quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

CARLOS DRUMMOND - POETA DE OLHAR TRÍVIO

Do livro QTAIS

roubaram do poeta os óculos
tirando-lhe o visual d'estátua
há neste furto certo imbróglio
um quê místico, ar de máfia

de olhar férreo de minério
o poeta mantém-se etéreo
nem o fogo solda cáustica
tira dele o "zero-a-zero"

com ou sem seus óculos
o poeta não mexe músculo
nem na passagem do monótono
mas frenético monobloco

de costas pro mar esquálido
Carlos Drummond é o espírito
do poeta que sem óculos
tem visão de olho mágico

Carlos Drummond é o máximo
que ilumina nossos mínimos
de bronze é sua poética
que traduz um olhar trívio

ORAÇÃO PARA NOSSA SENHORA DA BALA PERDIDA

do livro QTAIS


Mãe,
Afaste de mim esta bala
Este dardo inflamável
Esta seta diuturna
Este terror sem rumo
Este projétil alado e raso

Pois já que elas não cessam
Que pelo menos nos errem

Rogai por nós os passantes
Os transeuntes os pedestres
Os motoristas e as crianças
E principalmente as mães

Não nos faça alvos fáceis
Desta chuva de petardo
Não nos atinja o corpo
Nem a alma nem os prantos

Que veloz, não me alcance
Que sua força não me curve
Que seu fogo não me queime
Que o acaso não me derrube

Eu que diariamente passo
Por favelas becos vielas
Por túneis curvas células
Eu que faço o bom combate

Protegei as nossas vísceras
Das emboscadas bandidas
Dos acertos entre quadrilhas
Do fogo amigo ou polícia
Só te peço oh mãe amiga
Santa do cotidiano
Poupe-nos o banho de sangue
De passagem tão insana

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

QUATRO POEMAS DO "QTAIS"

chipnoxibiu

xipnuchibiu

shipinuxibil

 

 

SUSTENTA HABILIDADES

 

o pior cego

é aquele que não quer VERDE

 

lágrima na floresta

testemunha sexo selvagem

entre a motosserra e a árvore

 

sou selva uma

querem-me toras

se viva, verde

se morta, dólar

 

ou a gente se Raoni

ou a gente se Sting

uma metade passa fome

outra metade faz regime

 

VÁCUOS

oxigênios

oxilêncio

.

azul-ozônio

.

cigarras

 

ziiiiiiiiiiiiiiiiimmmmmm

 

 

TORTURA

 

Levanta-se o véu e rasga-se a túnica

Os corvos ainda bicam o que restou de ti

Uma dor cicuta que espiral perdura

....tortura...

 

O teu silêncio cobrado em preço físico

O teu algoz agora também teu karma

Tua voz teu suspiro e teu fantasma

 

Quem içou o dia e eternizou o cinza

Um Deus raivoso fez habitat às sombras

Tiras o capuz e o que vês? Abismos...

 

Jagunços a conspirar em cadafalsos

– Ora Senhor! Não se trata bandidos a bombons!

– Meus Deus! Meu Deus! Será que vou calabar?

 

Nunca serás mais o que antes eras

Se o corpo resistiu, o espírito tem chagas

Marcado como gado a ilusão tritura

......tortura............

 

"QTAIS" É O NOVO LIVRO DO POETA LUIS TURIBA


Lançamento dia 16, segunda-feira, na Livraria 7Letras – Rua Visconde de Pirajá 580, sala 320





"Parafraseando Oswald: a massa ainda irá saborear os quitutes do meu QTAIS", 

Luis Turiba.

QTAIS é um livro de balanço: o poeta para, garimpa seus Bric-a-Bracs e faz sua oferenda linguagens. Um caminho de 30 anos foi percorrido a partir de Brasília e, agora, já aposentado, de volta ao seu querido Rio de Janeiro, lança o seu primeiro livro carioca.

Coube a professora de Poesia da Universidade de Brasília (UnB), Sylvia Cyntrão, jogar luz na leitura de QTAIS. Escreveu Sylvia:

"Trata-se de uma "poética do trânsito, da confluência, da divergência. Do encanto." E prossegue: "Sobre este poeta, a celebrada Revista Bric-a-Brac, da qual foi criador e editor, diz tudo – um escritor que dá voz, que amplifica as vozes, que transforma o que ouve em ressonância. Pós-concretista-modernista-pós: na disputa pela verdade poética, no Brasil, Turiba não entrou – para nossa sorte de leitores. Autônomo, o inserimos na geração de 1980, de 1990, e nas que sucedem no século XXI. Preferiu ir registrando a magia dos deslizamentos do tempo: assim fazem os grandes. Alquimista confesso ("sigo alquimista/construindo amálgamas...") integra de diversificadas formas a poesia que espelha 500 anos de Brasil. Na expressão da sensibilidade, da cidadania, das lutas pelas causas ambientais e das batalhas amorosas íntimas, Turiba compartilha olhares e lugares na representação de seu tempo. Nosso também.
O poema "Filosofia da flanelinha" explica melhor este poeta, mais do que mil palavras teóricas o fariam:

"fecha e
deixa solto"

Na orelha do livro, podemos conhecer sua proposta poética: "Escapando a rótulos e definições fáceis, a poesia de Turiba vibra na pluralidade, no carnaval de influências, tendências, experiências e expressões. Incorpora gírias e traços linguísticos, ecoa ritmos e gingas, exalta a amálgama de línguas e heranças – a afro, a lusa, a tupi. Nesse festim antropofágico, Zumbi, Pelé, Mandela, Xuxa e Amarildo; Caetano, Machado e Saramago são servidos com a mesma irreverência – o resultado é uma poética única, que faz ressoar a musicalidade e oralidade múltipla que caracterizam o Brasil.
O poeta Nicolas Behr, seu parceiro por 30 anos em Brasília nas revistas Bric-a-Brac e no grupo de performance "OIPoema", leu o livro e comentou:

"Turiba é do tipo de poeta que não só escreve o que vive mas vive o que escreve. E vive bem. E escreve bem. Mas o melhor de tudo é que compartilha. Mostra, aponta, denuncia. Em Turiba a poesia brota, jorra e flui. São poemas vividos e revividos, experimentados, suados. Mergulhe de cabeça neste livro e boa leitura, boa viagem."

