Por Romário Schettino, jornalista, é vice-presidente do Conselho de
Cultura do DF
Como acontece todos os anos, as redes de televisão mostraram
profissionalismo e competência na cobertura das celebrações do
Réveillon de 2012 que ocorreram em vários pontos do Brasil. As festas
e as queimas de fogos de artifício foram as grandes atrações da noite
de 31 de dezembro em cidades como Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador,
Curitiba, Fortaleza. Enquanto isso, a Capital da República foi
relegada a segundo plano. As notícias que saíam de Brasília
referiam-se ao movimento no aeroporto e nas estradas que daqui partem.
O espetáculo da Esplanada dos Ministérios não passou, mais uma vez, de
atração "local". Alguns jornais televisivos mostraram a beleza da
festa, mas o entusiasmo não estava focado aqui.
Vale a pena se perguntar o motivo para o desinteresse dos grandes
meios de comunicação. Seria porque a curta história de Brasília não
lhe garante destaque no cenário artístico-cultural? Ou a política (e,
sobretudo, os seus escândalos) sufoca qualquer outra manifestação
desenvolvida no Distrito Federal? Ou falta maior empenho por parte de
artistas e empresários para que a arte brasiliense ressoe pelo País?
É quase certo que as três perguntas anteriores mereçam a resposta
"sim". Mas se esta mesma cidade se prepara para receber a Copa do
Mundo de 2014, é possível propor que o empenho para evento de tão
grande monta possa ser útil também para que Brasília mostre a cara que
tem no campo das artes. Ou, ainda, que o legado da Copa para a cultura
local seja o centro das atenções.
A imprensa já informa que a capital do Brasil ganhará projeção
internacional com o Mundial. Não só isso: De acordo com os cálculos do
Sebrae, serão criados quase 60 mil postos de trabalho, com negócios
que girarão em torno de R$ 1,6 bilhão. Muito dinheiro? Sim. Mais R$
1,7 bilhão irão para a criação de infraestrutura. Isso significa que,
à semelhança de outras cidades que já foram sedes da Copa, Brasília
passará por uma remodelação completa, com melhorias de peso no
aeroporto, no comércio, no turismo, hotéis, bares e restaurantes.
Novas empresas surgirão. E é aí que a cultura brasiliense entra, com
poder para ser parceiro importante.
Se, conforme o prometido, Brasília chega a ter 2.268 novos quartos de
hotéis em 2014 e estiver pronta para receber os turistas, é importante
lembrar que alguns dos principais destinos turísticos brasileiros (Rio
de Janeiro, São Paulo, Salvador, Recife, Fortaleza, entre outros) têm
como atração além da natureza, suas produções culturais. Ora, quem vai
a Salvador sabe que não irá somente à praia nem se contentará apenas
em comer vatapá e acarajé: irá também ao teatro, que tem suas salas
sempre muito bem frequentadas. O mesmo para Rio e Fortaleza.
O secretário de Cultura do DF, Hamilton Pereira afirmou que o governo
Agnelo Queiroz "deve ser entendido (...) como um governo de
reconstrução". E, especificamente sobre cultura, enfatizou que o
"Fundo de Apoio à Cultura (FAC) adquiriu centralidade como instrumento
de fomento das políticas públicas de cultura. Segundo ele, a
democratização do acesso aos recursos públicos e a descentralização de
sua aplicação "significa definir a votação do FAC como ferramenta
indispensável ao desenvolvimento da economia da cultura no DF". O FAC
investiu R$ 35 milhões, por meio de editais, para apoiar iniciativas
culturais nas 30 Administrações Regionais.
A aprovação da lei de incentivos fiscais para a cultura, a ser enviada
pelo Executivo à Câmara Legislativa, será outro instrumento capaz de
alavancar o patrocínio e o investimento na produção cultural local.
Eis, portanto, a chance de se unir o útil ao agradável. O DF está
sendo reconstruído? A cultura é uma das metas? Aproveitemos, então, a
vinda dos jogadores de futebol, e a reestruturação que isso exige,
para lembrar a todos que a produção cultural gera empregos, movimento
dinheiro, forma profissionais e, sobretudo, colabora, de maneira
fundamental, para criar o perfil e a personalidade de uma cidade.
Algumas produções da cidade têm aprendido que divulgar seus eventos em
hotéis e pontos turísticos contribui para encher as salas de
espetáculo. Mas essa mudança de perspectiva deve ser também política e
empresarial, para que os artistas e a população passem a ver melhores
dias. Afinal, não serão beneficiados apenas a classe artística e o
público. Os senhores da política e os donos do dinheiro também têm
muito a ganhar.
Ou a gente se Raoni
Ou a gente se Sting
Luis Turiba
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