quarta-feira, 28 de agosto de 2013

TARIK CITA A POÉTICA MACABRA DE FERNANDO PELLON

fErnando pELLon

AçO FriO De um punhAl

inDepenDenTe

Entre a poesia macabra de Augusto dos Anjos e a música lancinante de Rogério Skylab

("No Cemitério", "Funérea"), Vicente Celestino ("Matei", "Romance Da Ceguinha") e Nelson Cavaquinho ("Depois Da Vida", "Quando Eu Me Chamar Saudade"), um geólogo encesta seus sambas, valsas, tangos e canções, tangenciando o grotesco e desafiando
o bom-mocismo da MPB. Oriundo do coletivo Malta D'Areia, Pellon estreou em 1983, no disco
Cadáver Pega Fogo Durante O Velório. Quase 30 anos depois, este Aço... prefaciado por Aldir Blanc corta fundo em "Rigidez Cadavérica", "Crime Hediondo", "Último Degrau" e "Jardim Da Saudade": "Você se espanta comigo/ só porque comprei a prazo um jazigo/ para a sua eternidade".
 

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Fwd: Ninjas Orlando Senna

EXTRAFINO

ORLANDO SENNA

A mídia industrial, corporativa, conhecida no Brasil como "grande mídia", sempre conviveu com uma "mídia independente". Na história do jornalismo impresso nos países do Ocidente e em alguns do Oriente está presente o que chamávamos de "imprensa nanica", pequenos jornais e revistas com linha editorial fluindo na contramão da comunicação de massa. Com o advento da digitalização, das redes sociais, da blogosfera as manifestações midiáticas antes tidas como nanicas, como coisa pequena, passaram a competir em audiência e importância social com a comunicação corporativa. Em inglês esse movimento, cuja essência é a informação produzida pelo cidadão e distribuida diretamente no ciberespaço, foi batizada CrowdMedia, ou seja, a mídia das multidões, da massa popular.

A partir das grandes manifestações públicas recentes, a mídia independente ou mídia livre ou nova mídia organizou-se em pequenos grupos de cidadãos, os "coletivos jornalísticos", alcançou uma enorme popularidade e está repercutindo forte na grande mídia, que agora refere-se a si mesma como "mídia tradicional". Um dos coletivos brasileiros, a Mídia Ninja, é entrevistado em grandes programas nacionais de TV, discutido nos jornalões e "saiu no New York Times", como diria Henfil. E também no Wall Street JournalThe Guardian, El País e em todas as agências de notícias.

Interessante é que a definição clássica de ninja é "agente especializado em artes de guerra não ortodoxas". No caso da Mídia Ninja também é a sigla de Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação. É um grupo colaborativo com 50 integrantes, milhares de participantes espalhados por toda parte e apoio financeiro da rede de coletivos Fora do Eixo (neste momento está lançando uma campanha de doações públicas, quem quiser doa o que puder). A essa cultura colaborativa soma-se uma produção jornalística audiovisual com linguagem e atitude novas, ousadas e sedutoras: o fato visto por dentro, por quem participa dele, com a câmera fixada na orelha ou na testa.

A ex-grande mídia, agora mídia tradicional, teve uma reação dupla: além de repercutir as ações da Mídia Ninja e de outros coletivos, também se posicionou com relação à novidade. A resposta geral é que esses coletivos não são jornalísticos porque não têm isenção, não são neutros diante dos fatos, informam a partir do seu próprio ponto de vista, de sua militância. Ou seja, a mesma acusação que os independentes fazem à mídia corporativa, e que também é a razão do surgimento dos ninjas da comunicação. Mas há também uma sensação de ameaça, de coisa nova demais ou estranha demais rondando as redações e estúdios das grandes corporações e que foi muito bem expressada por Cora Rónai em artigo no jornal O Globo (Mídia Ninja, 8/8/2013): "ainda não inventaram, e eu espero que não inventem nunca, uma emissora capaz de estar em todos os lugares ao mesmo tempo". É, pode até causar arrepio. Mas é o que vai acontecer. 


sexta-feira, 2 de agosto de 2013

ONDE ESTÁ AMARILDO?

DESAPARECIDO
Luis Turiba

enquanto o Amarildo não aparecer
(mesmo os seus restos mortais)
por mais vivos que estejam
também serei um desaparecido
desta vida de merda e medo
desaparecido de vergonha
de nojo tristeza e vômito 
entre o gás lacrimogêneo
tiros de borracha e eletricidade 
e jatos de spray de pimenta
sem carteira de identidade
bolsa família ou título de eleitor
Amarildo sumiu nas mãos de
quem deveria tê-lo protegido
contra as covas dos leões famintos
sumido, o pedreiro é uma pedra viva
no calcanhar de beltranos e sicranos
Aparecido, é prova contra os bandidos
do tráfico do trâmite da repressão 
bruta e descabida. Onde está Amarildo? 
enquanto não aparecer, também eu,
(vândalo vadio viado vagabundo)
serei um desaparecido do Estado 
des... aparecido