Luis Turiba: contato: turibapoeta@gmail.com
21- 98288-1825

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

NEM TUDO SÃO FLORES NO ATERRO


Recebo a seguinte carta de uma moradora do Flamengo, que se queija da poluição sonora do bairro

" ...Sou moradora da Rua Silveira Martins,quase esquina com a Praia do Flamengo.
Há anos,convivo com o barulho indiscriminado no Aterro.
Não bastasse os assaltos, prostituição, tráfico de drogas a qualquer hora do dia e da noite, somos obrigados a conviver quase todos os finais de semana com música tipo bate estaca, em decibéis muito acima da civilidade.
Vivemos a degradação de uma área tão maravilhosa do Rio. Que triste deve estar Dona Lota Macedo Soares, idealizadora de um local tão espetacular.
Nestse último final de semana, mais uma vez começou na quinta-feira,pelas 21 horas parando somente na madrugada e assim igualmente pelas quatro horas da manhã. Também de sexta para sábado e de sábado para o domingo.
Liguei para polícia pois,não conseguia dormir (fiquei sem dormir mais uma vez, por três dias) e a pessoa que atendeeeu disse que nada podia fazer e que era para eu ligar para defesa do consumidor. Isso as duas da madrugada, depois de ligar há vários anos para o inexistente 1746.
Afinal,prá quem podemos reclamar?

Celeste Torres Blanco.

domingo, 24 de novembro de 2013

ELZA MARIA E SUAS TERNURAS MUSICAIS


Luis Turiba

O nome do produto  cabe na medida do seu conteúdo:  "Dança de Ternuras".
Nesse seu novo CD, a cantora Elza Maria nos oferta suas canções de ternuras e finuras até nos enibriar. São onze as músicas: xotes, sambas, bossas, lindos fados. Entre tantas, escolhi uma: "Eu vi o mar", uma bela letra de Luis Alfredo Millecco que sintetiza tudo com o verso zen – "areia ser/ talvez...."

Sua brasileiríssima e moderna sonoridade retrata o clima de gravação desta canção e todo o disco. Amor&Alegria. Há um jazz-brasileiro em sua levada e uma doce felicidade no ar, em cada timbre e, especial, na voz de Elza algo que nos lembra, lá no fundo, Elis. É uma canção alegre, malandra. Ah... quem vê o sol vê a luz, e quem luz vê está iluminado. Esta é a canção-chave do CD, nem a mais dançante nem a mais triste.

Há cantoras que correm atrás do sucesso. Outras querem o simples que é complexo: o encontro com a pura música. Elza Maria está no segundo grupo. Ainda bem.
Ao gravar seu primeiro disco, o LP "Entra na Rosa", em 1983, foi classificada pela crítica como cantora "eclética"; ou seja: ela não seguia o modelo estabelecido para as jovens cantoras daquela época. Nas rodinhas de amigos, cantava Lupicínio Rodrigues e fados da Amália Rodrigues para compensar os Chicos, os Miltons, os Caetanos e Gils.
Sua voz traz a nostalgia do mar e do terreiro, o jeito folclórico das lusas lendas e o traço marcado dos azulejos. No entanto, seu canto aponta também para a sensualidade nativa e para os acontecimentos contemporâneos. É dentro deste ambiente musical que a acompanha há 30 anos.

Agora, ao lançar o seu CD "Dança de Ternuras", teremos a oportunidade de ouvir seus sambas, valsas e fados, tudo com aquele balanço de jazz-dancing, repertório repleto de referências: de Ataulfo Alves a Jards Macalé; de Clara Nunes a César Camargo Mariano; de Amália Rodrigues a Geraldo Azevedo, seu grande convidado para essa viagem musical.
"Dança de Ternuras" surge para fazer a ponte com "Entra na Rosa". Diferente sim, mas na mesmo toada.


sábado, 23 de novembro de 2013

Fwd: Orlando Senna A dança dos milhões

A dança dos milhões


Orlando Senna


Na minha postagem anterior falei sobre o bom desempenho mercadológico do cinema brasileiro em 2013. Sem dúvida os números são expressivos, mas poderiam ser bem melhores se o maior produtor cinematográfico (e audiovisual) da América Latina conseguisse superar dois entraves ao desenvolvimento plenamente satisfatório dessa indústria. Embora a ocupação, este ano, de 18% das salas brasileiras de cinema por filmes nacionais deva ser comemorada, a meta sonhada pelos últimos governos do país (Fernando Henrique, Lula, Dilma) é uma ocupação entre 40% e 50%.

Os entraves mais danosos são a burocracia, enfermidade que atinge toda a máquina estatal (além de ser conduto para a corrupção), e o custo da produção de filmes. Os orçamentos brasileiros são duas vezes maiores, em cálculo otimista, que os argentinos, chilenos e colombianos. São de três a quatro vezes maiores que os orçamentos praticados nos outros países sul-americanos e na América Central. A Espanha faz filmes bem mais baratos que o Brasil. Alguns filmes independentes dos EUA são mais baratos que filmes independentes brasileiros (entenda-se por independente realizações sem vínculos com grandes distribuidoras e/ou corporações midiáticas).

Os produtores culpam o alto custo de serviços e mão de obra, que vêm subindo continuamente nos últimos vinte anos. Absurdamente, enfatiza a produtora Lucy Barreto. A Ancine-Agência Nacional de Cinema crê que os custos cinematográficos estão contextualizados na realidade brasileira, onde os salários aumentaram nas últimas décadas e há carência de mão de obra especializada (e demanda com pouca oferta encarece o produto). O orçamento médio dos filmes longa-metragem brasileiros está entre quatro e cinco milhões de reais (US 1.770.000/US 2.200.000, câmbio aproximado) e o recurso máximo que a Ancine pode destinar a um filme é sete milhões de reais (US 3.100.000). Os filmes com orçamento superior a isso buscam a complementação em outros "guichês" de recursos públicos (editais da Petrobrás, Eletobrás, BNDES, etc) e na coprodução com outros países.

