terça-feira, 31 de agosto de 2010

A DILMA O QUE É DE DILMA

 "O marketing de Dilma tem sido tão eficiente em aparar todas as arestas de sua personalidade que criou uma pessoa que nem ela deve conhecer."
 
Míriam Leitão, no blogdonoblat

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

FAVELAS, LULA, ONGS E CACÁ DIEGUES

 

"5 x favela" - filme retrata as "brutalidades-jardim" das modernas comunidades cariocas


Luis Turiba

O manjado mais ainda eficiente "perdeu, playboy, perdeu" está lá. Também o desumano "micro-ondas" com o mórbido ritual do banho de gasolina e o ato simples e objetivo do palito de fósforo acesso. Um corpo vira fogueira.

O som circular do funk como uma sirene-pancadão avisa que o baile vai começar e as poposudas se colocam a postos para sacudir as ancas descendo e subindo, pra frente e pra trás. A PM corrupto à serviço do tráfico e o estudante gente boa que faz "avião" para conseguir terminar seu curso de Direito.

Enfim, são cenas desse especial jeitinho brasileiro de levar à vida nos morros cariocas. Fragmentos daquilo que o tropicalismo genialmente chamou de "brutalidade-jardim", na música de Capinam e Gilberto Gil. Tudo filmado por diretores e atores das próprias comunidades. São cinco histórias independentes, mas complementares.

O filme "5 X favela – Agora por nós mesmos", coordenado pelo diretor Cacá Diegues e pela produtora Renata de Almeida Magalhães, estreou sexta-feira passada (27/08) e numa sala do shopping Pátio Brasil, em Brasília, sessão das oito, éramos seis pessoas para 200 lugares. Mas todos vibramos, rimos e choramos, torcemos para que tudo acabasse bem naquela confusa ceia de Natal no ponto mais alto da favela. Na verdade, o filme tem um quê educativo para quem deseja conhecer um pouco mais do Brasil que surge por trás das guerras entre quadrilhas de traficantes armados até os dentes e que transloucadamente tomam hotel de luxo na alta zona sul do Rio de Janeiro.

Coincidência ou não, no mesmo dia em que "5 x favela" tomava as telas do país com direito a chamadinhas na novela das sete da TV Globo, o caderno "Ilustrada" da Folha de SP publicou na sua capa uma paisagem de uma favela carioca pintada pelo poeta-cantor Bob Dylan, que exporá cenas brasileiras na National Gallery da Dinamarca. Parece que nossas favelas estão virando grife lá fora.

Tanto é que o filme coordenado por Cacá chegou botando banca no Festival de Cannes e venceu o Festival de Paulínia, em Sampa. Ou seja: "podem me prender/ podem me bater/ mas eu não mudo de opinião/ daqui do morro eu não saio não", cantou Zé Keti.

No dia do lançamento, Cacá ocupou a capa do "Segundo" de O Globo elogiando FH e Lula e pregando a união do PT com o PSDB. Uma tese que Gilberto Gil já defendia quando era ministro da Cultura de Lula e que concordo plenamente pelo utopia que traz no seu conteúdo. Disse o Cacá sobre o assunto:

"PT e PSDB? Não existe nada mais parecido do que um com o outro. E se completam. Poderíamos ter na América Latina, pela primeira vez, uma união de forças que aliasse direitos humanos e liberdades à questão social, prioritária. Benefícios com liberdade. Coisa rara na histórica do continente."

Cacá critica os três candidatos à presidência, pois até agora não falaram sobre programas e projetos culturais: " Estamos a pouco mais de um mês das eleições e até hoje nenhum dos candidatos disse uma palavra sobre cultura. Nem na propaganda, nem nas entrevistas, nem nos discursos, nem nos programas políticos na internet. Não tem uma porra de um palavra cultura. O Sarkozy quase se estrepou por causa disso."

No final elogiou Lula: "Ele devolveu a compreensão simbólico do Brasil. Pode estar falando a maior besteira do mundo, mas se interessa por aquele negócio. Isso nos traz de volta a nós mesmos e ao que podemos fazer sem deixar tudo nas costas do Estado. Na favela vejo isso. A construção do futuro. Confio muito nas ONGs locais, instituições como a CUFA, o Afro- Reggea, o Observatório de Favelas, o Nós no Morro. Reúnem a comunidade, fazem dela um corpo social e cultural vivo, estimulam o gosto pelo futuro."

Bacana, Cacá, valeu a consideração. Ou como se diz lá no morro: "na moral...."

VAMOS REFLETIR UM POUCO SOBRE AS ELEIÇÕES

Nosso blog não tem tomado partido na corrida presidencial. Mas esse artigo de Miríam Leitão, que foi publicado no Diário de Pernambuco, traz boas razões para refletirmos sobre os caminhos futuros do nosso País.
 
Miriam Leitão

Falha da oposição

Baixo saneamento tem a ver com saúde e meio ambiente. Aumenta a incidência de doenças e a deterioração ambiental urbana. Dados do IBGE mostram que oito anos de governo Lula não reduziram a calamidade dos indicadores. José Serra, candidato da saúde; Marina Silva, da sustentabilidade, falam pouco do assunto e lutam para sair na foto ao lado de Lula.

O mais relevante numa eleição da perspectiva de um candidato é, evidentemente, ganhar a eleição. Mas da perspectiva do eleitor, o melhor é que se aproveite o momento para discutir os problemas e tirar dos candidatos compromissos para superá-los. A oposição tem a obrigação de falar tudo o que não está funcionando, apontar o dedo para todas as feridas. Para isso é oposição. Esse debate influenciará as políticas públicas independentemente de quem for eleito. Se a oposição se amedronta com os índices de popularidade do governante e não pode fazer seu papel, o país é que sai prejudicado.

Marina Silva, nas brigas dentro do governo por políticas públicas de proteção ambiental, encontrou uma sistemática e implacável adversária: Dilma Rousseff. Foi a ex-ministra das Minas e Energia e ex-chefe da Casa Civil que disse não a projetos de sustentabilidade, afastou Marina das decisões de projetos na Amazônia, engavetou a criação de áreas de proteção, revogou conquistas na luta pelo equilíbrio entre desenvolvimento e meio ambiente. Marina sabe disso. Sabe porque viveu. No dia do lançamento do primeiro PAC, enquanto o laser pointer de Dilma Rousseff cortava a Amazônia sem cerimônia, Marina se encolhia derrotada, longe do palco e perto da saída do governo. Mas até agora não disse isso ao eleitor. Não contou o que sabe e viveu. Não mostrou o risco para o meio ambiente que representa a vitória das ideias defendidas pela sua adversária. Se for resumir tudo o que ela disse nas entrevistas, debates e programa eleitoral não se consegue saber exatamente o que a fez sair do governo.

José Serra é líder de um partido, o PSDB, que já governou o Brasil por oito anos. Sabe onde foi que o governo atual errou e erra. Fala pouco desses erros. Prefere tentar o impossível: disputar com Dilma a sombra do presidente Lula. Ora, Lula fez sua escolha, sua candidata é Dilma Rousseff. Cabe aos outros fazerem oposição. Marina acerta quando ataca Serra, como fez ao apontar os erros da gestão tucana em São Paulo, no debate da Folha Uol. Esse é seu papel comoalternativa aos dois grupos que já governaram o Brasil. Erra quando poupa Dilma, sabendo tudo o que sabe. E erra porque está sonegando uma informação relevante ao eleitor. Marina nunca exibiria divergências de forma agressiva. Não é de sua natureza, nem aconselhável. Mas ser direta, clara e sincera sobre os riscos ambientais que o país corre, ela deveria ser, preservando o seu estilo elegante.

O Brasil está pegando fogo literalmente. O aumento dos focos de incêndio em todos os biomas não é coincidência. Há uma licença para queimar. Os riscos ambientais estão subindo assustadoramente. O Imazon divulgou um estudo mostrando que 29 áreas protegidas da Amazônia foram reduzidas ou extintas, entre 2008 e 2009, expondo à destruição um território quase do tamanho do Rio Grande do Norte. Coincide com o período em que o governo Lula afastou Marina Silva e deu maiores poderes a Dilma Rousseff. O estrago só não é maior porque por incompetência gerencial, a maior parte do PAC não saiu do papel, é só fumaça dos efeitos especiais para a campanha eleitoral.

Em saneamento, tucanos e petistas fizeram pouco, como tenho repetido neste espaço. Nos oito anos do governo Fernando Henrique Cardoso e nos quase oito do governo petista, os investimentos em saneamento básico foram baixíssimos. O Brasil tem dados vergonhosos para provar isso, como o IBGE acaba de divulgar: quase metade do país sem esgoto. A diferença entre os dois grupos políticos é que o governo Lula fabrica números falsos de investimento, e Dilma, confrontada com os dados verdadeiros, garante que os próximos indicadores serão bons. Aposta no mercado futuro de ilusões. Para aceitar como boa sua explicação é preciso acreditar que em 2009, ano de crise, o país deu um salto ornamental em saneamento básico, fazendo o que o governo Lula não fez em 2003, 2004, 2005, 2006, 2007 e 2008.

