Foto de Katja Schilirò, do Clube de Engenharia
De repente tudo tremeu. Um violento estrondo tirou milhares de
moradores de Copacabana daquele sono gostoso de uma tarde pós-praia.
Quem estava na rua procurou abrigo. Acordei assustado, mas logo voltei
a adormecer. Não durou muito e todos os moradores do bairro mais
popular do Rio começaram a ouvir sirenes histéricas e sobrevôos de
helicópteros como se estivessemos numa cena de um filme sobre Vietnam.
Logo a absurda notícia veio a público: um bueiro explodiu na Rua
Bolívar, a quatro quarteirões de onde estávamos hospedados. Isso há
quase dois anos. Não havia sido o primeiro nem o último "buuummm!!"
dos perigosos bueiros. Cada estouro com suas histórias, suas vítimas,
seus mortos, seus prejuízos.
De qualquer maneira, era um zumbido diferente para o cotidiano dos
cariocas, esse povo que inventou a batida do samba com suas bossas e
marcações. Antes, os ouvidos até já estavam acostumados aos
estampidos dos tiros de trintoitões, fuzis e metralhadoras na guerra
pelo domínio do tráfico de drogas nas favelas. O Rio de Janeiro
conviveu muitos anos com esse bang-bang urbano e chegou mesmo a
incorporar e banalizar o ratatatá das metrancas na convivência social
da cidade, via letras de funks.
Mas finalmente – ufa! –, vieram as UPPs e com elas aquele velho sonho
de paz e bons sons nas comunidades. Paz sim, mas barulhos de novas e
venenosas explosões começaram a acontecer de maneira surpreendente. Um
restaurante foi aos ares na Praça Tiradentes por excesso de gás e
falta de fiscalização. Um bondinho de Santa Teresa descarrilou por
corrupção comprovada e falta de fiscalização. Barcas ficaram à deriva
na Baía da Guanabara, pedras rolaram em cima de túneis.
Foi na sequência dessa ensurdecedora escalada de barulhos e explosões,
que o (quase) impossível aconteceu. E cá entre nós,nenhum roteirista
alucinado teria a ousadia de pensar em auto-implodir três prédios ao
mesmo tempo no coração do centro da cidade para um filme de horrores.
Assim, sem mais nem menos, outro e tenebroso barulho e tudo vem abaixo
como um castelo de cartas produzindo mortes e milagres. O Theatro
Municipal, patrimônio histórico, arquitetônico e cultural do Rio,
escapou por um dedo mindinho.
Agora estamos todos nos sentindo ameaçados. Ninguém é surdo. Nós,
cariocas. E nós, não cariocas mas habitantes do planeta Terra. Aliás,
todos que amam tanto o Rio de Janeiro e desejam curtir suas praias e
seu carnaval como turista. Também os que querem debater a
sustentabilidade planetária na Rio+20; e torcer por nossos países na
Copa de 2014 e nas Olimpíadas de 2016.
Não há outro caminho para a cidade: ou restaura-se a confiança
imediatamente ( e nisso, todos somos responsáveis: governos, Clube de
Engenharia, Crea, síndicos, etc) ou ficará impossível viver aqui livremente com
barulhos como o do desabamento do edifício Liberdade.
domingo, 29 de janeiro de 2012
DURMA-SE COM UM BARULHO DESSES
Luis Turiba
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