segunda-feira, 29 de março de 2010

O FUTURO DA LÍNGUA E A INTERNET

Edson Cruz (camisa azul à esquerda), autor do livro "O Que é Poesia?" jantou com outros poetas e foi partícipe ativo da Conferência Internacional sobre o Futuro da Língua Portuguesa promovido pelo Itamaraty no último fim de semana em Brasília

 
Por Edson  Cruz
 
Não há dúvidas de que vivenciamos um momento único. Para o bem e para o mal. Novas necessidades, novas atitudes e novos fazeres geram novos conceitos, novas palavras, novas relações com a língua falada e escrita e, no limite, devem mudar nossa maneira de encarar o mundo e a vida.
 
O filósofo Pierre Lévy cunhou a palavra-conceito cibercultura que já contaminou nossa maneira de pensar, falar, criar e de nos relacionar. No centro deste conceito está, a meu ver, a não linearidade proposta pelos hipertextos, a comunicação flexível e de mão dupla onde não há mais uma hierarquização visível do produtor de sentido e nem um topos delimitado.
 
Transitamos da galáxia de Gutemberg para a galáxia da Internet, com todos os seus agregados e desdobramentos possíveis. E a língua já está em contaminação. O futuro da língua portuguesa depende, então, de uma presença mais concreta e consciente neste universo da tecnologia da informação.
 
Até o chamado "letramento", considerado como um conjunto de práticas sociais que usam a escrita, enquanto sistema simbólico e enquanto tecnologia, está se readequando e, não há dúvidas, com conseqüências para a sociedade e para a língua que irmana tal sociedade.
 
Não há como fechar os olhos ou simplesmente dizer que se escreve mal e rapidamente pela Internet. Que o inglês está contaminando a escrita utilizada na web. Que se como a grafia das palavras entre os mais jovens, etc. A preguiça e o conservadorismo têm que ser deixados de lado.
 
Nunca se escreveu e se leu tanto quanto nestas últimas décadas. Tantos emails trocados. Tantos blogues criados e abandonados e mais tantos sendo criados neste exato instante. Internet mais acessível.

Computadores sendo vendidos a prazo pelas Casas Bahia. E, me parece, que nunca se produziu tantos textos literários, ou pretensamente literários, Ou, pelos menos, nunca se tornou tão visível a produção dos mesmos.
 
 
Não é necessário ser um especialista em lingüística, nem concordar com as idéias do lingüista americano Steven Fischer, para perceber que a língua é viva e dinâmica e se transforma com ou sem o nosso olhar diacrônico.
 
Segundo Fischer, em mais ou menos 300 anos, nosso querido português brasileiro se transformará em uma espécie de portunhol. Talvez o "portunhol selvagem" já apregoado e bem utilizado pelo nosso "poeta de fronteiras", Douglas Diegues.
 
Mas o futuro é incerto. Certo, apenas, é o presente. E o que fazemos dele. Há pouco tempo, ninguém apostaria na influência mundial da Internet. E mesmo atualmente, com a mundialização, ou globalização, quem poderia prever a emergência de regionalismos e nacionalismo incentivados pela própria Internet?
 
Temos – nós escritores, editores, professores e amantes da língua – que correr. No mês passado, a gigante editorial americana Simon & Schuster ditou novas regras para seus escritores. E quais são elas? Abrir um blogue. Criar uma página no Facebook. Gerar conteúdo em redes sociais literárias. Enfim, interagir. Sair dos escritórios empoeirados ou da redoma criativa.
 
A língua exige o mesmo de nós. Que interfiramos no processo. Que escrevamos bem em nossos emails. Que atualizemos constantemente nossos sites e blogues e chats e hot-sites e demais sítios que pudermos.Que escrevamos muito caracteres, sim. Nada de se curvar a rapidez, as poucas palavras, ao pensamento de que o outro não lerá um texto mais denso. Usemos o Skype. Criemos Podcasts. Deixemos nossa voz reverberar no ciberespaço. Cravemos nossa bandeira lusófona lá.
 
E no sétimo dia, Deus observando sua criação regozijou-se. No oitavo, o Google chegou e apoderou-se de tudo.
 

Nenhum comentário: