segunda-feira, 22 de agosto de 2016

O CARIOCA FOI MEDALHA DE OURO NAS OLIMPÍADAS

Luis Turiba

Somos cariocas, somos antropofágicos. Temos um jeito especial de ser e se sentir terráqueos privilegiados. Vivemos, moramos e circulamos em uma cidade de geografia mágica, cujo visual é Patrimônio Cultural da Humanidade. Aqui reina um deus dançante que chamamos samba, e o povo tira onda em esgoto a céu aberto. Temos sotaque acentuado em "ésssex" e inventamos tiradas que, rapidamente, se tornam transcontinentais. Carioca se alimenta de biscoito Globo na praia e acha fofo. Considera argentino hermano, e Copacabana é centro do planeta. Em cada passo que dá na amada cidade de São Sebastião, reflete seu humor/amor ao mar e às praias; a morros e montanhas, no sempre céu azul onde habita outro deus, o Sol, com seus sons, sais e suores de um eterno verão. A autoestima aqui é estratosférica, perigosa, transcendente. Afinal, não foi à toa que Walt Disney batizou um papagaio de Zé Carioca. Que o diga nosso prefeito canguru.

A origem do nome carioca é indígena, mas se tornou mestiça como os nossos campeões de ouro, bronze e prata nesta Olimpíada. O pintor Pedro Américo deu o nome de "A carioca" a um óleo sobre tela feito em 1882, onde uma índia curvilínea aparece totalmente nua penteando longos cabelos. A "Garota de Ipanema" é carioca, invenção de Vinicius e Tom. A origem etimológica está em duas palavras da língua tupi: kara'iwa ("homem branco") e oka("casa"), que, juntas, identificam os portugueses. Os índios passaram a usar a expressão com a fundação do Rio de Janeiro. Há uma outra tese que considera a existência de uma aldeia tupinambá chamada Kariók, no sopé do Outeiro da Glória.
Independentemente de nomenclaturas, carioca fala alto e cultiva a turistada. Resiste, luta e ocupa com humor seu habitat já muito poluído. Afinal, sempre que o Rio recebe um desses mega eventos — Rio + 20, Jornada da Juventude, Copa do Mundo e, agora, os Jogos Olímpicos —, a cidade se engalana com programas, projetos e novos espaços extraordinários que parecem, às vezes, esquecer o cidadão comum, o gentílico carioca e suas práticas culturais. Mas nós caímos dentro e, antropofagicamente, nos tornamos "donos" da parada. Passamos a torcer com intimidade por Bolts e Phelps como se fossem atletas da Mangueira ou vizinhos da Rafa na Cidade de Deus. Fazemos macumba pra derrubar francês pulador. E isso o "NY Times" vai ter que engolir.
Nesta Rio 2016, independentemente das reais transformações (VLT, Boulevard Olímpico, Cidade Olímpica etc), maquiagens e photoshops, a cultura carioca vem se destacando nos estádios e para além dos grandes palcos. Damos sabor especial aos grandes espetáculos. Os artistas de rua, por exemplo, são verdadeiros medalhistas da sobrevivência com seus passinhos, grafites, cânticos, rodas de samba, rap/poesia, marchas e performances coletivas que prosseguirão no universo pós-olimpíco da nossa gente indiscreta, espalhafatosa e marcante. O carioca vai deixar saudade.

Foto de Durvalino Couto.

domingo, 7 de agosto de 2016

ESQUECERAM O "POETINHA"- Faltou citar Vinícius de Moraes na abertura das Olimpíadas

ESQUECERAM O "POETINHA"

Faltou Vinícius de Moraes na festa Olímpica

 

Luis Turiba

 

Tá legal: todo mundo gostou, todo mundo babou. Foi bonita a festa pá. Carioca, brasileira, lusoafroameríndia, universal no país tropical. Demos até uma volta por cima do baixo astral e transformamos o Maracanã na praça da Apoteose onde dançamos todas as nossas diferenças. Mas minha nota não é deeeeezzz. Não pode ser deeeeezzz. "Tonga da mironga do Kabuletê" para quem bolou a pajelança pois, depois de tantas pesquisas, tantas cabeças e assembleias de neurônios por meses e meses a fio, acabaram, por mera bobeira, esquecendo de você Poetinha, justamente quando Gisele Bundchen desfilava o seu balançar para cinco milhões de terráqueos. Isso é sério: não existiria "Garota de Ipanema" sem Vinícius de Moraes. Mas na festa, o Tonzinho levou todas as glórias. A foto que apareceu como real autor da gloriosa canção foi a do maestro Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim. Tom musicou magistralmente um poema que descrevia uma menina "cheia de graça que vem e que passa a caminho do mar".

Os pesquisadores são unânimes: a letra foi escrita por Vinícius em 1962, em Petrópolis, e sua primeira versão chamava-se "Menina que passa". Depois, os dois se encontraram, e, finalmente, nasceu a canção por completo. O bar Veloso, hoje Garota de Ipanema, serviu como referência, pois era lá que eles esvaziavam suas "ampolas" numa mesinha de canto com vista para a calçada. A lenda garante que a canção (letra e música) foi fechada ali, ao ver a garota passar a caminho do mar.

O próprio poetinha, em histórico depoimento em1965, contou alguns bastidores da música que embalou a Bossa Nova: "Seu nome é Heloísa Eneida Menezes Paes Pinto, mas todos a chamam de Helô. Há três anos atrás ela passava ali no cruzamento de Montenegro e Prudente de Morais, em demanda da praia. No nosso posto de observação, no Veloso, enxugando nosso cervejinha, nós a achávamos demais. Tom e eu emudecíamos à sua vinda maravilhosa. O ar ficava mais volátil como para facilitar-lhe o divino balanço do andar. E lá ia ela todo linda, a garota de Ipanema, desenvolvendo no percurso a geometria espacial do seu balanceio quase samba, e cuja fórmula teria escapado ao próprio Einstein; seria preciso um Antonio Carlos Jobim para pedir ao piano, em grande e religiosa intimidade, a revelação do seu segredo. (...) Ela foi e é para nós o  paradigma do bruto carioca; a moça dourada, misto de flor e sereia, cheia de luz e de graça, mas cuja visão é também triste, pois carrega consigo, a caminho do mar, o sentimento do que passa, da beleza que não é só nossa – é um dom da vida em seu lindo e melancólico fluir e refluir constante."

