CARNAVAL PLANETÁRIO EM TERRITÓRIO ALEMÃO
Luis Turiba
Tem alemão no samba. Pois é, de repente, todas as fronteiras vieram abaixo. Línguas, intolerâncias étnicas, ódios ancestrais, protecionismos econômicos, diferenças geográficas e religiosas. É carnaval no mundo diplomático.
Neste ano de 2010, o Carnaval na Embaixada da Alemanha volta a se repetir. A idéia nasceu na Secretaria de Cultura, em 2008, com o apoio do
ex-embaixador da Alemanha, Prot von Kunow. Agora, o 3º Grito Internacional do Carnaval na Embaixada da Alemanha está sendo organizado pelo Encarregado dos Negócios, Helman Sausen. e por sua esposa Gabrielle. Helman Sausen responde pela Embaixada, pois o novo embaixador ainda não chegou a Brasília.
Será dia 9 de fevereiro (terça-feira) a partir das 20 horas no Salão de Festas da Embaixada da Alemanha. As atrações deste ano serão: Batalá, Reinado de MOMO, Bloco do Galinho de Brasília e Pacotão, além da participação da cantora sensação Dhi Ribeiro.
EM 2009 FOI O MÁXIMO
Foi numa sexta-feira 13. As portas da embaixada da Alemanha escancararam-se para o segundo Baile de Carnaval do Corpo de Diplomatas de Brasília. Quem foi pensando em fortes esquemas de segurança, com revistas e barreiras antimetais, se espantou: os convidados eram recebidos com um chopp geladinho e uma salsicha alemã. Sem dúvidas, a festa já virou tradição na capital.
Ao som de marchinhas como "Alalaô ôôôô, Mas que calor ôôôô", os skins reads suíços (ou seriam canivetes?) transformaram-se em saltitantes Carmens Mirandas requebrando seus balagandans animadamente pelos salões.
De tudo ali tinha um pouco. Um sujeito bigodudo vestido de sheik árabe carregava uma mala transparente com notas de 100 reais e dólares, além de outros objetivos suspeitos. Afirmava, num português de gringo recém chegado, ser um emissário do Manchester United para comprar o passe de Kaká.
As mulheres, elegantes e perfumadas, deram um show à parte com suas fantasias de melindrosas, bruxinhas, tirolesas e finas máscaras e estampas dos carnavais de Veneza.
Um outro ser enigmático simbolizava o que há de sinistro no mundo contemporâneo. Com uma super barba postiça, curvado sob um cajado e envolto em um manto sombrio com capuz de carrasco, óculos escuro a lhe proteger a face, circulava pelos ambientes silenciosamente encarando os demais convidados. Que performance cinematográfica desse suspeito de homem-bomba!
Naquele ambiente psicodélico que lembrava uma mistura de antigos bailes com confetes e serpentinas e o Programa do Chacrinha, onde não faltou sequer uma espevitada Alice no País das Maravilhas que a tudo fotografava, palestinos e judeus, indianos e paquistaneses, cantarolaram em uníssono "Mamãe eu quero" e "Me dá um dinheiro aí". Assim, no embalo de Rei Momo, puderam saborear um pouquito da paz do carnaval brasileiro.
Se alguém me contasse, poderia até desconfiar de exageros. Mas não, meninos: vi, participei e chamo aqui a testemunha do artista plástico Omar Franco, que estava lindérrimo numa fantasia de pirata pós-moderno. A dançarina Lucia Toller, a jornalista Liana Sabo, o livreiro Ivan Silva, que tocava cuíca com a Banda do Pacotão e o deputado Rodrigo Rollemberg, que extasiado com o clima macunaímico do baile, repetia: "Isso só acontece no Brasil! Só no Brasil!"
O embaixador alemão Von Kounov comandou pessoalmente toda a folia. Figuraça esse diplomata! Aprendeu rapidinho tudo de Brasil. Muito à vontade, verdadeiro "pinto no lixo", vestido com um cocar de penas simbolizando o arco-íris comprado em Alagoas, sempre com um copo de chopp na mão, dançou e cantou todos os ritmos e com todo mundo.
Von Kounov se embalou no samba-reggae das meninas do Batalá; no axé music da revelação brasiliense Thais Moreira; cantou "A Perereca de Bigode", marchinha do Pacotão em homenagem à ministra Dilma Roussef; dançou frevo e sambou desengonçado com a rainha do carnaval de Brasília, as princesas, as mulatas e com a Rainha GLS.
Quem melhor aproveitou a festa foi o atual alto-comando do Pacotão. O tradicional bloco brasiliense fez até uma camiseta participativa anunciando: " O Pacotão vai invadir a Alemanha!". O mestiço Cicinho, porta-voz da galera, fez alucinado discurso em homenagem à Carmem Miranda. Em seguida, as vozes do Der Pakoton (foi fundado na época do general Geisel) voltaram às origens relembrando sua primeira e histórica marchinha: "Geisel você nos atolou, Figueiredo também vai atolar."
O secretário de Cultura do DF, Silvestre Gorgulho, um dos inventores do baile, afirmou que quase 50 embaixadores compareceram a festa. Isso significa que Brasília criou um baile verdadeiramente planetário, quase cósmico pois há quem garanta que alguns ETs foram visto por lá rebolando ao som de "Se a canoa não virar".
"Foi assim. Encontrei com o embaixador e propus: vamos fazer um baile para diplomatas? Ele me perguntou: "Como?". Respondi: o senhor entra com o chopp e nós entramos com as mulatas."
Dito e feito. No baile teve chopp, música, fantasias, alegrias e nossas mulatas. Mas teve muito mais, algo bem mais simbólico: harmonia, respeito às diferenças, confraternização entre os povos e celebração planetária. Ou seja: mais do que se globalizar, os povos do mundo precisam se planetarizar, cuidando bem desse baile único que é a vida na Terra.
E o carnaval brasileiro, com suas marchinhas, requebros e traquejos e, em especial o nosso samba, é um exemplo vivo desta planetização da nova Era de Aquárius que é sonhada há 40 anos e começa uma semana antes do carnaval de 2009.
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