quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

NÃO TENHO MEDO DA MORTE, de Gilberto Gil

De Gilberto Gil


Banda Larga Cordel, de 2008,

 
http://www.gilbertogil.com.br/sec_disco_player2.php?id=649&numero=8&acao=play
 
Não tenho medo da morte
não tenho medo da morte
mas sim medo de morrer
qual seria a diferença
você há de perguntar
é que a morte já é depois
que eu deixar de respirar
morrer ainda é aqui
na vida, no sol, no ar
ainda pode haver dor
ou vontade de mijar

a morte já é depois
já não haverá ninguém
como eu aqui agora
pensando sobre o além
já não haverá o além
o além já será então
não terei pé nem cabeça
nem figado, nem pulmão
como poderei ter medo
se não terei coração?

não tenho medo da morte
mas medo de morrer, sim
a morte e depois de mim
mas quem vai morrer sou eu
o derradeiro ato meu
e eu terei de estar presente
assim como um presidente
dando posse ao sucessor
terei que morrer vivendo
sabendo que já me vou

então nesse instante sim
sofrerei quem sabe um choque
um piripaque, ou um baque
um calafrio ou um toque
coisas naturais da vida
como comer, caminhar
morrer de morte matada
morrer de morte morrida
quem sabe eu sinta saudade
como em qualquer despedida.

BELÍSSIMA HOMENAGEM AO RIO DE JANEIRO

Vejam que maravilha
 
A TAP Portugal e a Infraero homenagearam de forma diferente a cidade do Rio de Janeiro e o Aeroporto Internacional Antônio Carlos Jobim, no dia 20 de Janeiro, dia da cidade.

ENSAIO DO SAMBA DA BEIJA-FLOR EM BRASÍLIA

Por Luis Turiba

 

Os brasilienses que vão desfilar na Beija-Flor na madrugada de domingo (14) para segunda (15) de carnaval, cantando a fundação de Brasília e seus 50 anos, farão um ensaio especial para aprender (e apreender) o samba e os movimentos da escola na avenida.

 

O encontro será nesta segunda-feira, dia 1º de fevereiro, no restaurante Coco-Bambu, bem atrás do Pier 21, a partir das 19 horas, com a bateria da ARUC, sob o comando da animada jornalista Jane Godoy e de Silvestre Gorgulho.

 

A grande novidade será a presença da porta-bandeira Selmynha Sorriso e do mestre-sala Claudinho, durante o ensaio. Também um dos autores do samba-enredo, Dílson Marimba, estará no ensaio cantando animadamente o hino da escola para este carnaval. Eles irão ensinar os passos e as gingas aos foliões brasilienses.

 

 Selmynha deu essa breve entrevista a Jane Godoy que ora republicamos no blog.

 

P-  Faltando duas semanas para o Carnaval 2010, como estão os trabalhos de produção da Beija Flor para o desfile?

 

SELMINHA SORRISO - A Beija-Flor é uma escola campeã, e muito deste sucesso vem da disciplina e do profissionalismo com que conduzimos os trabalhos no barracão nos últimos anos. Os obstáculos e os atrasos que acontecem são previsí­veis, e dificilmente atrapalham o andamento da operação. Com a definição do enredo "Brilhante ao sol do novo mundo. Brasí­lia, Capital a Esperança", começamos a trabalhar no conceito e nos detalhes que vão embalar o desfile. Tenho que confessar que tinha uma imagem distorcida de Brasília. Mas as visitas que fizemos, ao lado de Laí­la, Alexandre Lousada, Fran Oliveira Santos e Ubiratan Silva, serviram para mostrar o lado mais belo e diverso da capital do Brasil. Levaremos para a avenida a construção de uma cidade, a história de um povo. Um enredo que vai cantar a cultura, a arte, a alegria e a saga de um sonho. Brasília é um sonho e ajudou o Brasil a ocupar uma grande região que é o Centro-Oeste.

 

P-  A escola receia que manifestações do público possam atrapalhar a

qualidade do desfile?

 

SELMINHA SORRISO - Como alguém vai se manifestar contra a Beija-Flor ou contra a epopéia da construção da nova Capital do Brasil? Não vai ser um desfile polí­tico. Nós vamos levar para a Sapucaí­ a saga de uma cidade criada a partir do sonho e da criação genial de nomes como JK, Niemeyer, Lúcio Costa, Athos Bulcão, Burle Marx e tantos outros. E mais: a Beija-Flor vai mostrar que esta é uma cidade que pulsa no ritmo de seus moradores, se ilumina por conta de seu céu, que se mostra intensa a partir de sua diversidade cultural. A cada visita que fizemos, Brasí­lia crescia diante de nossos olhos. A gente aprendeu a gostar dos candangos, das cidades satélites, dos poetas, dos sambistas da ARUC onde eu e o Claudinho fizemos vários oficinas de carnaval.

Uma coisa é certa: muita gente vai se surpreender com o que vamos mostrar. Os brasileiros tem que ver uma Brasí­lia sem os polí­ticos. Tem conhecer Brasí­lia por seus monumentos, seu urbanismo inovador, sua criação cultural, seus poetas, seus sambistas, seus repentistas. Até um dos autores do samba da Beija-Flor mora em Taguatinga, o Dílson Marimba. Gente, eu vi. Brasí­lia tem alma, tem orgulho e tem cultura.

 

P - A Beija Flor está feliz com este enredo?