 



 

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

CARIOCA Amazing Tours

Want to see Rio de Janeiro as a Carioca?

Stroll Rio historic center, go to a "roda de samba" (samba playing dancing), a ride into the Tijuca Forest, Rio after-sunset and Lapa bohemian area! CUSTOMIZED TOURS, with safety, fun and talks filled with information and curiosities. Pick yours or tell us your interest and we will guide you; contact us: LUIS at (21)98288-1825 or LUCA (21)98119-4349.

Luis Turiba, journalist, poet, cultural producer, rhythmist (cuica player) at São Clemente samba schcool, founder of Carnival Group Mistura de Santa, samba playing events and "Lapagoer" (Rio bohemian area).

Luca Andrade, psychologist, coach, poet, lover of Rio and its history, founder of Carnival Group Mistura de Santa, a goer to samba playing and cultural events.

We want to make you feel comfortable in Rio, get to know the carioca culture, food, architecture and urbanity.  

 

TIJUCA FOREST –  Car ride through the Tijuca Forest for three people at a time. This ride takes about 4 hours. Departing from Glória, we go up Santa Teresa, passing by sightseeing points, Paineiras road, Santa Marta belvedere, Alto da Boa Vista - Tijuca National Park, Vista Chinesa, Mesa do Imperador and return.

Price: R$ 450,00 (for 3 people)

 

HISTORIC RIO ON FOOT I – A 4-hour walk around historic sites downtown Rio. Cinelandia Square and its historical buildings, the XV Square, Paço Imperial and Arco do Teles, old historical churches such as "Our Lady of Carmo" Church and São Francisco de Paula Church and Confeitaria Colombo (historic bakery). Groups up to 5 people.
Price: R$ 130,00 per person

 

HISTORIC RIO ON FOOT II – A 4-hour walk around the historic harborside of old Rio. Starting at Mauá Square (MAR and Amanhã

-Tomorrow- Museum), we go up Conceição hill and walk around its historic buildings, then go down to Prainha Square, stroll around the slaves' area, the New Slave's burial ground with its legends and stories recently unveiled. Groups up to 5 people.

Price: R$ 130,00 per person

 

SANTA TERESA AND LAPA BOHEMIAN AREA ON FOOT – In the afternoon, we meet at the streetcar stop, downtown, and get off in Santa Teresa. Go for a walk around the historical streets of the area. Go down to the Selaron staircase, before sunset. We make a quick stop to sip a chilled beer at a "botequim" (typical Brazilian bar) then stroll along some historical buildings of Lapa. At night. time for a Samba house - "Carioca da Gema" or "Rio Scenarium" – enjoy the vibe of samba. After the samba house, restore the energy tasting delicious mouth-watering dishes at Nova Capela restaurant. 6-hour tour, individual and groups up to 5 people.

Price: R$ 130,00 per person

 

·                Included: driver (car rides) and guide

·                Not included: drinks, food and tickets, also for the guide

 

Other tours: favela, samba schools, "roda de samba" and other sites as you wish shall be arranged.

LUIS at (21)98288-1825 or LUCA (21)98119-4349

terça-feira, 2 de agosto de 2016

CARIOCA Amazing Tours


Want to see Rio de Janeiro as a Carioca?

 

Stroll Rio historic center, go to a "roda de samba" (samba playing dancing), a ride into the Tijuca Forest, Rio after-sunset and Lapa bohemian area!

Different TOURS, filled with fun, information and safety.  Pick yours or tell us your interest and we will guide you; contact us: LUIS at (21)98288-1825 or LUCA (21)98119-4349.

 

TIJUCA FOREST –  Car ride through the Tijuca Forest for three people at a time. This ride takes about 4 hours. Departing from Glória, we go up Santa Teresa, passing by sightseeing points, Paineiras road, Santa Marta belvedere, Alto da Boa Vista - Tijuca National Park, Vista Chinesa, Mesa do Imperador and return.

Price: R$ 450,00 (for 3 people)

 

HISTORIC RIO ON FOOT I – A 4-hour walk around historic sites downtown Rio. Cinelandia Square and its historical buildings, the XV Square, Paço Imperial and Arco do Teles, old historical churches such as "Our Lady of Carmo" Church and São Francisco de Paula Church and Confeitaria Colombo (historic bakery). Groups up to 5 people.
Price: R$ 130,00 per person

 

HISTORIC RIO ON FOOT II – A 4-hour walk around the historic harborside of old Rio. Starting at Mauá Square (MAR and Amanhã

-Tomorrow- Museum), we go up Conceição hill and walk around its historic buildings, then go down to Prainha Square, stroll around the slaves' area, the New Slave's burial ground with its legends and stories recently unveiled. Groups up to 5 people.

Price: R$ 130,00 per person

 

SANTA TERESA AND LAPA BOHEMIAN AREA ON FOOT – In the afternoon, we meet at the streetcar stop, downtown, and get off in Santa Teresa. Go for a walk around the historical streets of the area. Go down to the Selaron staircase, before sunset. We make a quick stop to sip a chilled beer at a "botequim" (typical Brazilian bar) then stroll along some historical buildings of Lapa. At night. time for a Samba house - "Carioca da Gema" or "Rio Scenarium" – enjoy the vibe of samba. After the samba house, restore the energy tasting delicious mouth-watering dishes at Nova Capela restaurant. 6-hour tour, individual and groups up to 5 people.

Price: R$ 130,00 per person

 

·                Included: driver (car rides) and guide

·                Not included: drinks, food and tickets, also for the guide

 

Other tours: favela, samba schools, "roda de samba", and other sites as you wish shall be arranged.

 

LUIS at (21)98288-1825 or LUCA (21)98119-4349

 

PASSEIOS CARIOCAS ESPECIAIS

PASSEIOS CARIOCAS

Quer conhecer o Rio como um carioca?

