sexta-feira, 19 de setembro de 2014

CHAMPANHE OU CACHAÇA?

Por André Gustavo Stumpf, Jornal de Brasília


Ninguém ainda decifrou o enigma chamado Marina Silva. Nascida em um seringal no Acre, Amazônia Ocidental, alfabetizada na adolescência, dona de uma carreira política interessante, duas vezes senadora da República, ministra importante no governo Lula, tem história e vivência na política. Não é noviça, embora seja jovem aos 56 anos. Sobreviveu às dificuldades naturais de quem nasce no lugar errado. O interior do Acre não é fácil para ninguém.

Ela ultrapassou com dificuldades o bombardeio cerrado promovido pelo Partido dos Trabalhadores para defender a candidata Dilma Rousseff. Jogaram tantas bombas na adversária que elas também explodiram junto aos petistas. Dilma subiu pouco nas pesquisas de opinião. Marina conservou-se no seu segundo lugar. Aécio somou mais alguns pontos na tabulação dos institutos de pesquisa de opinião.

Modelo - O governo Dilma já mostrou a que veio. Se o PT continuar no poder vai repetir os mesmos erros, porque a visão da presidente, sobretudo na área econômico-financeira, já está declarada. Ela enxerga o mundo por intermédio de lentes dos anos setenta do século passado. Foi o período da chamada substituição de importações – que teve por objetivo trazer mais empresas para o Brasil, defender as existentes por intermédio de proteção tarifária e esquecer de dar qualidade e bom preço ao consumidor brasileiro. O modelo se inspira também no tripé iniciada, muito lá atrás, por Getúlio Vargas, que contempla, um banco de fomento, no caso o BNDES, incentivo a empresas nacionais e controle político dos sindicatos. Quem criou essa fórmula foi, na verdade, Benito Mussolini, na Itália.

Não haverá novidades no eventual segundo governo Dilma. Ela vai conservar a maneira autocrática de governar. Parece personagem adequada para viver numa atmosfera soviética. Burocracia e poder juntos. Tudo muito lento, descolado da realidade e imposto ao povo pela publicidade oficial. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, que se conservou íntegro e a salvo do aparelhamento ocorrido na Petrobras, mostrou que a desigualdade aumentou no país e o desemprego voltou a assombrar os trabalhadores. Especialistas dizem que a economia brasileira é como uma vaca a caminho do brejo. Vai chegar lá. Só depende da velocidade da vaca.

Deve ser por essa razão que a Bolsa de Valores brinca com os resultados das pesquisas de intenção de voto. Quando a candidata Dilma perde, as ações sobem de preço. Quando a petista melhora, as ações mergulham. Esse ente mítico chamado mercado, composto por investidores de todos os calibres, não confia na presidente da República. Empresários também não. O resultado é a falta de confiança no futuro, o sério problema da desindustrialização, custo Brasil em alta e, por último, inflação e desemprego. Nada disso aconteceu de uma semana para outra. Trata-se de um processo que ocorreu nos últimos dois ou três anos. Quem sustentou o contrário, perdeu. Até o otimista Guido Mantega, que tentou colorir o quadro cinza, perdeu o emprego. Foi demitido por antecipação.

Minas - Aécio Neves é o dono do projeto liberal do PSDB. Curioso é que o mineiro não conseguiu até agora falar diretamente para o eleitor. Ele foi tragado pelo denuncismo da campanha e se submeteu aos ditames do marketing eleitoral. Virou um candidato a procura do personagem. Os próprios mineiros não lhe estão concedendo vantagem esperada. Ele perde em Minas para Dilma Rousseff. Seu candidato, Pimenta da Veiga, está numa distância considerável do principal oponente, que é do PT. Aliás, em Minas é o único estado onde o Partido dos Trabalhadores pode ganhar a eleição para o governo. Perde em todo o país.

Marina continua a ser enigmática. Seu projeto de governo é um amontoado de propostas. Há para todos os gostos. Algumas pessoas à sua volta indicam tendências, mas ela não se mexeu até agora para indicar nenhum assessor ou conselheiro. É discretíssima e poucos a conhecem de perto. É reservada. Não permite brincadeiras, embora ao contrário da presidente Dilma, não seja grosseira. Trata-se de pessoa de bom trato. Tem sorte. Não tinha partido político. De repente, caiu em seu colo não apenas a legenda partidária, mas também uma candidatura pronta.

Restou o violento fogo de barragem promovido pelo marketing do Partido dos Trabalhadores. É bombardeio para destruir tudo que estiver vivo no território adversário. Além de manter o poder, os petistas que estão há doze anos no poder não querem retornar a vida de antes. Eles desfrutam das mordomias governamentais e dos bons empregos. Deixar de usufruir essa doce vida é difícil. Então vale tudo para se manter no poder e permanecer em posição de mando. O líder do MST já prometeu invasões todos os dias, todos os momentos, caso a presidente Dilma não seja reeleita.

O PT na oposição, depois de ter experimentado o gosto de exercer o poder, será ainda mais rancoroso. Vai ser uma oposição devastadora. Pior se a presidente for a Marina, que já foi do PT, integrou o ministério do ex-presidente Lula e não esconde suas desavenças pessoais com Dilma Rousseff. No fundo, é uma violenta briga das mulheres, cada uma com sua luta, sua vontade e sua fibra. Nenhuma das duas é ingênua. Até agora, no segundo turno Marina, leva. Mas nada indica que este é o cenário definitivo. O bombardeio não vai parar até que a última luz se apague no território inimigo seja destruído. É vida ou morte. Emprego ou desemprego. Champanhe ou cachaça.

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