Nos últimos dois anos elevaram-se assustadoramente as ameaças ao projeto econômico que nos trouxe a estabilidade monetária. O risco não vem do Banco Central, mas sim da ampliação de gastos de custeio, da criação de estatais, da intervenção política nas estatais existentes, da atuação desordenada do BNDES. Nunca o patrimônio da estabilização, herdado pelo governo Lula, esteve tão ameaçado. José Serra, do partido que venceu a inflação no Brasil, é incapaz de alertar para esses riscos.

O que é ameaçador nas eleições de 2010 não é a vitória do governo. O eleitor brasileiro é que tem o poder de, coletivamente, decidir quem é o vencedor, e por esse poder, que emana do povo, se bateram os verdadeiros democratas. O ameaçador é consolidar políticas imprudentes. Por isso, a oposição tem que fazer seu papel, sem temer a popularidade do presidente Lula. Esse tipo de consagração vem e passa. O país fica.

POETAS LANÇAM LIVROS E ADOTAM ESCOLAS


Em ação inédita, poesia vai ao encontro de escolas carentes do DF

Demorou quase dois anos a gestação da coleção de livros de poesia "OIPOema" que será finalmente lançada nessa primeira quinzena de setembro por seis poetas que compõem o grupo – Amneres, Angélica Torres Lima, Bic Prado, Cristiane Sobral, Luis Turiba e Nicolas Behr.
Para dar mais impacto a coleção, junta-se ao grupo o poeta-desing Luis Eduardo Resende, o Resa, que está lançando um catálogo de poemas visuais, o "Miserere Nobis". Todos foram produzidos pela produtora Sinhá com o apoio do FAC.
Como se sete livros com poemas de todos os estilos não bastasse para cobrir de "significâncias" essa terrível seca de Brasília, e para dar maior impacto cultural ao histórico lançamento, o grupo OIPoema tomou a iniciativa de adotar escolas públicas de áreas carentes do DF como contrapartida do apoio do Fundo de Apoio à Cultura (FAC). Afinal, poesia começa e se desenvolve na escola. É lá que começam a ser formados os futuros leitores pois sem leitores não há escritores nem poetas.
"A leitura cria a fantasia para a criança, além de ser também uma forte ação social e ajudar no combate ao avanço do crack entre os nossos jovens", afirma o poeta Luis Turiba, coordenador da coleção.
Baseados nesse princípio, os "Ois" poetas, que trabalham sem nenhum patrocínio de empresas de telefonia celular, estão adotando seis diferentes escolas públicas em áreas carentes de Brasília.
Os livros são "Luzidianas", de Angélica Torres Lima; "Não vou mais lavar os pratos", de Cristiane Sobral, "Poemas de um livro verde", de Bic Prado; "Diário da Poesia em Combustão", de Amneres; "Meiaoito" de Luis Turiba; e "Bagaço da Laranja II" de Nicolas Behr.
 
Dinamizando as relações

 
A ideia nasceu como ação de contrapartida do projeto junto ao FAC e evoluiu quando o poeta Luis Turiba lançou no primeiro semestre deste ano o livro infantil "Luísa Lulusa, a atriz principal" e passou a visitar escolas fazendo recitais.
"É uma sensação maravilhosa recitar versos para a criançada. Fui as escolas com Luísa, minha musa inspiradora que está com 12 anos, e nos deliciamos", afirma Turiba.
Visitar e adotar escolas, aliás, já é um costume antigo do poeta Nicolas Behr. Ele adotou há anos uma paupérrima no Vale do Paranã, cidade de Posses, Goiás, a 350 quilômetros de Brasília. Todo ano visita a escola e leva livros, computadores, material escolar, além de roupas, sapatos, brinquedos. No ano passado, Behr convidou o poeta-diplomata Francisco Alvim para acompanhá-lo. "Foi uma aventura inesquecível", confirma Chico.
Assim, os poetas do OIPoema desejavam fazer algo a mais do que doar livros para o FAC, que normalmente ficam engavetados lá na secretaria de Cultura.
Luis Turiba adotará a Escola Classe da Vila Buritis, em Planaltina, onde conheceu a professora Ana Reis que organiza uma sala de leitura interativa para os alunos. A visita para o início dos trabalhos foi no dia 31 de agosto. Ele levou livros próprios e de outros autores para engordar a biblioteca da escola. O mesmo farão os demais poetas.
Angélica Torres Lima, por exemplo, ficará com a Escola Classe n° 3 do Núcleo Bandeirante, enquanto Amneres fará seu trabalho junto ao Centro de Ensino Médio do Paranoá.
A ecológica poeta Bic Prado trabalhará com os alunos da Escola Classe de Itapoã; Cristiane Sobral com o Centro de Atenção Integral à Criança - CAIC Juscelino Kubitscheck, no Park Way e o poeta símbolo de Brasília Nicolas Behr adorará a Escola Classe do Varjão, onde a diretora Cláudia Maria o espera juntos com seus alunos de braços abertos.

POETA RICARDO ALEIXO LANÇA "MODELOS VIVOS"

 
POETA MINEIRO FAZ TRABALHO DE VANGUARDA MISTURANDO LETRAS, SONS E VISUAIS. DEMAIS!!!!!!!!!! 11 DE SETEMBRO EM MINAS GERAIS......

No próximo dia 11 de setembro, às 11h, na Livraria Café com Letras, o poeta Ricardo Aleixo lança a coletânea Modelos vivos, com poemas inéditos e outros que ainda não haviam sido editados em livro. Considerando-se que a plaquete Céu inteiro, de 2008 (edição, em tipografia, do designer Flávio Vignoli), traz 5 poemas agora reproduzidos no novo título, trata-se do fim de um jejum editorial que vinha desde 2004, data da publicação de Máquina zero e da segunda edição de A roda do mundo, parceria com Edimilson de Almeida Pereira incluída na lista de obras do vestibular da UFMG daquele ano.

Considerado um dos mais inventivos poetas brasileiros contemporâneos, o belorizontino Ricardo Aleixo é reconhecido, também, por suas experimentações em áreas como as artes visuais, o vídeo, a canção, o ensaio e a performance intermídia, com apresentações por todo o Brasil, na Argentina, na Alemanha, em Portugal, na França e nos Estados Unidos.
Essa liberdade que o artista se concede é, com efeito, um dos pontos mais destacados de Modelos vivos. (Editora Crisálida, com patrocínio do Programa Petrobras Cultural). Responsável, desde o trabalho de estreia, Festim (1992), pelo programação visual de seus livros, Aleixo contou desta vez com a colaboração do poeta, designer e  editor Bruno Brum para confeccionar um objeto artístico  cheio de sutilezas gráficas.
Ao longo das 160 páginas do livro, distribuem-se 75 poemas (número que cresce se forem computadas as tais sutilezas mencionadas acima) criados com técnicas diversas: da caligrafia à apropriação de frames de uma videoperformance, da pirogravura à letra de canção, de textos escritos para serem performados à foto de um objeto tridimensional, de epigramas a peças sem palavras, com um direito a um longo poema-ensaio, Modelos vivos mostra um poeta inteiramente empenhado em tensionar as fronteiras entre os gêneros artísticos:
"A poesia nasceu plural. Todas as linguagens coexistiam no mesmo espaço. Falar em multimídia e intermídia, no meu caso, é apontar não para o futuro – um futuro cada vez mais incerto –, mas para o nosso passado mais remoto em termos de criação. Livros, para mim, por mais belos que sejam, serão sempre zonas de passagem para explorações acústicas por meio dos diferentes tipos de vocalização com que é possível abordar todo e qualquer texto."

Além da sessão de autógrafos de Modelos vivos, no sábado, 11 de setembro, o público poderá conferir, na terça-feira, dia 14, a partir das 19h30, também na Livraria Café com Letras, quando Ricardo Aleixo completa 50 anos, a nova performance do artista, Música para modelos vivos movidos a moedas, e a abertura de uma pequena mostra de poemas extraídos do novo livro. A performance, que funde experimentações vocais, projeção de vídeos e uma série de poemas de Modelos vivos transformados por Aleixo em canções, contará com a participação especial do guitarrista, violonista e arranjador Alvimar Liberato.

Para encerrar a semana de comemorações, que Ricardo, em tom de blague, chama de "projeto 50 anos em 5 décadas", será inaugurada, na sexta-feira, 17 de setembro, no saguão da Biblioteca da Faculdade de Letras da UFMG (avenida Antônio Carlos, 6627, Campus Pampulha, a mostra de poemas gráficos Improvisuais, que o próprio artista sonorizará na performance homônima. Todos os eventos terão entrada franca.

 

Serviço:

Modelos vivos, livro de poemas de Ricardo Aleixo.

Capa e projeto gráfico de Bruno Brum e Ricardo Aleixo.

160 pp. Capa em cartão Supremo 250g e miolo em Offset 120 g.

R$ 32,00.

 

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

REFLEXÕES SOBRE HAROLDO DE CAMPOS, MARAVILHA....


Casa das Rosas lança livro sobre Haroldo de Campos

Signâncias: reflexões sobre Haroldo de Campos é o primeiro livro da Série Noigandres.
O lançamento é parte da programação do Hora H de 2010.