 

Passear pelo Rio histórico, ir a uma roda de samba, conhecer a Floresta da Tijuca, suas belezas naturais e história, a área boêmia da Lapa, seus bares e casa de samba!

Passeios personalizados, com informação, segurança e divertimento.   Escolha ou crie sua opção e nós lhe guiaremos; entre em contato: LUIS - (21)98288-1825 ou LUCA - (21)98119-4349.

 

FLORESTA DA TIJUCA –  Passeio de carro pela Floresta da Tijuca para três pessoas por vez, com duração de 4 horas. Saída da Glória, subindo por Santa Teresa e suas paisagens, seguimos a Estrada das Paineiras, Mirante Santa Marta, até o Alto da Boa Vista. Vamos ao Parque Nacional da Floresta da Tijuca, Vista Chinesa, Mesa do Imperador, e descemos pelo Jardim Botânico, com passagem por cachoeiras e paradas em pontos com visuais maravilhosos.

Preço: R$ 450,00 (para 3 pessoas)

 

RIO HISTÓRICO I – Passeio individual ou grupos de até 5 pessoas pelo Rio Antigo por 4 horas.  Início na Cinelândia e seus prédios históricos, passando pelo Largo da Carioca, Praça XV, Paço Imperial e Arco do Teles, igrejas históricas e área gastronômica e Confeitaria Colombo.
Preço: R$ 130,00 por pessoa

RIO HISTÓRICO II – Passeio individual ou grupos de até 5 pessoas pela zona portuária, revitalizada do Rio Antigo por 4 horas.  Início na Praça Mauá (MAR e Museu do Amanhã). Subimos o Morro da Conceição e passeamos pelo seu casario histórico. Descemos até a Largo da Prainha e passeamos pela área até a Praça da Harmonia e os Pretos Novos.

Preço: R$ 130,00 por pessoa

 

LAPA E REGIÃO BOÊMIA Pegamos o bonde de Santa Teresa no centro do Rio, atravessamos os Arcos da Lapa, descemos no bairro, onde apreciaremos a vista e conheceremos algumas de suas ruas e arquitetura. Pegamos o bonde de volta e vamos conhecer a escadaria Selaron, seguindo a pé pelo centro da Lapa, com direito a parar em um bar para um chopp gelado. Em seguida, o passeio segue para uma Casa de Samba como "Carioca da Gema" ou "Rio Scenarium" no início da noite (custo da entra do guia por conta dos visitantes). Depois do samba, podemos ir jantar no histórico restaurante Capela, onde os visitantes saborearão pratos de dar água na boca, como o "Cordeiro na cebola". Duração de 6 horas, grupos de até 5 pessoas.

PREÇO POR PESSOA: R$ 130,00

·        Incluído: motorista (passeio de carro) e guia

·        Não incluído: bebida, comida e entrada para casa de samba

Outros passeios e roteiros como "visita a comunidades" e "escolas de samba" a combinar.

LUIS - (21)98288-1825 ou LUCA - (21)98119-4349

segunda-feira, 25 de julho de 2016

O DVD DE SANDRA DUALIBE SERÁ GRAVADO NESTA QUARTA


Está chegando a hora. Será no dia 27 de julho (quarta-feira), às 15h, a gravação de "Celebrizar", primeiro

DVD da cantora Sandra Duailibe. O local escolhido para show que dará origem ao DVD é o confortável

Teatro Paulo Gracindo, no Sesc Gama, com estrutura de som de última geração. A gravação terá a

presença de público convidado, além dos fãs, que podem assistir na plateia. "Este DVD é, para mim, a

realização de um sonho", define Sandra Duailibe.

Para isso, a cantora escolheu um invejável time de músicos: Paulo André Tavares (violão), Agilson

Alcântara (violão e guitarra), Oswaldo Amorim (contrabaixo), Amanda Costa (percussão) e Sandro Araújo

(bateria). Além deles, serão músicos convidados para a gravação Fernando César (violão de sete cordas),

Pedro Vasconcelos (cavaquinho), Ocelo Mendonça (violoncelo), Victor Moreira Angeleas (bandolim) e

Nicolas Krassik (violino).  O trabalho é apresentado pelo Fundo de Apoio à Cultura (FAC) da Secretaria de

Cultura do Governo de Brasília.

Nascida em São Luís, no Maranhão, desde cedo Sandra Duailibe sabia que a música pulsava fortemente

em seu coração. Criada em parte da infância e da adolescência em Belém, no Pará, iniciou seus estudos

de música aos 5 anos, no Conservatório Carlos Gomes, onde estudou piano até seus 15 anos. Seguiu

para Brasília em 1982, já graduada em Odontologia, profissão que exerceu por 9 anos. Em 1996, instigada

a ter uma profissão mais ligada à comunicação e ao prazer, abriu uma agência de viagens e turismo,

negócio que foi seguido de lojas de conveniência em dois hotéis da capital.

Mas a música continuava falando alto e, em 2005, Sandra Duailibe abandonou suas outras ocupações

profissionais para se dedicar inteiramente ao canto. Hoje, com uma carreira que inclui cinco CDs e

participação em diversos DVDs de grandes artistas, shows no Brasil e no exterior, ela parte para mais um

desafio: a produção do DVD "Celebrizar". "Agora, meu público vai poder levar, além do meu canto, minha

imagem para casa", completa a artista.

Os ingressos para a gravação do DVD de Sandra Duailibe custam R$ 1,00 e a classificação indicativa é

livre. Para participar da gravação, é preciso confirmar presença pelo telefone (61) 98603-4433, com Aline

Cardoso, ou pelo link https://www.facebook.com/events/1640667386260026/. Para esse trabalho, Sandra

Duailibe tem o apoio das seguintes empresas e instituições: Atelier Cynthia Alves, Escola de Dança Alex

Gomes, Grupo Voetur, Indústria de Uniformes República das Malhas, Instituto de Beleza Hélio Diff, Magia

Flores,Nyll Camisaria, Pães da Corte,Rede de Hotéis Plaza Brasília, Restaurante La Grill e Sesc-DF.