 

SELMINHA SORRISO - É uma honra para a Beija-Flor ser escolhida para cantar os primeiros 50 anos de uma capital reconhecida, entre outros méritos, como Patrimônio Cultural da Humanidade. Uma cidade adorada por seus habitantes e por todos que vieram para Brasí­lia. Uma epopéia cercada de personagens, folclores, cantos, danças, culinária vindos de todos os cantos do País e que chega aos 50 anos com uma vitalidade impressionante. Brasí­lia é hoje a quarta cidade brasileira em população.

 

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

RECITAL EM HOMENAGEM A ARISTO FOI EMOCIONANTE

 
"O POEMA É MINHA VITÓRIA SOBRE O NADA", Ariosto Teixeira

 

Foi um recital poético como jamais se viu em Brasília.

 

Por quase duas horas mais de 200 pessoas lotaram o Café Martinica, na Asa Norte, Brasília, na noite da última terça-feira (26/01), para ouvir no mais absoluto silêncio e com muita emoção, os versos fortes e cortantes do jornalista e poeta Ariosto Teixeira, falecido no último sábado aos 56 anos.

 

O recital foi uma homenagem do grupo "Poesia na Lua" ao poeta que criou a frase: "o poema é minha vitória sobre o nada."

Foram lidos poemas do seu único livro publicado, "Poemas do front civil", publicado em 2008 pela 7 Letras, do Rio.

 

O momento mais emocionante do recital foi quando a viúva de Ariosto, Solange; e seu filho mais novo, João Manuel, subiram ao palco e leram dois poemas inéditos.

 

"Meu pai não tinha medo da doença e sempre se esforçou muito para continuar vivendo. Ele fazia muito esforço para vim aqui recitar poemas com vocês. Ele sempre chegava a ensaiar em casa para dizer seus poemas da melhor maneira possível", revelou João Manuel.

RECITAL PARA ARIOSTO TEIXEIRA FOI EMOCIONANTE

 

 
"O POEMA É MINHA VITÓRIA SOBRE O NADA", Ariosto Teixeira
 
Luis Turiba

 

Foi um recital como jamais se viu em Brasília.

 

Por quase duas horas mais de 200 pessoas lotaram o Café Martinica, na Asa Norte, Brasília, na noite da última terça-feira (26/01), para ouvir no mais absoluto silêncio e com muita emoção, os versos fortes e cortantes do jornalista e poeta Ariosto Teixeira, falecido no último sábado aos 56 anos.

 

O recital foi uma homenagem do grupo "Poesia na Lua" e de amigos ao poeta que criou a frase: "o poema é minha vitória sobre o nada."

Foram lidos poemas do seu único livro publicado, "Poemas do front civil", publicado em 2008 pela 7 Letras, do Rio de Janeiro.

 

Poemas cortantes, elegantes e de linguagem desafiadora, uma conversa permanente de Ariosto com seu estado de saúde. Por mais de 10 anos ele lutou contra uma hepatite CD e chegou fazer transplante do fígado.
 
 O momento mais emocionante do recital foi quando a viúva de Ariosto, Solange; e seu filho mais novo, João Manuel, subiram ao palco e leram dois poemas inéditos.

 

"Meu pai não tinha medo da doença e sempre se esforçou muito para continuar vivendo. Ele fazia muito esforço para vim aqui recitar poemas com vocês. Ele sempre chegava a ensaiar em casa para dizer seus poemas da melhor maneira possível", revelou João Manuel.

A MORTE DO POETA

A morte do poeta

(para Ariosto, post mortem)
José Roberto da Sil

É abrupta, feliz como todo travesseiro

A alvura do algodão dos panos dos cueiros

também o são

 

a morte do poeta não é a morte da poesia

o sonho é a noite

nem toda noite é fria

 

repentinamente estaremos todos na vertical

nossos espíritos invisíveis ao bem e ao mal

óh Dora

eu fui o mais feliz do teu lado animal

 

amargo é o dente e tristes são todos os poentes

 

a terra me amará porque também sou a tua terra

nada do que foi nosso corpo hoje em dia nada nos resta

 

a morte é covarde e a vida é pacífica a tua covardia

dia e noite e há noite dentro do mais esplendoroso dia

 

óh frágil carne viva

óh doce carne invisível da poesia

 

 o oposto da vida é a morte

o lado do outro lado também é vida

é aquele ser encarnado descolorido

nenhum morto necessita mais dos sete sentidos

 

a terra amará o que é terra

nada do corpo nos resta

além da face triste ao poente

a carne é sangue, todo sangue é quente

 

a morte é tua covardia

seremos imortais, oh Dora

a morte é o mais belo deslumbrar ao dia

 

tanto sol

tanta poesia

 

oh frágil carne

oh tênues corpos

 

são as esperanças, são as doces lembranças

tu és a minha mais doce amnésia

 

um dia a mais é sempre teu fôlego a mais

o amor não morreremos jamais

 

a beleza da carne é a carne perecível

nada do que é eterno cria narizes

o poeta é um belo catavento

o aroma da chuva

o movimento é o vento

 

até filhos serão concedidos aos nossos corpos mortais

ninguém me recordará eu não te esquecerei jamais

os filhos serão filhos e simples mortais a mais

há memória, haverá um globo de cristal

uma redoma mineral de água e

haverá sal

haverá a palavra saudade

 

as rochas são pedras e não são corpos porque os corpos são complexos

múltiplos serão e terão sido todos os nossos sexos

as tuas angústias minerais

a dureza das lágrimas que foram pedras e hoje são todas as tuas liquefeitas

clarezas e há luz, oh Dora

ninguém ri porque ninguém chora

o dia é o final da noite e é o esplendor da tua aurora

humana

são mãos

são pés

aquilo que eu sou, tu não és

 