Na terça-feira, 31 de agosto, às 19h30, a Casa das Rosas – Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura, espaço cultural do Governo de São Paulo administrado em parceria com a Poiesis - Organização Social de Cultura, sedia o lançamento do livro Signâncias: reflexões sobre Haroldo de Campos (Risco Editorial, 316 páginas). O livro, produzido pela Poiesis, é uma realização da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo.

Signâncias: reflexões sobre Haroldo de Campos é o primeiro livro da Série Noigandres. O lançamento é parte da programação do Hora H de 2010. "Noigandres" foi a palavra que intitulou a revista-livro que Décio Pignatari, Haroldo e Augusto de Campos editaram em 1952. A publicação teve cinco números, incorporando Ronaldo Azeredo a partir do terceiro, subtitulado "poesia concreta" (1956), e José Lino Grünewald a partir do quinto e último número (1962).

Como explica Augusto de Campos, o vocábulo, de significado enigmático, foi adotado como lema da poesia de invenção ou experimental. A palavra aparece numa canção do trovador provençal Arnaut Daniel (século XII), protótipo do poeta-inventor, segundo Ezra Pound, que a refere no seu Canto XX, sublinhando as dúvidas interpretativas do provençalista Emil Levy ("Now what the DEFFIL can that mean?"). Conforme veio este a concluir, a expressão "olors de noigandres [ou d'enoi gandres]" qualificaria uma flor cujo perfume liberta do tédio [olors (perfume), enoi (tédio), gandres (do verbo gandir, libertar)]. O grupo Noigandres primou pelo risco não só de fazer poesia, mas de criar e recriar, permanentemente, literatura.

A Risco Editorial, em todas as suas publicações, envolvam ou não diretamente a poesia, sempre olhará seus temas de maneira poética. Como fez Haroldo de Campos (1929-2003), o poeta, crítico literário, tradutor e professor que soube incorporar a ideia de risco em cada projeto seu e é, aqui, visto e revisto por Aurora Fornoni Bernardini, Carlos Ávila, Cristina Monteiro de Castro Pereira, Enrique Mandelbaum, Gênese Andrade, Jacó Guinsburg, Kenneth David Jackson, Leyla Perrone-Moisés, Luiz Costa Lima, Marcelo Tápia, Susana Kampff Lages e Yun Jung Im. Há ainda, para o leitor, diversas fotografias do poeta, em registros de Augusto de Campos, Carlos Bracher, Carmen de Arruda Campos, German Lorca, Ivan Cardoso, Ivan de Campos, Jorge Schwartz, Juan Esteves e Madalena Schwartz.

No dia do lançamento, haverá também a mesa-redonda "A Babel poética de Haroldo de Campos", que reunirá Aurora Fornoni Bernardini, professora da USP, Gênese Andrade, diretora do Centro de Referência Haroldo de Campos, Marcelo Tápia, diretor da Casa Guilherme de Almeida, Yun Jung Im, professora da USP, e será mediada pelo poeta Frederico Barbosa. O objetivo é debater como Haroldo de Campos, por meio da escolha de autores que leu e estudou, rompeu fronteiras.

Ficha técnica

Signâncias: reflexões sobre Haroldo de Campos
Organização: André Dick
Autores: Aurora Fornoni Bernardini, Carlos Ávila, Cristina Monteiro de Castro Pereira, Enrique Mandelbaum, Gênese Andrade, Jacó Guinsbur, Kenneth David Jackson, Leyla Perrone Moisés, Luiz Costa Lima, Marcelo Tápia, Susana Kampff Lages, Yun Jung Im

Serviço

Lançamento do livro: Signâncias: reflexões sobre Haroldo de Campos
Terça-feira, 31 de agosto, às 19h30
Casa das Rosas – Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura
Avenida Paulista, 37 – próximo à Estação Brigadeiro do Metrô
Horário de funcionamento: de terça a sábado, das 10h às 22h
Domingos e feriados: das 10h às 18h
Convênio com o estacionamento Patropi: Alameda Santos, 74
Tel.: (11) 3285-6986 / (11) 3288-4477
Site: www.casadasrosas-sp.org.br

Poiesis – Organização Social de Cultura
Assessoria de Comunicação
Dirceu Rodrigues, Carla Nastari, Mariana Lima, Fernanda Galib
Tel.: (11) 3285-6986


quinta-feira, 26 de agosto de 2010

POETAS ADOTAM ESCOLAS PÚBLICAS EM BRASÍLIA

Foto de Eraldo Perez, Photoagência:

Os poetas do grupo OIPoema estão de "olho vivo" nas escolas e nos alunos do DF

Recitais, palestras, doação de livros infantis e criação de bibliotecas estão entre as atividades que serão desenvolvidas

Poesia começa e se desenvolve nas escolas. São nelas que começam a ser formados os leitores do futuro e sem leitores não há escritores nem poetas. A leitura cria a fantasia para a criança, a faz viajar, além de ser também uma forte ação social para ajudar no combate aos descaminhos, especialmente o avanço do crack entre os nossos jovens.

Baseados nesse princípio, os seis poetas que fazem parte do grupo OIPoema, estão adotando seis diferentes escolas públicas em áreas carentes de Brasília.

Esses poetas estão prestes a lançar em setembro uma coleção de livros com o mesmo nome. Os livros foram produzidos pela Sinhá Cultural e sairão com o selo e o apoio do Fundo de Apoio à Cultura (FAC).

São quatro poetas-damas – Angélica Torres Lima, Cristiane Sobral, Bic Prado e Amneres - e dois cavaleiros: Nicolas Behr e Luis Turiba. A eles se juntará um sétimo poeta do traço, o artista plástico Luis Eduardo Resende, o Resa, que também está lançando um livro de poemas-objetos, o "Miserere Nobis", também com apoio do FAC.

Dinamizando as relações

A ideia nasceu como ação de contrapartida do projeto junto ao FAC e evoluiu quando o poeta Luis Turiba lançou no primeiro semestre deste ano o livro infantil "Luísa Lulusa, a atriz principal" e passou a visitar escolas fazendo recitais.

"É uma sensação maravilhosa recitar versos para a criançada. Fui as escolas com Luísa, minha musa inspiradora que está com 12 anos, e nos deliciamos", afirma Turiba.

Visitar e adotar escolas, aliás, já é um costume antigo do poeta Nicolas Behr. Ele adotou há anos uma paupérrima no Vale do Paranã, cidade de Posses, Goiás, a 350 quilômetros de Brasília. Todo ano visita a escola e leva livros, computadores, material escolar, além de roupas, sapatos, brinquedos. No ano passado, Behr convidou o poeta-diplomata Francisco Alvim para acompanhá-lo. "Foi uma aventura inesquecível", confirma Chico.

Assim, os poetas do OIPoema desejavam fazer algo a mais do que doar livros para o FAC, que normalmente ficam engavetados lá na secretaria de Cultura.

Luis Turiba adotará a Escola Classe da Vila Buritis, em Planaltina, onde conheceu a professora Ana Reis que organiza uma sala de leitura interativa para os alunos. A visita para o início dos trabalhos está marcada para o dia 31 de agosto. Ele levará livros próprios e de outros autores para engordar a biblioteca da escola. O mesmo fará os demais poetas.

Angélica Torres Lima, por exemplo, ficará com a Escola Classe n° 3 do Núcleo Bandeirante, enquanto Amneres fará seu trabalho junto ao Centro de Ensino Médio do Paranoá.

A ecológica poeta Bic Prado trabalhará com os alunos da Escola Classe de Itapoã; Cristiane Sobral com o Centro de Atenção Integral à Criança - CAIC Juscelino Kubitscheck, no Park Way e o poeta símbolo de Brasília Nicolas Behr adorará a Escola Classe do Varjão, onde a diretora Cláudia Maria o espera juntos com seus alunos de braços abertos.

PACTO SOCIAL DÁ DIGNIDADE AO TURISMO BRASILEIRO


Ação inédita é um exemplo: patrões e empregados do turismo buscam novas relações de trabalho

Temas como meio ambiente e sustentabilidade, exploração sexual, garantia de salários dignos, plano de cargos e salários, igualdade de oportunidades, saúde e violência no ambiente de trabalho e outros que estão na pauta das relações trabalhistas modernas, passam a fazer parte do Pacto Social assinado no dia 25 de agosto, entre patrões e empregos do setor de turismo no Brasil.

Com o solene nome de "Pacto Social Interconfederativo no Âmbito do Turismo Nacional", o documento foi assinado na presença do Ministro do Trabalho, Carlos Lupi; pelos presidentes das confederações Nacional do Turismo (CNTur), Nelson de Abeu Pinto; e dos Trabalhadores em Turismo e Hospitalidade (CONTRATUH), Moacyr Tesch Auervald.

A ABAV-DF compareceu à cerimônia com seus diretores e seu presidente, Carlos Alberto de Sá, para quem o pacto " vai permitir uma melhora nos negócios tanto para empregadores como para empregados, pois cria um ambiente de trabalho muito mais saudável e humano dando uma dignidade moderna ao segmento de turismo."

Movimento Social

Segundo a proposta do Pacto Social, "empresários e trabalhadores, representados pelas entidades signatárias, observam de forma conjunta e sem perder suas identidades e seus princípios, que podem perfeitamente e, em harmonia, contribuir com o Estado para que tenhamos uma sociedade cada vez mais justa."