SERVIÇO

GRAVAÇÃO DO DVD SANDRA DUAILIBE – "CELEBRIZAR"

Data: 27 de julho (quarta-feira)

Horário: das 15h às 20h

Local: Teatro Paulo Gracindo, no Sesc Gama (Setor de Indústria, Quadra 2)

Ingressos: R$ 1,00 – é preciso confirmar presença pelo telefone (61) 98603-4433

O GOLPE COMO FRAUDE E LENITIVO AO DECLINIO

 
 
A resiliência da esquerda aos revesses sucessivos que a história lhe desferiu é resultado em parte de sua característica de seita e, portanto, da crença de que detém com exclusividade a verdade única. As derrotas são apenas batalhas perdidas; no final, a guerra será vencida com a redenção do proletariado que, para evitar desvios no itinerário, será conduzido com mão de ferro ao paraíso.
 
Transposta para a realidade que vivenciamos no Brasil, no limiar do julgamento da presidente Dilma Rousseff (PT), a afastada, o PT se valeu da propaganda política para dissimular o fracasso de seu modelo após treze anos no comando da Nação com o apoio do status quo. No confronto político restavam poucas opções: reconhecer os erros que levaram o País a pior crise econômica, política e ética de sua história ou adotar uma escapatória.
 
Ora, o PT não tem como justificar a gestão fiscal fraudulenta da presidente. O PT não tem como justificar as derrapagens administrativa e econômica, carreadas por uma mandatária incompetente e presunçosa, que redundaram em quebradeira, carestia e desemprego. O PT não tem como justificar que boa parte dos delatores da Operação Lava-Jato são companheiros ou neocompanheiros, como os grandes empreiteiros.
 
O PT não tem como justificar que, no poder, exerceu a política da mesma forma que seus adversários, qual seja, na base da barganha de compra de apoios. O PT não tem como justificar que, eleito com uma pregação de detentor exclusivo da ética, atolou-se nos mesmos desvãos do uso espúrio do erário.
 
O PT não tem como justificar que seus heróis se transmutaram de militantes por princípio em políticos sem princípios. O PT não tem como justificar que tramou o impeachment dos três antecessores imediatos do lulopetismo. Mais importante, o PT não tem com justificar o golpe com o qual aniquilou a esperança na política. Não se o fizer com sincera autocrítica.
 
Portanto, para não enfrentar o debate honesto, com choro e ranger de dentes, restou aos companheiros fraudar a história e amparar-se no refrão golpista como leitmotiv. Para tanto, fugiu da lógica comezinha.
 
Propaganda fraudulenta como lenitivo
 
O impeachment estribou-se num Judiciário permissivo, que adotou ao extremo a regra in dubio pro reu como na sessão da Corte Suprema de dezembro de 2015, contestada por juristas eminentes. O impeachment sustentou-se na Suprema Corte, cujos membros foram quase todos escolhidos pelo PT. Oimpeachment foi garantido pela neutralidade silenciosa das Forças Armadas.
 
O impeachment foi respaldado pela ampla e legítima maioria da população - exaurida pela economia em pandarecos, enojada da corrupção. Oimpeachment teve a aprovação majoritária do Legislativo, movido, como em 1992, por eleitores desiludidos. O impeachment ancorou-se na Constituição.
 
Como carece de coerência e sobeja desfaçatez, a narrativa petista - risível diante da hodierna, sangrenta e concreta tentativa de golpe na Turquia - optou por falsear a realidade. Não se trata de ação impensada, mas engendrada em eficiente propaganda política.
 
Na ânsia de desqualificar o impedimento da mandatária, sustenta-se em estratégia que vai da autoindulgência à sobrevivência. Primeiro, provê conforto à militância atordoada com os crimes conduzidos por suas lideranças. Repetir ad nauseam que o impeachment foi ilegítimo anestesia a decepção.
 
Segundo, fornece à patuleia simplificação retórica à narrativa que pretende converter a presidente Dilma em vítima. Terceiro, ao adotar discurso monotemático foge do debate direto sobre a débâcle petista. Quarto, tenta constranger néscios e desavisados.
 
Implacável, a história aplicou revesses sucessivos na esquerda. Os percalços levaram-na a contornar o mais notório déspota comunista, Josef Stalin (que tiranizou seus camaradas), a relevar os gulags, a ignorar a derrocada soviética (simbolizada pela queda do Muro de Berlim), a condescender com a revolução cultural chinesa, a defender a ditadura cubana, a compactuar com os desmandos do comandante venezuelano.
 
Tudo justificado por dogmas e mitos, como o de que só a esquerda representa os pobres ou do estado forte e onipresente. A exemplo de uma seita, que tem a conversão dos ímpios e a salvação dos fiéis como alvos, a sigla busca no discurso fraudulento o lenitivo ao declínio.

sexta-feira, 8 de julho de 2016

DESTINO, um artigo de André Gustavo Stumpf,

André Gustavo Stumpf, jornalista.


Vargas Llosa narra em seu magnífico A guerra no fim do mundo, lançado no Brasil em 1984, uma briga de morte entre dois jagunços que disputavam o privilégio de matar um estrangeiro, justamente o narrador da controvérsia. Eles amarram as fraldas das camisas e se esfaquearam reciprocamente. Naturalmente, ninguém vence. Os dois morrem. O livro descreve a história da Guerra de Canudos e mergulha nos elementos retirados do clássico, Os Sertões, de Euclides da Cunha.

Vargas Llosa andou pelo interior da Bahia, conversou com pessoas, ouviu histórias, mergulhou no acervo do jornal do jornal O Estado de S. Paulo – Euclides da Cunha era repórter daquele periódico – e foi até a Washington pesquisar na biblioteca do Congresso dos Estados Unidos sobre este formidável conflito que desafiou a jovem República brasileira. Só no terceiro ataque, Canudos capitulou. Na verdade, a pequena vila foi arrasada. Mas os inssurretos mataram o coronel Cerqueira Cesar, que comandava as tropas do Exército.