os corpos liquefeitos são corpos transparentes

todas as bocas supõem os dentes

 

pois é sempre o velho tempo o que nos trái

eu quero um beijo, um mísero beijo a mais

 

havia um relógio na penteadeira

o tempo era eterno mas a hora era a derradeira

 

oh cruel carne viva

porque tudo é amor e tudo dói

aquele beijo nunca aconteceu em Niterói

 

a pele contém todos os sentidos

os gritos, o sorvete, a foto daquele palacete

 

tudo vibra em cor, são cores vivas ressoantes

nossa vida passou rápido, rápidos sempre serão os instantes

pairantes

sonantes

memórias vivas também são delirantes

 

oh cruel é a carne viva

a nossa delgada tênue diáfana pele pecante

o verbo eu sou é a palavra

a carne sempre será uma carne e ossos e o olhar é altissonante

pois tudo é som

eu nunca entendi teu diapasão e o arroz queimava na panela

oh Dora, a entropia do eu e do ela

 

a morte é mera é crua é a tua passagem

a nossa eterna viagem do ego pois

tudo se transmuta

 

mas,

há um ponto frágil e é uma clivagem transcendente

morda-me com alguns dos teus32 dentes

 

é a o a o a

a memória dos teus beijos

que serão sempre imortais, o sabor dos vinhos

a foto na gaveta da mesa e os cálcios marinhos

pois sempre seremos marés imorais

da curva dos lábios às pontas dos pés

algo encarnado que transitório e tudo é bela ilusão

os amores nunca serão eternos além da memória

oh Dora

haverá sempre uma pequena história

de amor nas flores sobre os túmulos

de nossa rápida humana memória.

 

Pois são palavras tudo o que resta e um ponto além do final

São as meras palavras dos nossos poetas

E o vento frio porquê sempre é noite

E toda solidão é cruel mesmo que seja ilusão

Corpos extintos levitam na poesia

do coração.

 

PS – somos apenas humanos, ou não? 

 

 

José Roberto da silva , Bsb – 27/01/2010 – 03h39

 

                                               **********

 

CLIMÉRIO FERREIRA FAZ SUA POÉTICA CANDANGA


O poeta e compositor Climério Ferreira está mergulhado num projeto inventivo e interessantíssimo: reescrever a poesia de 50 poetas brasilienses à sua maneira. É uma espécie de "antropofagia candanga". Ele engole tudo e depois recria. Maravilha. Amei de veras o que ele construiu com meus versos. Vejam como ficou linfo

poema sobre a poesia

                                                                   de

 

LUIS TURIBA

 

Sob blocos banhados de chuva e luz

Tudo pira e paira quando ela passa

 

É que as girafas olham as estrelas de frente

Confortáveis e afáveis como a África

 

É que o samba em mim vem de dentro

E minha apoteose calma tem as mãos nos bolsos

 

A bala perdida não acha meu coração solitário


terça-feira, 26 de janeiro de 2010

UM POEMA PARA ARIOSTO

Ariosto

            In memoriam

Luiz Martins da Silva

 Eu o conheci,

Ao tempo em que contava

Histórias do charque

E do chimarrão.

 

Eu o conheci,

Nas lides da lira,

Nas militâncias gerais

E da profissão.

 

Eu o conheci,

Também no por vez

Do mais conhecível das pessoas,

Que é quando olham nos olhos.

 

Eu o conheci, nas palavras do amigo,

Na estirpe do poeta-fidalgo,

Sócio-fundador da Ordem

Dos Cavalheiros Meigos.

 

Achava-lhe engraçado o nome

Que o trocava por Aoristo,

Esse misterioso tempo antiverbo,

Mas que impregna conjugações de doçura.

 

És, agora, tempo passado:

Encomendas de saudades,

Que já se precipitam muito antes

De vencer-se o reembolso postal.

 

Agora, meu caro vate,

Faço-o símbolo, signo, selo

De amizade selada,

Colada, carimbada, tchê.

 


segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

O POETA QUE DESAFIOU O MEDO


Ariosto Teixeira, o poeta que desafiou o medo

  

Paulo José Cunha

 

Raramente nos víamos. Mas quando nos encontrávamos havia uma certa cumplicidade, e nos olhos, ao nos cumprimentar, uma espécie de "nunca nos esquecemos um do outro embora nos vejamos tão pouco". Sabia quase nada da vida dele. Só que era ótimo repórter. Juntos, nos iniciamos no jornalismo político, freqüentando o Comitê de Imprensa da Câmara. Sabia que cursara Ciência Política, tal a sua paixão "científica" pela área. Que gostava de caiaques. Principalmente sabia que era elegante, discreto, firme em suas convicções. E que sabia sorrir um riso tímido, reservado. Não me recordo da última vez que o vi às gargalhadas. Eram raras. Também nunca o vi triste, mesmo quando a doença já o devastava, e os sinais eram visíveis nas faces pálidas, encovadas. Mas os olhos – ah, os olhos do meu amigo! – sempre foram vivos, alegres e argutos. E sua voz tinha uma tranqüilidade e uma segurança que atordoavam, principalmente quando recitava.  

 

Sim, porque meu amigo Ariosto Teixeira, nosso "Tchê", era poeta, poetão, poetíssimo. Desses que, ao mesmo tempo em que dominam a língua como um domador a um potro selvagem, deixam a alma leve e livre para mergulhar pelos vales ou escalar as montanhas. Os mais próximos já conhecíamos a força de seu verso. Mas no primeiro Palavra Solta (atual Poesia da Lua), recital que reúne um grupo de poetas, e do qual Ariosto era um dos participantes, no Café Martinica, em Brasília, sentimos uma coisa diferente. Uma pancada. Foi quando ele, já bem magro, mas com voz segura e firme, subiu ao pequeno palco e calou o bar ao ler o seu magnífico O niilista medroso. Principalmente uma parte que diz:

 

"Você tem medo(...)