Diz ainda o documento: "Os movimentos sociais não são estáticos. Estão em constante transformação e por isso deve buscar através do diálogo e do bom senso, criar novas formas de ação para enfrentar novos desafios e manter viva a chama de grandes transformações na economia e das instituições que representam capital e trabalho."

Meio Ambiente e Sustentabilidade


Citando o site "portalsaofrancisco", o Pacto Social alerta que "que as mudanças climáticas provocadas pelo aquecimento global terão efeitos devastadores", causando imensos prejuízos para o setor de turismo de todo o mundo:

"Ilhas tropicais e estações de esqui nos Alpes desaparecerão, tanto as inundações como a falta de água aumentarão, a produtividade agrícola cairá e os países em desenvolvimento serão as principais vítimas."

Soluções

Com uma visão moderna e focada na questão planetária global, o texto do Pacto Social diz que "os sindicatos não podem se limitar a negociar salários; melhores condições de trabalho e outros benefícios para os trabalhadores e empresários".

Por isso, "os signatários se comprometem na busca de soluções para o enfrentamento desses desafios, firmam compromisso de juntos realizarem campanhas de como a população pode salvar o planeta com ações simples como não jogar lixo na rua; evitar pegar sacolinhas em supermercados, assim como o uso de materiais que demoram a se decompor e suar a água potável de forma racional, e preservar o mar cuidando das praias, entre outras coisas".

Conclusões

O documento termina afirmando que os signatários acreditam "no Brasil que cresce sem pedir licença."

"Queremos um País justo e igualitário. Estamos esperançosos de que continuaremos crescendo no cenário mundial e em breve teremos um Brasil igual para todos."

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

BATUCADAS BRASILEIRAS

Do site "overmundo"

Marcelo Frazão
Corpo docente do projeto Batucadas Brasileiras
8
Marcelle Braga · Rio de Janeiro, RJ
23/8/2010 · 15 · 0
 

Projeto promove o I Encontro de Avaliação de suas Atividades junto às Escolas da Rede Pública de Ensino

O IBB – Instituto Bandeira Branca – promove no próximo dia 31/08/2010, terça-feira, às 14:00 horas, o I ENCONTRO DE AVALIAÇÃO DO PROJETO BATUCADAS BRASILEIRAS entre as Escolas da Rede Pública de Ensino do Estado e do Município, que permitiram a divulgação do projeto em suas unidades para a formação de suas novas turmas. O evento será na sede da instituição - Rua Camerino,60 - Saúde - Zona Portuária do Rio de Janeiro. Este encontro é organizado pelo IBB com o apoio da Diretoria Geral de Programas e Projetos Educacionais da Secretaria Estadual de Educação.

A instituição convidou as Coordenadorias Regionais das Metropolitanas III e X, as respectivas Diretoras das Escolas relacionadas durante a campanha de divulgação do projeto, os animadores culturais dessas escolas e os pais dos alunos para participar do evento, com as presenças dos alunos inscritos. Convidou também a Gerência da Equipe de Extensividade da Secretaria Municipal de Educação.

A intenção do IBB é criar um ambiente de aproximação maior do projeto com as escolas e das escolas com o projeto, como também com a Diretoria Geral de Programas e Projetos Educacionais da Secretaria Estadual e com a Equipe de Extensividade da Municipal, além de ter a oportunidade de apresentar a metodologia de capacitação profissional da instituição na arte da percussão e o ementário dos seus cursos. Os organizadores do evento convidam a todos a conhecer a sede do projeto e sua infra-estrutura, materializadas graças ao patrocínio da Petrobras, com base nos incentivos fiscais proporcionados pela Lei Rouanet – Pronac 080618.

A apresentação das atividades do IBB nesse encontro sintetizará os principais resultados do Batucadas. O objetivo é demonstrar às Escolas e às suas equipes que o Batucadas Brasileiras possui indicadores mensuráveis de elevados resultados, em suas atividades e no desenvolvimento junto aos alunos da rede pública. E abrir espaço para um maior número de jovens, consolidando a relação institucional já existente.


Foto: Jorge Gomes,Sergio Chiavazzoli, Aleh Ferreira, Ary Dias, Marçal, Luiz Galvão e Moacyr Luz.

FERNANDO PESSOA OCUPA MUSEU DA LÍNGUA PORTUGUESA

DEU NO GLOBO
 
Faces do poeta

Fernando Pessoa é celebrado no Brasil com dicionário e grande exposição em SP

Plantão | Publicada em 25/08/2010 às 08h52m

Márcia Abos

SÃO PAULO - Um dos escritores mais intrigantes da língua portuguesa, o poeta Fernando Pessoa (1888-1935) está sendo celebrado duplamente no Brasil: enquanto o Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, inaugurou ontem a mostra "Fernando Pessoa - Plural como o universo", uma obra monumental chega às livrarias: "Dicionário de Fernando Pessoa e do modernismo português" (Leya). Organizado por Fernando Cabral Martins, um dos maiores especialistas em modernismo português, o dicionário reuniu mais de 80 colaboradores, que produziram 600 verbetes sobre o escritor, sua obra e o movimento que ajudou a definir. Há ainda um filme sobre o poeta, a ser rodado em 2011, com roteiro e direção de Ruy Guerra. Em entrevista ao GLOBO por telefone, de Lisboa, Cabral Martins revela que há muito a ser descoberto sobre Pessoa: cerca de metade de sua produção permanece inédita.

O GLOBO: Há ainda muitos textos inéditos de Fernando Pessoa?

FERNANDO CABRAL MARTINS: Há muitos aspectos de Fernando Pessoa ainda não revelados. Só metade do que ele escreveu foi lido, trascrito e em parte publicado. Há um volume de contos policiais e uma grande produção de contos em geral aguardando edição dos estudiosos. São contos inacabados. O mesmo acontece com o teatro. A importância da prosa na obra de Pessoa era até pouco tempo atrás desconhecida. Antes ele era considerado um poeta. Hoje sabe-se do papel fundamental da narrativa em sua obra, ainda que seja fragmentária, sem começo, meio e fim, textos que não se enquadram nos gêneros literários tradicionais e lineares.

Fernando Pessoa via-se multifacetado e fragmentado como sua obra?

Nos últimos 15 anos da vida de Pessoa, há muitos testemunhos mostrando que os autores imaginários começam a invadir sua vida. Em alguns momentos ele é Álvaro de Campos, noutros Alberto Caeiro, ou Ricardo Reis. Os heterônimos começam como um artifício, no sentido de serem um objeto de arte, mas são criações de tal maneira fortes e intensas, sobretudo o Álvaro de Campos, que Pessoa acaba influenciando a si próprio, como se a criatura se tornasse maior que o criador. A personagem começa a fazer parte do cotidiano do escritor e a interferir em suas relações, como em seu namoro com Ophélia Queiroz, no qual Álvaro de Campos surge como uma terceira pessoa de forma desagradável para Ophélia.

" O aparecimento das figuras imaginárias na vida de Pessoa é bastante perigoso. Revela que há uma dimensão de loucura à espreita "

Jovens poetas que procuravam os conselhos de Pessoa às vezes encontravam em seu lugar Álvaro de Campos, um personagem nada agradável, que bebia muito e com quem era difícil conviver. O aparecimento das figuras imaginárias na vida de Pessoa é bastante perigoso. Revela que há uma dimensão de loucura à espreita. Mas é evidente para mim que ele consegue manter o jogo que criou no limite da sanidade. Nossa unidade é imaginária, frágil, mudamos um pouco todos os dias. Portanto, o que Pessoa concebe ao criar heterônimos e ao tratar da temática de despersonalização e desdobramento do ser é uma linha de pesquisa literária em torno de uma realidade que é humana e universal. Em certos momentos, a coisa pode ter ido longe demais e Pessoa sentia-se um palco para suas invenções literárias, assim como algumas ficções contemporâneas como "Matrix" e "Avatar". Ele nunca deixou que os avatares tomassem o controle, que foi sempre dele, o pobre homem que passava o dia em seu quartinho a escrever.

Por que Fernando Pessoa é o ponto de partida e a referência central do dicionário?

Havia a dificuldade em determinar onde começa e acaba o modernismo português, saber os limites temporais e quais artistas deviam ser considerados como parte ou referências do movimento. Há muitas opiniões divergentes. A importância do movimento em Portugal é muito grande. Em termos relativos, é mais importante o modernismo em Portugal do que foi no Brasil. A empreitada só foi possível graças ao fato de haver em Portugal uma figura que sobreleva todas as outras em importância. Assim conseguimos coerência, colocando Pessoa como figura central. E há ainda uma sorte especial: quando Pessoa morre, em 1935, podemos dizer que o modernismo, se ainda existe, tem características muito diferentes de seu princípio. Fiquei satisfeito ao descobrir que se centrasse a obra em Fernando Pessoa a tarefa de organizar o dicionário seria mais fácil. Para citar um exemplo de como pude fazer uma seleção, é essencial haver um verbete sobre Shakespeare. O escritor inglês é o grande modelo de Pessoa.

Então, Fernando Pessoa é o modernista por excelência?

Sim. Pessoa é a figura do século XX português mais importante dentro do panorama mundial.