O autor revelou essa modalidade de briga pessoal. Os dois se amarram e se atacam impiedosamente. Normalmente, morrem. Mas, a honra está salva. Conto essa história porque não sei se a vida imita a arte ou vice versa. Mas Dilma Rousseff e Eduardo Cunha tiveram seus destinos amrrados um ao outro. O deputado carioca, 57 anos, é um negociador frio, que soube enriquecer no exercício da atividade política. Os sucessivos inquéritos que correm contra ele na Justiça demonstram à saciedade sua maneira de operar a política e a contabilidade.

A presidente afastada, 69 anos, possuia um leque mais pobre de iniciativas. Ela aparentemente não estava preparada para o exercício do mais alto cargo administrativo do país. Não conhecia os meandros da política, não soube medir seus riscos e se aventurou pelo perigoso caminho voluntarista. Seu governo foi um desastre total. O pior da República brasileira. Não alcançou nenhum dos objetivos pretendidos, mesmo porque eles eram difusos e mal definidos. Restou a ela escolher inimigos. E um deles foi precisamente Eduardo Cunha.

Cunha, por sua vez, fez carreira enfrentando adversários e dobrando suas apostas. Rompeu com o governo e colocou na ordem do dia o pedido de impeachment do presidente da República. O desenvolver da crise é fartamente conhecido. A presidente afastada está isolada no Palácio da Alvorada. Seus amigos estão se distanciando, os argumentos estão rareando e ela, lentamente, começa a transportar seus pertences pessoais para Porto Alegre, onde reside. O processo de impedimento deverá ser apreciado pelo plenário do Senado na última semana de agosto.

Eduardo Cunha foi, de recuo em recuo, caminhando em direção à sua própria renúncia. Derradeiro capítulo na tentativa de escapar da cassação. Parece sentença proferida. Mas sempre caberá a ele promover o último ato em sua própria defesa e na proteção dos familiares. A crise brasileira está entrando nos moldes tradicionais. Os dois opositores se agrediram reciprocamente e encontraram o seu fim. No Brasil, os políticos morrem várias vezes. Veja-se o ex-presidente Collor, que perdeu a presidência, é hoje um operoso senador da República.

Do ponto de vista do governo Temer, o desfecho lhe é altamente favorável. A crise Eduardo Cunha deixa de contaminar a Câmara dos Deputados. Passa a ser um assunto pessoal do ex-presidente. Será cassado pelo Congresso ou pelo Supremo? Seu destino não interfere na política nacional e libera a instituição para viver sua vida, votar o que for necessário e virar a página na política nacional. Os debates sobre sua sucessão fazem parte da atividade parlamentar. O grupo chamado de centrão, reprodução do que ocorreu ao tempo da Assembléia Constituinte, deve apresentar o nome de Rogério Rosso (PSB-DF) como candidato.

Rosso é um personagem curioso. Ele veio da iniciativa privada. Trabalhou na Fiat. Foi administrador de Ceilândia e no governo Arruda transformu-se em presidente da Codeplan. Foi governador do Distrito Federal naquele mandato tampão, depois que Arruda dixou o governo. Roqueiro, em pleno mandato foi para a Alemanha tocar em festival de música. Ele tentou se recandidatar ao cargo pelo PMDB. E não conseguiu. Passou o tempo, ele morreu uma vez, e ressurgiu como deputado federal. Sua boa atuação na comissão do impeachhment na Câmara proporcionou uma avenida de oportunidades à sua frente.

Os neogovernistas têm suas pretensôes. Uma delas se chama Heráclito Fortes (PSB-PI), experiente parlamentar que está no congresso Nacional desde os tempos de Ulysses Guimarães de quem foi amigo e discípulo. Outros candidatos surgirão. A poeira provocada por estes movimentos na próxima semana tenderá a embaralhar os movimentos na política. Cunha caminha para seu destino e Dilma para Porto Alegre. Um amarrou seu horizonte na possibilidade do outro. Os dois morreram. O governo Temer aparentemente se salvou.

 

quinta-feira, 23 de junho de 2016

MUDANDO PARADIGMAS

Luis Turiba

 

Nunca antes na história desse País, tantos inescrupulosos políticos brasileiros, do centro de esquerda e da direita, foram pegos com a mão na cumbuca surrupiando o mingau nosso de cada dia. A República das Empreiteiras caiu como um castelo de areia perante uma onda no mar diante da Lava-Jato. O Supremo se mantêm firme nas decisões anti-corrupção e hoje mesmo caíram mais dois ex-ministros de Dilma. Não faz marola, dizem os políticos, mas se gritar "pega ladrão", não ficar um meu irmão. Nem Freud segura a fraude. O Brasil vive dias terríveis, assustadores. É muita laranja madura e Fat Family pra todo lado. Mas isso faz parte do ébo de limpeza. Quem sabe após essa desratização generalizada, uma nova consciência possa surgir (?) entre políticos, empresários e principalmente eleitores com reflexos já nas eleições para as prefeituras deste ano e, principalmente, para as eleições presidenciais de 2018. A verdadeira esquerda - atenção PSOL - precisa rever todas essas práticas corruptas. É nisso que apostamos.  

Duas falas marcaram o noticiário de hoje e são exemplares. Reflitam sobre elas:

 

1- "Assim como, historicamente, se tornou inaceitável discriminar negos e gays (...) bater em mulher (...) dirigir embriagado (...) tornou-se inaceitável a nomeação de parentes para cargos públicos. Acho que está em curso no Brasil hoje uma nova mudança de paradigma. Não é mais aceitável desviar dinheiro público, seja para financiamento eleitoral, seja para o bolso."  Luís Roberto Barroso, ministro do Supremo durante o julgamento de Eduardo Cunha.

 

2- "A corrupção é uma assassina sorrateira, invisível e de massa. Ela é uma serial killer que se disfarça de buracos em estradas, em faltas de medicamentos, de crimes de rua e de pobreza", afirmou Delton Dallagnol, procurador da Lava-Jato.

 

segunda-feira, 6 de junho de 2016

KOMBI VELHA TEM O SEU VALOR

Por Luis Turiba

 

Quase meio-dia e eu ainda estava na fila do banco. Tinha que chegar as treze na Central do Brasil para encontrar uma galera e subir o morro da Providência para conhecer a famosa Casa Amarela no topo da favela, uma base de cultura numa área dominada de tráfico. Quinta-feira de inicio do mês é sempre assim: a longa fila dos velhinhos estava sacudida com as rabugices de sempre. Num repente, ela (80) saiu do meio da fila e foi ao encontro dele (89), o primeiro prestes a ser chamado para o atendimento:

-       Como vai Seu Jacó? Tá lembrada de mim...