Um aspecto importante nesse panorama é que os filmes brasileiros mais caros, as superproduções, não se pagam nas bilheterias. Pode-se dizer que muitos filmes de baixo orçamento também não se pagam — mas o prejuizo para o contribuinte é bem menor. Exemplos deste ano: Flores raras custou 13 milhões de reais (US 5.750.000) e rendeu pouco mais de três milhões (US 1.330.000). O tempo e o vento custou 14 milhões (US 6.195.000) e rendeu menos de sete (US 3.100.000). Serra Pelada custou dez milhões (US 4.400.000) e fracassou solenemente nas bilheterias. A subida da montanha continuará em 2014. Nosso Lar 2, surfando na onda espírita, está captando 17 milhões (US 7.500.000). Amazônia, coprodução Brasil-França em 3D, custou 26 milhões (US 11.500.000), dos quais 16% oriundos de fundos públicos brasileiros.

Não creio que a questão é fazer ou não fazer filmes caros. Em todas as cinematografias robustas, superproduções, filmes médios e criações experimentais convivem e se retroalimentam. A questão é que todos os filmes brasileiros, pequenos e grandes, estão com orçamentos conflitantes com o mercado, todos estão caros para a nossa realidade e cada um deles está caro em relação às suas possibilidades de arrecadação. Binômios essenciais do capitalismo, como custo/benefício e oferta/procura, estão sendo ignorados. Uma palavra às autoridades e empresários responsáveis pelo andar da carruagem: cuidado.

Por Orlando Senna

 

* Link para outros textos de Orlando Senna no Blog Refletor     http://refletor.tal.tv/tag/orlando-senna


sexta-feira, 1 de novembro de 2013

O FUTEBOL DE CASA UM - 150 ANOS DE EXISTÊNCIA

Por Orlando Senna

 

O futebol está celebrando 150 anos de existência e há muita festa por toda parte. O aniversário de século e meio se refere aos ingleses que, em 26 de outubro de 1863, estabeleceram regras para um jogo de bola com uso de todas as partes do corpo com exceção de braços e mãos, para diferenciá-lo do rúgbi, jogado com as mãos. Celebramos o nascimento do futebol como conhecemos e jogamos hoje, não do jogo com uma bola, que esse se perde na bruma da memória da humanidade. Costumo pensar que todo mundo tem sua história particular com o futebol, porque tenho a minha e porque esse esporte faz parte da vida de bilhões de pessoas e, de uma forma ou outra, outros bilhões tiveram, têm ou terão contato com ele.

Minha história pessoal começa nos últimos minutos da final da Copa do Mundo de 1950, na tarde do dia 16 de julho. Era o Brasil/Uruguai no Maracanã recém inaugurado, a partida mais importante, mais estudada, mais dramática da história do futebol. Brasil jogando pelo empate, perdendo de dois a um, jogo chegando ao fim, 200 mil pessoas abarrotando o estádio e os brasileiros ao pé do rádio. Eu, entrando nos meus dez anos de idade, em minha cidadezinha do interior baiano, estava ao pé do rádio e a cena que ficou impregnada na minha memória é meu avô falando em direção ao rádio, gritando, como se estivesse diante de um grande microfone, tentando ser ouvido pelo principal jogador brasileiro, Ademir Menezes, lá no Maracanã: "Ademir, meu filho, faça esse gol pelo amor de Deus". Gritou a frase várias vezes, como uma prece, como um mantra.

Só isso, um flash, nenhuma memória do que aconteceu antes ou depois da cena. Mas foi a partir dessa desoladora derrota para o Uruguai que me interessei pelo assunto, comecei a jogar, ganhei chuteira e uma bola de couro, escolhi meu time. Virei peladeiro, joguei durante muitos anos, entendi que os times atuavam a partir de estratégias. Quando comecei a jogar a maioria das palavras usadas era inglesa (minha posição era half, meio campista) e era um futebol altamente ofensivo. A armação, ou esquema tático, era 2-3-5, ou seja, sempre cinco atacantes, não importava quantos gols o time sofria e sim quantos fazia.

Há uns oito anos fui com Pelé ao Festival de Cannes, em uma missão de promoção do cinema brasileiro, e ele, que também começou a jogar no 2-3-5 (temos a mesma idade) disse que esse é um esquema impensável no futebol moderno. Nessa viagem aconteceu outro fato marcante na minha relação com o futebol. Foi uma visão, um choque. Fomos a uma reunião em um barco atracado no cais do porto de Cannes. Eu estava em uma sala de onde podia ver Pelé no convés. De repente notei que ele estava bêbado, cambaleando, com expressão angustiada. Pelé bêbado?! O Atleta do Século embriagado, caindo pelas tabelas?! Impossível! Acordei do rápido transe quando notei alguém tentando ampará-lo e fui ver o que se passava. Dois marinheiros o levaram para terra firme, descendo uma escada estreita, e eu rezando para que nenhum fotógrafo flagrasse o herói naquela situação. Não estava bêbado, claro. É que o Rei do Futebol sofre de enjôo em barcos, depois confessou que cometera uma imprudência, pensou que não ficaria mareado em um barco atracado. 

Voltando às minhas habilidades com a bola: eram poucas mas consegui chegar às seleções da minha cidadezinha e do Colégio Marista de Salvador, onde batia bola todo santo dia. Como muitos adolescentes, sonhava ser um grande jogador e achei que tinha ganho uma oportunidade quando o time do Marista foi jogar uma preliminar estudantil na Fonte Nova. Acreditava com toda fé que ia ser escalado, ia jogar no tapete sagrado da Fonte Nova. No vestiário houve um problema com a chuteira do nosso melhor jogador, o Salomão. O técnico (um Irmão Marista com batina e tudo) perguntou quem calçava número 39 e apontou para mim: "dê suas chuteiras ao Salomão". Decepção atordoante.

Nunca joguei na Fonte Nova, mas minhas chuteiras jogaram. Ali, no banco de reservas e descalço, entendi que meu destino não era ser um deus dos estádios. Me acostumei com essa realidade pouco a pouco, mas nunca abandonei o prazer de jogar. Ainda hoje topo um racha nas categorias da Terceira Idade. Eduardo Galeano, citando Fernando Birri e perguntando-se porque tentamos alcançar o horizonte (a utopia) se sabemos que ele sempre se afasta à medida que avançamos, responde "para caminhar". Parafraseio: para jogar. Assim como no futebol é na vida.