TODA POESIA É SEMENTE

 
PJ TEMPLATE - 10.jpg
 
 
Inauguro esta news-letter poética, que passo a enviar semanalmente, com a "Cantiga da baixa umidade", escrita há dois anos, em plena seca. Naquele ano o ápice da secura foi em setembro (este ano parece que agosto é o mês mais seco, basta verificar a quantidade de queimadas em todo o nosso centro-oeste e as baixas taxas de umidade que temos enfrentado).
 
PAULO JOSÉ CUNHA
 
Diz assim:


CANTIGA DA BAIXA UMIDADE

 
O mato estala nos campos de setembro
onde a vida perde o viço
e o mundo é palha.


Tudo é fumo no horizonte desses campos
lavados ao calor que avança em ondas.


O peito dói, e se esfarela
como o barro calcinado nas queimadas.


Uma angústia se instala sem aviso.
Todo gesto é lento.
Até o silêncio agride.


Derrotado à fornalha dos cerrados,
o frágil coração nem mais bombeia.
O sangue vira pó dentro da veia.


Nesta umidade baixa e relativa,
qualquer canto de sereia me cativa,
qualquer ponta de cigarro me incendeia
 
 



segunda-feira, 23 de agosto de 2010

COMEDIANTE NÃO PERDE HUMOR NEM AO PROTESTAR

Deu em O Globo

 

Foto:  Domingos Peixoto

Ato contra censura durante período eleitoral arranca risadas do público em passeata na Avenida Atlântica

Chico Otávio

Era para ser um ato de protesto indignado. A seriedade, porém, não durou mais do que sete minutos, tempo suficiente para que os comediantes ouvissem quietos — atendendo a um veemente "xiii, silêncio!" — a leitura do manifesto contra a proibição imposta ao humor no período eleitoral.

Em seguida, um dos líderes do movimento, Fábio Porchat, do grupo Comédia em Pé, pegou o megafone e puxou as primeiras "palavras de ordem":

— Um, dois, três... Quatro, cinco, seis... Sete, oito, nove... Dez, onze, doze...

Comediante jamais perde a piada, mesmo quando se sente acuado. Enquanto caminhavam ontem pela Avenida Atlântica, do Hotel Copacabana Palace ao Leme, no protesto batizado de Humor Sem Censura, e que reuniu cerca de 500 pessoas, Marcelo Madureira, Sabrina Sato, Bruno Mazzeo, Hélio de la Peña, Marcius Melhem e outros "manifestantes" fizeram um show de improvisação para pedir o fim do que classificam de censura da Justiça Eleitoral ao humor político.

— Humorista unido, jamais será comido — bradaram os comediantes, seguidos por uma legião de tietes que disparavam fotografias.

A manifestação, durante a qual foi lançado um abaixo-assinado, exigia a revogação de uma norma do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que proíbe, desde 1997, a veiculação, por rádio ou TV, de entrevistas ou montagens que "degradem ou ridicularizem" candidatos, partidos políticos ou coligações:

— Se é assim, a Justiça tem de proibir também o maior programa de comédia em exibição no Brasil, que é o horário eleitoral gratuito. É tudo muito engraçado. Se eles têm direito de fazer o seu humor, por que não podemos fazer o nosso também? — indagou um inconformado Sérgio Mallandro.

Alguns metros de caminhada à frente, alguém denunciou:

— Iu, iu, iu... Tiririca nos traiu!

A frase, repetida em coro, denunciava que Tiririca, candidato a deputado federal em São Paulo, havia "traído a classe" ao se debandar para o outro lado. A certa altura, a ausência de repressão foi notada:

— Cadê a polícia?

Em uníssono, os manifestantes passaram a cobrar: "Queremos apanhar."

Depois, imitaram o grito das torcidas de futebol, recheado por um sonoro palavrão, para expulsar da passeata cabos eleitorais que insistiam em infiltrar bandeiras de partidos políticos.

Naquele momento, o ato se aproximava da Avenida Princesa Isabel, inspirando Marcelo Madureira, da turma do Casseta, a fazer um convite coletivo:

— Vamos à Cicciolina? — referindo-se ao inferninho perto dali.

O ato terminou em pizza na Fiorentina, tradicional restaurante do Leme, mas Fábio Porchat está convencido de que a iniciativa vai render frutos.

Leia mais em O Globo

BRASÍLIA 50 ANOS SERÁ MOSTRADA NA ESPANHA

EXPOSIÇÃO SOBRE BRASÍLIA PERCORRERÁ A EUROPA

Uma megaexposição de artes visuais conta e mostra para europeus, a partir deste 17 de setembro, a história da capital do Brasil, seus principais personagens, a arquitetura, o ambiente de sua criação, sua cultura e a paisagem que a cerca.

A exposição "Brasília 50 Anos – Meio Século da Capital do Brasil", com curadoria de Danielle Athayde, começa a rodar a Europa a partir da Espanha, onde será apresentada até novembro na Arqueria de Nuevos Ministérios – Paseo de Castellana, Madri. Em seguida, a exposição sobre Brasília será montada em Lisboa. A exposição tem patrocínio do Ministério da Cultura e do Cartão-BRB, cuja política é apoiar cada vez mais iniciativas que elevam a autoestima do brasiliense.

"Ao mostrarmos Brasília no exterior estaremos incentivando o turismo na nossa capital, que é uma cidade planetária e cosmopolita", justifica o presidente da Cartão-BRB, Paulo Renato Braga.

Valor Histórico

A exposição começa com uma linha do tempo, que tem como marco inicial o ano de 1753, quando surgiu a ideia de levar a capital do Brasil para o interior do País e vai até a atualidade. Depois seguem seis blocos temáticos, que mostram toda a riqueza da cidade e sua história. O evento também apresenta um ciclo de cinema sobre a cidade.

A Maquete itinerante de Brasília – obra de autoria do arquiteto e maquetista Antonio José Pereira de Oliveira – é uma das grandes sensações da exposição. Ela representa fielmente toda a arquitetura e urbanismo de Brasília no início do ano de 2010. O projeto prescinde dos métodos artesanais tradicionalmente usados na confecção de maquetes, utilizando pela primeira vez todos os recursos proporcionados pela informatização, com imagens de satélite e a miniaturização automatizada.

A exposição terá um bloco com fotos aéreas em grande formato (200 X 70 cm), de João Facó, que darão aos visitantes a sensação de um voo por Brasília. Também serão levadas fotos do arquivo público do Distrito Federal do acervo do Instituto Moreira Salles, fotografadas por Marcel Gautherot, um francês considerado um dos maiores fotógrafos da arquitetura brasileira e que registrou o nascimento das obras monumentais de Niemeyer e a execução do Plano Piloto de Lúcio Costa, como um imenso making of da construção. Há também acervos fotográficos da Diretoria de Patrimônio Histórico e Artístico de Brasília e de autoria de Mário Fontenelle, amigo pessoal do presidente Juscelino Kubitschek.

Espaço dos protagonistas

Dedicado a contar a história e realizações dos quatro principais protagonistas da criação de Brasília: Juscelino Kubstichek, Lúcio Costa, Oscar Niemeyer e Athos Bulcão. Este espaço é destinado a mostrar documentos históricos, como os primeiros rascunhos do Plano Piloto de Lúcio Costa; e trabalhos de alguns talentos da cidade como obras de Athos Bulcão, o artista de Brasília, com seus famosos azulejos. Neste módulo, o visitante poderá interagir e manipular as obras do artista por meio de recursos multimídia.

Ao final da exposição, o visitante encontrará um lounge-livraria com mais de 50 livros e catálogos sobre Brasília, disponíveis para leitura no local. Em todo espaço expositivo o público terá acesso a áreas multimídias com muita tecnologia e interação, além de ouvir uma trilha sonora original criada especialmente para este evento.

Acompanhará a exposição um Ciclo de Cinema onde serão exibidos semanalmente filmes e documentários que traduzam a alma da cidade

 

LEMBRANÇAS DE PAULO TOVAR


Em cerimônia cheia de emoções e boas lembranças do querido poeta e compositor Paulo Tovar, a deputada Erika Kokay promoveu a simbólica entregue do título de CIDADÃO BRASILIENSE à família do autor de "Juriti". Foi na última quinta-feira, dia 19, na nova sede da Câmara Legislativa, por sinal, muito bem arquitetada.
 
Da mesa participaram os poetas Nicolas Behr, TT Catalão, Aldo Justo e Luis Turiba, além do familiares de Tovar.
 
Valeu Erika, valeu Tovar.

sábado, 21 de agosto de 2010

É COM ESSE QUE EU VOU ESTREIA NO RIO


Luis Turiba, da Lapa


Cantor Makley Matos brilha como "a nova voz do samba carioca" no maior musical de samba, mas o brilho no palco fica por conta da incrível atriz Soraya Ravenle 

Um espetáculo musical que entra no ar para ter vida longa e fazer história no Brasil e no exterior. É essa a impressão que fica após assistirmos às duas horas de samba (uma verdadeira aula para veteranos e iniciantes) do musical "É COM ESSE QUE VOU", que teve sua apresentação de estreia nesta sexta-feira no Teatro OI Casagrande, no Leblon. Os presentes aplaudiram de pé e os sete cantores e cantoras que sustentam o ziriguidum sairam de cena exaustos e felizes. Cantaram e dançaram até como num verdadeiro carnaval.