-       Claro, garota. Mas você tá velha, heim?! Eu também estou velho, mas você está mais engilhada do que eu.

-       E como vai Dona Sarah?

-       Também tá velha, mas não morreu ainda, respondeu ele sem poupar sincerismos.

-       Trabalhei na loja deles, uma tapeçaria, quando eu tinha 17 anos, confidenciou ela para quem observava de perto o reencontro.

-       Mas o tempo passa e deixa a gente assim, parecendo maracujá de fim de safra, disse ele antes de seguir para o atendimento.

O coroa que estava na cadeira ao meu lado, olhou de soslaio e cravou seu palpite:

     -  Aí tem coisa...

Esse tinha pinta de jovem.  Usava pulseiras de couro, um chapeuzinho branco, óculos estiloso, sacolas penduradas nos ombros, lencinho no pescoço. Parecia ter vindo a pé de Woodstock.

-       Com língua e dedo ninguém fica imprestável, completou baixinho com olhar sacana.

A fila andou e me piquei pro metrô no rumo Central onde iria encontrar  a galera do coletivo Viajantes do Território para subir o Providência, a mais antiga e central favela do Rio de Janeiro, em missão cultural. O entorno da Central ainda me assusta, pois parece um pouco a Índia com gente de tudo quanto é tipo circulando apressadamente pra tudo quanto é lado. Se tentar usar celular naquele mafuá, dança.


Finalmente nos reunimos no ponto combinado sob o comando de Egeu Laus, o comandante dos Viajantes. Éramos 12 e partimos em busca de uma Kombi velha, cujo teto mais lembrava um assoalho sem o carpete retirado na força e na marra. Seis conseguiram entrar e os outros ficaram para a próxima viagem. A Kombi velha engilhada ia se arrastando pelas ruelas estreitas de paralelepípedos onde mal passava um fusca. Demorou bem meia hora até chegar na subida. A Kombi velha está acostumada com aquela ladeira de curvas fechadas e ainda é o melhor meio de transporte para os moradores do morro quando o teleférico para por manutenção ou guerra entre traficantes. Paga-se pela viagem três reais.

A Kombi velha engilhada que já teve 17 anos nos deixa na Estação do Teleférico. De lá, nossa guia nos leva até o Bar da Jura que fica em baixo da estação, de onde avistamos toda a baía da Guanabara, a ponte Rio-Niterói, a Cidade do Samba e os novos prédios envidraçados da Odebrecht que surgem aos borbotões na Zona Portuária, além de uma parte da comunidade com intrincados corredores onde não se deve fotografar pois o movimento é intenso.

-       Sabe como é, né: depois você pode passar pelo constrangimento de ter que apagar a foto, e isso não é legal", explica Dona Jura que faz um inhoque com camarão de tirar qualquer freguês do sério.

Ela distribui cartões para todos e avisa:

-       É só ligar e encomendar o que vai comer. Pode trazer a família, amigos, subir na paz que estamos aqui para recebe-los. É só avisar antes de subir.

Começamos a entender ali como se desenvolve o dialético equilíbrio entre os diferentes negócios do morro da Providência: cada um vende o que tem e o que pode. Cada qual, a sua maneira.

Finalmente, chegam os Viajantes retardatários. Um dos jovens que trabalha na Casa Amarela, o Douglas Oliveira que aparenta ter seus 18 anos, vai nos guiar na visita que começa pela sacrificante subida da escadaria, com seus 162 degraus, quase todos grafitados com letras de Raul Seixas e Cazuza. Aquela subida será para minhas cansadas panturrilhas uma prova de fogo. Afinal, estão elas em tratamento no hospital Sarah de Brasília. Os pulmões e o coração resistiram bem, mas as canelas chegam lá em cima quase sem fôlego. No caminho, passamos pelos meninos que fazem o atento trabalho de permanente observação. Cochilou, o cachimbo cai. Um deles, com pouco mais de 16 anos, trabalha com quatro celulares e dois walk-talk. Armas não aparecem, mas se insinuam.


A Casa Amarela, com seu três andares, parece uma obra de Gaudí dos trópicos. Ela é costurada de ripas de madeira e aqui e ali pequenos barracos aparecem como torres. O projeto começou em 2008 graças ao fotógrafo francês J.R. que hoje mora em Nova Iorque. Na época, ele ensinou fotografia aos jovens da favela. Hoje existe ali um Cine Clube, aulas de inglês para as crianças da Providência, cursos de Grafiti e até um projeto para extrair energia de legumes. Muitas artistas estrangeiros passam pela casa com oficinas voluntárias e importantes doações.

Visitamos a exposição permanente de fotografia, as dependências internas grafitadas e ouvimos com a maior atenção uma palestra sobre Sustentabilidade na Favela feita militante Aline Mendes, 38 anos, que trocou seu emprego certo ("mas chato pra caralho") em um cartório do Rio pela aventura de ser uma empreendedora no morro da Providência. No cartório, ela abriu uma gaveta para "as boas ideias", onde ia guardando informações preciosas que mais tarde foram fundamentais para seus projetos de mapeamento, Ecopontos e Calendário para o Providência Sustentável, que teve o apoio da prefeitura e do Sebrae.

Com uma alegria transbordante, Aline nos conta como deu seu grito de independência do Seu Barriga, seu antigo chefe no cartório: "Tudo eu anotava: água, luz, pessoas, ruas, tudo, tudo. Andei toda a favela chegando a ir a lugares proibidos como a Pedra Lisa, onde a barra é muito pesada. Vi moradores lavando suas portas do sangue derramado na guerra entre as facções do tráfico. Passei muito perrengue mas cheguei a ser chamada de maestrina de obra, pois criei meus filhos e construí com minhas mãos a minha própria casa virando massa todos os fins de semana. Quando resolvi pintar o Escadão, tive que pedir autorização a UPP e eles noticiaram isso como obra social deles. Fiquei apavorada, pois corri o perigo de ser pega pelo tráfico e levada ao tribunal."