Por Orlando Senna

Links para textos de Orlando Senna no Blog Reflet

terça-feira, 15 de outubro de 2013

BENET DOMINGO, O CATALÃO QUE AMOU O RIO DE JANEIRO

Benet Domingo, a trajetória de uma artista".

No ano de 2014 será o centenário do artista, arquiteto e cenógrafo PereBenet Domingo (1914 - 1969), catalão radicado no Rio de Janeiro durante as décadas de 50 e 60. Em sua breve, porém intensa trajetória artística, podemos observar o grande sucesso e colaboração cultural que aportou para o Brasil e a Espanha. Ainda jovem brilhou como artista em sua terra natal e depois de exilado no Rio de Janeiro trabalhou como cenógrafo teatral e carnavalesco, revolucionando o conceito do carnaval carioca, observando e valorizando a identidade nacional que até então não era vista, pois apenas se valorizava o que era estrangeiro. Apaixonou-se pelo Rio e por seu povo, registrando suas diversidades e riquezas, realizando uma extensa série de desenhos a bico de pena intitulada "Nas esquinas do Rio" na qual se verifica uma rica pesquisa e precioso registro dos anos dourados do Rio de Janeiro capital. Sua obra representa atualmente o resgate da memoria cultural da cidade e das bases de construção do carnaval e da identidade carioca.



PereBenet Domingo nasceu em 1914 em Tortosa, na região do Baixo Ebro da Catalunha, em uma rica família de ideais e lideranças republicanas.

Em sua infância, se diferenciava das demais crianças por admirar e pintar o pôr do sol ao invés de se entreter jogando futebol, pegava sua bicicleta e percorria até 14 km para alcançar uma boa vista à beira rio e pintar ao ar livre suas primeiras telas.

Em sua adolescência já frequentava a Escola de Artes de Tortosa, aonde diariamente praticava desenho e pintura desejando seguir a carreira de artista, porém, seu pai não permitiu que ingressasse na Faculdade de Artes sem antes cursar outra carreira, sendo assim, Pere ingressou na Universidade de Arquitetura de Barcelona aonde se formou arquiteto.

No ano de 1936, quando Pere finalmente se preparava para ingressar na tão sonhada Universidade de Belas Artes de Barcelona estourou a Guerra Civil Espanhola. Benet Domingo participou de toda a contenda e foi ferido duas vezes lutando pelos ideais republicanos, ao fim da guerra permaneceu durante seis meses em campo de concentração e todos os seus familiares foram presos e tiveram seus bens confiscados. Seu pai e seu tio por serem lideres da República tiveram que exilar-se em Paris.

Devido às fatídicas circunstâncias do pós-guerra toda a família viveu sob um mesmo teto em Barcelona, totalizando 18 familiares em um apartamento de apenas dois quartos. Nesse então, Benet Domingo trabalhava como vitrinista para ajudar no sustento da casa. Em 1939 finalmente ingressou na Universidade de Belas Artes além de frequentar o Circulo Artístico Barcelonês e suas diárias sessões de modelo vivo. Realizou anualmente exposições individuais nas galerias Pictória e Barcino tendo grande sucesso, obras adquiridas por colecionadores e críticas no Anuário de Arte Barcelonês.

Em 1945, Benet Domingo casou-se com sua prima irmã, a pedagoga, Conchita Domingo com quem teve dois filhos, Pedro Benet (1948) e Pilar Domingo (1953).

Em 1951 apesar de sua bem sucedida carreira artística, Benet Domingo se viu obrigado a abandonar sua amada Barcelona devido a forte pressão da Ditadura Franquista sobre os vencidos. Escolheu como novo lar a cidade do Rio de Janeiro após ver um filme em que a radiante Carmem Miranda aparece emoldurada pela maravilhosa Baia de Guanabara. Chegando ao Rio de Janeiro fez valer seus conhecimentos de arquiteto e sua criatividade artística destacando-se como cenógrafo da importante companhia teatral "Os Artistas Unidos" e sendo o vencedor do concurso para a pintura mural da Igreja de Sant`Ana.

A companhia teatral, Os Artistas Unidos, era dirigida pela grande dama do teatro, HenrietteMourineau e produzida por Carlos Brant e Hélio Rodriguez e se apresentavam no teatro do sofisticado e luxuoso Hotel Copacabana Palace, Benet Domingo foi convidado como cenógrafo oficial da companhia após inaugurar com grande êxito na peça "Jezabel", permanecendo com a Companhia até o seu fim e realizando para ela mais de quinze cenografias. Benet Domingo realizou uma grande exposição com cento e cinquenta obras no Hotel Copacabana Palace, que seguiu itinerância em Belo Horizonte e São Paulo, acompanhando a turnê da Companhia e sob patrocínio da mesma.

No Centro da cidade, no Campo de Santa`Ana, Benet Domingo trabalhou durante um ano coordenando uma equipe de oitenta pessoas na pintura mural do interior e Altar Maior da Igreja de Sant`Ana, pois seu projeto havia sido vencedor para a realização do XXXVI Congresso Eucarístico Internacional no Rio de Janeiro.

Ao observar e conhecer o Centro da cidade e seus personagens, Benet Domingo, percebeu o rico contraste entre Copacabana e o Centro, iniciando assim, uma pesquisa de observação e registro de cada transeunte carioca com suas peculiaridades e diferenças (tal qual Jean Baptiste Debret que ao longo de quinze anos registrou as cenas cotidianas da sociedade da época) a essa série de mais de cinquenta desenhos a bico de pena Benet Domingo deu o nome "Nas Esquinas do Rio" que compõe um valioso e inédito registro da memória cultural da cidade.

Benet Domingo foi convidado a realizar todas as cenografias decorativas para o Hotel Copacabana Palace e seus onze salões, sendo durante dezesseis anos o "homem do Copa" e realizando com elegância e originalidade todos os eventos do Hotel, devido ao grande sucesso de suas cenografias foi convidado a realizar as decorações de carnaval do  Hotel Quitandinha, em Petrópolis e do Joquei Club e Maracanãzinho no Rio de Janeiro, foi chamado também pelo cineasta argentino Carlos Hugo Cristensein, a realizar as cenografias cinematográficas para seus longametragens, entre eles: "Matematica Zero amor Dez", "Esse Rio que eu amo" e o "Rei Pelé".

