ESQUECERAM O "POETINHA"
Faltou Vinícius de Moraes na festa Olímpica
Luis Turiba
Tá legal: todo mundo gostou, todo mundo babou. Foi bonita a festa pá. Carioca, brasileira, lusoafroameríndia, universal no país tropical. Demos até uma volta por cima do baixo astral e transformamos o Maracanã na praça da Apoteose onde dançamos todas as nossas diferenças. Mas minha nota não é deeeeezzz. Não pode ser deeeeezzz. "Tonga da mironga do Kabuletê" para quem bolou a pajelança pois, depois de tantas pesquisas, tantas cabeças e assembleias de neurônios por meses e meses a fio, acabaram, por mera bobeira, esquecendo de você Poetinha, justamente quando Gisele Bundchen desfilava o seu balançar para cinco milhões de terráqueos. Isso é sério: não existiria "Garota de Ipanema" sem Vinícius de Moraes. Mas na festa, o Tonzinho levou todas as glórias. A foto que apareceu como real autor da gloriosa canção foi a do maestro Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim. Tom musicou magistralmente um poema que descrevia uma menina "cheia de graça que vem e que passa a caminho do mar".
Os pesquisadores são unânimes: a letra foi escrita por Vinícius em 1962, em Petrópolis, e sua primeira versão chamava-se "Menina que passa". Depois, os dois se encontraram, e, finalmente, nasceu a canção por completo. O bar Veloso, hoje Garota de Ipanema, serviu como referência, pois era lá que eles esvaziavam suas "ampolas" numa mesinha de canto com vista para a calçada. A lenda garante que a canção (letra e música) foi fechada ali, ao ver a garota passar a caminho do mar.
O próprio poetinha, em histórico depoimento em1965, contou alguns bastidores da música que embalou a Bossa Nova: "Seu nome é Heloísa Eneida Menezes Paes Pinto, mas todos a chamam de Helô. Há três anos atrás ela passava ali no cruzamento de Montenegro e Prudente de Morais, em demanda da praia. No nosso posto de observação, no Veloso, enxugando nosso cervejinha, nós a achávamos demais. Tom e eu emudecíamos à sua vinda maravilhosa. O ar ficava mais volátil como para facilitar-lhe o divino balanço do andar. E lá ia ela todo linda, a garota de Ipanema, desenvolvendo no percurso a geometria espacial do seu balanceio quase samba, e cuja fórmula teria escapado ao próprio Einstein; seria preciso um Antonio Carlos Jobim para pedir ao piano, em grande e religiosa intimidade, a revelação do seu segredo. (...) Ela foi e é para nós o paradigma do bruto carioca; a moça dourada, misto de flor e sereia, cheia de luz e de graça, mas cuja visão é também triste, pois carrega consigo, a caminho do mar, o sentimento do que passa, da beleza que não é só nossa – é um dom da vida em seu lindo e melancólico fluir e refluir constante."
Um comentário:
Tem toda razão, Turiba. Vinicius foi meu padrinho de casamento em 1961 com Oscar Castro Neves - que conheci em Petrópolis, onde meu pai morava e o pai do Oscar tinha uma casa. A gente encontrava Vinicius em várias rodas, no Rio e em Petrópolis. Acho uma vergonha terem esquecido do Poetinha.
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