domingo, 29 de janeiro de 2012

DURMA-SE COM UM BARULHO DESSES

Luis Turiba


Foto de Katja Schilirò, do Clube de Engenharia

De repente tudo tremeu. Um violento estrondo tirou milhares de
moradores de Copacabana daquele sono gostoso de uma tarde pós-praia.
Quem estava na rua procurou abrigo. Acordei assustado, mas logo voltei
a adormecer. Não durou muito e todos os moradores do bairro mais
popular do Rio começaram a ouvir sirenes histéricas e sobrevôos de
helicópteros como se estivessemos numa cena de um filme sobre Vietnam.
Logo a absurda notícia veio a público: um bueiro explodiu na Rua
Bolívar, a quatro quarteirões de onde estávamos hospedados. Isso há
quase dois anos. Não havia sido o primeiro nem o último "buuummm!!"
dos perigosos bueiros. Cada estouro com suas histórias, suas vítimas,
seus mortos, seus prejuízos.
De qualquer maneira, era um zumbido diferente para o cotidiano dos
cariocas, esse povo que inventou a batida do samba com suas bossas e
marcações. Antes, os ouvidos até já estavam acostumados aos
estampidos dos tiros de trintoitões, fuzis e metralhadoras na guerra
pelo domínio do tráfico de drogas nas favelas. O Rio de Janeiro
conviveu muitos anos com esse bang-bang urbano e chegou mesmo a
incorporar e banalizar o ratatatá das metrancas na convivência social
da cidade, via letras de funks.
Mas finalmente – ufa! –, vieram as UPPs e com elas aquele velho sonho
de paz e bons sons nas comunidades. Paz sim, mas barulhos de novas e
venenosas explosões começaram a acontecer de maneira surpreendente. Um
restaurante foi aos ares na Praça Tiradentes por excesso de gás e
falta de fiscalização. Um bondinho de Santa Teresa descarrilou por
corrupção comprovada e falta de fiscalização. Barcas ficaram à deriva
na Baía da Guanabara, pedras rolaram em cima de túneis.
Foi na sequência dessa ensurdecedora escalada de barulhos e explosões,
que o (quase) impossível aconteceu. E cá entre nós,nenhum roteirista
alucinado teria a ousadia de pensar em auto-implodir três prédios ao
mesmo tempo no coração do centro da cidade para um filme de horrores.
Assim, sem mais nem menos, outro e tenebroso barulho e tudo vem abaixo
como um castelo de cartas produzindo mortes e milagres. O Theatro
Municipal, patrimônio histórico, arquitetônico e cultural do Rio,
escapou por um dedo mindinho.
Agora estamos todos nos sentindo ameaçados. Ninguém é surdo. Nós,
cariocas. E nós, não cariocas mas habitantes do planeta Terra. Aliás,
todos que amam tanto o Rio de Janeiro e desejam curtir suas praias e
seu carnaval como turista. Também os que querem debater a
sustentabilidade planetária na Rio+20; e torcer por nossos países na
Copa de 2014 e nas Olimpíadas de 2016.
Não há outro caminho para a cidade: ou restaura-se a confiança
imediatamente ( e nisso, todos somos responsáveis: governos, Clube de
Engenharia, Crea, síndicos, etc) ou ficará impossível viver aqui livremente com
barulhos como o do desabamento do edifício Liberdade.

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