Em 1957 a Secretaria de Turismo convidou Benet Domingo a fazer a cenografia do carnaval de rua, inaugurando assim uma etapa de grandes proporções, aonde o artista vive a sua liberdade de expressão aliada a sua estrutura arquitetônica. Durante dez anos consecutivos foi responsável pela decoração carnavalesca das principais avenidas cariocas, introduzindo a decoração pingente sobre as avenidas e realizando uma cenografia com a identidade e valores nacionais e não mais venezianos.

            Benet Domingo foi um marco no carnaval carioca, realizando cenografias únicas e monumentais que valorizavam a cultura e identidade nacional e representavam o espírito brasileiro. Nas cenografias "Rio Sempre Rio" e "Guanabara", que realizou respectivamente no Hotel Copacabana Palace e no Centro da cidade (Avenidas Presidente Vargas e Rio Branco) Benet Domingo realizou sua revolução social, ao colocar no Copacabana Palace o personagem do negro pandeirista como portal de entrada e destaque, fazendo com que o sofisticado folião passasse sob o seu salto e construindo no centro da cidade uma Carmen Miranda de 22 metros de altura que jorrava café sobre o mundo, que girava a seus pés.

Benet Domingo despertou a sensibilidade e o olhar do carioca para sua própria imagem carnavalesca, ensinando o brasileiro a expressar seu próprio carnaval que representava o profundo de sua raça e de sua maneira de sentir.

Em 1969 o homem pisa a lua e Benet Domingo falece. O Rio de janeiro já não era capital, o Hotel Copacabana Palace estava falido e a Ditadura estava instaurada, porém a obra e a memória do que o artista realizou não deverá ser jamais apagada.

 

 

Caixa de texto: Casa Benet Domingo – três gerações de arte.  Av. São Sebastião, 135. Urca, Rio de Janeiro.  Site: www.casabenetdomingo.com  E-mail: contato@casabenetdomingo.com  Telefones: (55 21) 2295 1175 – 8537 1175
 

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Fwd: Orlando Senna Vozes d'África

Vozes d'África    


Alguns leitores e alguns amigos denunciaram a ausência da África no meu comentário da semana passada, Sua língua. E logo a África, com um bilhão de habitantes e suas mil e 500 línguas. E logo a África, "pasto universal" como disse Castro Alves no poema que empresta o título a este texto: "há dois mil anos te mandei meu grito,
que embalde desde então corre o infinito". Só a Nigéria tem 250 línguas, talvez a maior diversidade linguística do mundo, a África do Sul tem onze idiomas oficiais. São cenários desse oceano de falas, que os especialistas organizam polemicamente em quatro famílias (afro-asiáticaskhoisan, nigero-congolesas, nilo-saarianas). Além das línguas faladas, a África é o continente que abriga a maioria das não faladas, ou seja, as línguas de sinais, as sopradas e as tamborizadas.

Ao abordar as falas da África, tenho de reabrir outro tema mencionado no texto da semana passada, as línguas artificiais. No oceano idiomático africano convivem expressões milenares, tanto nativas como colonizadoras, com a invenção de novas articulações linguísticas, ditadas por necessidades de comunicação. Até mesmo os colonizadores inventaram novas formas de se comunicar, como o africânder, desenvolvido a partir do século XVII pelos bôeres (colonos holandeses, alemães, franceses e ingleses), para se entenderem entre si e com os nativos. Sua interface inicial foi o holandês antigo e vicejou no cruzamento com línguas africanas e asiáticas (força de trabalho presente na região) e com outras línguas europeias. Na África do Sul e na Namíbia, o africânder é hoje a língua de comunicação interétnica mais utilizada.

O angolano Pepetela, um dos maiores escritores africanos de todos os tempos (MayombeYakaO planalto e a estepe), me chamou a atenção para o lingala, língua desenvolvida ao longo do rio Congo a partir do final do século XIX e hoje falada por mais de dez milhões de pessoas na República do Congo, República Democrática do Congo (ex-Zaire), norte de Angola e sul da República Centro-Africana. A maioria das canções dessa zona são em lingala, o que aumenta cada dia mais sua popularidade como língua franca. Ao contrário do africânder, com sua ignição em uma língua colonizadora, o lingala foi sendo formada a partir do bangi, uma língua banto, em conexão com as línguas europeias dos comerciantes e missionários que aportaram na região durante a ocupação belga.

Essa realidade demonstra que o conceito de língua artificial deve ser entendido como o de uma língua construida em laboratório, por alguns poucos linguístas, por "cientistas da palavra", como o Esperanto. O seu antônimo são as ditas línguas naturais (ou ancestrais) e também as línguas que grupos humanos vão inventando e articulando, misturando as existentes, criando novas relações fonéticas com a realidade, com sua realidade. Como são as línguas francas africanas.

E por fim um aspecto exemplar da África no que se refere à sua enorme diversidade linguística e às novas línguas que surgem no turbilhão de sonoridades: a maioria dos países africanos consideram a política linguística um tema estratégico, uma questão vital para o equilíbrio cultural e social dos estados que se formaram na década de 1970 (era pós-colonial) e do próprio continente. São políticas multilinguísticas, um dos símbolos disto é o fato da União Africana, a UA, considerar todas as línguas do continente, as mil e 500, como suas línguas oficiais. Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos, como está na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Ou, em lingala, "bato nyonso na mbotama bazali nzomi pe bakokani na limemya pe makoki".

Por Orlando Senna

Links para textos de Orlando Senna no Blog Refletor

Sua língua    27/09/2013    http://refletor.tal.tv/ponto-de-vista/orlando-senna-sua-lingua

160 Brasis no Canal Futura    20/09/2013    http://refletor.tal.tv/noticias/america-latina/brasil/orlando-senna-160-brasis-no-canal-futura

A Bahia dessemelhante    13/09/2013    http://refletor.tal.tv/ponto-de-vista/orlando-senna-a-bahia-dessemelhante

Dragão do Mar     06/09/2013    http://refletor.tal.tv/ponto-de-vista/orlando-senna-dragao-do-mar

Grafite     30/08/2013    http://refletor.tal.tv/miscelanea/artes-plasticas-2/grafite


terça-feira, 1 de outubro de 2013

Fwd: Escola de Cinema Darcy Ribeiro lança Núcleo de TV



Escola de Cinema Darcy Ribeiro Lança Núcleo de TV!

