quarta-feira, 31 de março de 2010

QUE BELA E GOSTOSA SOPA DE SONS E LETRAS


O poeta concretista Augusto de Campos fez para um público seleto seu primeiro e já histórico recital no Rio de Janeiro
 
Por Luis Turiba
 
Noel canta Noel, Lupicínio canta Lupicínio, Webern canta João Gilberto, Billie Holiday canta Jane Joplin, Caetano canta Augusto de Campos. E o que é melhor nessa rítmica sopa de rimas: o próprio Augusto agora canta seus poemas com o auxílio luxuoso do filho músico Cid Campos e da voz agrodoce da cantora Adriana Calcanhotto.
 
Foi o que se viu – e, principalmente, se ouviu - no inesquecível espetáculo "Poemúsica" que marcou o retorno do poeta Augusto de Campos aos recitais  ao vivo. Há cinco anos ele andava recolhido. Por isso, o que aconteceu na última terça-feira para uma poética platéia de cem pessoas no Instituto Moreira Salles, na Gávea, Rio de Janeiro, teve um sabor todo especial para a poesia brasileira do século XXI: um recital multimídia, onde o conceito verbivocovisual foi elevado ao extremo estético graças aos recursos tecnológicos utilizados.
O público gostou, aplaudiu e pediu bis. Agora, a idéia é trazer esse espetáculo para a abertura da II Bienal Internacional de Poesia que acontece em setembro aqui na capital. Com a palavra o professor Antônio Miranda, diretor da Biblioteca Nacional de Brasília
Como sabemos, a medula da Poesia Concreta foi a palavra visualizada e cantada. Desde o início, lá na metade dos anos 50, ela era assim: aparecia fragmentariamente e cantada experimentalmente. O próprio Augusto explicou como se estivesse fazendo uma conferência para o público:
"As inovações trazidas pela poesia concreta (fragmentação de palavras, espacialização dos textos, ênfase em valores sonoros e visuais) despertaram, nos anos 1960, o interesse de alguns "músicos contemporâneos" brasileiros, como Gilberto Mendes e Willy Corrêa de Oliveira, que procuraram encontrar isomorfismos estruturais para as composições que fizeram sobre nossos poemas. Desde 1954, Décio, Haroldo e eu frequentávamos as aulas de Koellreutter, na Escola Livre de Música de SP. No pós-tropicalismo, Caetano Veloso abriria uma nova e inesperada senda ao interpretar "dias dias dias", em 1973, combinando deformações sonoras, citações metalingüísticas (Webern e Lupicínio), colagens e superposições vocais."
 
O recital teve uma dinâmica tecnô-pop com animações digitais e videográficas operacionalizando fusões e outros truques surpreendentes e informativos. O êxtase emocional ficou por conta das interpretações de obras poéticas de alta carga de tensão lingüística, como o já clássico "cidadecitycité" interpretado pelo próprio Campos; o poema "O verme e a estrela", do baiano Pedro Kilkkerry; além de poemas infantis do CD "Crionça", traduções de Augusto musicadas por Cid.
Adriana Calcanhotto arrancou urros e quase lágrimas (de alguns) cantando peças de trovadores provençais em dueto com Augusto: "À dama ama e olha/ Arnaut, cantor/ que ante esse amor/ todo outro amor se esfolha".
 
Para encerrar tão elevado encontro onde poetas como Chacal, Antônio Dias, Walter Silveira, André Vallias e Jorge Salomão aplaudiram de pé o mestre; o trio interpretou um de seus mais plásticos e intrigantes poemas, o "Sem saída", musicado por Cid e gravado por Adriana.
De certa maneira, conforme interpretação do poeta e letrista Antônio Cícero, o poema retrata um pouco a própria vida de Augusto: "a estrada é muito cumprida/ não posso voltar atrás/ nunca sair do lugar/ levei toda a minha vida/ o caminho é sem saída/ não posso ir mais adiante/ curvas encantam o olhar."
Mas a melhor definição de Augusto de Campos é dada pelo próprio no programa do "Poemúsica", que foi distribuído ao público:
"Quanto a mim, como disse Schönberg, "a melhor forma de entender a minha música é: esqueçam teorias, o dodecafonismo, a dissonância e, se possível, a mim mesmo." No meu caso, poeta ou expoeta, a teoria, o concretismo, e idem ibidem, myself.
 
 

segunda-feira, 29 de março de 2010

O FUTURO DA LÍNGUA E A INTERNET

Edson Cruz (camisa azul à esquerda), autor do livro "O Que é Poesia?" jantou com outros poetas e foi partícipe ativo da Conferência Internacional sobre o Futuro da Língua Portuguesa promovido pelo Itamaraty no último fim de semana em Brasília

 
Por Edson  Cruz
 
Não há dúvidas de que vivenciamos um momento único. Para o bem e para o mal. Novas necessidades, novas atitudes e novos fazeres geram novos conceitos, novas palavras, novas relações com a língua falada e escrita e, no limite, devem mudar nossa maneira de encarar o mundo e a vida.
 
O filósofo Pierre Lévy cunhou a palavra-conceito cibercultura que já contaminou nossa maneira de pensar, falar, criar e de nos relacionar. No centro deste conceito está, a meu ver, a não linearidade proposta pelos hipertextos, a comunicação flexível e de mão dupla onde não há mais uma hierarquização visível do produtor de sentido e nem um topos delimitado.
 
Transitamos da galáxia de Gutemberg para a galáxia da Internet, com todos os seus agregados e desdobramentos possíveis. E a língua já está em contaminação. O futuro da língua portuguesa depende, então, de uma presença mais concreta e consciente neste universo da tecnologia da informação.
 
Até o chamado "letramento", considerado como um conjunto de práticas sociais que usam a escrita, enquanto sistema simbólico e enquanto tecnologia, está se readequando e, não há dúvidas, com conseqüências para a sociedade e para a língua que irmana tal sociedade.
 
Não há como fechar os olhos ou simplesmente dizer que se escreve mal e rapidamente pela Internet. Que o inglês está contaminando a escrita utilizada na web. Que se como a grafia das palavras entre os mais jovens, etc. A preguiça e o conservadorismo têm que ser deixados de lado.
 
Nunca se escreveu e se leu tanto quanto nestas últimas décadas. Tantos emails trocados. Tantos blogues criados e abandonados e mais tantos sendo criados neste exato instante. Internet mais acessível.

Computadores sendo vendidos a prazo pelas Casas Bahia. E, me parece, que nunca se produziu tantos textos literários, ou pretensamente literários, Ou, pelos menos, nunca se tornou tão visível a produção dos mesmos.
 
 
Não é necessário ser um especialista em lingüística, nem concordar com as idéias do lingüista americano Steven Fischer, para perceber que a língua é viva e dinâmica e se transforma com ou sem o nosso olhar diacrônico.
 
Segundo Fischer, em mais ou menos 300 anos, nosso querido português brasileiro se transformará em uma espécie de portunhol. Talvez o "portunhol selvagem" já apregoado e bem utilizado pelo nosso "poeta de fronteiras", Douglas Diegues.
 
Mas o futuro é incerto. Certo, apenas, é o presente. E o que fazemos dele. Há pouco tempo, ninguém apostaria na influência mundial da Internet. E mesmo atualmente, com a mundialização, ou globalização, quem poderia prever a emergência de regionalismos e nacionalismo incentivados pela própria Internet?
 
Temos – nós escritores, editores, professores e amantes da língua – que correr. No mês passado, a gigante editorial americana Simon & Schuster ditou novas regras para seus escritores. E quais são elas? Abrir um blogue. Criar uma página no Facebook. Gerar conteúdo em redes sociais literárias. Enfim, interagir. Sair dos escritórios empoeirados ou da redoma criativa.
 
A língua exige o mesmo de nós. Que interfiramos no processo. Que escrevamos bem em nossos emails. Que atualizemos constantemente nossos sites e blogues e chats e hot-sites e demais sítios que pudermos.Que escrevamos muito caracteres, sim. Nada de se curvar a rapidez, as poucas palavras, ao pensamento de que o outro não lerá um texto mais denso. Usemos o Skype. Criemos Podcasts. Deixemos nossa voz reverberar no ciberespaço. Cravemos nossa bandeira lusófona lá.
 
