quinta-feira, 24 de julho de 2014

ESCOLA BOMBA

 

Luis Turiba

 

Quando se bombardeia uma escola

de pássaros em primeiros passos

- estilhaços de vidros, pó de fogo,

fumaça tóxica venal e ácida nos

corpos nos olhos de quem já não tem

lágrimas nos rostos plásticos –

mata-se mata-se mata-se mata-se

famílias Cristos todos micros organismos

que possam sobreviver em espíritos

desce-se ao inferno dos infernos quando

o pequeno neto do avô esquelético é

arremessado como tijolo oco nos

escombros dos horrores sem lei

sem lógica sem chance de retorno

da bola de fogo que jaz do ensino ao forno

entre o silêncio o silvo e o estampido

quando bombas arrasam escolas em Gaza

é cortado o cordão umbilical com o humano



sexta-feira, 18 de julho de 2014

Fwd: Orlando Senna - O Brics e as telas

O Brics e as telas

Por volta do ano 2000 os quatro países mais emergentes do mundo iniciaram reuniões com o propósito de acelerar conjuntamente o crescimento de suas economias, através de uma série de acordos comerciais e de cooperação. Não se apresentaram como um bloco econômico, no sentido corriqueiro desse conceito, nem foram considerados inicialmente como tal, tanto que nunca tiveram um nome ou uma sigla oficial, como União Européia, Nafta, Mercosul. Ganhou, como apelido inventado pelo economista Jim O´Neil, do banco Goldman Sachs, a palavra Brics, iniciais dos países participantes, Brasil, Rússia, Índia, China. Em 2011 a África do Sul passou a integrá-lo, conformando uma associação que abriga 40% da humanidade (3 bilhões de habitantes) e tem 21% do PIB global. Um PIB superior ao dos EUA e da União Européia.

Durante esta semana o Brics realizou sua sexta Conferência de Cúpula no Brasil e tomou as mais importantes decisões de sua curta história: a criação de um banco próprio e poderoso, o Novo Banco de Desenvolvimento-NBD, capital inicial de 50 bilhões de dólares e projetos de infraestrutura (maior que o Banco Mundial), e um fundo anticrise, o Arranjo Contingente de Reserva, com caixa inicial de 100 bilhões de dólares e destinado a blindar os países associados das intempéries da economia global, geradas pela gestão atropelada dos dinheiros do mundo pelo FMI e Banco Mundial. Sem papas na língua, os mandatários do Brics anunciaram um esforço conjunto e expansivo para a reforma e a "democratização" do FMI.

Os EUA e Europa nunca gostaram da iniciativa dos grandes países emergentes, trabalharam duro para impedi-la mas, diante da determinação deles, e agora das ações decididas no Brasil, o gostar ou não gostar perdeu o sentido, a relação com o tema passou a outro patamar. Em uma linha entre o ponto de vista e o horizonte o que se desenha é um bloco econômico/cooperativo/cultural capaz de assumir a liderança planetária a médio prazo, com um mercado produtor e consumidor que pode deixar na poeira o poder imperial (já bastante ferido e debilitado) dos EUA. Essa mudança progressiva do eixo econômico, e consequentemente cultural, do mundo ainda vai gerar muitos entreveros entre os caubóis do Tio Sam e a turba de cossacos, cangaceiros, shaolins, gurus e zulus dos Brics. Na minha modesta opinião, a segunda metade do século XXI será bem diferente da primeira, os indícios apontam que e a humanidade iniciará uma nova etapa da sua história.

Nesse contexto, o tema que ainda não apareceu publicamente é o das comunicações e das indústrias culturais, aspecto determinante para uma nova era global. Em quatro palavras, um Mercado Comum Audiovisual Brics. Não constou de nenhuma pauta anunciada porque se trata do mais delicado dos temas a ser trabalhado pelo Brics, o enfrentamento maior com os EUA. A ausência na pauta pública não significa que, internamente, a matéria não esteja sendo tratada, no ritmo lento mas cadenciado do avanço Brics. Desde o primeiro governo Lula algumas interfaces da comunicação e do audiovisual estão sendo abordados com Índia e China, em análises, projeções e prospecções para acordos de cooperação bi e multilaterais. 

