quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

CARTÃO POSTAL RASGADO

Cartão postal

José Roberto da Silba

Se os flagelados pelas inundações chocam a alma nacional,
que dirá a queda de prédios quase centenários bem no epicentro carioca
- a Cinelândia e seu entorno de monumentos arquitetônicos e o chopp do
"Amarelinho"?
Estados e Prefeituras dilapidam subsídios federais (FPE e
FPM) e royalties do petróleo em estádios e shows mastodônticos, mas
não conseguem fiscalizar obras clandestinas em áreas urbanas
deterioradas nem realocar cidadãos pobres como os moradores expulsos
de Pinheirinho. É o caso do Rio: em 447 anos de vida não realizou uma
"revolução urbana" como São Paulo, por sua vez festejando 458 anos com
ovos sobre o prefeito liberal que "optou".
É a maldição dos tempos atuais – o lulopetismo e a "visão
de mundo" de uma república do R$1,99 - a fúria de transformar
problemas reais em escapismo, como um eterno carnaval de 365 dias e
fantasias de papel colorido que se desmancham nas águas de março.
Não se cuida bem do velho, tombado ou não. Não há dinheiro
para investir no novo porque a espoliação fiscal e a malandragem
chegaram ao limite – a taxa de poupança nacional mal chega aos 17%. A
União está abarrotada pelo aparelhamento político a ponto da recente
reunião ministerial assemelhar-se a piquenique de estudantes de
intercâmbio que nem se conheciam antes.
As obras de contenção das enchentes restam no papel. A
"central de crise" - anunciada com bravura no início de 2011 sob o
comando do ministro Mercadante - foi para "inglês ver". A transposição
do São Francisco, redenção da lavoura, estiola em obras paralisadas. O
monopólio dos supermercados economiza uma baba com a cassação das
sacolinhas e espeta o custo da embalagem no consumidor. A "nossa"
Petrobrás deteriora nas Bolsas e o PAC continua empacado, mas a Apex
patrocina o porre final em Davos com R$5 milhões.
Todavia, nem tudo são lágrimas no campo da cidadania.
Coerente, Dilma, autorizou a entrada de Yoani Sánchez em nosso
território democrático. O problema de ambas, contudo, é "sair" – a
jornalista, da humilhada pátria cubana sob o tacão autoritário; a
Presidente, do enevoado jogo político que sabota a ação de seu
governo.


in Jornal de Brasília - 29 janeiro 2012 - reprodução livre, citado o autor.

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