E no sétimo dia, Deus observando sua criação regozijou-se. No oitavo, o Google chegou e apoderou-se de tudo.
 

Brasilia: 50 anos de música


Com Sandra Duailibe e Orquestra Filarmonica de Brasilia - dias 21 e 22 de abril


MORRE JORNALISTA ARMANDO NOGUEIRA, UM AMANTE DAS PALAVRAS

Ele morreu em casa, na manhã desta segunda-feira (29).
Armando sofria de câncer desde 2007.

Do G1, no Rio, com informações da TV Globo

O ex-diretor da Central Globo de Jornalismo e comentarista esportivo Armando Nogueira, de 83 anos, morreu por volta das 7h desta segunda-feira (29), em seu apartamento, na Lagoa, na Zona Sul do Rio. Ele sofria de câncer e estava muito doente desde 2007, quando descobriu a doença. O enterro será ao meio-dia desta terça-feira (29), no cemitério São João Batista, em Botafogo, na Zona Sul do Rio.

Biografia
Torcedor apaixonado pelo Botafogo e, em especial, pelo futebol, participou da cobertura de diversas Copas do Mundo a partir de 1954 e dos Jogos Olímpicos, a partir de 1980.

Armando nasceu no Acre e veio para o Rio de Janeiro com 17 anos, onde se formou em direito. A carreira de jornalista começou em 1950, no jornal Diário Carioca, onde foi repórter, redator e colunista. Ao longo dos 60 anos de carreira, passou também pela Revista Manchete, O Cruzeiro, Jornal do Brasil. 

O jornalista Armando Nogueira comandava programa no SporTV (Foto: SporTV/Reprodução)

O jornalista trabalhou ainda na Rede Bandeirantes, e atualmente estava no SportTV, onde apresentava o programa Papo Com Armando Nogueira, e na Rádio CBN, onde participava do CBN Brasil.

 

Escreveu textos para o filme "Pelé Eterno" (2004) e é autor de dez livros, todos sobre esporte: Drama e Glória dos Bicampeões (em parceria com Araújo Neto); Na Grande Área; Bola na Rede; O Homem e a Bola; Bola de Cristal; O Vôo das Gazelas; A Copa que Ninguém Viu e a que Não Queremos Lembrar (em parceria com Jô Soares e Roberto Muylaert), O Canto dos Meus Amores; A Chama que não se Apaga, e A Ginga e o Jogo.

 

sexta-feira, 26 de março de 2010

DANÇA DA COPA NA ÁFRICA DO SUL. VOCÊ PODE SER CRAQUE

APRENDA A DANÇA O FUTEBOL E ACOMPANHE OS SULAFRICANOS
 
Africanos amam dançar e cantar. Vivem sacudindo o corpo em ritmos alucinantes e acalorados que eles importaram pelo mundo afora e ainda inventaram para enfrentar o apharteid racista que dominou o país por séculos. Assim, reboletion pra eles é mole e natural.
Diga-se de passagem, a sonoridade sulafricana é muito próxima da nossa, brasileira.
Os sulafricanos curtem uma música plural, do reggea ao jazz, do rock ao country, do fox ao mambo; fruto de mistura de raças e colonizadores que dominaram por um bom tempo aquele pedaço do planeta.
O forte, porém, é o som o tambor, o tribal, o da terra seca da savana, do sol ardente do ar frio, o som da tribo zulu que eles dançam sofisticadamente nas boates, nos clubes, nas ruas e certamente será um espetáculo à parte na Copa do Mundo que se aproxima. Veremos verdadeiros shows nos estádios de futebol. 
Mas todos nós também podemos entrar nesse embalo e dançarmos com os sulafricanos para saudar sua majestade, a Bola.
A Dança da Copa é uma bossa que já se espalhou por Joannesburg, Durban, Cidade do Cabo e muitas outras sedes da Copa de 2010.
A Dança da Copa já chegou no Brasil também e até o Programa "Mais Você" da Ana Maria Braga se dispôs a ensinar as torcidades brasileiras e já contratou uma turma especial.
Dança-se com uma bola imaginária. Este é o grande segredo. Você ataca, cabeceia, faz lançamento, mata no peito, bate escanteio, dribla e pedala como o Robinho.
É fácil. Imagina uma bola nos seus pés e mande brasa. Se ligue neste vídeo feito na África do Sul, forme um grupo e começe a treinar. Quem não souber, vai ficar por fora. Faltam dois meses para o início da Copa e até lá você poderá ser também um craque.
Se não da bola, pelo menos da dança.

UM POEMA EM HOMENAGEM AO CHICO MENDES

O INFERNO

À Chico Mendes                                         

                                           

                                   O inferno começa ali
                                   e termina ali também.
                                    Inferno mortandade,
                                    maleita, fome e patrão,
                                    inferno de eterna dívida
                                    que jamais acabará,
                                     pois se acaso morre o pai,
                                     o filho trabalhará.
                                    Em lugar nenhum do mundo
                                   carne seca, chita e facão,
                                     valeram tanto dinheiro
                                     e tamanha escravidão.
                                    É bem verdade que o padre
                                    alivia o sofrimento,
                                    prometendo em troca disso
                                    o céu, como pagamento.
                                    Ele diz também que sofre,
                                   mas sofre um pouco melhor.
                                   Pois estando alimentado
                                   e vivendo de ajuda,
                                   não me faço de rogado,
                                   vou também ser sofredor.
                                    O duro é sofrer no mato,
                                   sem pão, conforto ou remédio,
                                   sofrer cortando seringa,
                                   sendo sugado sem tédio,
                                   sofrer sabendo que o filho
                                   vai crescer analfabeto,
                                    sofrer sabendo que o mesmo
                                    está reservado ao neto,
                                    sofrer dando o sangue à vista
                                   pra dois grandes sugadores:
                                    mosquito e seringalista.
                                         Mas sofrer dentro de casa,
                                           almoçando com o patrão,
                                         sofrer tendo uma metade
                                           de todo o poder na mão,
                                            me desculpe, seu vigário,
                                            mas ninguém sofre assim não.
                                           Numa barraca de palha,
                                          sem conforto ou alimento,
                                           morrendo de trabalhar
                                          sem receber pagamento,
                                           a gente aprende, seu padre,
                                           o que é o sofrimento.
                                           Isso para não falar
                                           nos jagunços do patrão,
                                             sucuri, onça e enchente,
                                             governo banco e fiscal,
                                             que nos tiram secamente
                                             o pouco que se ganhou
                                             vivendo no seringal.
                                             É toda a vida de luta,
                                              de manhã até a noite.
                                             E caso saia da linha,
                                              não obedeça ao patrão,
                                            tem em troca da labuta
                                              vários dias de açoite.
                                              Receber papel lacrado
                                               na hora da votação,
                                              pois sendo o voto secreto
                                             como disse o coronel,
                                                  a gente não tem direito
                                               de perguntar em quem vota.
                                               Pois seria uma afronta
                                               Para a Constituição.
                                              Depois que o fulano ganha
                                               é que a gente vai saber.
                                              Também não adianta nada,
                                               nada se vai receber.
                                               De vez em quando o patrão
                                               manda chamar a Maria
                                               e faz uma preleção
                                              sobre a tal democracia.
                                              Pergunta se eu tenho andado
                                              falando em socialismo 
                                             e diz em tom de ameaça
                                             que isso é beira de abismo.
                                            Depois que a Maria volta
                                             quase sempre traz presente.
                                            Não pra mim, mas pra Joana
                                             Que é mulher do Vicente.
                                             O patrão sempre foi bom
                                             Com as esposas da gente.
                                             Outro dia tomou conta
                                             De um filho do Zé Pretinho.
                                             Que por estranho milagre
                                              nasceu loirinho, loirinho.
                                              O doutor lá na cidade
                                             nunca vai imaginar
                                             o que é ser desgraçado,
                                             viver só passando fome
                                             e morrer de trabalhar
                                             Mas o pior de tudo isso, doutor,
                                             é que a gente não tem tempo
                                           de assistir  à Santa Missa,
                                           como manda a religião.
                                           E se morrer de repente,
                                           vai pagar todos os pecados
                                                 pela vida divertida,
                                            no calor do Fogo Eterno.
 
E começa o outro inferno!
 