Medo de que Deus provavelmente não exista

De não haver outra vida

Você tem medo de ficar sozinho

Sem ninguém nem final feliz

(...)Você principalmente tem medo

Do que um dia vai fazer

Quando ao anoitecer

O seu rosto tiver desaparecido do espelho do banheiro".

 

 Sem medo, e discretamente, como era de seu feitio, o poeta partiu no último dia 23/01/2009, vítima de complicações hepáticas (era transplantado).

 

Dele ficou-me uma saudade doída, funda, íntima. Uma inveja danada de sua coragem, e a lembrança que me acompanhará para sempre de seu sorriso tímido e cúmplice. Se você só tem contato com a poesia de versinhos sorridentes, tipo coca-cola, prepare-se para tomar o seu primeiro porre de absinto. Leia em voz alta, na íntegra, o já citado O niilista medroso (www.blogdoturiba.blogspot.com). E conheça um poema-petardo inesquecível. 

 

Um abração, Tchê! A gente se vê uma hora dessas.   

 

 

 

ESCÂNDALO DO PANETONE NO CARNAVAL DE BRASÍLIA

 
"Não tem ladrão que fique triste", diz um dos sambas escolhidos
 
Luis Turiba

 

Tanto o "Pacotão", bloco anarquista e irreverente que desfila há 32 anos pelas ruas de Brasília, como o "Nós que nos amamos tanto", formado por jornalistas, escolheram neste final de semana suas músicas para o carnaval de 2010.

 

Não deu outra: Arruda, Eurides Brito, Prudente, o deputado das meias, foram os grandes inspiradores dos compositores de sambas e marchinhas.

 

A escolha da música do "Pacotão" foi hilária. Venceu Cicinho Filisteu e Carioca de Acari com a marchinha "Bolsetão da Eurides". A letra é a síntese de uma das cenas mais nojentas da Durval Filmes, quando a deputada Eurídes Brito coloca dentro de uma bolsa grande pacotes de notas de cem vindos das propinas do Mensalão do DEM.

 

Eurides Brito enche o bolsetão

Com o dinheiro da corrupção (Bis)

 

Mas ela é feia! É muito feia!

Mas ela está com a bolseta cheia (Bis)

 

Já o "Nós que nos amamos tanto" desfilará com o enredo

 

"Dos traços do arquiteto ao panetone: apogeu e glória em meio século de alegria candanga", cuja letra publicamos a seguir:

 

Autores: Fernando, Paulo, Ricardo, Ricardo M e Robson

 

 

Oh meu Deus

Protegei nós que roubamos

Nós Que Nos Amamos Tanto, em 2010

Brasília faz 50 anos

 

Tudo começou num avião

De Lucio Costa e Niemeyer

Tesourinhas, superquadras e palácios

Os candangos em todos os traços

 

Mas o projeto era superfaturado

Nem Juscelino segurou a malandragem

E agora que já é cidade feita

Veio o Durval e entregou toda a receita

 

Tem uva passa, fruta seca e propina

É o panetone do Arruda em Brasília

(BIS)

 

Regeneração

No GDF não existe

Tem caixa 2, tem cueca, mensalão

Não tem ladrão que fique triste

 

Democrata Arruda,

Reza, chora e nunca muda

Depois do painel, embolsou 50 mil,

E vai torrar lá na Papuda

 

Grana na meia, mas que catinga

Até o Roriz pode acabar no Buritinga

(BIS)

 

ATÉ LOGO, ATÉ LOGO COMPANHEIRO

 
Sierguéi Iessênin
 
                Poeta russo (1895-1925)
 
Até logo, até logo, companheiro,
Guardo-te no meu peito e te asseguro:
O nosso afastamento passageiro
É sinal de um encontro no futuro
 
Adeus, amigo, sem mãos nem palavras.
Não faças um sobrolho pensativo.
Se morrer, nesta vida, não é novo,
Tampouco há novidade em estar vivo!
 
 
Tradução de Augusto de Campos

domingo, 24 de janeiro de 2010

RECITAL DE POESIA PARA ARIOSTO TEIXEIRA


HOMENAGEM POS-MORTE SERÁ TERÇA-FEIRA, NO CAFÉ MARTINICA

O poeta e jornalista Aristo Teixeira, 56 anos, falecido no último sábado, dia 23, será homenageado pelos poetas, escritores  e seus colegas jornalistas nesta terça-feira, no Café Martinica, a partir das 21 horas.

Ariosto morreu na noite do último sábado no Hospital Santa Helena, em Brasília. Ele deixou viúva, dois filhos, um livro de poemas publicado e outro inédito.

O velório foi neste domingo (dia 24/01) no cemitério Campo da Esperança, em Brasília, e contou com a presença de familiares, amigos, jornalistas e artistas da capital.

O presidente do Congresso Nacional, senador José Sarney; e o presidente do STF, ministro Gilmar Mendes, estiveram presentes no velório, assim como personalidades do mundo político.

O corpo de Ariosto Teixeira será cremado nesta segunda-feira, em Luziânia, Goiás.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

ARIOSTO TEIXEIRA, É GRAVE SEU ESTADO DE SAÚDE

É grave o estado de saúde do poeta e jornalista gaúcho Ariosto Teixeira.

