias de carne
quadris de Noami Campbell
o andar de Gisele Bündchen
são afro-pop as top models
sacodem as bundas a valer
tão nuas em seus pijamas
de listras lindas leopardas

ouvir dizer que elas dormem
dez minutos a cada hora
também pudera, natureza sábia
com aquele pescoço quilométrico
(que um dia hei de beijá-lo)
um cochilo faz descansá-lo
assim sendo ofereço-lhes
um espaço de pouca mata

não tão afro como a África
mas confortável & afável
numa posição de vanguarda
aceitem, pois, minha pauta
um convite um cheque-mata:
venham cumpridas girafas
(se isso não as desagradam)
dormir em minhas gravatas
o sono de quem lida em altas
nada custa...é puro charme