Baseado numa pesquisa de Rosa Maria Araújo e Sérgio Cabral, com direção musical de Luís Filipe da Lima, o musical apresenta os grandes sambas "de rua e de salão" dos anos 30, 40, 50 e 60 do Rio de Janeiro. Se você gosta, estão todos lá.

"Foi a partir de 1932 que a prefeitura do Distrito Federal (então Rio de Janeiro) decidiu premiar, até o final da década de 1960, os melhores sambas e as melhares marchas do carnaval", explica o texto de apresentação do espetáculo e prossegue:
"Sobre as marchinhas fizemos o espetáculo "Sassaricando", uma ode a um gênero musical que permanece no coração e na alma dos brasileiros. Agora, o carnaval se completa com os sambas nascidos nos morros e na cidade e popularizados nas vozes inesquecíveis de Francisco Alves, Carmem Miranda, Linda e Dircinha Batista, Orlando Silva, Jamelão e dos intérpretes jovens de hoje que permanecem fieis aos sambas e às marchas.

Com patrocínio da Bradesco e do Ministério da Cultura, o musical prossegue com tudo para ser o coqueluche do verão que se aproxima no Rio de Janeiro. Quem gosta de samba, quer conhecer um pouco mais e está ou vai ao Rio de Janeiro, vale a pena agendar. Vai se deliciar.....

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

CANDIDATOS AO GDF FALAM SOBRE CULTURA....SERÁ QUE VÃO CONSEGUIR?


 

 

Petista abre série "O Candidato e a Cultura", do Movimento Viva Arte.  Todos os candidatos ao Governo do Distrito Federal foram convidados.

 

Brasília, 19/8/2010 -- A esta altura da campanha eleitoral, nada se falou sobre as políticas culturais propostas pelos candidatos ao Governo do Distrito Federal, caso eleitos.  Ninguém falou, nem foi perguntado sobre o assunto.

 

O Movimento Viva Arte resolveu dar o chute inicial. Estreia nesta quinta-feira (19/8), às 19:30,  a série "O Candidato e a Cultura", no T-Bone Açougue Cultural (SCLN 312).

 

A iniciativa tem por objetivo conhecer, antecipadamente, o que pretende cada candidato ao Governo do Distrito Federal no que tange às políticas culturais, se for eleito. A ideia não é promover um debate, mas uma sabatina, a cada concorrente ao GDF, para que a comunidade artística e cultural de Brasília possa formar opinião sobre os candidatos e suas propostas.

 

"Queremos apenas ouvir quais são os planos de cada candidato para o futuro. Teremos tudo gravado, registrado e divulgado na página do Movimento Viva Arte", explicou Luiz Amorim, proprietário do T-Bone e um dos mais entusiasmados animadores do Movimento Viva Arte.

 

Nos encontros, cada candidato terá direito a 15 minutos de explanação antes que sejam iniciadas as perguntas.  Os organizadores calculam que cada candidato responderá a 15 perguntas, em média. A apresentação ficará por conta do mímico Miquéias Paz e a moderação será do jornalista Paulo José Cunha.

 

A programação segue até o dia 31 de agosto.  O próximo candidato a se apresentar será o Toninho do Psol, no dia 25/8. 

 

Movimento Viva Arte – O movimento Viva Arte, que está à frente do programa O Candidato e a Cultura, nasceu e floresce dentro do Açougue Cultural T-Bone. Trata-se de um movimento permanente, que tem como objetivo mobilizar todas as forças artísticas de Brasília, para que juntas possam influenciar nas políticas de apoio e incentivo à cultura no DF. O movimento não tem caráter político partidário e o seu compromisso é em defesa da arte produzida na cidade. Conheça melhor o Viva Arte em www.movimentovivaarte.com.br. Siga-nos em twitter.com/viva_arte_bsb.

 

Mais informações:

Gadelha Neto, 61 8175-4038

Vicente Sá, 61 8182-1628

 

 

POESIA DE VANGUARDA DE ERTHOS ALBINO

De 24/8 a 24/10, o Centro Cultural do Rio de Janeiro apresenta a exposição Erthos Albino de Souza. Poesia: do dáctilo ao dígito, com curadoria dos poetas Augusto de Campos e André Vallias. Na data da abertura será realizada, às 19h30, uma mesa-redonda com os curadores e com o também poeta Carlos Ávila.

 

A mostra faz um amplo apanhado da produção de Erthos Albino de Souza (1932-2000): dos primeiros poemas feitos com máquina de escrever, no final da década de 1960, às impressões em computador mainframe, realizadas durante os anos de 1970, que fazem dele um relevante precursor da chamada "poesia digital"; dos "poesignos" – logotipos poéticos – aos poemas-objeto e colagens fotográficas.

 

Mineiro de Ubá, radicado em Salvador – ou "ubáiano" como ele mesmo se definia –, esse entusiasta da poesia de vanguarda, patrocinava projetos de Augusto de Campos e de outros concretistas, mas não se animava em publicar os próprios trabalhos. "Erthos preocupava-se, angelicalmente, acima de tudo com os outros, e ficava feliz com o êxito dos projetos e das obras dos poetas em que acreditava e que financiava com a maior e mais desinteressada generosidade", explica Augusto de Campos.

 

O contato entre Erthos Albino e Augusto e Haroldo de Campos começou em 1962, quando ele tomou conhecimento dos primeiros estudos que os irmãos realizavam sobre o poeta maranhense Sousândrade. Erthos, então engenheiro da Petrobras em Salvador, se propôs a financiar o projeto de resgate da obra do poeta, sem conhecer os autores pessoalmente – o contato era só por cartas até 1969.

 

Erthos foi um grande pesquisador, responsável por inúmeras descobertas de textos de Pedro Kilkerry, Patrícia Galvão (Pagu) e Sousândrade, tendo ainda realizado um trabalho pioneiro de análise estatística de textos literários por intermédio do computador. Em 1973, fundou, com o poeta e antropólogo Antônio Risério, a revista Código, publicação brasileira de poesia de vanguarda, que teve 12 números e circulou até 1989. Suas obras criativas foram disseminadas nas revistas experimentais da época, como Pólen, a própria Código, Qorpo Estranho, Artéria, Muda e Atlas.

 

Erthos Albino. Poesia: do dáctilo ao dígito

Abertura: 24 de agosto, às 19h30

Mesa-redonda com Augusto de Campos, André Vallias e Carlos Ávila

Entrada gratuita. Senhas serão distribuídas 1 hora antes de evento.

 

Visitação: de 25 de agosto a 24 de outubro de 2010

De terça a sexta, das 13h às 20h

Sábados, domingos e feriados, das 11h às 20h

Entrada franca.

Classificação livre.

Visitas monitoradas para escolas: agendar pelo telefone (21) 3284-7400.

 

Instituto Moreira Salles – Rio de Janeiro

Rua Marquês de São Vicente, 476, Gávea

terça-feira, 17 de agosto de 2010

"CADÊ O SINDICATO QUE ESTAVA AQUI?"

DVD
História de resistência e irreverência

Vídeo sobre o Sindicato dos Jornalistas do DF evoca lutas políticas e culturais, como a criação do Pacotão

·  Viviane Marques
Especial para o Correio


Aureliza Corrêa/Esp. CB/D.A Press - 1/2/10

Luis Turiba: "Essa memória dos anos de chumbo precisa ser contada"


Sindicato dos Jornalistas do DF/Reprodução

MEMÓRIA DO SINDICATO
Lançamento do DVD Cadê o sindicato que estava aqui?. Hoje, às 19h30, no auditório Maestro Sílvio Barbato do Sesc do Setor Comercial Sul (Edifício Presidente Dutra, ao lado do Edifício Oscar Niemeyer). Preço: R$ 30, com renda revertida para o Clube da Imprensa.

 

O Boldo Bar, uma tapera nos fundos do terreno do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal (SJPDF), é palco de algumas histórias divertidas contadas no DVD Cadê o sindicato que estava aqui?, primeira etapa do projeto Memórias do Sindicato dos Jornalistas do DF. Sob coordenação do jornalista Luis Turiba e do produtor audiovisual Maxtunay França, o vídeo será lançado hoje, às 19h30, no Sesc do Setor Comercial Sul. O filme lembra alguns fatos marcantes da história da instituição, entre eles a criação do Clube da Imprensa e do bloco carnavalesco Pacotão, bem como a eleição de Carlos Castello Branco, o Castellinho, seu primeiro presidente.

A demolição da antiga sede foi o mote para que veteranos das redações brasilienses se reunissem em torno de "causos" e contassem histórias pessoais que se enredam com suas trajetórias profissionais. "Ali aconteceram muitas lutas, assembleias históricas. Além de registrar o momento das máquinas derrubando o prédio, aproveitamos para ouvir ex-presidentes e conhecedores dessa história, como Clóvis Senna e Rubens de Azevedo Lima", explica o jornalista Luis Turiba, responsável pelo conteúdo do filme.