Internado na UTI do hospital Santa Helena desde a última quarta-feira, dia 20, Ariosto voltou a ter parte do seu organismo infiltrado em função de uma profunda crise hepática.

Os médicos mantêm o poeta sedado e aguardam a reação natural de seu organismo para tomarem uma decisão em relação ao tipo de procedimento possível e necessário.

Amigos e parentes do nosso querido Tchê torcem e rezam para que ele ultrapasse mais esta crise.      

 

Leiam agora, um dos últimos poemas escritos por Ariosto Teixeira e publicado no blog em outubro.

 

DISSOLUÇÃO, um soneto de Ariosto Teixeira

Ariosto Teixeira

 

O descontrole sobre o que acontece dentro,

Dá a um homem a idéia de desmanchar-se

A secura do osso em ácido corroendo-se,

Espuma dissolvendo-se na pia de lavar

 

Sente-se um demente a pedir esmola,

As mãos trêmulas, a mente em bruma,

Úlcera afogada em coca-cola

Saudade de si, melancolia e tontura

 

Do tempo emerge o aroma que abala

Até que percebe que tal fumaça

É só um erro que de si mesmo exala

 

Arma de destruição em massa

Um homem não sabe o que sente quando nasce

Mas sabe o que padece até que tudo passe

 

 

UM POETA A FLOR DA PELE

Por Luis Turiba
De vez em quando nos deparamos com um poema de sotaque diferenciado. Um desses "inutensílios" que surgem de repente para nos desnudar, quer pelos toques linguísticos da levada, ou pelas verdades intrínsicas contidas em suas mensagens. Poemas que, como diria Drummond, "falam alheiamente do sentimento do mundo".
Foi o que me aconteceu quando ouvi pela primeira vez, há três meses, o poema "O Niilista Medroso", do poeta Ariosto Teixeira, o nosso querido "Tchê".

Senti sua força no recital "PALAVRA SOLTA", um encontro de poetas que acontece (e continurá acontecendo, pois poetas precisam se encontrar para mostrar suas e outras peças), no CAFÉ MARTICINICA, na 103 Norte. Ali, Ariosto leu pela primeira vez seu poemão e, repórter que sou, fotografei o momento que compartilho agora com vocês neste blog.

O "Niilista Medroso" faz parte de produção de um novo livro de poemas em preparação e que deve ser lançado em 2010.Ariosto Teixeira publicou em 2006 "Poemas do Front Civil", RJ, Ed. 7 Letras, contos e poemas nas revistas brasilienses Bric-a-Brac e Há Vagas (anos 80), participou da antologia Poemas (1990), do Coletivo de Poetas do DF e "Candieiro", 1976, coletânea de contos de escritores gaúchos.

Jornalista e mestre em Ciência Política pela UNB, ex-colunista de O Estado de S. Paulo, é atualmente analista política da Factual/Broadcast, serviço de análise política em tempo real da Agência Estado. Em 2001 publicou o ensaio "Decisão Liminar: a judicialização da política no Brasil", Brasília, Ed. Plano.
<ariosto.teixeira@gmail.com>

 

Poeta fala sobre o "inverno nuclear" e outros medos

O NIILISTA MEDROSO

Ariosto Teixeira

Às vezes você se pergunta
Olhando o rosto no espelho
Se o reflexo é verdadeiro
Ou se a verdade é o corpo
Parado no meio do banheiro

Você acha que sabe bem o que é
Você acha que sabe bem o que quer
Você acha que sabe quem você é

Mas você sente medo
Medo de não ser você no espelho
Medo de ser mero reflexo
Do outro que consigo parece

Você não tem medo de sexo
Você gosta de sexo
Você sonha com sexo
Você procura fazer muito sexo

Sexo à distância
Sem beijo sem fluido
Higiênico e sem lirismo
Seguro como sexo com prostituta
Você de frente ela de costas
Ela por cima de costas
Você por baixo de costas deitado

É que você tem medo
Do ataque de um vírus complexo
Medo de gravidez
Medo de se apaixonar irremediavelmente
Medo de perder o controle
Medo de assumir o controle
Medo de que tudo enfim faça nexo

Você acende e apaga o cigarro
Com medo de pegar câncer de pulmão
Medo de apagar a luz
Medo de acender a luz
Medo de desligar o alarme
Medo de abrir o portão
Medo de ladrão policial pivete
Medo de colisão
De atropelamento
De ataque do coração

Medo de padre
Da certeza cristã absoluta
Da democracia liberal
Da esquerda latina
Medo da nova direita francesa
Medo do presidente americano
Medo da falta de medo do terrorista muçulmano
Medo de ser fragmentado por um raio da Al Qaeda

Medo da China capitalista
De milho transgênico
De buraco negro
De carne vermelha
Medo da falta de limite da física quântica
Do aquecimento global
Da inteligência artificial
De velocidade acima do permitido
De remédio de quinta geração
Da globalização
Do fim da globalização
Da falta de sentido

Medo de que Deus provavelmente não exista
De não haver outra vida
Você tem medo de ficar sozinho
Sem ninguém nem final feliz

Ah mas você confia no amor
O terno e doce amor
Do homem pela mulher
Do homem por outro homem
Da mulher por outra mulher
Do homem pelos animais
Da humanidade pela natureza
Você confia no amor das criancinhas

Você pensa nessas coisas
E por um instante
Acha que nada está perdido
Que o amor salvará o mundo
O amor romântico como no cinema
Como em um soneto de Shakespeare
Apesar da podridão no reino terrestre
Mas quanto tempo dura o amor
Antes de se dissolver em tédio
15 minutos uma tarde inteira uma noitada?