MARIA BETÂNIA FAZ RECITAL HISTÓRICO NO ITAMARATY

CERCA DE 500 CONVIDADOS OUVIRAM O MELHOR DA POÉTICA DA LÍNGUA PORTUGUESA
 
Por uma hora e meia, a cantora Maria Betânia hipnotizou com poesia e música o público que compareceu ao Palácio do Itamaraty para a abertura da Conferência Internacional sobre o Futuro da Língua Portuguesa.
 

Intercalando históricos textos como "Poema em Linha Reta" de Fernando Pessoa, com clássicos do samba como "Solidão", de Paulinho da Viola, Betânia fez um recital que mergulhou na memória mais profunda do cancioneiro e da poética internacional de língua portuguesa.

 
Acompanhada pelo violonista Luis Brasil e pelo percussionista Carlos César, Betânia fez um recital em homenagem a duas heróicas mulheres da cultura brasileira: Violeta Arraes e Teresa Aragão.

No final, o chanceler Celso Amorim subiu ao palco para agradecer a Betânia e dar boas-vindas a todos os participantes.

quarta-feira, 24 de março de 2010

CID CAMPOS E ADRIANA CALCANHOTTO FALAM SOBRE AUGUSTO DE CAMPOS

O poeta Eucanaã Ferras publica na revista Errática uma apresentação para o POEMÚSICA
Uma trilha imprevisível

Cid Campos

A poesia concreta sempre fez a minha cabeça. Desde muito pequeno, em casa, ouvia aquelas leituras estranhas, com uma musicalidade diferente, com a qual, de alguma forma, eu me identificava. Já adolescente, quando comecei a tocar violão e baixo, pude compreender melhor o que acontecia ao meu redor. Fiz, então, incursões musicais sobre alguns poemas, como "Flor da boca", de Augusto de Campos. Mas, até então, a minha referência de musicalizações de poesia concreta vinha dos vanguardistas Gilberto Mendes, Willy Corrêa de Oliveira e outros, o que me deixava um tanto acanhado por estar fazendo composições no violão e de maneira pop. Depois que Caetano Veloso gravou "dias dias dias" e "O pulsar", fui me animando a explorar um universo mais amplo de possibilidades. O trabalho musical que fiz com "cidadecitycité", no qual a voz do poeta é multiplicada e transformada em sons e ruídos, foi um marco para mim. Ao longo do tempo, alimentado por uma natural empatia, esse encontro poéticomusical se materializou em projetos de cds e shows, como Poesia é risco, Ouvindo Oswald, No lago do olho, Fala da palavra e mesmo o mais recente Crianças crionças, em que há várias músicas sobre traduções de Augusto dos poetas ingleses Lewis Carroll e Edward Lear — algumas delas também gravadas por Adriana Calcanhotto. Assim sigo, curioso, motivado e instigado a continuar nessa trilha imprevisível da poesia concreta e das traduçõesarte. E vai ser muito bacana estar, ao lado de Augusto, parceiro de sempre, e de Adriana, companheira de muitos projetos desde os anos 1990, nesse Poemúsica, que Augusto define (ou indefine?) como "uma apresentação intermidiática meio inclassificável — fala-show, show-fala ou showversa entreouvista".

www.cidcampos.com.br
Conversa em linha reta

Eucanaã Ferraz — Como foram seus primeiros contatos com a poesia de Augusto de Campos?

Adriana Calcanhotto — Foram na minha adolescência, quando me interessei pelos modernistas de 1922. Na época, Augusto estava lançando Pagu, e entrei em contato com a poesia dele através desse livro. Estava querendo ler tudo o que encontrasse sobre Oswald de Andrade e sua turma e aí descobri não só Oswald como Augusto.

EF — Quando você começou a incorporar ao seu repertório os poemas escritos, traduzidos ou "descobertos" por ele?

AC — Nunca musiquei um poema do Augusto, embora tenha cantado traduções e coisas dele (como "Jaguadarte" e "O pulsar") desde meus primeiros shows em Porto Alegre, mas a primeira coisa que gravei acho que foi "O verme e a estrela", poema de Pedro Kilkerry musicado por Cid, em 1994. Na faixa, Augusto lê uma das estrofes.

EF — Seu interesse pela poesia de Augusto teria a ver com um interesse seu, mais amplo, pelos ideais das artes chamadas de vanguarda?

AC — Em uma primeira instância, sim. Toda a radicalidade do compromisso com a invenção e o alargamento da linguagem seria suficiente para me fazer naturalmente adorá-lo. Mas a voz de poeta, o lirismo ácido, o humor profundo, na verdade "o que" ele diz acima de "como" ele o faz me comove cada dia mais. Ele poderia ter passado a vida escrevendo somente em alexandrinos e eu teria tido impactos igualmente terríveis com seus versos (ou não versos, pra mim não importa tanto assim).

EF — Em que o seu trabalho como compositora se alimenta de poéticas essencialmente literárias, como a de Augusto?

AC — Nos ideais de concisão e clareza, no desejo de que meus textos façam algum sentido que não só som, no domínio das formas, no manejo de substantivos mais do que de adjetivos, a lista não é assim tão pequena, acabo de me dar conta...

EF — E suas parcerias com Cid? Quais são e como acontece o trabalho entre vocês dois?

AC — Não temos uma parceria editada, uma canção nossa, mas somos parceiros num sentido talvez mais amplo do termo. Usamos nossas canções em trabalhos conjuntos, gravamos um no disco do outro, mostramo-nos nossas coisas, trocamos palpites, dialogamos musicalmente. É engraçado que não tenhamos ainda escrito canções, vai saber por quê. Temos aquele tipo de relação tanto afetiva quanto de trabalho muito fluida e direta que faz com que quando nos encontremos pareça que nunca estivemos separados, partimos sempre do presente.

EF — Que pontos de contato e de diferença você observa entre Cid e Augusto, no trabalho e fora dele?

AC — Cid é incrivelmente natural com a música, a música é parte dele, ele simplesmente toca e compõe. Augusto é mais cerimonioso em relação a isso, embora tenha um ouvido sensibilíssimo e seja muito afinado. Ambos têm a mesma paixão pela tecnologia e vivem descobrindo novas ferramentas, softwares e possibilidades. São muito parecidos, têm o mesmo humor, calma e generosidade.

EF — Augusto tem um grande entusiasmo por música erudita, ou clássica, de vanguarda, enfim, por experiências musicais que se realizam praticamente como pesquisas puras. Você tem esse mesmo interesse? E o Cid?

AC — Temos os três esse mesmo interesse e, vez ou outra, sem nos falarmos, estamos ouvindo a mesma coisa. Aprendo muito com Augusto sobre o contexto em que certas pesquisas sonoras se dão e isso às vezes pode modificar todo o meu entendimento daquela proposta. Sou muito atraída pelo risco e em geral adoro os trabalhos que não conhecem previamente seus resultados.

EF — Vocês três já se apresentaram juntos. Mas até que ponto essa apresentação no ims é diferente?

AC — Já nos apresentamos juntos algumas vezes e cada uma delas foi diferente, às vezes com mais ou menos músicos da banda do Cid, com mais ou menos possibilidades de projeção de imagens, dependendo dos lugares. A apresentação no ims é algo com o que andávamos sonhando há algum tempo. Queríamos muito fazer o Rio de Janeiro e, quando você ligou, não acreditei, o ims é o lugar perfeito para nós.

EF — Você pode ser considerada uma intérprete-compositoraleitora, assim mesmo, como uma unidade?

AC — Nossa, eu adoraria.


poemúsica

30 de março | terça-feira | 20h
entrada franca

realização: INSTITUTO MOREIRA SALLES

terça-feira, 23 de março de 2010

MARIA BETHÂNIA RECITARÁ POEMAS NA CONFERÊNCIA DA LÍNGUA PORTUGUESA

POETAS, PROFESSORES, INTELECTUAIS E AUTORIDADES DO MUNDO LUSÓFONO ESTARÃO REUNIDOS NO ITAMARATY
 

A cantora Maria Bethânia abrirá nesta quinta-feira, dia 25, às 20 horas, no Palácio do Itamaraty, a primeira Conferência Internacional sobre o Futuro da Língua Portuguesa no Sistema Mundial, que acontecerá em Brasília até 30 de março.

