O homem-enceradeira e a abundância de Iemanjá
Luis Turiba
O réveillon de Copacabana, cujo foguetório este ano durou exatos 16 minutos, é evento atemporal extraordinário porque está montado em cima de uma combinação transcendental de explosões sensoriais, onde nós, humanos vestidos de branco e taça de champanhe à mão, somos parte explícita da engrenagem da pirotecnia emocional.
Quando menos imaginamos, estamos ali envolvidos no tubo lisérgico participando com nossa energia de bem-estar, solidariedade e busca de esperança, paz e amor. Na festa, ninguém fica passivo. Os fogos pipocam e pipocamos juntos com o balé de luzes e sons. Gritamos, vibramos, cantamos, choramos, abraçamos nossa turma e a turma do lado, pulamos sete ondinhas com aquele ceuzão piscando imagens desenhadas a fogo e desfeitas a lágrimas.
Sim, tudo tudo tudo vai dá pé. Dois milhões de pessoas na mesma sintonia de Iemanjá. Segundo Darcy Ribeiro, "o crioléu carioca foi capaz de aposentar Papai Noel e colocar no quadro uma deusa grega. É preciso ser grego, de talento e de tesão, pra inventar Iemanjá, uma deusa que fode. A mãe de Deus faz amor – é uma idéia incrível."
Disse o mestre antropólogo certa vez com sabedoria: "dos milhões que vão à praia, do dia 31 para o dia primeiro, passar o ano na praia, molhando os pés na água do mar, ninguém vai pedir pra Iemanjá acabar com um câncer ou com AIDS – vai pedir pro marido não bater tanto, vai pedir uma amante mais gostosa, um namorado dos bons. Isso é de uma beleza incrível."
Como a festa em Copa começa 24 horas antes e só termina no dia seguinte, pude testemunhar uma cena afetiva digna de um filme de Darcy Ribeiro sobre a deusa Iemanjá. Aliás, a melhor e mais amorosa passagem que nossos olhos assistiram esse ano.
Um casal de brasileiros - ele, negro, alto, meia idade, muito parecido com Gandhy; ela, branca, baixa, rechonchuda – caminhava tranquilamente à beira-mar. Repentinamente param. Ele enche as duas mãos de filtro solar e, com gosto, começa a passar o óleo pelo corpo dela. Tudo naturalmente, ambos em pé. Ao chegar ao bumbum, o nosso herói não mediu esforços para alcançar todos os seus recônditos, côncavos e convexos. Com as duas mãos em movimentos circulares, deu um trato às desenvoltas nádegas de sua dama como se fosse, ele, uma verdadeira enceradeira humana.
Quase foi aplaudido. Darcy gostou, Iemanjá sorriu. Feliz 2012.
2 comentários:
Saldanha para mim
mostrar detalhes 18:32 (22 horas atrás)
Turiba, teu artigo de reveillon belíssimo... e a foto deslumbrante... Vocé precisa guardar a foto pro teu proximo livro, logicamente pra contra-capa (o bundáo da Madame do Mestre Encerador é contra-capa de Tratado de Astrologia... a Harmonia das Esferas...) nosso saudoso Darcy já virou Orixá... Pra vocé e tua Turminha de Casa tudo de bom em 2012. <<< (náo perca o nr.jan.Piauí...) <<< Abbrazzzoni mille <<<< Zuca
zzzzzzucazzzzzz
ECLIPSE // Só no eclipse / a Lua dá pro Sol... / Mas trepa por cima. //
PROCISSÁO // Se a santinha / cair do andor / o corcunda / apara na corcova . //
SOGRA // Quem quiser conhecer / a sogra / examine o poleiro / do papagaio . //
zzzzzzzzzzzzzzz
ZUKA KERIDO
Magistrais haicais
Uns com açúcar
Outros com sais
Turibais
Postar um comentário