Você odeia sentir isso assim tão sentimentalmente
Mas é impossível ser de outro modo
É preciso agarrar-se a algo
Não ter medo de que o vazio
Tenha se espalhado em todos os quadrantes

O fato indiscutível é que você tem medo
Medo muito medo
De ficar vivo durante o inverno nuclear

Você principalmente tem medo
Do que um dia vai fazer
Quando ao anoitecer
O seu rosto tiver desaparecido do espelho do banheiro

luis turiba


 

VIVER EM TORRES, RIO GRANDE DO SUL... - Paulo Timm

 Especial para CARTA POLIS - www.cartapolis.com.br - 22 janeiro

        PAULO TIM 

                                               "É porque fui louco que hoje sou sábio".        Goethe

                                                   "A vida de um homem era a sequência de acasos. Agora, a civilização  afastou o acaso, não mais o imprevisto".Sthendal, em "O Vermelho e o Negro"

Há dez anos "aposentei-me" de Brasília. Na verdade havia chegado no limite de várias dimensões da minha vida e senti que era hora de outra "virada". Foi-se um casamento de 27 anos, que me emprestou  uma filha incompreendida  e me deu outra, rebelde; foi-se um até mais longo projeto político, servo de uma verdadeira obsessão, deixando-me, entretanto, uma vasta experiência na vida pública, na qual destaco a convivência com Leonel Brizola, desde um dia gelado do inverno parisiense de 1978, quando lá ele aportou, expulso do Uruguai, até sua morte em 2004 ; foi-se minha bela casa na "República do Lago Norte", que vi praticamente nascer entre ruas lamacentas e uns poucos queridos vizinhos, que lá ainda estão fiéis à geografia peninsular, como Armando Schneider e José Roberto; foi-se a minha convivência com o Paulo Sotero, selada durante nossas "maratonas" suadas na pista central ; "foram-se", simultaneamente, para meu espanto e pranto, os amigos fraternos Miltão Gontijo e Walmir Rezende, os quais me iniciaram nos mistérios de Minas Gerais em encontros diários para o cafezinho,  ritualmente servido na cozinha; e deixei para trás as madrugadas poéticas com o irmão mais velho, outro sábio mineiro de Ouro Fino, recentemente falecido, Newton Rossi. Entrava o mês de dezembro de 1998, chuvas abundantes limpando o terreno para uma saída de fininho;  lá me fui, entre versos, pois cheguei em Brasília muito prosa e saio poeta , vim gaúcho e me fui meio mineiro:

INCRÍVEL...!

Exilo-me de mim mesmo

Vontade de evaporar-me .

Ir saindo devagarinho,

Mansidão morna,

No meio da cena petrificada

Com o sentimento de espanto estampado.

Saio enquanto é tempo.

 

Nem acredito.

Nada me pedem.

Apenas constatam o refúgio do trânsfuga.

O que não suportou o  serve-serve ,

Nem a pressão dos flanelinhas e seu coro de pedintes pelas ruas

Todos  maltratados

Contemplados com  a generosidade pública dos Governos,

Na expectativa de  se legitimarem

Num tempo que se extingue.

 

É incrível que  o Brasil  ainda exista...!

Nada me exigem.

Simplesmente pego as minhas coisas  e me vou,

Graças ao  sagrado direito de ir-e-vir dos  mais que.chegam.

Apenas me imaginam meio biruta."-Ir para Goiás?"

Seria o  susto de um malbaratado acidente?

Eu ,vítima  ocasional ,como outros milhares,

Da violência desmedida da velocidade vazia.

Num tempo que  se foi.

 

É incrível que alguém aguente!

Tampouco nada me agradecem

Já não digo pelo que tenha feito,

Mas pelo que não fiz ,

Pois poderia ter jogado  bombas

Poderia ter explodido  mil vezes  as fantasmagorias  do meu tempo:

Shoppings   luminosos,  as longas filas de blindados, passarelas...

Poderia ter tomado à força o oráculo  deste destino imutável  em nome do nome.

Mas não tive tempo. Ou coragem...

 

E nem me agradecem...

É incrível..!

*

Vou morar em Olhos D´ Água, um reduto mágico que sobreviveu ,à modernização, no município de Alexânia , a justos 100 km de Brasília e que foi cantado em prosa por Carlos Drummond de Andrade pela sua "Feira do Troca". Lugar imorredouro. Passal do tempo, que ali não passa. Puro Goiás, com muita poeira vermelha na seca e torrentes d´água lamacenta no "inverno".