 

Membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) se reunirão com delegações governamentais, escritores, poetas para discutir as oportunidades, os desafios e os meios para valorização da língua e sua projeção no cenário internacional.

 

A solenidade acontecerá na próxima quinta-feira, às 19 horas, com direito à champanhe e abertura da exposição "Língua Viagem – em português todos se encontram", sobre a formação histórica da nossa língua, suas variantes, usos e desusos no Brasil e no mundo. Em seguida, acompanhada pelo violão do Maestro Jaime Alem, Maria Bethânia declamará poemas em língua portuguesa para os convidados, entre os quais se farão presentes grandes escritores, professores e jornalistas, além de representantes dos diversos países que compõem a CPLP.

 

Além dos Estados membros – Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste -, foram convidados à Conferência a Guiné Equatorial, as Ilhas Maurício e o Senegal, na qualidade de Estados observadores associados.  


LÍNGUA À BRASILEIRA


Luis Turiba
 
 
Ó órgão vernacular alongado
hábil áspero ponteado
móvel Nobel ágil tátil
Amálgama lusa malvada
degusta deglute deflora
mas qual fora antropofágica
salva a pátria mal amada
 
Língua-de-trapo Língua solta
Língua  ferina Língua douta
Língua cheia de saliva
Saravá Língua-de-fogo e fósforo
Viva & declinativa
Língua fônica apócrifa
Lusófona & arcaica
Crioula Iorubaica
 
Língua-de-sogra Língua provecta
Língua morta & ressurecta
Língua tonal viperina
Palmo de neolatina
Poema em linha reta
Lusíadas no fim do túnel
Caetano não fica mudo
Nem "Seo" Manual lá da esquina
 
Por ti Gueras Errante, afro-gueixa
O mar se abre o sol se deita
Por Mários de Sgarana
Por magos de Saramagos
Viva os lábios!!
Viva os livros!!
Dos Rosas Campos & Netos
Os léxicos, Andrades, os êxtases
Toda a síntese da sintaxe
Dos erros milionários
Desses malandros otários
Descartáveis de gorjetas
 
Língua afiada a Machado
Afinal, cabeça afeita
Desafinada índia-preta
Por cruzas mil linguageiras
A coisa mais Língua que  existe
É o beijo da impureza
Desta Língua que adeja
Toda brisa brasileira
 
Por mim,
              Tupi,
                      por tu, Guesa
Postado por Luis Turiba às 12:21

POEMÚSICA - Augusto de Campos com Cid Campos e Adriana Calcanhotto


IMPERDÍVEL PARA CARIOCAS, MINEIROS, PAULISTAS, NORDESTINOS, GAÚCHOS E ATÉ BRASILIENSES

segunda-feira, 22 de março de 2010

VEM AÍ A COLEÇÃO "OI POEMA"

 
POESIA PARA OS 50 ANOS DE BRASÍLIA
 
"Deus quer, o homem sonha, a obra nasce", escreveu Fernando Pessoa.
 
Já que poetas são as "antenas da raça", tudo leva a crer que depois da tempestade de lama corrupta e baixo astral político que a cidade vive há três meses, vem por aí algo promissor que tem tudo para limpar o tempo e redimir Brasília, colocando-a novamente no caminho da história de vanguarda do país, levando adiante o bastão a arquitetura de Oscar Niemeyer, da clarividência cidadã de Darcy Ribeiro e do empreendedorismo patriótico de JK, só para ficar nesses três.
 
Falo aqui da atuação do grupo poético OIPoema na vida cultural desta  Brasília de 50 anos. Tenho a honra de ter sido um dos seus fundadores e digo: não somos uma banda, mas tratamos à poesia falada com sentido musical. Há quase 10 anos trabalhamos juntos em recitais sonorizados. Ocupamos ao longo deste tempo bares, cafés e restaurantes e também a imensidão do Lago Paranoá, com a invenção da Barca Poética.
 
Agora, vamos lançar a coleção de livros "OIPoema", justamente para celebrar o cinquentenário de Brasília e mostrar o quão viva está a poesia nesta cidade-gente-maquete. São seis diferentes (nas linguagens, nos temas e nos sotaques) livros dos poetas Nicolas Behr, Amneres, Cristiane Sobral, Bic Prado, Angélica Tores Lima e Luis Turiba.  
 
Sabemos que destino de grandes obras, especialmente daquelas que marcam o seu tempo, quase sempre é acompanhado por uma aura mística repleta de luminosidade criativa, algo muito além de nossas simples compreensões acadêmicas, práticas e empíricas. Transcendem. Quando se trata de uma obra coletiva de linguagem poética, então, a cobertura deste manto místico que a envolverá, é instrumento fundamental para a sua fixação na história como contribuição cultural. Especialmente neste momento que Brasília quer se reencontrar com o Brasil.
 
Brasília já tem também suas referências. Poetas premiados como Anderson Braga Horta e Reynaldo Jardim. Fizemos a revista de poesia experimental Bric-a-Brac, outro exemplo lembrado até hoje como referência editorial, excelência estética e ousadia criatividade. 
 
Agora, ao completar 50 anos, Brasília já possui sua linguagem poética. Diversificada, espacial, ecológica e aberta como sua própria geografia.
 
Aqui, a poesia também saltou do livro para as ruas, para as calçadas, para os bares, para os recitais e até uma Bienal de Poesia foi construída para materializar e compartilhar linguagens poéticas do mundo e de todo o Brasil.
 
A coleção OIPoema nasce com essa missão: reunir poetas e poemas de diferentes matizes na construção de uma linguagem poética comprometido com a liberdade azul do céu de Brasília.
 
 

quinta-feira, 18 de março de 2010

PORTUGAL DÁ EXEMPLO SOBRE PREVISÃO DO TEMPO


A lógica lusitana é realmente incrível!!!!!!

POR LINHAS TORTAS, poema enviado por Juvenal Pereira

Por linhas tortas
 
Nunca conheci quem tivesse escrito uma merda.
Todos os meus conhecidos têm sido brilhantes em tudo o que escrevem.
 
E eu, tantas vezes cego, tantas vezes burro, tantas vezes tímido,
eu tantas vezes ireresponsavelmente plagiário,
indesculpavelmente preguiçoso,
eu que tantas vezes não tenho tido paciência pra consultar o dicionário,
eu que tantas vezes tenho sido rídículo, vaidoso,
que tenho cortejado os elogios fúteis e desprezado as críticas honestas,
que tenho escrito poemas grotescos, tacanhos, redundantes e pretenciosos,
que tenho deletado mais da metade do que escrevo,
que, quando deleto, tenho me arrependido de cada poema publicado;
eu, que tenho submetido meus poemas ao julgamento de gente que eu desprezo
e tenho me sentido humilhado pelo desprezo dessa maesma gente;
eu, que não como ninguém com meus versos românticos,
eu, que não choco ninguém com meus versos satânicos,
eu, que tenho passado noites em claro pensando num advérbio ou num adjetivo,
eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
 
Toda  a gente que eu conhço e que troca e-mails comigo
nunca errou uma concordância, nunca se enredou numa falácia,
nunca foi senão genial - todos gênios - na vida e na literatura...
 
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
que confesse, não um bloqueio criativo, mas uma ingenuidade;
que contasse, não que seu livro não vendeu, mas que não valia o preço da capa!
Não, são todos mestres de Homero e instrutores de Shakespeare,
se os ouço e se falam comigo.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez escreveu uma frase feita?
Ó gênios, meus irmãos,
caralho, estou de saco cheio de Rimbauds e Mallarmés!
Onde é que há gente no mundo?
 
Então só eu que sou burro e pouco original nesta terra?
 
Poderão ter sido achincalhados pela crítica,
podem ter sido ignorados por Deus e o mundo,
mas terem escrito uma frase ridícula, nunca!
E eu, que tenho escrito frases ridículas cotidianamente,
cercado por tantos gênios, como posso querer ser lido com atenção?
Eu, que tenho sido estúpido, literária e literalmente estúpido,
estúpido no sentido simplório e bruto da estupidez.
 