Recentemente, a ideia desse mercado comum ecoou nos ouvidos de alguns ministros do governo Dilma, com a discreção exigida pelo caráter de atmosfera explosiva do assunto. Um mercado comum de produção e distribuição ancorado em três bilhões de consumidores internos e com fôlego para uma enorme difusão externa, transformando radicalmente o cenário cultural e informativo global. Quem viver, verá. 

Por Orlando Senna 


* Link para outros textos de Orlando Senna no Blog Refletor    http://refletor.tal.tv/tag/orlando-senna 


segunda-feira, 14 de julho de 2014

SE PIORAR, MELHORA

NEM TUDO ESTÁ PERDIDO.....

...e se Pelé fosse argentino?
...e se Podolski tivesse um hostel no Vidigal?
...e se Toninho Cerezo não errasse aquele passe contra a Itália?
...e se o Sol amarelasse em Cabrália?
...e se o Maracanã desabasse como um viaduto?
...e se Maradona montasse uma boca no Alemão?
...e se o Felipão fosse candidato à presidência?
...e se o apagão fosse uma explosão nuclear?
...e se a crônica esportiva tomasse um lexotan?
...e se o David Luiz tivesse a careca do Robben?
...e se não tivesse Copa?

quinta-feira, 10 de julho de 2014

BRASIL NA COPA

RESPEITEM A AMARELINHA


Luis Turiba

Caro amigo Rudolfo Lago: console-se, não chore, não se culpe. Mesmo que o mundo não passe da próxima guerra e outra civilização venha habitar a Terra, jamais esqueceremos o estranho apagão da seleção brasileira que nos tirou o sonho do hexa.

Imagens fortes marcam nossas vidas. Me lembro (e cada um de nós, também) quando assistimos pela televisão a transmissão direto os ataques terroristas às Torres Gêmeas de NY em 11 de setembro de 2001.

Foi com a mesma sensação de perplexidade no olhar que vivi os quase 10 minutos dos cinco gols seguidos da Alemanha. A certa altura me pareceu repetições de algo muito ruim que estava acontecendo ali, ao vivo e a cores. História na TV. Algo nos paralisava. A seleção caia como um viaduto.

Há quem diga que o vacilo dos 7 a 1 do Mineiraço reabilitou, 64 anos depois, o goleiro Barbosa e todos os demais jogadores brasileiros que perderam para o Uruguai no Maracanaço de 50. Justiça histórica? É... pode ser.

Vexame nacional, derrota pornográfica, apagaço psíquico, atraso tático, auto-engano, galhofa cósmica, surra alemã. Doída e ferida; com o coração e os joelhos humilhados e ralados; pingando lágrimas, suor e o sangue dos derrotados, a nação brasileira se curva em busca de explicações. Afinal,  "o escrete é a pátria de chuteiras, escreveu Nelson Rodrigues – um dos personagens mais vivos dessa Copa de 2014.

Os especialistas meteram o pau no esquema tático do Felipão: só três volantes para sete voláteis, Fred pra quê? A crônica esportiva, incrédula e atordoada, procura com razão (mas não acha, pois quem acha vive se perdendo), as razões extra-campo para tamanho papelão. Mascarados prometem invadir a CBF, Romário à frente: quebra tudo, fora Marins. Até Paulo César Caju ficou roxo de raiva: "apertem os cintos, o piloto sumiu".

E os intelectuais garantem, citando Friedrich Nietzsche: "as convicções são inimigas mais perigosas da verdade do que as mentiras." É isso Felipão?!

Há mais verdades e mentiras no ar do que supõe nossa vã filosofia. "O time entrou em campo dopado, de olheiras", me garantiu um bem situado observador. A culpa é da psicóloga que não conseguiu "psicolografar" nossos craques. Chama o Dunga pra cabeça de área.

Pouco ou muito importa: o time se dissolveu em campo como uma fumegante diarreia. E nós, torcedores, fomos arrancados do mundo sem direito a passagem de volta. Agora, temos que enfrentar os moinhos de ventos da terra de Van Gogh.