No começo, os desafios da adaptação à vida rural, mas a compensação pela proximidade do silêncio cortado de madrugada por revoadas de pássaros exuberantes, pica-paus bicando troncos de árvore, tucanos voando baixo, uma passarada ruidosa e sem fim por entre mangueiras imensas que me sombreiam a varanda imensa voltada para o nascente, junto à qual instalo meu quarto. Eu, sozinho, numa casa imensa, que foi morada da maior tecelã da cidade, Fatinha, cujo marido, Betão – outro mineiro...! – logo se fez meu amigo. Todas as manhãs, durante os dez anos que ali morei, ele subiu de sua casa, mais abaixo, para  me acompanhar no chimarrão amigo.Quantas horas não teremos conversado nesse tempo todo? E ele, pacientemente, me escutando... Diz que se doutorou de tanto me ouvir ...Mas tinha que me entrosar com aquela gente de olhar desconfiado e  fala tosca. Lá tinha tido, outrora,  uma velha amiga, Sinclei Fazzolino, professora aplicada que tentou implantar na década de 80 seus ensinamentos de paulista educada nos Estados Unidos na pequena escola pública municipal. Fez época. Revolucionou o local. E mudou a cabeça de muitos meninos e meninas com suas técnicas que misturavam arte, cidadania e boa educação. Mas não resistiu às pressões de uma comunidade rural ameaçada e cedo entregou sua alma a Deus , deixando na cidade sua filha, também professora, Mônica. Ela foi um ponto de apoio para minhas incursões sobre a "cidade" de pouco mais de 300 casas e que me fez conhecer de sua amiga rezadeira Camélia, que converti à poesia, para torná-la amiga eterna. Outro ponto de apoio, foi a jovem secretária que contratei – Nádia – que vim  logo a saber órfã de pai e mãe, e, por isso , acabaria como perfilhada. Me dá trabalho até hoje.., mas com ela consegui compreender melhor a alma louca da cidade triste.Em pouco tempo já era, também – como tudo é rápido na roça...! -  da família da Dona Jovina, mãe dos marceneiros Divino e Veinho, que logo me advertem para a esperteza do terceiro irmão, "Negão" , todos logo  amigos. Mas Veinho, como diz o Betão, é a "alma" inquieta de um recanto rural contaminado pela grande cidade, nos contatos das gentes que chegam de Brasília. Um cosmopolita do sertão que ganha minha simpatia e se faz outro fraterno companheiro dos papos matutinos, das tardes regadas à muita cerveja em Alexânia, das festas eventuais na mansarda : "- Hoje é dia de comemoração...!" Mas se amo a solidão por princípio, nunca fico sem amigos e impus-me levar junto ,de Brasília, meu velho amigo Raulzito – outro mineiro! -  cansado da droga de vida que lhe consumira , na cidade, a ingenuidade e a paciência. Uma pequena casa, junto da praça, 50 metros acima da minha, lhe fazia parceiro das madrugadas frias de céu coberto de estrelas. Aparecer de manhã, como o Betão? Nunca. O dia para o Raul só começava às três da tarde... E, já nas minhas primeiras semanas em Olhos d Agua, uma visita inesperada: Paulinho Wagner, velho companheiro do Partidão, atacado de um semi-paralisia facial me faz visita. E não voltou mais para Brasília...Acomodou-se na mansarda... Seis meses depois, o expulso da minha casa, numa boa. E ele se vai para Alexânia, sede do município, distante 13km, céleber por seus açougues de carne clandestina, de botecos coalhados de mesa de sinuca e de  cabarés gênero "bey-bye Brasil",   onde vive até hoje, mergulhado em leituras de teatro e filosofia gregos, luxúria e algumas poucas tentativas de virar homem sério de negócios. Que não deram certo...Nos fins de semana aparecia ainda Paulinho Tovar, com seu jeito tímido que lhe credenciou, imediatamente, ao direito de freqüentar todos os sábados e domingos os faustosos almoços na mansarda, junto com seus maravilhosos filhos Felipe e Maria Eduarda.  "AQUI TEM GENTE FELIZ", dizia um pendurucalho na porta de entrada da casa. E era verdade. Ali vivi momentos de grande paz , com meus amigos e amigas . Inventei uma Pousada. Fiz um forró. Até um Restaurante, na casa ao lado, que me fez "chef" por   alguns anos. Ao final  criei um Centro Cultural, de vida efêmera e pouco produtiva, em Alexânia. E também um site, ainda no ar, mas moribundo, mas onde imprimi e deixo ao deleite dos interessados meu longo épico , "Os Mistérios de Olhos d ´Água". Até que um dia, já cansado  , vendo o Velinho casado com Angélica, o Raul ameaçando ir pro Maranhão, onde mora , o Paulo Tovar distanciar-se , o Paulinho Wagner isolar-se, o Betão escafeder-se para sua "fazenda",  e sem ter morrido, como imaginava, fui em busca de um novo amor e o encontrei em Solange, uma vivida  jovem de tez morena e cabelos longos e negros , natural de Rondônia ,que logo me seduziu. Mas com ela, ainda estudante, já não poderia deleitar-me naquela  mansidão goiana, da qual levo dois ensinamentos simples e diretos, como tudo no grande sertão ,  antes de fazer-me, de novo em meus versos:

O primeiro, de um poema de Godoy Garcia, grande poeta :

                                              "Vento é como a alma de um rio correndo" ,

 

o outro, do também grande escritor goiano Bernardo Ellis, no seu romance "O Tronco"

                                                 "Realidade é o real, não os nossos sonhos"

 

 E me preparo para a despedida:

OLHOS D ´A GUA

                           Ao Paulo Tovar

I

 

O cerrado não tem mar

Nem o mar o seu calor

Olhos d Água em teu andar

Mais confunde o cantador

 

O cerrado não tem mar

Nem o mar o seu sabor

Olhos d Água em teu falar

Cala fundo no sonhador

 

O cerrado não tem mar

Nem o mar o seu fervor

Olhos d Água em teu orar

Traz o universo à sua flor

 

O cerrado não tem mar

Nem o mar o seu ardor

Olhos d Água no cerrado

E eu encerrado neste amor

 

II

 

O cerrado invertido mar

Tem na seca maior esplendor

Olhos d Água, cheios d ´água,

Afogados em tanta dor...