O terreno do Setor de Indústrias Gráficas onde ficava o sindicato foi vendido para uma construtora e no local já está sendo erguido um edifício comercial. Lá, ficará instalada a nova sede do sindicato — que está funcionando, provisoriamente, no Clube da Imprensa — e salas comerciais, algumas cedidas a ele em pagamento e cujos aluguéis gerarão renda à instituição.

Uma curiosidade diz respeito ao próprio título do documentário, que seria Por dentro da máquina de escrever. Um dia, no entanto, depois da demolição do prédio, Turiba passou, acompanhado de uma amiga, em frente ao terreno, e percebeu um grande buraco prestes a receber fundações. Ela, sem saber do que se passava, soltou a frase: Cadê o sindicato que estava aqui?. Foi difícil resistir à deixa que deu o nome final do filme.

Dividido em capítulos, numa ordem quase cronológica, o filme tenta fugir do registro puro e simples. O som (já ausente das redações) das batidas no teclado da máquina de escrever introduz os capítulos, acompanhado de poemas do curitibano Paulo Leminski. Imagens de arquivo, músicas incidentais também entremeiam os depoimentos de 15 veteranos jornalistas locais, cujas falas foram colhidas em clima informal. Foram duas rodadas de entrevistas: a primeira, num café da Asa Norte; a outra, no Clube da Imprensa.

O Boldo Bar, por exemplo, era o ponto de encontro antes e depois das assembleias. Em 1989, como o prédio do sindicato estava sendo usado como passagem para frequentadores do bar, resolveu-se erguer um muro separando as duas construções. O fato gerou um editorial, publicado no Correio, em que jornalistas protestavam, comparando a recente queda do muro de Berlim à malfadada parede que dificultava o acesso ao bar.

Uma dificuldade enfrentada por Turiba foi o levantamento documental — fotos, vídeos e outros documentos que contassem, por si, trechos da história do sindicato, tido pelos membros como um símbolo de resistência ao governo militar. "Quem poderia ter fotos de antigas assembleias, por exemplo, não conseguiu encontrar os negativos. Muitas imagens são do meu arquivo pessoal, outras consegui no Google", conta o jornalista, que considera o DVD a primeira etapa da recomposição da memória do SJPDF. "É uma obra em construção. Sua divulgação pode fazer com que muita gente se movimente e vasculhe suas gavetas em busca de fotos e outros registros. Essa memória dos anos de chumbo precisa ser contada. Houve material coletado que não entrou na versão final. Pode ser que o projeto continue em um livro ou em outro DVD. Esse foi o pontapé inicial, vamos ver como a turma reage", resume.


TERESA CRISTINA É ELOGIADA POR IRLAM ROCHA LIMA

 
Teresa Cristina encanta o público em show com as raízes do melhor samba
Irlam Rocha Lima

Publicação: 17/08/2010 07:00 Atualização: 17/08/2010 00:08

A Lapa perdeu sua estrela para Brasília no último fim de semana. De sexta-feira a domingo, o brilho de Teresa Cristina deixou, momentaneamente, de iluminar o bairro boêmio do Rio de Janeiro e se espalhou pelo Setor Bancário Sul. Ali, no Teatro da Caixa, a cantora fez um show memorável, proporcionando entusiasmo e emoção ao público que lotou o espaço nas três noites.

Teresa Cristina: homenagem a mestres como Paulinho da Viola, Chico Buarque e Caetano Veloso - (Rafael Ohana/CB/D.A Press)
Teresa Cristina: homenagem a mestres como Paulinho da Viola, Chico Buarque e Caetano Veloso
Teresa tem marcado presença nos palcos da cidade desde o começo da carreira, há oito anos, mas foi desta vez, ao deixar a timidez de lado, que fez a melhor apresentação. Bem à vontade, exibiu interessante performance cênica, acompanhada por banda competente em que a músicos do Grupo Semente — João Callado (cavaquinho), Bernardo Dantas (violão) e Trambique (percussão) — se juntaram outros bons instrumentistas: os percussionistas André Siqueira e Paulino Dias, e o flautista e saxofonista Alexandre Caldi.

Sambista por formação, a cantora mostrou intimidade com outros gêneros, ao interpretar suavemente as canções Cantar, Poesia e Lembrança, de sua autoria, o blues A história de Lily Brown (Edu Lobo e Chico Buarque), a embolada O que vier eu traço (Alvaiade e Zé Maria) e músicas que evocam o universo dos cultos afro-brasileiros, como Capitão do mato e Morada divina.

Como em Melhor assim, o CD e DVD que deu origem ao show, Teresa abriu os trabalhos belamente com A voz de uma pessoa vitoriosa, de Caetano Veloso e Wally Salomão, cantada à capela; e emendou — já na companhia da banda — com o samba clássico Cantando, de Paulinho da Viola. Aliás, os sambas estiveram em destaque no roteiro. Os espectadores foram ao deleite ao ouvi-la em Trégua suspensa (dela, em parceria com Lula Queiroga), Pura semente (Arlindo Cruz e Acyr Marques ) e Coisas banais, com o qual homenageou Candeia e Paulinho da Viola. "Esses dois mestres marcaram a história da minha vida", afirmou.

Arranjos
Mas foi com o sucesso instantâneo Beijo sem, samba esperto de Adriana Calcanhotto que fala da mulher libertária que vai à Lapa decotada, vira todas, beija bem e se joga na madrugada, que a cantora viu as fãs reagirem com alegria e cumplicidade. Mas Teresa fez mais: com arranjos de João Calado, transformou Gema (Caetano) e A felicidade (Tom Jobim e Vinicius de Moraes) em sambas rasgados.

Feliz da vida "com a vitória do meu Vascão" (2 x 1 sobre o Grêmio Prudente) e com a acolhida do público, Teresa deixou-se ficar no palco por duas horas. Para ter ideia, voltou à cena nada menos que quatro vezes. No último bis, com todo mundo de pé, cantando e sambando junto, homenageou a Portela com Foi um rio que passou em minha vida, o hino da escola de samba de Madureira, composto por Paulinho da Viola.

Antes de deixar o palco, perguntou se alguém estava fazendo filmagem para colocar no YouTube. Como algumas pessoas responderam afirmativamente, ela propôs, para a despedida, juntarem as vozes e a energia em Vou festejar (Jorge Aragão, Neoci e Dida), grande sucesso de Beth Carvalho. "Quero mostrar esse vídeo à Beth, que está recuperando-se de uma cirurgia na coluna", explicou

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

A TONGA DA MIRONGA DO KABULETÊ

Vinicius de Moraes

Composição: Vinicius de Moraes / Toquinho

Eu caio de bossa
Eu sou quem eu sou
Eu saio da fossa
Xingando em nagô

Você que ouve e não fala
Você que olha e não vê
Eu vou lhe dar uma pala
Você vai ter que aprender
A tonga da mironga do kabuletê
A tonga da mironga do kabuletê
A tonga da mironga do kabuletê

Eu caio de bossa
Eu sou quem eu sou
Eu saio da fossa
Xingando em nagô

Você que lê e não sabe
Você que reza e não crê
Você que entra e não cabe
Você vai ter que viver
Na tonga da mironga do kabuletê
Na tonga da mironga do kabuletê
Na tonga da mironga do kabuletê

Você que fuma e não traga
E que não paga pra ver
Vou lhe rogar uma praga
Eu vou é mandar você
Pra tonga da mironga do kabuletê
Pra tonga da mironga do kabuletê
Pra tonga da mironga do kabuletê

VINICIUS DE MORAES RECEBE HOMENAGEM PÓSTUMA

ITAMARATY TRANSFORMA O "POETINHA" EM DIPLOMATA DO BRASIL
 
MATÉRIA DO CORREIO BRAZILIENSE
 
Viviane Vaz
Publicação: 16/08/2010 08:34
 
"Foi uma sacanagem a forma que me expulsaram do Itamaraty", desabafou o ex-diplomata Vinicius de Moraes, durante entrevista concedida em 1975.
 
Hoje, o chanceler Celso Amorim, em nome dos brasileiros, faz uma reparação e uma homenagem póstuma ao também poeta, músico e jornalista e celebra em Brasília a lei que eleva Vinicius à condição de "embaixador do Brasil". A cerimônia no Palácio do Itamaraty contará com a participação da filha do poeta Georgiana de Moraes, da neta Mariana, além da cantora Miúcha. "O primeiro (propósito) foi reverter a injustiça perpetrada pelo regime militar, que aposentou prematuramente o então Primeiro Secretário como parte do movimento de 'caça às bruxas' no serviço público", explica Amorim, na apresentação do livro Vinicius de Moraes, embaixador do Brasil.

O Ato Institucional nº 5 (AI-5), promulgado pelo presidente e general Costa e Silva, exigia o desligamento do serviço público de "bêbados, boêmios e homossexuais". "Antes mesmo da edição do AI-5, Vinicius soubera, por meio de amigos no Itamaraty, que o presidente enviara a famosa nota ao então ministro Magalhães Pinto, vazada nos seguintes termos: 'Demita-se esse vagabundo'", conta a irmã do poeta, Laetitia de Moraes, por meio de carta endereçada ao jornalista Carlos Castello Branco.

