É grave o estado de saúde do poeta e jornalista gaúcho Ariosto Teixeira.
Internado na UTI do hospital Santa Helena desde a última quarta-feira, dia 20, Ariosto voltou a ter parte do seu organismo infiltrado em função de uma profunda crise hepática.
Os médicos mantêm o poeta sedado e aguardam a reação natural de seu organismo para tomarem uma decisão em relação ao tipo de procedimento possível e necessário.
Amigos e parentes do nosso querido Tchê torcem e rezam para que ele ultrapasse mais esta crise.
Leiam agora, um dos últimos poemas escritos por Ariosto Teixeira e publicado no blog em outubro.
DISSOLUÇÃO, um soneto de Ariosto Teixeira
Ariosto Teixeira
O descontrole sobre o que acontece dentro,
Dá a um homem a idéia de desmanchar-se
A secura do osso em ácido corroendo-se,
Espuma dissolvendo-se na pia de lavar
Sente-se um demente a pedir esmola,
As mãos trêmulas, a mente em bruma,
Úlcera afogada em coca-cola
Saudade de si, melancolia e tontura
Do tempo emerge o aroma que abala
Até que percebe que tal fumaça
É só um erro que de si mesmo exala
Arma de destruição em massa
Um homem não sabe o que sente quando nasce
Mas sabe o que padece até que tudo passe
UM POETA A FLOR DA PELE
Por Luis Turiba
De vez em quando nos deparamos com um poema de sotaque diferenciado. Um desses "inutensílios" que surgem de repente para nos desnudar, quer pelos toques linguísticos da levada, ou pelas verdades intrínsicas contidas em suas mensagens. Poemas que, como diria Drummond, "falam alheiamente do sentimento do mundo".
Foi o que me aconteceu quando ouvi pela primeira vez, há três meses, o poema "O Niilista Medroso", do poeta Ariosto Teixeira, o nosso querido "Tchê".
Senti sua força no recital "PALAVRA SOLTA", um encontro de poetas que acontece (e continurá acontecendo, pois poetas precisam se encontrar para mostrar suas e outras peças), no CAFÉ MARTICINICA, na 103 Norte. Ali, Ariosto leu pela primeira vez seu poemão e, repórter que sou, fotografei o momento que compartilho agora com vocês neste blog.
O "Niilista Medroso" faz parte de produção de um novo livro de poemas em preparação e que deve ser lançado em 2010.Ariosto Teixeira publicou em 2006 "Poemas do Front Civil", RJ, Ed. 7 Letras, contos e poemas nas revistas brasilienses Bric-a-Brac e Há Vagas (anos 80), participou da antologia Poemas (1990), do Coletivo de Poetas do DF e "Candieiro", 1976, coletânea de contos de escritores gaúchos.
Jornalista e mestre em Ciência Política pela UNB, ex-colunista de O Estado de S. Paulo, é atualmente analista política da Factual/Broadcast, serviço de análise política em tempo real da Agência Estado. Em 2001 publicou o ensaio "Decisão Liminar: a judicialização da política no Brasil", Brasília, Ed. Plano.
<ariosto.teixeira@gmail.com>
Poeta fala sobre o "inverno nuclear" e outros medos
O NIILISTA MEDROSO
Ariosto Teixeira
Às vezes você se pergunta
Olhando o rosto no espelho
Se o reflexo é verdadeiro
Ou se a verdade é o corpo
Parado no meio do banheiro
Você acha que sabe bem o que é
Você acha que sabe bem o que quer
Você acha que sabe quem você é
Mas você sente medo
Medo de não ser você no espelho
Medo de ser mero reflexo
Do outro que consigo parece
Você não tem medo de sexo
Você gosta de sexo
Você sonha com sexo
Você procura fazer muito sexo
Sexo à distância
Sem beijo sem fluido
Higiênico e sem lirismo
Seguro como sexo com prostituta
Você de frente ela de costas
Ela por cima de costas
Você por baixo de costas deitado
É que você tem medo
Do ataque de um vírus complexo
Medo de gravidez
Medo de se apaixonar irremediavelmente
Medo de perder o controle
Medo de assumir o controle
Medo de que tudo enfim faça nexo
Você acende e apaga o cigarro
Com medo de pegar câncer de pulmão
Medo de apagar a luz
Medo de acender a luz
Medo de desligar o alarme
Medo de abrir o portão
Medo de ladrão policial pivete
Medo de colisão
De atropelamento
De ataque do coração
Medo de padre
Da certeza cristã absoluta
Da democracia liberal
Da esquerda latina
Medo da nova direita francesa
Medo do presidente americano
Medo da falta de medo do terrorista muçulmano
Medo de ser fragmentado por um raio da Al Qaeda
Medo da China capitalista
De milho transgênico
De buraco negro
De carne vermelha
Medo da falta de limite da física quântica
Do aquecimento global
Da inteligência artificial
De velocidade acima do permitido
De remédio de quinta geração
Da globalização
Do fim da globalização
Da falta de sentido
Medo de que Deus provavelmente não exista
De não haver outra vida
Você tem medo de ficar sozinho
Sem ninguém nem final feliz
Ah mas você confia no amor
O terno e doce amor
Do homem pela mulher
Do homem por outro homem
Da mulher por outra mulher
Do homem pelos animais
Da humanidade pela natureza
Você confia no amor das criancinhas
Você pensa nessas coisas
E por um instante
Acha que nada está perdido
Que o amor salvará o mundo
O amor romântico como no cinema
Como em um soneto de Shakespeare
Apesar da podridão no reino terrestre
Mas quanto tempo dura o amor
Antes de se dissolver em tédio
15 minutos uma tarde inteira uma noitada?
Você odeia sentir isso assim tão sentimentalmente
Mas é impossível ser de outro modo
É preciso agarrar-se a algo
Não ter medo de que o vazio
Tenha se espalhado em todos os quadrantes
O fato indiscutível é que você tem medo
Medo muito medo
De ficar vivo durante o inverno nuclear
Você principalmente tem medo
Do que um dia vai fazer
Quando ao anoitecer
O seu rosto tiver desaparecido do espelho do banheiro
Um comentário:
força a esse grande homem...
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