Marco Catalão (publicado no Suplemento Literário  - Belo Horizonte ago/2009)
 
Trecho do editorial
 
"Garimpado entre as centenas de livros de poesia que concorreram ao último Prêmio Governo de Minas Gerais de Literatura, um deles - que não foi vencedor - chamou nossa atenção por sua criatividade e coragem em parodiar versos consagrados. Trata-se de O Canône acidental, que já no título brinca com o Cânone ocidental, de HaroldBloom. Seu autor, mais tarde identificado como Marco Aurélio Pinoti Catalão (nome literário Mario Catalão), é um paulista de 35 anos, residente em Campinas - SP.  Nesse livro o poeta dá sua versão atualizada, bem-humorada e às vezes até furiosa de poemas clássicos de Carlos Drumond de Andrade, Vinícius de Moraes, Manuel  Bandeira, Alphonsus de Guimaraens, Augusto dos Anjos e até mesmo de Fernando Pessoa, seu famoso "Poema em linha reta" transformado em "Por linhas tortas", na versão "catalã". 
 
O número do suplemento literário que contém este poema foi um presente que o poeta Ademir Assunção, meu vizinho, me presenteou no início desta semana e compartilho com os amigos.
abs,  Juvenal

CRÔNICA DE ANA MIRANDA HOMENAGEIA JOSÉ MINDLIN

Mindlin em Brasília

 

 

         Nosso querido bibliófilo, José Mindlin, pessoa maravilhosamente afável e encantadora, dedicou sua vida a formar uma das mais elevadas bibliotecas brasileiras, contendo livros e documentos raríssimos. Agora partiu, e legou-nos essa riqueza prodigiosa. A impressionante história da formação da biblioteca Mindlin está registrada num livro de memórias que ele, mais uma vez generoso, escreveu para "talvez estimular em outros o amor ao livro, e, principalmente, o amor à leitura", como ele revela num começo de conversa. Sem inclinações para falar sobre si mesmo, diz ter escrito o livro "meio contra a vontade", mais para atender a uma insistência de amigos.

Em Uma vida entre livros, Reencontros com o tempo, acompanhamos a longa e vasta organização da biblioteca, feita com devoção e leveza, como se fosse a educação da memória, a formação de um museu da consciência humana. Conhecemos ali as obsessões de um enamorado dos livros e da leitura, a emoção do encontro com um volume raro, aspectos de uma vida edificante, a amizade e convívio com escritores; e, principalmente, o trabalho fervoroso de encontrar livros e ser encontrado por eles, desde menino, quando Mindlin adquiriu seus primeiros exemplares infantis. Como não poderia falar sobre todos os livros que reuniu, e leu, ele destaca algumas obras, assim como algumas batalhas na busca de uma peça almejada. São cativantes as suas aventuras, como a obstinada e paciente cruzada para adquirir a edição princeps de O guarani, "dezessete anos de espera e muitas emoções"; ou sua talentosa estratégia para, sem recursos, adquirir livros, ainda menino de calças curtas.

As imagens apresentadas no livro nos deixam suspensos: a bela primeira edição dos Essais de Montaigne (1588); livros autografados por Machado de Assis; a primeira prova de O mundo coberto de pennas (1938), com o título corrigido a mão por Graciliano Ramos, para Vidas secas; dedicatórias de Drummond; os originais de Grande sertão: Veredas, mostrando o trabalho incansável de correções a que se dedicava Guimarães Rosa; manuscritos, pergaminhos, aquarelas, capas de belíssimas edições, encadernações, mapas, litografias; a sublime carta manuscrita de padre Antonio Vieira... E, dentre todas, a imagem mais admirável a se contemplar: a própria biblioteca, imersa na harmonia de um templo em que cada livro seria uma santidade, na sua ordenada sabedoria. Há duas poltronas, onde paira a sua presença, Mindlin se sentava ali para conversar, entusiasmado, sobre livros. O ex-libris, selo com o qual imprimia seu espírito nos exemplares, leva uma frase de Montaigne: "Não faço nada sem alegria."

Seu livro de memórias, escrito com essa alegria jovial e estilo puro, límpido, deleitoso, é fruto de um encontro brasiliense, como ele mesmo conta. Mindlin costumava falar de seu amor pelos livros em palestras e entrevistas, e uma delas, "das mais marcantes", foi a que deu a jovens de Brasília, editores da revista Bric-a-Brac: nosso poeta Luis Turiba; o artista visual Luis Eduardo Resende, o Resa; e os jornalistas Lucia Miranda Leão e João dos Reis Borges. A entrevista, publicada posteriormente pela biblioteca de livros raros sobre as Américas, a John Carter Brown Library, estrutura o livro de memórias, que Mindlin imaginou como "uma prolongada conversa, embora unilateral, que se poderia classificar de um conjunto de respostas sem perguntas". É a história de um espírito sem limites.

        

terça-feira, 16 de março de 2010

MELHOR DO QUE FAZER 60, É RECEBER UM POEMA DAS FILHAS

Poema de pé engessado (Das lambachs)
 
Luísa e Manuela Lambach
 
Muito antes da gente nascer,
Papai já fazia das suas.
Dizia que a sombra do bico da torre
Na terra faz um ponteiro
Que marca o momento preciso
Da gente se amar. Se amarrar
 
Ele e mamãe se amarraram
E, antes de se de-sa-mar-ra-rem.
Trouxeram a gente
Pra vida. Louca vida!
 
Papai poetava coisas estranhas,
Que nem sempre faziam sentido.
O pior cego é o que não quer verde?
Ou a gente se Raoni ou a gente se Sting?
 
Nem sempre dá pra entender.
Nem sempre ele entende a gente.
De desentendimento em entendimento,
A gente vai levando di-gavar.
 
Porque o mundo é grande,
Mas também pequenininho.
Foi feito assim que é pra gente escorregar.
 
Papai não é pequeninho
Papai é grande. Tem um estilo.
Digamos assim, próprio.
Diz que todo amor é um pouco bicho,
Que todo amor tem seu antídoto.
 
Pra gente não, papai,
O amor pode até ser um bicho,
Mas é eterno e gera muitos filhos.
 
Papai é lindão
Papai é cuíca
Papai é samba
Papai é alegria
Papai é poesia
 
Papai no Martinica
Papai no Beirute
Papai no RioPapai em Brasília
Papai sessentão!
 
              Paiê, te amamos MUITO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

segunda-feira, 15 de março de 2010

ANA MIRANDA HOMENAGEIA JOSÉ MINDLIN E BRIC-A-BRAC


Escritora mostra que bibliófilo José Mindlin escreveu "Uma vida entra livros" com base numa entrevista dada à revista BRIC-A-BRAC de Brasília

HOMENAGEM AO POETA NICOLAS BEHR

 

O ESPAÇO CULTURAL DA CAMARA DOS DEPUTADOS, POR MEIO DO SEU NÚCLEO DE LITERATURA, FAZ HOMENAGEM AO POETA NICOLAS BEHR, EM SEU PRÓXIMO SARAU, A SER REALIZADO NA BIBLIOTECA DEMONSTRATIVA, NO DIA 29 DE ABRIL, ÀS 20H. ANOTEM AÍ.
ABRAÇOS
ANDRÉ



SHOW DE SOLIDARIEDADE AO HAITI



 
SHOW ''FRATERNIDADE  AO HAITI'' LANÇA O FÓRUM DE BIODIVERSIDADE DAS AMÉRICAS
- As  ações estão sendo planejadas em conjunto com a ONU, MMA, SENADO FEDERAL  e CAIXA -
 

SHOW LANÇA  FÓRUM : O  Jardim Botânico de Brasília e a  CAIXA  anunciam  o lançamento do  Fórum de Biodiversidade das Américas em um show de ''Fraternidade ao Haiti'',  com performances e exposições  a partir de 19 horas de  quarta-feira, dia 17 de março, na sala Villa-Lobos do Teatro nacional. As apresentações musicais acontecerão  a partir de 20 horas.

 

O Fórum de Biodiversidade das Américas  acontecerá em julho deste  ano e  está sendo lançado por meio de  um filme e uma campanha  com o tema 'O que você  faz  pelo planeta?', que sugere que  as organizações e representantes civis apresentem soluções de  sustentabilidade para o mundo, sendo o show  a primeira iniciativa.

O  show pretende  ser  o  encontro de grandes intenções. Performances de cunho social e poético estão sendo preparadas:

ARTISTAS SOLIDÁRIOS:  - Estarão se apresentando   grandes nomes da música brasileira como Hamilton de  Holanda, Yamandú Costa, Diogo Nogueira,  Ellen Oléria, GOG e Móveis Coloniais de Acaju, artistas que formam um círculo  solidário, trabalhando de modo beneficente.

RENDA DO SHOW: Toda  a renda  arrecadada  no evento será depositada diretamente na conta do PNUD (Programa das Nações Unidas Para o Desenvolvimento) por meio do depósito de valores  a partir de R$ 30,00 (trinta reais) na CAIXA, Agência 647, Opção 003, conta 600-1, em nome do PNUD. O comprovante de depósito servirá  como ingresso para o show, que  tem lotação de 1.300 lugares.

PERFORMANCES ANTES DO SHOW:  - Haverá  performances teatrais numa dança de ninfas, sílfides e cavalos  alados. O espetáculo será   precedido pela  exposição 'Tribo do Zé', de Lourenço de Bem, que celebra os  25  anos do Jardim Botânico de Brasília.

RITUAL INDÍGENA E CULTURA POPULAR - Um  ritual  indígena conduzido pelo representante kamayurá Maiwa Awaká  irá  abrir  o espetáculo. A  atriz  Larissa Malty  fará uma 'Velha do Cerrado', personagem repleta de poesia e cantigas resultantes de pesquisa antropológica entre as apresentações dos artistas.

HOMENAGEM A ZILDA ARNS -O Show  também  fará   homenagem à Dra. Zilda Arns,  médica  e  fundadora da Pastoral da Criança,   vítima do    terremoto no Haiti. O Jardim Botânico de Brasília  e demais entidades  vinculadas ao movimento de ajuda  consideram a  atuação  de Zilda Arns uma referência para  todas  as áreas.

 

CAMPANHA DO FÓRUM: QUE VOCÊ FAZ PELO PLANETA?  - De agora até a semana de 5 a 9 de julho, quando acontecerá o Fórum de Biodiversidade das Américas,  representantes de ONGs,  Governo, empresas e sociedade civil  irão responder à pergunta ''O que você faz pelo Planeta?''. Além de ser o mott da campanha,  a questão  reunirá  soluções simples  para os problemas ambientais  da atualidade, que depois serão publicadas em um guia  de sustentabilidade  a ser enviado para este e outros continentes.

As  soluções vão desde  projetos, programas, publicações até o  reaproveitamento do lixo. O resultado final irá compor um Guia de Soluções Sustentáveis que poderá ser enviado a biomas  e países em dificuldades. O Fórum Latino de Biodiversidade irá lançar uma  pergunta dirigida  às instituições e representantes convidados,  que se  transformará num imenso eco  que ligará os biomas nos continentes:  A um só tempo, há um intenso  clamor  mundial por soluções ambientais para biomas e  países  que estão no epicentro das mudanças e o encontro pretende  ser um catalisador de pequenas e grandes  idéias viáveis, que conduzam ao resgate da cidadania  e  valorização da cultura humana em cada paisagem original ou devastada pela falta de recursos ou preservada pelos seus habitantes.  Como Capital do país  detentor das maiores  savanas e florestas  tropicais  preservadas  no  planeta,  para Brasília  convergem  as  decisões políticas  e  socioambientais das  Américas.

A  campanha  foi apresentada nesta semana  no Congresso Nacional, incentivando a votação da PEC do Cerrado  até a data  do Fórum .

 informações  sobre o show: www.fraternidadeaohaiti.org.br 

EXPOSIÇÃO TRIBO DO ZÉ - Entre as programações do show está a apresentação da exposição "Tribo do Zé", do artista Lourenço de Bem, que celebra os 25 anos do Jardim Botânico de Brasília. Trata-se de uma exposição individual de esculturas, composta de 32 peças. A mostra expressa o relacionamento social entre os indivíduos que se agrupam por parentesco ou afinidades, independentemente da posição social, faixa etária, sexo ou raça.

A disposição física de cada peça representa um clã que se agrupa para proteger e dar respaldo aos seus membros. Ressalta o vínculo de hierarquia, parentesco e o grau de afetividade dos mesmos, bem como as suas diferenças.

O artista gaúcho Lourenço de Bem expõe seu trabalho em Brasília desde 1977. Os estados do Goiás, Paraná, Rio Grande do Sul e São Paulo também receberam suas obras. Em seu ateliê, em Brasília, Lourenço reúne artistas locais para debates, projetos e exposições, exercendo importante papel de divulgador cultural e formação de novos talentos.

SERVIÇO

EVENTO: Show "Fraternidade ao Haiti", que lança o Forum de Biodiversidade das Américas e a pergunta 'O que você faz pelo planeta?'

LOCAL: Teatro Nacional – Sala Villa-Lobos – Brasilia

DATA: 17/03/2010

HORÁRIO DE ABERTURA DOS PORTÕES E INICIO DAS EXPOSIÇÕES: 19h

HORÁRIO DE INICIO DO SHOW: 20h.

CANTORES CONVIDADOS: Hamilton de Holanda, Yamandu Costa, Diogo Nogueira, GOG, Ellen Oleria e Banda Moveis Coloniais de Acaju

INGRESSO: Comprovante de depósito a partir de R$ 30,00 na conta da CAIXA, ag. 647, opção 003, conta 600-1, em nome do PNUD. (Conta aberta para arrecadar fundos para ajuda ao Haiti).

 

 


 

                     PARLAMENTO DO MERCOSUL APROVA FÓRUM DE BIODIVERSIDADE DAS AMÉRICAS  NO   JARDIM BOTÂNICO DE BRASÍLIA

 O projeto  já possui  linhas de planejamento para   beneficiar povos  e  a cultura  de países como o  Haití

          O  Parlamento do  Mercosul  aprovou - durante  a última reunião executiva em Montevidéu, Uruguai  -  a  realização  do Fórum Latino de Biodiversidade.  O evento   será em julho de 2010, no Jardim Botânico de Brasília  e  estabelecerá, entre outras prioridades,   a cooperação internacional nas questões de preservação e recuperação de terras degradadas, fazendo da capital brasileira  centro de decisões continentais sobre o tema.

         A proposta, sugerida  pelo JBB,  tem a tutela  de órgãos federais e  foi  encaminhada pela Comissão Mista  do Parlamento  do Mercosul, com proposição do Senador Geraldo Mesquita, do PMDB do Acre  e sob coordenação do Deputado Federal José Paulo Tófanno, do PV de São Paulo. A presidência da mesa foi do Senador Aldemir Santana. A  embaixatriz  brasileira Ana Maria Amorim,  esposa do Ministro das Relações exteriores Celso Amorim   integrou  a mesa, levantando a importância da ligação entre  meio ambiente e da inclusão  digital (área em que  a  embaixatriz atua no SERPRO e por meio da qual promoveu a inauguração de um Telecentro Digital no Jardim Botânico de Brasília, visando a expansão das fronteiras nas áreas de informação e meio ambiente,  tendo sido  nomeada Embaixadora do Cerrado).

         O texto apresenta como base o fato de que  as principais florestas  tropicais  do mundo  encontram-se  nas Américas Central e  do Sul, sem a  necessária  representatividade  na capital brasileira. A    aprovação  deste  novo encontro  representa um salto  positivo nas questões  ambientais  para o continente  americano, já que  alguns  países  não  aderiram  integralmente aos protocolos  estabelecidos pela ONU.  Atualmente, as grandes  discussões sobre temas ambientais do planeta  ocorrem no continente Europeu: O grupo sugere uma mudança neste paradigma.

         Para que se  tenha uma idéia, países  como  a Nicarágua (que  tem alto percentual de florestas preservadas)  já possuem  representantes diplomáticos interessados em  empenhar  acordos  de preservação e  com parceria definida.

          O Fórum de Biodiversidade das Américas agregará também  o Encontro Internacional de  Jardins Botânicos   Brasileiros ( Coordenado  pela Rede Brasileira de Jardins Botânicos), com a intenção de  pensar soluções de sustentabilidade para  as  áreas preservadas e  de espaço urbano, debatendo conservação e   desenvolvimento social da população.  

           Entre  as muitas propostas de programação estão  a elaboração de  planos para  a educação ambiental de crianças, tendo como base a cultura do bioma em que habitam, fomentando a utilização de   histórias, cantigas e brincadeiras de seu país. Com relação ao tema  desenvolvimento, há propostas para  treinamento de orientadores sobre  artesanato sustentável, com base  no manejo adequado de  espécies e de cartilhas sobre  alimentação  alternativa e de baixo custo, para contornar a questão da fome, agravada pelo desconhecimento dos recursos naturais renováveis.

           O projeto foi apresentado  no Plenário  do Senado Federal  a Senadores e Deputados Federais,  representantes do MMA, Ministério das Relações Exteriores, IBAMA, SERPRO, Universidade de Brasília, EMBRAPA, IBRAM   e outros  órgãos que decidem as questões ambientais.

 

Att,
Andrea Faulhaber & Marcelo Bastos  Assessoria de Comunicação
Jardim Botânico de Brasília
Fone: (61) 3366 3831
 

 

 

 






sexta-feira, 12 de março de 2010

ARTISTAS DE BRASÍLIA PEDEM AJUDAR AO MINISTRO DA CULTURA

A outra festa de Brasília
Por Lauro Jardim, do Radar da Veja

Preterido durante toda a gestão do governador preso e afastado José Roberto Arruda, um grupo de artistas tenta salvar as comemorações dos 50 anos de Brasília.
Dez deles reuniram-se ontem no final da manhã com o ministro da Cultura, Juca Ferreira, para pedir recursos a fim de organizar uma festa alternativa para a capital com a presença de personalidades locais.
Seriam realizados vinte eventos durante a semana do aniversário, comemorado dia 21 de abril, pelo intitulado "Brasília - Outros 50 anos". É um contraponto à festa oficial que chegou a cogitar ter shows de U2 e Paul MacCartney mas depois do escândalo de corrupção terá nos palcos NX Zero, Daniela Mercury e Paralamas do Sucesso apenas no dia do cinquentenário.
Ferreira disse estar preocupado com a situação do DF e que faria todo o esforço para ajudá-la. Mas na hora em que apresentaram a fatura, 1,1 milhão de reais para o projeto, ficou na promessa.
- Vou olhar com carinho - disse Juca.
Até quarta-feira, garantiu-lhes o ministro, o grupo terá uma resposta sobre quanto poderão receber.

CARTUNISTA GLAUCO E FILHO SÃO MORTOS EM OSASCO

O cartunista Glauco Villas Boas, 53, foi morto a tiros na madrugada desta sexta-feira (12), em Osasco (SP).  A polícia investiga se Glauco, como era conhecido, foi vítima de tentativa de assalto ou sequestro em sua residência na Estrada Portugal, no Jardim Três Montanhas.

A casa de Glauco foi invadida por dois homens armados, que tentaram levar pertences da família e o próprio cartunista. Ao tentar persuadir um dos bandidos, Glauco foi alvejado com quatro tiros à queima roupa.

O filho dele, Raoni Villas Boas, 25, que chegava da faculdade, discutiu com os bandidos ao se deparar com seu pai rendido e também foi atingido por disparos. Os bandidos fugiram do local em um carro roubado, sem levar nada.

Glauco e seu filho chegaram a ser socorridos e levados ao hospital Albert Sabin, no bairro da Lapa, zona oeste de São Paulo, mas não resistiram aos ferimentos e morreram.

Mais sobre Glauco

As informações foram repassadas pelo advogado da família, Ricardo Handro. Segundo ele, o crime aconteceu por volta de meia-noite. Os dois homens que invadiram a casa estavam transtornados e aparentemente drogados, contou Handro.

De acordo com o advogado, no momento do crime, o cartunista descansava em casa com a família. A esposa, Beatriz Galvão, está em estado de choque, disse o advogado.

Ninguém foi preso até o momento. A polícia investiga a participação de uma terceira pessoa na ação.  Segundo a SSP (Secretaria de Segurança Pública), uma testemunha reconheceu um dos autores dos disparos, e a polícia agora procura o suspeito.

O caso foi registrado no 1° DP de Osasco. Os corpos do cartunista e do filho já foram liberados pelo IML da cidade. Handro, que era amigo de Glauco há 15 anos, afirmou que o enterro ocorrerá no cemitério Gethsêmani Anhanguera, na vila Sulina, em São Paulo. O horário ainda não foi definido.

Glauco era padrinho fundador da igreja Céu de Maria. Familiares e amigos vão velar o cartunista e seu filho nesta igreja, da doutrina do Santo Daime, a partir das 13h. Segundo o advogado, a família pede que o velório seja reservado.

 

quinta-feira, 11 de março de 2010

KIRYRÍ no RECIFE, O MITO HUMBERTO MAURO

 
Diário de Pernambuco
Recife/PE
Caderno Viver - 11 março 2010
Tiragem: 35.000 exemplares/diário/maior jornal de Recife
 
 
Mito fundador do cinema nacional
Livro traz entrevistas, depoimentos e rica iconografia sobre Humberto Mauro
André Dib
andredib.pe@dabr.com.br


Dos mitos fundadores do cinema nacional, Humberto Mauro (1897 - 1983) é um dos maiores. Ao mesmo tempo, seu nome permanece envolto em névoa para a maioria dos brasileiros, inclusive cinéfilos afeitos à filmografia brasileira.

Diferente das biografias tradicionais, Kiryrí Rendáua Toribóca Opé: Humberto Mauro revisto por Ronaldo Wernek tem recorte afetivo e reúne comentários de vários nomes da cinematografia brasileira
Quais foram as suas convicções? Por que, em meados dos anos 1920 um eletricista do interior mineiro escolheu o cinema como atividade para uma vida inteira? Um importante documento a respeito de Mauro acaba de ser lançado pelo jornalista Ronaldo Werneck, que pesquisou toda a obra e conviveu com o cineasta nos últimos anos de vida. Kiryrí Rendáua Toribóca Opé: Humberto Mauro revisto por Ronaldo Werneck (Arte Paubrasil, R$ 69,90) reúne entrevistas, depoimentos e rico material iconográfico levantado em seis anos de pesquisa.

O extenso material foi organizado em recorte afetivo e por isso não-linear, o que torna o livro diferente das biografias tradicionais. "Quis deixar o Mauro falar. Embora contenha itens básicos de uma biografia, ele vai se fragmentando, através de impressões que tenho sobre ele, seus filmes e textos escritos por Glauber Rocha, Paulo Emílio Salles Gomes, André Andries E Alex Viany. "Fui marcando esses textos e fiz um recorte que dialoga com outros livros".

Werneck é natural de Cataguases, cidade que nos anos 20 ficou marcada por um ciclo de produção de filmes semelhante aos do Recife. Vários filmes de Mauro foram rodados lá, como Thesouro perdido (1927) e Brasa dormida (1928). Na década seguinte, iria para o Rio, onde dirigiu Ganga bruta e A voz do carnaval, ambos de 1933. Em 1961, aos 18 anos, o futuro jornalista encontrou o famoso cineasta pela primeira vez, por ocasião de um festival de cinema em que Glauber Rocha também foi convidado. "Era um momento de redescoberta do Mauro. Nequele tempo Glauber estava lançando Barravento", lembra Werneck.

Glauber precisava de referências para seu Cinema Novo e viu no "cinema puro" de Mauro o equivalente a Grifith, a Eisenstein. Em Revisão crítica do cinema brasileiro, Glauber lamenta a falta de apoio a Mauro, Mário Peixoto, Alberto Cavalcanti (que fez seus filmes na Europa) e aos produtores Adhemar Gonzaga e Carmen Santos no momento em que o cinema europeu e norte-americano se afirmavam. Caso contrário, o cinema brasileiro seria poderoso. Mas relativiza: "na Europa ele talvez tivesse feito menos filmes, porque somente no Brasil poderia, numa indústria amadorística, manter integridade profissional e liberdade criadora".

"Glauber dizia que os filmes de Mauro eram puros, não no sentido de primitivos, mas de seminais. Creio que ele se identificava com o antecessor porque ambos faziam cinema de intuição, inaugural, que não bebe em tradição alguma", diz Werneck, que enxerga no cineasta Vladimir Carvalho um continuador dessa linhagem que busca uma linguagem brasileira, com temas brasileiros.

A amizade entre Mauro e Werneck começou nos anos 70, após um perfil preparado pelo último para a revista Vozes. "Sempre passava em Volta Grande. Mauro era interessantíssimo no falar, ele falava como se estivesse filmando. Ele era um mineirão bem-humorado, inteligente e curioso. Aliás, ele entrou no cinema pela curiosidade e fascínio pelo equipamento, para saber como a filmadora e o projetor funcionam. Depois, se afirmou como autor".

De volta a Cataguases, no fim dos anos 90, Werneck participou da construção de um centro cultural e um memorial para Humberto Mauro. "A pesquisa rendeu dez pequenos filmes e isso me deu muito material. O livro é minha maneira de homenagear Mauro". Avesso às novas tecnologias, Humberto Mauro via no cinema falado uma redundância que fere os ouvidos. Antes, diz ele em texto publicado no livro, a imaginação trabalhava muito mais. E que o cinema brasileiro não precisa caminhar com o cinema estrangeiro e sim transportar para a tela o ambiente brasileiro, para que o público conheça o Brasil através do cinema. Que estranha os Barreto rodarem Dona Flor e seus dois maridos com R$ 2,5 milhões. Que queria filmar o Eclesiastes, começando em Volta Grande até chegar ao Rio Amazonas. Curioso imaginar o que o desbravador mineiro diria sobre o cenário atual.

quarta-feira, 10 de março de 2010

TURIBA E ANAND RAO NO PROJETO MúsicaPoética

 
Nesta quinta, 11 de março, 21 h, Café com Letras, 203 Sul, Brasília, couvert a R$ 10,00, o poeta Luis Turiba se apresentará ao lado de Anand Rao no Projeto MúsicaPoética.

O poeta Luis Turiba, 59 anos, começou a escrever poesia em 1977, quando publicou no Rio de Janeiro o livreto KIPROKÓ. Tem como principal influencia direta nos seus trabalhos os poetas Chacal, os modernistas Oswald de Andrade e Manuel Bandeira, o concreto Augusto de Campos, os musicais Chico Buarque de Hollanda e Caetano Veloso, e o pantaneiro Manoel de Barros. Publicou os seguintes livros de poesia: KIPROKÓ, em 1977, no Rio de Janeiro; CLUBE DO ÓCIO, em 1982, em Brasília; CADÊ? em 1998; e BALA, em 2005, pela editora de Salvador P555, além de ter sido editor da REVISTA BRIC-A-BRAC, de 1985 a 1992. Tem dois livros na ponta de agulha: o infantil LUISA LULUSA, A ATRIZ PRINCIPAL; e ´MEIAOITO´, pela COLEÇÃO OIPOEMA.

Anand Rao (www.anandraobr.com) é o organizador e criador do MúsicaPoética que visa a musicar na hora no palco na frente de todos os poemas declamados pelo poeta convidado e pela platéia.

Nesta entrevista exclusiva Turiba fala sobre cultura, poesia, músicapoética, Anand Rao enfim, vale a pena conferir:

Turiba, qual a sensação de participar do MúsicaPoética, um projeto onde seus poemas serão musicados no palco logo após serem declamados?

Turiba - Sei lá, tudo ainda vai acontecer, mas as perspectivas são as melhores possíveis. Considero Anand Rao um criador incrível. Temos umas duas canções em parceria e acho vamos fazer umas outras tantas. Estou ansioso por este novo capítulo poético em minha vida. Gosto muito desse desafio. Vamos lá.....

O que acha deste processo de composição do compositor Anand Rao, essa loucura de desmistificar o processo e compor no palco na frente de todos?

Turiba – Como já disse, estou curiossíssimo para ver como funciona. Do Anand Rao podemos esperar quase tudo e tenho certeza que sairão coisas incríveis. Da minha parte, vou procurar facilitar ao máximo o trabalho musical dele, pois meus versos naturalmente já nascem com um DNA musical, repleto de quebradas interessantes. Como o Anand é uma espécie de trovador cibernético, o choque transcriativo será multifacetário e desta árvore poéticamusical os frutos nascerão maduros e doremifá fá fá.....

Como você vê a literatura, especificamente a poesia, no Brasil hoje, há poetas de qualidade, a poesia é respeitada, há espaço na mídia para difusão da poesia, enfim, dê sua visão?

Turiba – A poesia é irmã rebelde e marginal da literatura. Sempre foi. Poesia não tem nada a ver com dados mercadológicos. Poesia é invenção, transcendência, susto, ou como disse recentemente o Ferreira Gullar: poesia é espanto! Nós, os poetas marginais, já estamos velhos. Alguns se consolidaram, outros não. Alguns encontraram seus caminhos, outros estão no descaminho. Enfim, daqui a pouco nos vamos ver o Chacal e o Nicolas Behr na Academia Brasileira de Letras, É inevitável. Mas o bom mesmo é fazer versos......

O que pretendes apresentar no show que fará com Anand Rao?

Turiba – Poemas de meus dois novos livros: o infantil LUISA LULUSA, A ATRIZ PRINCIPAL, que é bastante musical e quem sabe nasce um opera infantil do nosso encontro; e também poemas do livro maior que é o ´MEIAOITO", escrito graças a BOLSA FUNARTE DE LITERATURA, que ganhei em 2007. Será um encontro maravilhoso, garanto....

O que achas de artistas que possuindo outros empregos se apresentam de graça, sem a cobrança de couvert, muitas vezes deixando desempregados artistas que vivem de arte. Anand Rao disse que não se apresenta de forma nenhuma gratuitamente, pois, respeita quem vive de arte. Que achas disso?

Turiba – Respeito extremamente quem vive de arte e penso que ao dizer versos em público estamos trabalhando e devemos receber por isso. Tenho um grupo, o OIPOEMA, que sempre recebe algum cachê quando se apresenta na Barca Poética. Mas às vezes a gente dá a chamada canja. Eu, por exemplo, adoro tocar cuíca em mesas de pagode e toca onde der e for possível sem cobrar nada. Então, sou a favor, mas não tão radical assim....

E Brasília e a poesia depois destes escandalos políticos. Há poesia em Brasília, há espaço para a poesia, quais são os espaços, a mídia divulga a poesia?

Turiba – Sim, poesia vai estar presente nos 50 anos de Brasília e na resistência contra a corrupção. Há muitos caçadores de fantasmas e patrulheiros ideológicos soltos por aí, mas a poesia está acima de tudo isso.
A mídia divulga poesia sim. O próprio Correio Braziliense tem dado espaços generosos para esse tipo de trabalho. Domingo passado a poeta Eudoro Augusto, da minha geração e do grupo do Chacal, ocupou uma página inteira com uma belíssima reflexão sobre Poesia.
Na semana passada, o próprio CB publicou um indignado poema meu que falo sobre o quadro político do DF

E as novidades para este ano, algum livro no prelo, quais as ações para este ano?

Turiba – Sim; um infantil em homenagem a Luisa Lambach, minha filha de 11 anos, que tem como título LUISA LULUSA, A ATRIZ PRINCIPAL. Um livro que escrevi desde o momento em que ela foi anunciada até completar três anos com a nascimento da mana Manuela, a Manu.
É um livro pro vovô, pra vovó, pro papai e pra mamãe; pros filhos e filhas, pros netos e netas e até pros bisnetos e bisnetas. Quem ler, de qualquer idade, vai entender e curtir, pois é uma declaração de amor às crianças por intermédio de Luisa.
Tem o 'MEIAOITO" que talvez venha a ser o meu livro mais maduro. Há nele poemas longos, divididos em capítulos. O "MEIAOITO" mesmo é um poema de 15 páginas, em forma de roteiro de tudo o que aconteceu na mente e no coração de um jovem carioca na rebelião estudantil de 68. Tudo termina em um 69, pode?

Alguma cois ficou pendente que gostarias de colocar nesta entrevista?

Turiba – Não, só quero agradecer ao meu parceiro Anand Rao pela aventura que vamos viver no próximo dia 11. Afinal, dois dia depois entro no Clube dos Sexsagenários e tenho que aproveitar muito bem esse embalo.

 

--
Anand Rao Produções
www.anandraobr.com
anandrao477@gmail.com