terça-feira, 15 de outubro de 2013

BENET DOMINGO, O CATALÃO QUE AMOU O RIO DE JANEIRO

Benet Domingo, a trajetória de uma artista".

No ano de 2014 será o centenário do artista, arquiteto e cenógrafo PereBenet Domingo (1914 - 1969), catalão radicado no Rio de Janeiro durante as décadas de 50 e 60. Em sua breve, porém intensa trajetória artística, podemos observar o grande sucesso e colaboração cultural que aportou para o Brasil e a Espanha. Ainda jovem brilhou como artista em sua terra natal e depois de exilado no Rio de Janeiro trabalhou como cenógrafo teatral e carnavalesco, revolucionando o conceito do carnaval carioca, observando e valorizando a identidade nacional que até então não era vista, pois apenas se valorizava o que era estrangeiro. Apaixonou-se pelo Rio e por seu povo, registrando suas diversidades e riquezas, realizando uma extensa série de desenhos a bico de pena intitulada "Nas esquinas do Rio" na qual se verifica uma rica pesquisa e precioso registro dos anos dourados do Rio de Janeiro capital. Sua obra representa atualmente o resgate da memoria cultural da cidade e das bases de construção do carnaval e da identidade carioca.



PereBenet Domingo nasceu em 1914 em Tortosa, na região do Baixo Ebro da Catalunha, em uma rica família de ideais e lideranças republicanas.

Em sua infância, se diferenciava das demais crianças por admirar e pintar o pôr do sol ao invés de se entreter jogando futebol, pegava sua bicicleta e percorria até 14 km para alcançar uma boa vista à beira rio e pintar ao ar livre suas primeiras telas.

Em sua adolescência já frequentava a Escola de Artes de Tortosa, aonde diariamente praticava desenho e pintura desejando seguir a carreira de artista, porém, seu pai não permitiu que ingressasse na Faculdade de Artes sem antes cursar outra carreira, sendo assim, Pere ingressou na Universidade de Arquitetura de Barcelona aonde se formou arquiteto.

No ano de 1936, quando Pere finalmente se preparava para ingressar na tão sonhada Universidade de Belas Artes de Barcelona estourou a Guerra Civil Espanhola. Benet Domingo participou de toda a contenda e foi ferido duas vezes lutando pelos ideais republicanos, ao fim da guerra permaneceu durante seis meses em campo de concentração e todos os seus familiares foram presos e tiveram seus bens confiscados. Seu pai e seu tio por serem lideres da República tiveram que exilar-se em Paris.

Devido às fatídicas circunstâncias do pós-guerra toda a família viveu sob um mesmo teto em Barcelona, totalizando 18 familiares em um apartamento de apenas dois quartos. Nesse então, Benet Domingo trabalhava como vitrinista para ajudar no sustento da casa. Em 1939 finalmente ingressou na Universidade de Belas Artes além de frequentar o Circulo Artístico Barcelonês e suas diárias sessões de modelo vivo. Realizou anualmente exposições individuais nas galerias Pictória e Barcino tendo grande sucesso, obras adquiridas por colecionadores e críticas no Anuário de Arte Barcelonês.

Em 1945, Benet Domingo casou-se com sua prima irmã, a pedagoga, Conchita Domingo com quem teve dois filhos, Pedro Benet (1948) e Pilar Domingo (1953).

Em 1951 apesar de sua bem sucedida carreira artística, Benet Domingo se viu obrigado a abandonar sua amada Barcelona devido a forte pressão da Ditadura Franquista sobre os vencidos. Escolheu como novo lar a cidade do Rio de Janeiro após ver um filme em que a radiante Carmem Miranda aparece emoldurada pela maravilhosa Baia de Guanabara. Chegando ao Rio de Janeiro fez valer seus conhecimentos de arquiteto e sua criatividade artística destacando-se como cenógrafo da importante companhia teatral "Os Artistas Unidos" e sendo o vencedor do concurso para a pintura mural da Igreja de Sant`Ana.

A companhia teatral, Os Artistas Unidos, era dirigida pela grande dama do teatro, HenrietteMourineau e produzida por Carlos Brant e Hélio Rodriguez e se apresentavam no teatro do sofisticado e luxuoso Hotel Copacabana Palace, Benet Domingo foi convidado como cenógrafo oficial da companhia após inaugurar com grande êxito na peça "Jezabel", permanecendo com a Companhia até o seu fim e realizando para ela mais de quinze cenografias. Benet Domingo realizou uma grande exposição com cento e cinquenta obras no Hotel Copacabana Palace, que seguiu itinerância em Belo Horizonte e São Paulo, acompanhando a turnê da Companhia e sob patrocínio da mesma.

No Centro da cidade, no Campo de Santa`Ana, Benet Domingo trabalhou durante um ano coordenando uma equipe de oitenta pessoas na pintura mural do interior e Altar Maior da Igreja de Sant`Ana, pois seu projeto havia sido vencedor para a realização do XXXVI Congresso Eucarístico Internacional no Rio de Janeiro.

Ao observar e conhecer o Centro da cidade e seus personagens, Benet Domingo, percebeu o rico contraste entre Copacabana e o Centro, iniciando assim, uma pesquisa de observação e registro de cada transeunte carioca com suas peculiaridades e diferenças (tal qual Jean Baptiste Debret que ao longo de quinze anos registrou as cenas cotidianas da sociedade da época) a essa série de mais de cinquenta desenhos a bico de pena Benet Domingo deu o nome "Nas Esquinas do Rio" que compõe um valioso e inédito registro da memória cultural da cidade.

Benet Domingo foi convidado a realizar todas as cenografias decorativas para o Hotel Copacabana Palace e seus onze salões, sendo durante dezesseis anos o "homem do Copa" e realizando com elegância e originalidade todos os eventos do Hotel, devido ao grande sucesso de suas cenografias foi convidado a realizar as decorações de carnaval do  Hotel Quitandinha, em Petrópolis e do Joquei Club e Maracanãzinho no Rio de Janeiro, foi chamado também pelo cineasta argentino Carlos Hugo Cristensein, a realizar as cenografias cinematográficas para seus longametragens, entre eles: "Matematica Zero amor Dez", "Esse Rio que eu amo" e o "Rei Pelé".

Em 1957 a Secretaria de Turismo convidou Benet Domingo a fazer a cenografia do carnaval de rua, inaugurando assim uma etapa de grandes proporções, aonde o artista vive a sua liberdade de expressão aliada a sua estrutura arquitetônica. Durante dez anos consecutivos foi responsável pela decoração carnavalesca das principais avenidas cariocas, introduzindo a decoração pingente sobre as avenidas e realizando uma cenografia com a identidade e valores nacionais e não mais venezianos.

            Benet Domingo foi um marco no carnaval carioca, realizando cenografias únicas e monumentais que valorizavam a cultura e identidade nacional e representavam o espírito brasileiro. Nas cenografias "Rio Sempre Rio" e "Guanabara", que realizou respectivamente no Hotel Copacabana Palace e no Centro da cidade (Avenidas Presidente Vargas e Rio Branco) Benet Domingo realizou sua revolução social, ao colocar no Copacabana Palace o personagem do negro pandeirista como portal de entrada e destaque, fazendo com que o sofisticado folião passasse sob o seu salto e construindo no centro da cidade uma Carmen Miranda de 22 metros de altura que jorrava café sobre o mundo, que girava a seus pés.

Benet Domingo despertou a sensibilidade e o olhar do carioca para sua própria imagem carnavalesca, ensinando o brasileiro a expressar seu próprio carnaval que representava o profundo de sua raça e de sua maneira de sentir.

Em 1969 o homem pisa a lua e Benet Domingo falece. O Rio de janeiro já não era capital, o Hotel Copacabana Palace estava falido e a Ditadura estava instaurada, porém a obra e a memória do que o artista realizou não deverá ser jamais apagada.

 

 

Caixa de texto: Casa Benet Domingo – três gerações de arte.  Av. São Sebastião, 135. Urca, Rio de Janeiro.  Site: www.casabenetdomingo.com  E-mail: contato@casabenetdomingo.com  Telefones: (55 21) 2295 1175 – 8537 1175
 

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