 

A Escola de Cinema Darcy Ribeiro está lançando, no Rio de Janeiro, um Núcleo de Criação e Produção para TV para atender à explosão da demanda de produção de conteúdo nacional após a Lei no 12.485, que transformou essa área em uma das mais promissoras do mercado audiovisual.

 

O Núcleo de Criação e Produção para TV da ECDR tem ênfase na produção de conteúdo, seriado e transmídia, visando a formação e o aperfeiçoamento de profissionais nas áreas de roteiro, direção e produção para TV. Pré-inscrições pelo site http://www.escoladarcyribeiro.org.br

 

O Núcleo de TV ECDR oferecerá atividades como Cursos, Oficinas Práticas de Criação, Palestras Temáticas, Consultorias Permanentes e Grupos de Estudo, sobre diversos temas relacionados à criação e produção para TV, como roteiro, narrativa transmídia, gêneros e formatos, storytelling, direitos autorais, formatação de projetos, entre outros.

 

Com o Núcleo de Criação e Produção para TV, a ECDR quer atender a cadeia produtiva do audiovisual e continuar garantindo a formação de profissionais de qualidade para o setor, expandindo a excelência do seu ensino em arte cinematográfica para a arte televisiva.

 

 

PROGRAMA:

• Cursos

Roteiro para Série de TV (48h)

Narrativa Transmídia (48h)

Personagens e Diálogos (32h)

 

• Oficinas: Práticas de Criação                                               

Criação de Roteiro para Série de TV (56h)                    

Criação de Roteiro Transmídia (56h)

 

• Palestras Temáticas

Ficção Seriada: Gêneros e Formatos (4h)

Formatação de Projetos para TV (4h)

Storytelling e Transmídia (4h)

Direitos Autorais e Roteiro (4h)

Indústria da Convergência (4h)

 

• Consultoria (permanente)

Série de TV – piloto (pacotes de contratação de horas, sob demanda)

Produção de Narrativa Transmídia (pacotes de contratação de horas, sob demanda)

Direitos Autorais

 

• Grupos de Estudo

Estudos Avançados em Roteiro e Dramaturgia (78h)

 

• Cursos de Iniciação em Roteiro

Roteiro - básico para alunos do ensino médio (32h, sob demanda)

 

Escola de Cinema Darcy Ribeiro
Rua da Alfândega, 5 - Centro 
Rio de Janeiro, RJ - CEP: 20070 - 000
Tels.:  (21) 2233 0224  / (21) 2516 3514

 

 

Escola de Cinema Darcy Ribeiro
Rua da Alfândega, n° 05.Centro
Rio de Janeiro.RJ.
CEP 20070-000
(21) 2516-3514 - Ramal 113

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segunda-feira, 23 de setembro de 2013

MINHA HOMENAGEM A TODOS QUE SOFRERAM NOS PORÕES DO DOI-CODI DA BARÃO DE MESQUITA


Tortura

Luis Turiba
 
Levanta-se o véu e rasga-se a túnica
Os corvos ainda bicam o que restou de ti
Uma dor cicuta que espiral perdura
....tortura...
 
O teu silêncio cobrado em preço físico
O teu algoz agora também teu karma
Tua voz teu suspiro e teu fantasma
 
Quem içou o dia e eternizou o cinza
Um Deus raivoso fez habitat às sombras
Tiras o capuz e o que vês? Abismos...
 
Jagunços a conspirar em cadafalsos
- Ora Senhor! Não se trata bandidos a bombons!
- Meus Deus! Meu Deus! Será que vou calabar?
 
Nunca serás mais o que antes eras
Se o corpo resistiu, o espírito tem chagas
Marcado como gado a ilusão tritura
.....tortura.......

 

 

 

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

POEMA DE MANOEL DE BARROS NA BRIC-A-BRAC

PERALTAGEM

Manoel de Barros

O canto longo da sariema encompridava a tarde.

E porque a tarde ficasse mais comprida a gente sumia dentro dela.

A gente aproveitava para vasar o rio.

E quando o grito da mãe chegava do outro lado da tarde

A gente já estava no outro lado do rio...

O pai nos chamou de berrante.

Na volta fomos entrando pé ante pé pelas paredes

com medo de um carão do pai.

Logo a tosse do vô cortou o silêncio

E fomos apanhados ali.

Mas não apanhamos nem.

Nossa mãe falou que eu ia viver a vida inteira leso.

Mas ele me poupava.

Ela disse: esse menino vai passar a vida toda enfiando água no espeto.

Foi quase.

 

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Fwd: Lançamento do CD Juriti, de Paulo Tovar. Dia 14/09, na Martis Penna do TNCS, às 20h.


Lançamento do CD Juriti, de Paulo Tovar

Sala Marins Pena, dia 14 de setembro de 2013, às 20h

 

Há sonhos que ultrapassam até os limites entre o céu e a terra, basta que existam amigos, o amor da família e muita paixão pela música. Foi assim que o CD Juriti, de Paulo Tovar, veio à luz. A seleção das músicas de Juriti foi iniciada pelo próprio cantor. Mas, infelizmente, Tovar não teve tempo de terminar a trilha do que seria o seu quarto disco. Dois anos após sua morte, ocorrida em setembro de 2009, a irmã do cantor, Rosana Hummel em parceria com Toronto Viramundo, Felipe Borges Hummel e João Paulo Hummel Mota completaram a seleção das composições.

O trabalho, feito em parceria com as pessoas da família e amigos, resultou em Juriti, que tem produção executiva de Paulo Hummel e direção de produção de Rosana Hummel, irmãos de Tovar, projeto gráfico e ilustrações do artista plástico Zé Nobre, direção musical de Toronto Viramundo, gravação de Daniel Baker e Fernando Rodrigues.

Ao todo, 18 músicas estão no CD, 13 das quais são inéditas e de autoria exclusiva de Tovar, com destaque para Bagdá, Próxima parada e Galináceo apaixonado. Em parcerias, Juriti, música mais gravada e produzida em Brasília, dele e de Aldo Justo; Marco Zero, com Haroldinho Mattos e Espírito que canta, com Itamar Assumpção, entre outras parcerias.

