sexta-feira, 18 de julho de 2014

Fwd: Orlando Senna - O Brics e as telas

O Brics e as telas

Por volta do ano 2000 os quatro países mais emergentes do mundo iniciaram reuniões com o propósito de acelerar conjuntamente o crescimento de suas economias, através de uma série de acordos comerciais e de cooperação. Não se apresentaram como um bloco econômico, no sentido corriqueiro desse conceito, nem foram considerados inicialmente como tal, tanto que nunca tiveram um nome ou uma sigla oficial, como União Européia, Nafta, Mercosul. Ganhou, como apelido inventado pelo economista Jim O´Neil, do banco Goldman Sachs, a palavra Brics, iniciais dos países participantes, Brasil, Rússia, Índia, China. Em 2011 a África do Sul passou a integrá-lo, conformando uma associação que abriga 40% da humanidade (3 bilhões de habitantes) e tem 21% do PIB global. Um PIB superior ao dos EUA e da União Européia.

Durante esta semana o Brics realizou sua sexta Conferência de Cúpula no Brasil e tomou as mais importantes decisões de sua curta história: a criação de um banco próprio e poderoso, o Novo Banco de Desenvolvimento-NBD, capital inicial de 50 bilhões de dólares e projetos de infraestrutura (maior que o Banco Mundial), e um fundo anticrise, o Arranjo Contingente de Reserva, com caixa inicial de 100 bilhões de dólares e destinado a blindar os países associados das intempéries da economia global, geradas pela gestão atropelada dos dinheiros do mundo pelo FMI e Banco Mundial. Sem papas na língua, os mandatários do Brics anunciaram um esforço conjunto e expansivo para a reforma e a "democratização" do FMI.

Os EUA e Europa nunca gostaram da iniciativa dos grandes países emergentes, trabalharam duro para impedi-la mas, diante da determinação deles, e agora das ações decididas no Brasil, o gostar ou não gostar perdeu o sentido, a relação com o tema passou a outro patamar. Em uma linha entre o ponto de vista e o horizonte o que se desenha é um bloco econômico/cooperativo/cultural capaz de assumir a liderança planetária a médio prazo, com um mercado produtor e consumidor que pode deixar na poeira o poder imperial (já bastante ferido e debilitado) dos EUA. Essa mudança progressiva do eixo econômico, e consequentemente cultural, do mundo ainda vai gerar muitos entreveros entre os caubóis do Tio Sam e a turba de cossacos, cangaceiros, shaolins, gurus e zulus dos Brics. Na minha modesta opinião, a segunda metade do século XXI será bem diferente da primeira, os indícios apontam que e a humanidade iniciará uma nova etapa da sua história.

Nesse contexto, o tema que ainda não apareceu publicamente é o das comunicações e das indústrias culturais, aspecto determinante para uma nova era global. Em quatro palavras, um Mercado Comum Audiovisual Brics. Não constou de nenhuma pauta anunciada porque se trata do mais delicado dos temas a ser trabalhado pelo Brics, o enfrentamento maior com os EUA. A ausência na pauta pública não significa que, internamente, a matéria não esteja sendo tratada, no ritmo lento mas cadenciado do avanço Brics. Desde o primeiro governo Lula algumas interfaces da comunicação e do audiovisual estão sendo abordados com Índia e China, em análises, projeções e prospecções para acordos de cooperação bi e multilaterais. 

Recentemente, a ideia desse mercado comum ecoou nos ouvidos de alguns ministros do governo Dilma, com a discreção exigida pelo caráter de atmosfera explosiva do assunto. Um mercado comum de produção e distribuição ancorado em três bilhões de consumidores internos e com fôlego para uma enorme difusão externa, transformando radicalmente o cenário cultural e informativo global. Quem viver, verá. 

Por Orlando Senna 


* Link para outros textos de Orlando Senna no Blog Refletor    http://refletor.tal.tv/tag/orlando-senna 


Nenhum comentário: