quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

CARLOS DRUMMOND - POETA DE OLHAR TRÍVIO

Do livro QTAIS

roubaram do poeta os óculos
tirando-lhe o visual d'estátua
há neste furto certo imbróglio
um quê místico, ar de máfia

de olhar férreo de minério
o poeta mantém-se etéreo
nem o fogo solda cáustica
tira dele o "zero-a-zero"

com ou sem seus óculos
o poeta não mexe músculo
nem na passagem do monótono
mas frenético monobloco

de costas pro mar esquálido
Carlos Drummond é o espírito
do poeta que sem óculos
tem visão de olho mágico

Carlos Drummond é o máximo
que ilumina nossos mínimos
de bronze é sua poética
que traduz um olhar trívio

ORAÇÃO PARA NOSSA SENHORA DA BALA PERDIDA

do livro QTAIS


Mãe,
Afaste de mim esta bala
Este dardo inflamável
Esta seta diuturna
Este terror sem rumo
Este projétil alado e raso

Pois já que elas não cessam
Que pelo menos nos errem

Rogai por nós os passantes
Os transeuntes os pedestres
Os motoristas e as crianças
E principalmente as mães

Não nos faça alvos fáceis
Desta chuva de petardo
Não nos atinja o corpo
Nem a alma nem os prantos

Que veloz, não me alcance
Que sua força não me curve
Que seu fogo não me queime
Que o acaso não me derrube

Eu que diariamente passo
Por favelas becos vielas
Por túneis curvas células
Eu que faço o bom combate

Protegei as nossas vísceras
Das emboscadas bandidas
Dos acertos entre quadrilhas
Do fogo amigo ou polícia
Só te peço oh mãe amiga
Santa do cotidiano
Poupe-nos o banho de sangue
De passagem tão insana

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

QUATRO POEMAS DO "QTAIS"

chipnoxibiu

xipnuchibiu

shipinuxibil

 

 

SUSTENTA HABILIDADES

 

o pior cego

é aquele que não quer VERDE

 

lágrima na floresta

testemunha sexo selvagem

entre a motosserra e a árvore

 

sou selva uma

querem-me toras

se viva, verde

se morta, dólar

 

ou a gente se Raoni

ou a gente se Sting

uma metade passa fome

outra metade faz regime

 

VÁCUOS

oxigênios

oxilêncio

.

azul-ozônio

.

cigarras

 

ziiiiiiiiiiiiiiiiimmmmmm

 

 

TORTURA

 

Levanta-se o véu e rasga-se a túnica

Os corvos ainda bicam o que restou de ti

Uma dor cicuta que espiral perdura

....tortura...

 

O teu silêncio cobrado em preço físico

O teu algoz agora também teu karma

Tua voz teu suspiro e teu fantasma

 

Quem içou o dia e eternizou o cinza

Um Deus raivoso fez habitat às sombras

Tiras o capuz e o que vês? Abismos...

 

Jagunços a conspirar em cadafalsos

– Ora Senhor! Não se trata bandidos a bombons!

– Meus Deus! Meu Deus! Será que vou calabar?

 

Nunca serás mais o que antes eras

Se o corpo resistiu, o espírito tem chagas

Marcado como gado a ilusão tritura

......tortura............

 

"QTAIS" É O NOVO LIVRO DO POETA LUIS TURIBA


Lançamento dia 16, segunda-feira, na Livraria 7Letras – Rua Visconde de Pirajá 580, sala 320





"Parafraseando Oswald: a massa ainda irá saborear os quitutes do meu QTAIS", 

Luis Turiba.

QTAIS é um livro de balanço: o poeta para, garimpa seus Bric-a-Bracs e faz sua oferenda linguagens. Um caminho de 30 anos foi percorrido a partir de Brasília e, agora, já aposentado, de volta ao seu querido Rio de Janeiro, lança o seu primeiro livro carioca.

Coube a professora de Poesia da Universidade de Brasília (UnB), Sylvia Cyntrão, jogar luz na leitura de QTAIS. Escreveu Sylvia:

"Trata-se de uma "poética do trânsito, da confluência, da divergência. Do encanto." E prossegue: "Sobre este poeta, a celebrada Revista Bric-a-Brac, da qual foi criador e editor, diz tudo – um escritor que dá voz, que amplifica as vozes, que transforma o que ouve em ressonância. Pós-concretista-modernista-pós: na disputa pela verdade poética, no Brasil, Turiba não entrou – para nossa sorte de leitores. Autônomo, o inserimos na geração de 1980, de 1990, e nas que sucedem no século XXI. Preferiu ir registrando a magia dos deslizamentos do tempo: assim fazem os grandes. Alquimista confesso ("sigo alquimista/construindo amálgamas...") integra de diversificadas formas a poesia que espelha 500 anos de Brasil. Na expressão da sensibilidade, da cidadania, das lutas pelas causas ambientais e das batalhas amorosas íntimas, Turiba compartilha olhares e lugares na representação de seu tempo. Nosso também.
O poema "Filosofia da flanelinha" explica melhor este poeta, mais do que mil palavras teóricas o fariam:

"fecha e
deixa solto"

Na orelha do livro, podemos conhecer sua proposta poética: "Escapando a rótulos e definições fáceis, a poesia de Turiba vibra na pluralidade, no carnaval de influências, tendências, experiências e expressões. Incorpora gírias e traços linguísticos, ecoa ritmos e gingas, exalta a amálgama de línguas e heranças – a afro, a lusa, a tupi. Nesse festim antropofágico, Zumbi, Pelé, Mandela, Xuxa e Amarildo; Caetano, Machado e Saramago são servidos com a mesma irreverência – o resultado é uma poética única, que faz ressoar a musicalidade e oralidade múltipla que caracterizam o Brasil.
O poeta Nicolas Behr, seu parceiro por 30 anos em Brasília nas revistas Bric-a-Brac e no grupo de performance "OIPoema", leu o livro e comentou:

"Turiba é do tipo de poeta que não só escreve o que vive mas vive o que escreve. E vive bem. E escreve bem. Mas o melhor de tudo é que compartilha. Mostra, aponta, denuncia. Em Turiba a poesia brota, jorra e flui. São poemas vividos e revividos, experimentados, suados. Mergulhe de cabeça neste livro e boa leitura, boa viagem."

Luis Turiba: contato: turibapoeta@gmail.com
21- 98288-1825

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

NEM TUDO SÃO FLORES NO ATERRO


Recebo a seguinte carta de uma moradora do Flamengo, que se queija da poluição sonora do bairro

" ...Sou moradora da Rua Silveira Martins,quase esquina com a Praia do Flamengo.
Há anos,convivo com o barulho indiscriminado no Aterro.
Não bastasse os assaltos, prostituição, tráfico de drogas a qualquer hora do dia e da noite, somos obrigados a conviver quase todos os finais de semana com música tipo bate estaca, em decibéis muito acima da civilidade.
Vivemos a degradação de uma área tão maravilhosa do Rio. Que triste deve estar Dona Lota Macedo Soares, idealizadora de um local tão espetacular.
Nestse último final de semana, mais uma vez começou na quinta-feira,pelas 21 horas parando somente na madrugada e assim igualmente pelas quatro horas da manhã. Também de sexta para sábado e de sábado para o domingo.
Liguei para polícia pois,não conseguia dormir (fiquei sem dormir mais uma vez, por três dias) e a pessoa que atendeeeu disse que nada podia fazer e que era para eu ligar para defesa do consumidor. Isso as duas da madrugada, depois de ligar há vários anos para o inexistente 1746.
Afinal,prá quem podemos reclamar?

Celeste Torres Blanco.