                                                                                  *

 Malas ao vento ,  de novo. Solange a tiracolo. Destino: Rio Grande do Sul

Vim, com ela, há dois anos, em busca de minhas raízes e - Pasmem!-, no embalo de um novo sonho, como se tivesse tenros vinte anos de idade... Mas não se tratava apenas de raízes. Viajava em "busca de um tempo perdido", na tentativa de recuperar o afeto de  um filho- Luciano - já casado, deixado irresponsavelmente pelo caminho  e que já me dera um neto: Caio. –"Coisas de geração", disse eu, constrangido,  à mãe dele ,no dia do seu casamento, em Caxias do Sul. E eis-me aqui, "a caminho de mim..."

Estou em Torres, litoral, fronteira entre o Rio Grande e Santa Catarina, molhada pelo Rio Mampituba. E recomendo o lugar aos "gaúchos e gauchas de todas as querências" que ainda pensam em retornar aos pagos: "UM PRAZER DE VIVER", como diz o lema da cidade. E querem saber por que? Eis meu decálogo:

                                                         PRÓ MORAR EM TORRES

1 – A cidade tem um clima excelente, amenizado pela proximidade do mar, ficando, sempre cinco graus acima da média do Estado; até o vento gelado parar aqui ele já viajou todo o Uruguai , atravessou o Chui, enregelou a fronteira, acautelou-se na região chamada DEPRESSÃO CENTRAL, cujo epicentro é Santa Maria, minha cidade, matou de frio uns velinhos em Rio Grande , Pelotas, Uruguaiana etc , esfumou-se por Porto Alegre  e se arrastou pela beira das lagoas até chegar aqui, cansado...

2 – Está a meio caminho asfaltado duas capitais - Florianópolis (260 km) e Porto Alegre (220 km) – e perto da Serra Gaúcha (Gramado:170km – pela Rota do Sol); nos interstícios deste triângulo não faltam atrativos de toda ordem: Taibezinho, Águas Termais, como a  de Gravatá e cidades históricas, como Laguna;

3 – Torres tem uma infra-estrutura urbana excepcional, herdada dos tempos em que foi um balneário da elite portoalegrense, que ainda detém na cidade seus belos imóveis; é considerada, também, a mais bela praia gaucha pela excepcionalidade do litoral pontilhado com formações rochosas que dão beleza e imponência ao lugar.

4 – A cidade tem uma vida urbana local consolidada e que funciona regularmente durante o inverno, com restaurantes, cafés, confeitarias, além da oferta de bons hospitais e , mais recentemente, de uma Universidade, a ULBRA – www.ulbra.br , com vários cursos , aos quais afluem alunos de várias cidades do Estado.

5 – Um verdadeiro boom imobiliário dá ainda uma atmosfera moderna à Torres , que, associando-se a prédios de sua parte antiga e à Igreja conferem-lhe um charme irresistível; pode-se comprar  bom apartamento ,de dois quartos, em prédios mais velhos, em torno de 150 mil reais.

6 – O comércio local não é muito atrativo, mas responde sem problemas às demandas de produtos e serviços básicos, tendo um grande Supermercado – NACIONAL – e vários outros, de menor porte distribuídos tanto em Torres –RS , como do outro lado do Rio Mampituba, Passo de Torres, já interligadas as duas cidades por uma ponte. O produto principal do cardápio local é o peixe, abundante, fresco e barato, trazido do alto mar por pescadores locais. Excepcionalmente, mas não raro, se encontram ostras nas peixarias. E o restaurante de um peruano oferece iguarias insopitáveis.

7 – O nível cultural da cidade e as atividades culturais  ainda deixam a desejar, comparativamente às capitais mencionadas e algumas cidades da serra gaúcha, mas é de se ressaltar a emergência de boa poesia no últimos anos e o papel excepcional da Rádio FM Cultural – www.culturalfm.com.br , concebida e dirigida dentro dos moldes mais exigentes sobre esse tipo de emissora, coisa rara em outras cidades pequenas. Uma série de ateliês de pintura e artesanato contribuem para dar distinção à Torres.

8 – Os serviços de telefonia celular, TV a cabo (SKY) e internet são satisfatórios, sendo de registrar o elevado número de portais existentes, dentre eles o www.torres.com.br , www.torres-rs.tvr , www.jctorres.com.br , www.telenewstorres.com , www.radiomaristela.com.br  e www.torres.rs.gov.br ;

9 – Os clubes de serviços Rotary e Lions funcionam regularmente com inúmeras atividades de suporte à cidade, que conta, também com a  APAE; uma cooperativa de produtores com uma feira de produtos orgânicos que já começa a projetar um vigoroso movimento ambiental completa o referencial associativo da cidade.

10 – Não há problemas de trânsito em Torres. Embora um pouco congestionada no verão, ainda  é possível estacionar no centro da cidade, com a vantagem de que não há controles de velocidade pelo caminho, que tanto oneram a vida de motoristas nos grandes centros.                              

                                                                                              *

Vendo Brasília cada mais longínqua, povoada de fantasmas do passado pairando sobre minhas memórias e meu  doce "Olhos d´Agua" se  cristalizando em lágrimas de amor que ficam em forma de saudade, me fixo em Torres e penso comigo: "O que me espera no futuro...? Quantas moradas mais terei? Que ilusões inventarei? Como reagirei...? A todas essas perguntas respondo que cada vila tem seu moinho, cada moinho seu moleiro, cada moleiro sua pedra de carregar...                                                              *

PAULO TIMM – Economista, Pós Graduado ESCOLATINA ,Universidade do Chile. Ex Presidente do Conselho de Economia DF, Professor da Unb.

Sites : www.cartapolis.com.br ; www.alexania.tv e www.torres-rs.tv

Email : paulotimm@hotmail.com