Por Luis Turiba
O carnaval de Brasília sempre primou pela desanimação irreverente. Sacanear políticos vem sendo a tônica desde que, em 1978, jornalistas criaram a Sociedade Armorial Patafísica Rusticano, Der Pakoton – ou simplesmente Pacotão.
Numa só cajadada, a marchinha do bloco desafiou e bagunçou os dois últimos generais-presidentes do ciclo ditatorial: Geisel e Figueiredo.
O bloco saiu pela contra-mão da W3 Norte com milhares de pessoas fantasiadas cantando: "Geisel você nos atalou/ O Figueiredo também vai atolar/ Ai Atola, vem nos salvar/ Que este governo já ficou gaga gagaga/ Geisel você nos atalou." A partir daí, o carnaval da capital ganhou sua identidade gaita.
Agora, então, depois do escândalo dos panettones do Arruda, do dinheiro imprudente nas meias do Prudente, do bolsão da Eurídes e da oração da propina, o Pacotão vai deitar e rolar. Volta com força total com uma marcha-frevo que já é uma espécie de sucesso cult entre os brasilienses: "Ebó no fiofó".
A música já está até gravada, toca em muitos lugares, porém, só será oficializada por Charles Preto, presidente do Pacotão, dia 23 no Bar do Zezinho da Rua Oito/Norte, reduto de estudantes, boêmios, artistas, anarquistas e intelectuais
Ebó, para quem não sabe, é aquele despacho brabo e fatal que leva galo preto, farofa amarela e velas vermelhas feito para Exus e entidades de ruas à meia-noite nas encruzilhadas. Laroyê!!!
A idéia da música surgiu no reveillon da Prainha, no Lago Sul, onde dezenas de terreiros de umbanda e candomblé se reúnem para saudar Iemanjá. A pergunta ficou no ar: quem teria feito o ebó que atingiu de uma só vez, via Durval Filmes, a parte mais evangélica e corrupta do governo do DF.
Para lançar a música, Charles Preto distribuirá 1560 Caixas de Pandora por pontos estratégicos da cidade, com o objetivo de recolher dinheiro para bancar o desfile do bloco.
"Não aceitamos recursos podre e não vamos desfilar na arapuca da Ceilândia. Se necessário, invadiremos a embaixada de Honduras, seguindo o exemplo de Zelaia, e lá faremos o melhor carnaval de todos os tempos", declarou Preto em entrevista coletiva.
Foi neste clima democraticamente polêmico, que Wilsonho Reggae, Ivan da Cuíca e Monsueto Jô se lembraram de um antigo samba de Noriel de Oliveira, onde um Preto Velho aconselha:
"Oh mi fió dum jeito qui sunce tá/ só o home que pode te ajudá."
A partir daí, os três fizeram a marchinha que deve ser homologada dia 23 na festa da Rua Oito/Norte. Vá aprendendo. É assim:
EBÓ NO FIOFÓ
Quem foi, quem foi
Que fez esse ebó
Que derrubou Arruda
E de lambuja o P.O. (bis)
Não sei, não sei
O povo é quem diz
Quem fez esse ebó
Também vai derrubar Roriz
Refrão
Ebó no fiofó
Foi ebó no fiofó
Ebó no fiofó
Foi ebó no fiofó
Um comentário:
A marchinha está uma delícia, querido poeta, vamos nos encontrar no dia 23 na rua oito e começar a botar o bloco na rua. Grande beijo,
Amneres
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