EM QUEM VOTAR?
Luis Turiba
Uma lembra a Mônica, com aquele dentinho saliente e seu jeitão de gerente sempre mandona. E já avisou ao Cebolinha: "se for reeleita, você está fora". Refiro-me a presidente Dilma.
A outra, Marina, é quase um espelho oblíquo da Olívia Palito. Magrinha com seu corpo retilíneo quase curvo, andar cadenciado, estilo zen, voz em um tom abaixo. Ah...mas quando fala, dispara e emociona: parece que tomou uma boa porção de espinafre, daqueles de levantar Popaye.
Ambas, assim como as personagens dos desenhos infantis, estão no inconsciente coletivo do brasileiro. Aliás, estão também no consciente do aqui/agora, no sonho/delírio de um Brasil que ainda busca lugar de destaque na civilização moderna.
Duas mulheres, a mesma árvore. Dois destinos, um só cargo, o maior de todos, a presidência da República do Brasil, com seus 200 milhões de habitantes. Ambas filhas do governo Lula, para o bem ou para o mal.
Aqui é a terra do possível. Depois do sociólogo uspiano, do operário do ABC, da ex-presa política/torturada pelo Doi-Codi; a cortina política se abre para a seringueira de pele escura e negros cabelos de graúna.
A "Sra. da Silva", como a chamou o New York Times, mudou a história desse emocionante processo eleitoral. Dilma demorou a acordar do letárgico sono de quem dormia em berço esplendido a espera de mais quatro anos de mandato. Até que a luz vermelha piscou no partido da estrela.
Foi a morena Marina quem estonteou o acomodado mundo político brasileiro. Ao substituir Eduardo Campos criou novos cenários. Talvez, ela possa a ser reflexo silencioso das mobilizações de julho de 2013. Um dia, quem sabe, Dilma ainda lhe será grata.
Junto com a resiliência, veio a tática do medo e da distorção de fatos a qualquer preço. Estratégia antiga, surrada e burra, que já foi usada contra Lula em 2002 e não colou. Dá a impressão que o PT deseja ressuscitar a Regina Duarte, só que a seu favor. Ninguém pode ter medo da realidade, principalmente se deseja ser presidente de um país tão complexo e surpreendente como o Brasil. A realidade às vezes surta. Perder o poder deve ser realmente desesperador.
Ter uma mulher na presidência da República não é novo, pois Dilma é candidata à reeleição. O novo mesmo é a disputa entre essas duas mulheres, o que permite um olhar mais feminino sobre a nação, seus traumas, tramas e processos . Por isso, vivemos um momento realmente único tamanha a riqueza/encrenca que a vencedora terá pela frente. Até Aécio, que tenta respirar, já se deu conta desse quadro.
Como escreveu recentemente o poeta mineiro Ricardo Aleixo, está havendo "uma ilusão de ética". Acho até que ele não se referia ao contexto eleitoral, mas assumo o deslocamento.
A Petrobras, por exemplo, que já foi a joia da nossa coroa, virou ultimamente a Geni da recente história do Brasil. As denúncias do ex-diretor (e hoje delator premiado) Paulo Roberto começam a boiar e são de uma gravidade estratosférica.
E desta vez não adianta culpar a mídia golpista. Quem apura é a Polícia Federal, órgão acima de governos e partidos. Não se tampa o pré-sal com peneiras. A maior empresa do país não pode mesmo ser refém do jogo político e das conveniências partidárias. A Petrobras nesse jogo é o Brasil e nossas mulheres-candidatas precisam ter propostas claras para tirá-la (a Petrobras) do lamaçal de propinas e corrupção onde foi jogada.
Esse é um teste hercúleo para quem tem sua base política-parlamentar acusada de corrupta por um corrupto arrependido. É óbvio que tudo terá que ser checado e pré-checado, mas onde tem óleo tem petróleo. Dilma vai dizer que nada sabe, mas vive um novo inferno astral. De repente a sua Central de Boatos foi atingida por um míssil amigo.
É de Alfredo Sirkis a afirmação: "há uma campanha milionária desesperada usando a "técnica Goebells" (minta, minta e minta, sempre vai ficar alguma coisa): Marina vai acabar com o pré-sal, tomar os royalties do Rio, privatizar a Petrobras, é fundamentalista, contra os gays, e mais qualquer outro absurdo que ocorra aos ficcionistas de plantão." Com a delação de Paulo Roberto, o Paulinho, todos esses argumentos foram por terra.
Aliás, a esquerda brasileira vive um cego processo autofágico onde calúnias, mentiras e arrogâncias mascaram temas e debates essenciais para o Brasil dar um novo grande salto, depois da era FHC e de Lula. A Amazônia, por exemplo, está virando um canteiro de obras e o desmatamento voltou a subir este ano. E o governo permanece inerte. O debate político passará ainda por outros temas fundamentais como a reforma política, a reconstrução de uma Política Cultural digna; etc.
E outros mais que precisam ser aprofundados, como: modelos de matrizes energéticas, recursos hídricos, as grandes obras hidroelétricas, direitos humanos, racismo, fim da tortura, direitos LGBT, reforma educacional, direitos indígenas e dos povos da florestas e meio-ambiente. Temas que são absolutamente fundamentais para o nosso futuro.
Pois é isso: Marina e Dilma foram ministras do primeiro governo Lula. Vieram da mesma célula, do mesmo DNA, mas evoluíram de formas diferentes. A atual presidente significa uma opção séria pelo continuísmo da atual política econômica e social do PT; e pelo mando político – chamam também de "governabilidade "- da histórica turma do PT e do PMDB, com Renan, Sarney, Sérgio Cabral, Collor, Maluf, Garotinho e Lobão.
Marina chega como uma incógnita e não como um pacote fechado. Para os que buscam caminhos, saídas e soluções diferentes das que estão sendo apresentadas há 12 anos, para quem já se cansou da política de aparelhamento da companheirada; Marina pode mexer com estruturas dos podres poderes viciados pela eterna continuidade do só "nós que sabemos fazer." Gosto quando ela se compromete a convocar as melhores cabeças do país. Este sopro diferente nos traz certo alento e não medo, pois o Brasil é maior que tudo isso.
Uma nova alquimia se apresenta no país da antropofagia. Uma voz feminina se eleva numa política viciada em machos. Acusá-la por ser religiosa e/ou compará-la a Jânio Quadros e a Collor é raso, vazio e de uma tolice imensurável. Na verdade, um desrespeito à inteligência dos eleitores que somos nós, os verdadeiros patrões da mulher que comandará nossos destinos.
Um comentário:
Gostei da sua análise Turiba. É importante não enxergar marina como um pacote fechado e, ainda menos, como salvadora da pátria. de forma lúcida, a minha opção por marina passa sim pelo anseio do novo caminho da sustentabilidade e, principalmente, de um começo de moralização da máquina pública, pois para mudar a corrupção institucionalizada e melhorar a consciência do eleitor demorará, talvez e no mínimo, mais meio século. Alguém tem que ter coragem de começar. Por isso meu voto é na Marina. Reconheço os avanços sociais dos governo do PT, eles precisam ser mantidos e potencializados. Também espero isso da Marina, por sua sensibilidade e humanismo. Vamos ver onde vai dar! Abraços, meu poeta preferido!
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