Fim de tarde. O céu se fecha, as gaivotas sobrevoam em bando e círculos nossas cabeças e a chuva ameaça cair. Aproveito o intervalo e deixo a Casa Amarela para trás, seguindo com um casal de visitantes. Como na subida, também somos observados na descida por olheiros espalhados na área. Na estação do Teleférico, esperamos a velha e cansada Kombi por mais de 20 minutos na certeza que estamos na mira de binóculos e outros tipos comunicações, pois somos seres estranhos àquele ambiente.

Finalmente, a Kombi chega. Entramos, sentamos e pagamos. Antes de partir na sua venturosa descida, ouvimos gritos e o motorista freia e deixa o veículo parado na esquina fronteiriça entre o topo e a ladeira. Um jovem recém saído da adolescência chega junto, sussurra algo no ouvido do motorista, dá uma geral no ambiente interno e libera a descida. A velha e engilhada Kombi já não tem 17 anos, mas tem lá o seu valor.    

 

terça-feira, 31 de maio de 2016

E SE DILMA VOLTAR?

ITAMAR GARCEZ, para o blog do Moreno, em O Globo

A conveniência da presidente Dilma Rousseff (PT), a afastada, de retornar ao Palácio do Planalto beira o insondável. À vontade no papel de opositora-mor da República de Michel Temer, o interino, ela aparenta almejar o regresso. Para o PT, no entanto, o melhor desfecho é menos evidente.
 
Afinal, os descaminhos, a recessão econômica e os malfeitos deixados por Dilma prosseguem em marcha batida. Melhor adentrar a história como vítima ou como incompetente?
 
No retorno à política, ela encontrará parlamentares habituados, depois de 13 anos, a frequentar o Planalto e a residência oficial do presidente. Enquanto Temer faz dos rapapés palacianos sua rotina, Dilma sempre preferiu cercar-se de acólitos, que, receosos das invectivas, restringiam suas manifestações ao vocativo imposto: "Sim, senhora presidenta".
 
Voltará ela a enxotar dos salões presidenciais os parlamentares que hoje lá transitam com desenvoltura? Como fará a mandatária para recompor a maioria parlamentar que chamou de "golpista"? Dirá que sua monotemática campanha foi apenas arroubo retórico?
 
Na economia, seu eventual regresso encontrará um caixa deficitário de R$ 170,5 bilhões, o maior da história. Produzido por sua gestão, trata-se de impeditivo para alavancar os projetos sociais que, afora a estabilidade econômica, popularizaram seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
 
Além disso, o anúncio do retorno de Dilma será a centelha para frear investimentos, embargar novos empregos e convulsionar mais as ruas. O pragmatismo de Temer cederia lugar à política econômica furta-cor da mandatária regressada, entre a ortodoxia envergonhada e a heterodoxia voluntarista.
 
No campo policial, como confidenciou o ex-presidente da República, José Sarney (PMDB), a volta de Dilma vai se deparar com a "metralhadora" da Odebrecht. E, em que pesem os reclames dilmistas de que a operação Lava-Jato mira apenas o PT, são o mandatário plantonista e seu partido que acabam por se tornar o alvo principal de investidas "denuncistas".
 
Vide as manchetes dos matutinos, que, dia sim, outro também, desferem petardos contra a cúpula peemedebista. Aliás, munição que, oportunista, o PT dispara agora contra Temer como se antes desconhecesse as fraquezas do velho aliado.
 
Por outro lado, se permanecer na posição vitimada, de que foi destituída por um golpe, poderá seguir em frente na senda propagandística desenhada como narrativa escapatória. Na oposição, trincheira onde o PT é mestre, arquitetará o fracasso do sucessor - pavimentando a volta ao poder em 2019.
 
A tudo isso somam-se as injunções políticas das lideranças petistas. Boa parte do PT e dos movimentos sociais despreza a afastada. Culpam-na pelo fracasso petista.
 
Toleram-na apenas por ser incontornável tê-la como títere na linha de frente oposicionista. Olívio Dutra, petista crítico e de boa cepa, pondera, em entrevista ao Valor Econômico, que "neste momento, o PT vai aprender muito mais se perder".
 
Enquanto alguns petistas hesitam entre voltar ao poder para fazer mais do mesmo e buscar a refundação, a legenda continuará interpretando seu papel de vítima, tendo Dilma como protagonista. Diante do torvelinho de denúncias a tese do golpe tenta ofuscar a mácula inapelável de uma sigla que se enxovalhou com as mesmas práticas que denunciava nos oponentes.
 
E Temer com isso?
 
Na política, o adversário de hoje é o aliado de amanhã. Quem tiver este escrúpulo procure outra ocupação. No entanto, nesse momento é improbabilíssimo que PT e PMDB voltem a compor, pois disputam o mesmo espaço. Assim, restam ao interino poucas alternativas para se efetivar na presidência.
 
A mais óbvia é entregar o governo, e sua alma, ao Senado. Somente os 81 integrantes da Câmara Alta têm o poder de transmutar o mandato interino em definitivo. Cargos, sinecuras, liberações orçamentárias e outros inconfessáveis regalos mimariam os senadores até que, talvez em agosto, a imolação senatorial de Dilma seja consumada.
 
Mais trabalhosa, a investida em ações que sinalizem mudanças efetivas na economia pode render ao noviço créditos entre seus apoiadores - desde que evite polêmicas, como a reforma previdenciária. Se não pode consertar nenhum estrago da predecessora em pouco tempo, pode reverter as expectativas agourentas que travam o país há mais de dois anos.
 
A encarniçada refrega política não vai parar. Há uma eleição municipal em outubro; e a sucessão presidencial, diante da barafunda partidária, foi antecipada. Porém, a cidadania incomoda-se menos com a escaramuça política quando a inflação está controlada, o emprego garantido e a renda banca o sustento, ainda que este cenário represente um alento futuro.
 