Tovar foi um dos criadores do Concerto Cabeças ao lado de Néio Lúcio, Renato Mattos, Nicolas Behr, Luis Turiba, Chacal, Vicente Sá, Sóter e outros artistas que produziam poesia e arte na cidade. Nascendo um movimento literário denominado poesia de mimeógrafo (década 1970). Tovar tinha base sólida e foi aluno de música  da Universidade de Brasília, foi aluno da flautista Odette Ernest Dias e da Escola de Música de Brasília (EMB). A combinação entre música e poesia o levou a estar, ao lado de grandes amigos. O voo da juriti foi seu maior sucesso, porém o reconhecimento veio através de Marco Zero, música ganhadora dos 1º lugares do festival – CantaCut, edição de 2006, nas categorias de melhor música e melhor letra.

 

Show de lançamento do CD Juriti, de Paulo Tovar

Com os cantores e interpretes de Paulo Tovar: Gerson Deveras, Camila Hummel, Nonato Veras,  Aldo Justo, Paulo Djorge, Célia Porto, Ana Paula, Paraibola, Haroldinho Mattos, Áurea Lu, Sérgio Duboc, Renato Matos, Eduardo Rangel e o Grupo Liga Tripa.  Acompanhados da banda formada por Daniel Baker nos teclados, Haroldinho Mattos na guitarra, Rodrigo Galvão na bateria e Genaldo Gê Mendonça no baixo.

 

Local: Sala Martins Pena do Teatro Nacional

Data: Dia 14 de setembro de 2013, às 20h

Preço: Entrada franca

Classificação indicativa: 18 anos.

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Contatos: Rosana Hummel: 61 9934 4566

                Peninha: 61 99134380

               

"A poesia de Paulo Tovar, muitas vezes musicada, traduz Brasília como a cidade modernista, mas também como a cidade sertão, bem aos moldes de quem vivenciou e carrega uma tradição sertaneja. Paulo Tovar nasceu em Catalão, interior goiano. Observador do cerrado, impactado com a construção de Brasília, sua poesia traduz a cidade por meio de um movimento poético que se tornou conhecido entre aqueles jovens como "poesia de mimeográfo" ou "poesia ambulante" que se fortaleceu como expressão cultural de Brasília nos seus primeiros anos. Paulo Tovar escreveu a cidade e sua natureza sertaneja em meio a cidade moderna, num momento em que ainda não se falava de preservação ambiental; transgrediu, por meio da sua poesia, o momento político – a ditadura militar – e junto com outros poetas e músicos da cidade lideraram um movimento poético que denunciava a "cidade silenciada"; a poesia, expressão ativa da cultura da cidade daquele momento, era "publicada" nas paredes, nas paradas, nas ruas, como reação ao contexto repressor. Músico e poeta, Cidadão Honorário de Brasília, post mortem, desde agosto de 2010, traduziu a cidade-sertão, a cidade moderna, marcou época com sua poesia, contribui para que a gente possa entender o que é Brasília."

 

Cultura e Natureza na Poesia Brasiliense de Paulo Tovar

Regina Coelly F. Saraiva

(Professora Adjunta de História da Faculdade UnB Planaltina – FUP/UnB)

 


Informações à imprensa:
Rodrigo Machado
Território Cultural - Assessoria de Comunicação
81753794 (Vivo) 86542569 (Oi)

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

ROCK IN RIO: UMA LIÇÃO DE COMUNICAÇÃO VIA MÚSICA


AULA DE COMUNICAÇÃO,
PARCERIAS E PATROCÍNIOS

Luis Turiba

Nascido da ideia de revitalizar uma marca envelhecida, o Rock in Rio transformou-se no maior festival de música do planeta. Conheça seus números, estratégias e como agem as empresas neste grande evento.

O Rock In Rio transcende as agudas e nervosas notas musicais do ritmo. O evento está para além de um festival de música – é uma verdadeira usina de comunicação de massa. Um "senhor" de quase 30 anos, que nasceu com a nova democracia brasileira, está em sua 12ª edição e já recebeu mais de seis milhões de pessoas em sua Cidade do Rock.
O Rock In Rio nasceu como uma "ideia de comunicação" e se mantem firme nessa via há exatos 29 anos. Aliás, já nasceu como o maior festival de música do mundo em 1985, recebendo por 10 dias um público de um 1,4 milhão de pessoas. De lá para cá, em doze edições realizadas em três diferentes países (Brasil, Portugal e Espanha), construiu um relacionamento mundial plural, envolvendo pessoas, profissionais da música, do show business e de comunicação; mais de 100 empresas; diversos governos dos três países envolvidos; além dos milhões de participantes, direta e indiretamente. 
Agora, às vésperas do festival de 2013, o Rock In Rio prepara novos e surpreendentes voos internacionais. Vai pousar em Las Vegas, Estados Unidos, e Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. Detalhes e datas ainda estão sendo acertados. 
O certo é que o Rock In Rio 2013 será aberto com um superespetáculo em homenagem ao roqueiro Cazuza, morto pela Aids em 7 de julho de 1990. Um espetáculo, garante os realizadores, para cima e para frente, lembrando que a luta contra a Aids continua e que todos desejam "um mundo melhor". 
"O Rock In Rio mora no coração de cada um de seus organizadores e participantes. Mora no coração de todos os brasileiros. Paixão é um ingrediente fundamental para o sucesso do nosso festival. E o mais apaixonado de todos é seu inventor e principal incentivador, o publicitário Roberto Medina", disse Agatha Arêas, diretora de Marketing do festival em seminário sobre "Marketing do Entretenimento" realizado na Câmara de Comércio Americana, no Rio.   
MARCAS E INSTITUIÇÕES – Este ano, na sua décima segunda edição, o festival envolve oficialmente 72 marcas (38 delas com direito a ter a marca no site e nos cartazes) e instituições governamentais, das mais diversas, em sua montagem. O último contrato foi feito no mês passado com a Comlurb, empresa de recolhimento de lixo da cidade do Rio de Janeiro, com quem o festival fez um convênio para manter limpa a cidade. A campanha "Lixo no Lixo, Rio no Coração" está baseada no seguinte princípio: "de que vale morarmos na cidade mais linda do mundo, se ela é suja." 
Na realidade, a montagem desta edição começou durante o evento de 2011, portanto dois anos antes. Segundo Agatha Arêas, 80% dos patrocinadores e apoiadores do festival renovaram suas "cartas compromissos" com dois anos de antecedência, sem mesmo conhecer as regras e os custos do festival deste ano. 
Ainda de acordo com a diretora de Marketing, por ser uma "plataforma de comunicação", o Rock In Rio "reverberará a mensagem dos patrocinadores e apoiadores para um verdadeiro mundo de pessoas". Os patrocinadores têm o direito de "exploração de conteúdo" do festival por um ano e os apoiadores nos dias do evento. "Essas mensagens alcançam praticamente toda a população brasileira", afirma ela.