Brincalhão, Vinicius teria dito: "Eu sou o bêbado!". O musicólogo Ricardo Cravo Albin, porém, afirma que Vinicius ficou magoado com o afastamento da carreira diplomática. Deprimido, grava somente uma composição em 1969, ano de sua exoneração. O poeta pensa em se exilar na Europa, onde já estavam vários amigos, entre eles Chico Buarque, Gilberto Gil e Caetano Veloso. "Ele, contudo, decide resistir e fica no Brasil", garante Albin. Na canção Na tonga da mironga do kabuletê — gravada em 1970, em parceria com Toquinho —, Vinicius esconde um protesto solitário à censura, à repressão política e à aposentadoria do Itamaraty. "Confidenciaria à boca pequena, pelos bares do Rio, a expressão significava, em língua nagô, algo próximo a 'vão todos à m…'", conta Albin.

Vinicius e Tom Jobim no Catetinho: reconhecimento internacional - (Paulo H. Carvalho/CB/D.A Press/Reprodução)
Vinicius e Tom Jobim no Catetinho: reconhecimento internacional
Dez anos depois, o ex-diplomata e poeta participa, a convite do então líder sindical Luiz Inácio Lula da Silva, de uma sessão de leitura de poemas no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo (SP). À época, nenhum dos dois imaginava que, em 8 de setembro de 2006, o governo de Lula o reintegraria ao Ministério das Relações Exteriores (MRE) e autorizaria a inauguração do espaço 'Vinicius de Moraes' no Palácio do Itamaraty, no Rio de Janeiro. Segundo um diplomata brasileiro, Lula teria admitido a seu assessor para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia: "Queria ser esse cara!"

Clamor popular

Se a reintegração de Vinicius ao MRE partiu do governo, a promoção veio de uma mobilização popular no Rio de Janeiro, conta o embaixador Jerônimo Moscardo, presidente da Fundação Alexandre de Gusmão (Funag) e um dos participantes do movimento. O caminho para devolver Vinicius de Moraes à diplomacia brasileira não foi fácil. "Há muita gente que é quadradinho, certinho, picaretinha, administrativo e tem horror ao Vinicius, porque ele é o desvio fértil", destaca Moscardo.

"E, hoje, ele é o embaixador. Há embaixadores que passaram a vida fazendo pequenos memorandos e que reclamam: 'Mas o Vinicius não chegava na hora, não fez os memorandos que eu fiz, eu fiz tantos e ele não fez nenhum'", conta ao Correio o presidente da Funag. Para o diplomata, a maioria das pessoas, na verdade, invejam o poeta. "Ele poderia ter hipotecado sua vida no protocolo, no parecer… Mas ele teve a coragem de rasgar essas fantasias e dizer: 'Olha, eu vou é viver, eu vou é amar, a qualquer preço. Isso é uma coisa raríssima, ninguém tem coragem de fazer isso'", reconhece. A partir de agora, Vinicius de Moraes volta a ser como ele se definiu, durante uma apresentação na boate carioca Au Bon Gourmet, em 1962: "Eu, o capitão do mato, Vinicius de Moraes, poeta e diplomata".


BALADA DAS ARQUIVISTAS

Oh jovens anjos cativos
Que as asas vos machucais
Nos armários dos arquivos!
Delicadas funcionárias
Designadas por padrões
Prisioneiras honorárias
Da mais fria das prisões
É triste ver-vos, suaves
Entre monstros impassíveis
Trancadas a sete chaves:
Oh, puras e imarcescíveis!
Dizer que vós, bem-amadas
Conservai-vos impolutas
Mesmo fazendo a juntada
De processos e minutas!
(…)
Enfermeiras de ambições
Conheceis, mudas, a nu
O lixo das promoções
E das exonerações
A bem do serviço público.
(…)
Eu vos incito a lutardes
Contra o Prefixo que vence
Os anjos acorrentados
E ir passear pelas tardes
De braço com os namorados.

Vinicius dedica o poema à arquivista do Itamaraty
Regina Pederneiras, sua segunda mulher

Três perguntas para Jerônimo Moscardo

Embaixador e presidente da Funag

Como surgiu a ideia de promover Vinicius de Moraes?
Não foi algo que nascesse em gabinete, isso é interessante. Geralmente, é uma providência administrativa. Mas (esse ato) nasceu de uma paixão coletiva. De um amplo movimento, que envolveu até as figuras mais representativas da Academia Brasileira de Letras. Esse ato do presidente Lula nasceu da mobilização da comunidade e da ideia de que a comunidade sabe mais do que o governo. Nós temos até lista de assinaturas que foram tomadas… Então, tem todo um movimento que brotou e desabrochou agora nisso.

 - (Arquivo Pessoal)
E qual foi a importância do Vinicius para a diplomacia brasileira?
Não existe embaixador mais competente que o Vinicius. Ele se transformou hoje na presença do Brasil no mundo. Foi o homem que inventou no Brasil a diplomacia cultural. Criou para o mundo o estilo de sedução brasileiro. O Vinicius, carioca, cantando seus amores, vivendo suas paixões. Essas canções do Vinicius invadiram o mundo. Hoje, Garota de Ipanema é uma das canções mais repetidas e cantadas no mundo e, com isto, ele celebra a mulher, a beleza feminina, o amor, a alegria diante da vida. O mundo precisa muito disso. É a projeção do Brasil como potência cultural no exterior. Serviço que ele continua prestando. Então, não há diplomata mais vivo hoje e que mais contribua para a diplomacia cultural do Brasil.

Os senhores esperam que saia um novo Vinicius da nova geração de diplomatas brasileiros?
O Brasil tem um problema muito grande, porque não temos heróis. É preciso criar um panteão brasileiro. E, ao promover o Vinicius, estamos promovendo esse panteão. Integrando o Vinicius a essas pessoas que deveriam se dedicar mais a viver. Passam a vida toda sem entrar em campo, porque não tiveram a coragem de amar. E, inclusive, criam falsos projetos de vida, imaginam que são estátuas de si mesmos, consideram-se importantes… O Vinicius dá uma grande lição de diplomacia. No passado, os diplomatas brasileiros queriam ser ingleses, falar inglês como os ingleses, francês como os franceses. É melhor ser brasileiro. E o diplomata está muito ligado ao protocolo, ao parecer e não ao ser. E o Vinicius teve coragem de amar.


Carreira influenciou obra

Vinicius de Moraes não entrou no Itamaraty pela "janela", por intermédio de amigos influentes. Contou, sim, com um empurrãozinho de peso: o amigo e chanceler Oswaldo Aranha o aconselhou a estudar e a prestar o concurso. Formado em letras e em direito, Vinicius — então poeta e crítico de cinema — ingressa na carreira diplomática, aprovado no exame de 1943. Ele havia tentado pela primeira vez um ano antes, quando foi reprovado. "Era um homem competentíssimo. Um homem da academia, da igreja, e que fez um trânsito para a boemia", elogia o embaixador Jerônimo Moscardo.

Ricardo Cravo Albin, musicólogo especialista em MPB, explica que a vida diplomática propiciaria ao poeta a paz necessária para elaborar sua obra. "E também para consolidar a repercussão internacional que sua poesia já esboçava. O Itamaraty, pois, foi uma escolha pragmática, e não apaixonada", completa, em artigo do livro Vinicius, o embaixador do Brasil.

O embaixador Affonso Arinos de Mello Franco recorda que, ao entrar no Itamaraty em 1952, foi designado para a Comissão de Organismo Internacionais e lhe apontaram uma mesa vazia, ao lado da de Vinicius. "Desde então, ficamos praticamente inseparáveis por todo o tempo em que servimos juntos na Secretaria de Estado — durante o dia, no Ministério, e à noite, na romaria incessante pelos bares de Copacabana."

O primeiro posto de Vinicius no exterior seria em Los Angeles, capital do cinema americano. Na Hollywood de 1946, ele reencontra o cineasta Orson Welles, que já tinha conhecido no Rio, e a amiga Carmem Miranda, cuja mansão frequentava. Com Orson, teve aulas particulares de cinema ao assistir à filmagem de A Dama de Xangai, estrelado por Rita Hayworth, mulher do cineasta.

De volta ao Rio, em entrevista à escritora Clarice Lispector, Vinicius confessa que amaria Marilyn Monroe. "Foi um dos seres mais lindos que já nasceram. Se só existisse ela, já justificaria a existência dos Estados Unidos. Eu casaria com ela e, certamente, não daria certo, porque é difícil amar uma mulher tão célebre", comenta o poeta e diplomata.

Vinicius serviu ainda na França e no Uruguai. Esteve em Paris por dois períodos — primeiro como segundo secretário da embaixada, em 1953, e, depois, como integrante da delegação brasileira junto à Unesco. Em 1962, Vinicius e Tom Jobim compõem a versão definitiva de Garota de Ipanema, inspirada na carioca Helô Pinheiro, que passava por eles em frente ao Bar Veloso. Entre 1957 e 1967, ele vive seu apogeu artístico.

O poeta, jornalista, dramaturgo, diplomata e compositor brasileiro morreu na banheira de sua casa, na Gávea, em 10 de julho de 1980. A pedido de Albin, Vinicius dias antes gravou uma mensagem para a posteridade: "E assim como sei que toda a minha vida foi uma luta para que ninguém tivesse mais que lutar, assim é o canto que te quero cantar…" (VV)