Outra iniciativa é propagandística. Levando-se em conta que os milhões de eleitores que foram às ruas, o empresariado, os banqueiros, a mídia e a maioria dos parlamentares não desejam a volta de Dilma, o interino pode advertir, entre uma mesóclise e um latinismo, que, ruim com ele, pior com ela.
 
Em pouco mais de duas semanas de governo, Temer enfrenta reveses aos borbotões - parte por conta de suas próprias iniciativas. Parte pela inescrutável Lava-Jato. Outra porção por seus incômodos aliados, como o deputado Eduardo Cunha (PMDB).
 
Nada, ou quase nada, pode fazer o novato mandatário contra os juízes da Lava-Jato, Sergio Moro e Teori Zavascki, o fechado, que ditam os rumos da investigação. Assim, sobram escassas alternativas e acelerada contagem regressiva.
 
Paparicar senadores, urgir para que o ministro Henrique Meirelles endireite a economia e convencer os eleitores que ele, Temer, é remédio menos amargo são as possibilidades de ocasião. A outra hipótese é a volta de Dilma e suas imprevisíveis consequências.
 
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sábado, 14 de maio de 2016

O MINC E A ALMA BRASILEIRA

Por Luis Turiba

 

O Ministério da Cultura (MinC) foi criado em  15 de março de1985 pelo então presidente Tancredo Neves. No dia da sua posse, Tancredo foi internado, operado e não assumiu, sendo substituído pelo seu vice José Sarney.


O MinC, portanto, surgiu junto com a Nova República para atender aos anseios de artistas, intelectuais, professores, pensadores e produtores de arte e cultura que participaram da campanha das Diretas Já e da eleição indireta de Tancredo Neves, pondo fim a 21 anos de ditadura. O primeiro ministro da Cultura foi o então deputado José Aparecido que, de imediato nomeou um negro (Carlos Moura) e um índio (Cacique Marcos Terena) como assessores diretos. Foi seu primeiro ato.


O MinC se tornou a Casa da Cultura dos que queriam e desejavam pensar a cultura brasileira do ponto de vista simbólico, estrutural, econômico e artístico. Foi a partir da nomeação de Moura que surgiu a proposta de criação da Fundação Palmares para políticas públicas culturais afro-brasileiras. O ministro Aparecido não esquentou a cadeira, pois atendeu a um pedido do presidente Sarney e virou governador indireto de Brasília. No governo Sarney, passaram pelo MinC intelectuais do porte do economista Celso Furtado e do acadêmico e dicionarista Antônio Houaiss. Personalidades como Ziraldo, o poeta negro Adão Ventura, o historiador Angelo Oswaldo participaram e criaram o ministério.

No governo Collor, o MinC se apequenou. Em 12 de abril de 1990 foi transformado em Secretaria da Cultura, diretamente vinculada à Presidência da República. Essa situação foi revertida pouco mais de dois anos depois, já no governo do presidente Itamar Franco, quando foi criada a Lei Roaunet de incentivo à cultura.


Em 1999, no governo FHC, foram ampliados os recursos e a estrutura foi reorganizada. O ministro Francisco Werfort passou a aplicar a famosa Lei Roaunet captando recursos para projetos culturais. A lei atendeu e atende a produtores culturais do país, mas não consegue bancar com seus recursos direcionados a milhares de pequenos produtores. Esse gargalo ainda não foi resolvido.

Em 2003, o MinC passou a viver a chamada "Era Gil" da cultura brasileira. Ao ser convidado e nomeado para o ministério, o cantor e compositor tropicalista Gilberto Gil, resolveu atender ao chamado do presidente Lula que lhe disse: "vá lá e faça como você faz no palco". E Gil fez mesmo: montou uma equipe competente de "cabeças iluminadas" e saiu pelo Brasil dançando e cantando, anunciando as boas novas. No seu discurso de posse, falou em "do-in antropológico", que massagearia pontos vitais momentaneamente desprezados ou adormecidos do corpo cultural do País. O "do-in"  serviu para "avivar o velho e atiçar o novo", segundo o poeta e antropólogo Antônio Risério, criador da expressão.


O MinC passou a ter uma estrutura densa: uma Secretaria Executiva com três diretorias (Gestão Estratégica, Gestão Interna e Relações Internacionais), seis Representações Regionais (nos estados de MG, Pernambuco, Pará, RJ, Rio Grande do Sul e São Paulo; além de seis Secretarias: Fomento e Incentivo à Cultura, Políticas  CulturaisCidadania CulturalAudiovisualIdentidade e Diversidade Cultural e Articulação Institucional.


No governo Dilma o MinC perdeu a pulsação. O principal projeto da Era Gil – os Pontos de Cultura – não avançou. No meio do caminho, a presidente nomeou a cantora Ana de Hollanda, irmã do Chico Buarque. Recursos foram cortados e pouco foi feito.

Apesar de parte do movimento cultural ter se engajado no movimento "Não vai ter golpe", contra o impeachment da presidente, existia uma latente insatisfação de artistas, pensadores e produtores de arte e cultura com a performance do Minc nos governos Dilma. O ministério ficou à míngua e o governo devendo muito ao mundo da cultura.


Sabemos que a cultura brasileira tem pulsação própria e merece um tratamento de honra no topo da nossa existência planetária. Cultura deve ser tratada pelo seu simbolismo como parte fundamental da formação do nosso povo, dos seus costumes, da memória, da criatividade infinita da nossa gente. Vejamos o exemplo do samba e seu valor simbólico, até como produto de exportação.  A Cultura como encontro de raças e necessidade lúdica para enfrentarmos o dia-a-dia de nossas lutas, prazeres e sobrevivências. Cultura como ação social civilizatória. Mas que fique claro: não cabe ao Estado fazer Cultura, mas promover e apoiar o desenvolvimento da sociedade como direito básico da cidadania.


Assim, sem olhar atenciosamente para a cultura brasileira com o devido respeito que sua história merece, o novo governo tropeça na brasilidade. Não basta tão somente um ministério, pois mistério sempre há de pintar por aí. A questão é mais profunda: temos que valorizá-la no seu conjunto. Afinal, cultura não é somente a cereja do bolo, mas cesta básica também. Faltam cultura e mulheres no governo Temer.