rock
      
 CONTRAPARTIDAS  - O diretor comercial do evento, o português Raul Azevedo, está trabalhando de 12 a 14 horas por dia para fazer os acertos finais do festival que acontecerá em setembro. Ele gosta de citar, como exemplo mais concreto e popular de contrapartidas, o caminho escolhido pela marca Trident, que distribuirá entre o público um milhão de caixinhas de chicletes. 
"Os patrocinadores oficiais podem explorar a marca Rock In Rio e todos os seus conteúdos em seus produtos ao longo de um ano. Isso faz parte do contrato, além do trabalho feitos durante o festival, na Cidade do Rock. Lá eles recebem seus convidados em áreas Vips e exploram suas marcas em 150 diferentes propriedades, de Rodas Gigantes a banheiros. Essa planilha de contrapartidas é trabalhada diariamente nesses últimos seis meses", explica Raul Azevedo. 
É claro que o patrocinador Master – no caso o banco Itaú – tem uma contrapartida maior do que os demais patrocinadores. Por ser um banco, o Itaú pode vender para seus clientes um número de ingressos superior aos demais, além de ter uma área Vip maior – este ano, serão 700 convidados, ou seja: 100 por dia. 
O Rock In Rio gasta R$ 600 milhões em mídia ao longo desse ano de contrato envolvendo todas as marcas patrocinadoras. Nesse ano são convocados cerca de 50 "momentos de comunicação", além de uma permanente alimentação da mídia por intermédio de uma Assessoria de Imprensa pró-ativa. 
Dentro do festival, ao longo dos sete dias de realização, as marcas têm seus espaços e podem explorar produtos feitos especialmente como brindes ou para serem vendidos durante o evento. Os apoiadores também podem explorar seus espaços dentro da Cidade do Rock, assim como a venda ou distribuição de produtos. Há produtos normais das marcas e também aqueles especiais, criados para o festival. São histórias em quadrinhos, aulas de dança, exposições hai-techs, livros, revistas musicais, produtos cibernéticos, enfim; um mundo de patrocínios. 
O supermercado Extra, por exemplo, montará 350 barracas do Rock In Rio em suas lojas, faltando um mês para o início do festival, para vendas de produtos do evento. 
PASSADO DE GLÓRIA – O Festival tem na Prefeitura do Rio de Janeiro e na ONG "Rio de Janeiro – Marca registrada do Brasil", dois grandes parceiros institucionais. Segundo a direção do evento, no seu último ano de realização, em 2011, o Rock in Rio gerou R$ 880 milhões para a economia da cidade. A organização do festival não tem uma previsão para 2013, uma vez que esse cálculo da edição anterior foi feito pela Riotur. 
No entanto, a expectativa é que o valor seja superior pelos próprios ajustes de valores do mercado. Por exemplo, o investimento em produção, por parte da organização do Rock in Rio, aumentou de R$ 95 milhões, em 2011, para R$ 125 milhões, em 2013. O gasto médio do turista por dia também deverá aumentar, tendo em vista o custo da hospedagem, alimentação, transporte etc. A expectativa de público, para o evento em setembro de 2013, é em torno de 600 mil pessoas  - 595 mil, para ser mais exato - durante os sete dias de festival (são 85 mil pessoas/dia). O Rock In Rio acontecerá de 13 a 22 de Setembro. 
Para Rodolfo Medina, vice-presidente de marketing e comercial do Rock in Rio, "as empresas que associam seus produtos a uma marca internacional e de grande impacto no consumidor final, como o Rock in Rio, usufruem de um grande poder de comunicação na mídia e participam de uma história de sucesso de licenciamento e de grande potencial de faturamento".
Rodolfo Medina dirige uma equipe com aproximadamente 50 profissionais e trabalha uma média de 12 horas por dia para manter em dia o cronograma do festival. 
"Em um momento de retração do mercado de entretenimento no Brasil, especialmente para shows e festivais, a resposta do público à convocatória do Rock in Rio é a comprovação do poder de atração da marca. Somos o maior festival de música do mundo por inúmeros fatores, inclusive no quesito produtos licenciados. O interesse das marcas pelo evento é um fenômeno", afirmou ele. 
LIGAÇÃO COM MARCAS – Realizado pela primeira vez 1985, ano em que os civis voltavam ao poder após 21 anos de ditadura militar, o Rock In Rio surgiu como uma "ideia de comunicação" do publicitário Roberto Medina, da Art Plan, para o cliente Brahma, marca que na época era considerada "envelhecida".  
Medina aproveitou muito bem o clima de busca de liberdade criado, com o fim da ditadura, para jogar no ar uma proposta publicitária de "algo que jamais foi feito no Brasil": um grande festival de rock com nomes internacionais. Deu certo: 1,4 milhão de pessoas curtiram bandas como AC/DC, Iron Maiden, Ozzy Osbourne, Queen e os brasileiros Gilberto Gil, Paralamas do Sucesso e Barão Vermelho. Foram ao todo 28 bandas nacionais e internacionais.  
Em 1991 a ideia de renovar uma marca por intermédio de um megaevento musical foi repetida para a Coca-Cola. Em 2001, o cliente foi a American On Line, que investiu U$ 20 milhões e viu sua carteira de clientes crescer de 60 mil para 450 mil.
Em 2004, 2006, 2008 e 2010, o Rock In Rio se realizou em Lisboa, Portugal, com patrocínio da Milenium e na Espanha (2008 e 2010) com patrocínio master da Telephonica. Voltou ao lugar de origem, a Jacarepaguá, Rio de Janeiro, em 2011, na mesma e histórica cidade do rock onde nasceu. Uma história bem sucedida, sem dúvida. Aumenta o som que isso é rock and roll. E rock, é comunicação.