A seleção brasileira tem história e histórias. Já nos deu alegrias e tristezas (históricas) também. Por ela, já rimos, festejamos e choramos de emoção, de raiva, de decepção. Também vaiei, fui engenheiro de obras prontas. Mas ela nos pertence, assim como o futebol não é (e não pode ser) propriedade de ninguém. É algo coletivo. Não tem dono. Campeões, sim. E nós brasileiros, chegamos ao topo por cinco vezes. Mais do que qualquer outro povo neste planeta.

Portanto, a seleção não merece ser tão achincalhada. Nem em campo, nem fora. Nossos jogadores não foram treinados para perder. Não era o que desejava Felipão, Parreira (ambos também campeões) e os demais da Comissão Técnica.

Todos se esforçaram ao máximo nesta Copa. Cada um suou a camisa por si e por nós aqui fora. Houve um acidente em campo, algo muito grave, é verdade. Mas esculachar não. Não podemos permitir com esse patrimônio cultural do Brasil seja jogada assim no ralo da falta de saneamento básico.

Tem uma música do filósofo musical Jorge Benjor – "Quem cochicha o rabo espicha" – que nos ensina: "Também não fique pensando/ Que essas vitórias serão fáceis/ Pois nesta vida de perde e ganha/ Ganha quem sabe perder/ E perde quem não sabe ganhar/ Por isso você precisa aprender a jogar/ Em vez de ficar cochichando/ Olhando o bonde passar."

Vale lembrar também trecho de uma crônica do poeta Carlos Drummond sobre a sofrida e chorada derrota do Brasil para a Itália em 1982, por 3 a 2, quando tínhamos um time dos sonhos cheio de talentos como Zico, Sócrates, Falcão e Toninho Cerezo.

"Chego à conclusão de que a derrota, para a qual nunca estamos preparados, é afinal instrumento de renovação da vida. Tanto quanto a vitória estabelece o jogo dialético que constitui o próprio modo de estar no mundo.(...) Perder implica remoção de detritos: começar de novo. Em peleja de igual para igual, a sorte não nos contemplou. Paciência, não vamos transformar em desastre nacional o que foi apenas uma experiência, como tantas outras, da volubilidade das coisas. A Copa do Mundo (..) acabou para nós, mas o mundo não acabou. Nem o Brasil, com suas dores e bens. E há um lindo sol lá fora, o sol de nós todos. E agora, amigos torcedores, que tal a gente começar a trabalhar, que o ano já está na segunda metade?"

Então é isso: hora de olhar para o próprio umbigo. Redescobrir Garrinchas, Pelés, Didis, Gérson, Tostões, Cajus, Romários, Ronaldos. Cartolas para o inferno.

Para finalizar, querido amigo, vamos aplaudir (de pé) a seleção da Alemanha, provavelmente a futura campeã do mundo. Jogou bonito e sério, rolando a bola de pé em pé, colocando a tonta defesa brasileira na roda.

Um agradecimento a seus jogadores pela elegância da vitória, especialmente a Mesut Özil  que escreveu no twitter: "Vocês têm um país lindo, pessoas maravilhosas e jogadores incríveis. Essa partida não pode destruir seu orgulho!"

O atacante Lukas Podolski, também se manifestou com uma espécie de Manifesto. Pode até ser uma jogada de marketing, mas vale a pena ser lido:

"Respeite a amarelinha com sua história e tradição, o mundo do futebol deve muito ao futebol brasileiro, que é e sempre será o país do futebol. (...) Todos nós crescemos vendo o Brasil jogar, nossos heróis que nos inspiraram são todos daqui. 
E finalizou: "Brigas nas ruas, confusões, protestos não irão resolver nada ou mudar nada, quando a Copa acabar e nós formos embora, tudo voltará ao normal. Então, muita paz e amor para esse povo maravilhoso. Um povo humilde, batalhador e honesto. Um país que aprendi a amar".

Então, amigo, chegou o momento de tirarmos o rabo de entre as pernas, sacudirmos o complexo de vira-lata que volta a nos ameaçar, vencendo nossos moinhos de vento e reinventando o futebol arte-com-gestão.

Todo mundo bufando, torcendo, opinando e discutindo. Que momento maravilhoso. Partamos para a Democracia no futebol. Então: vida que segue, mesmo com 7 a 1 nas nossas costas. Vamos incorporá-lo. Outras goleadas virão, contra e a favor, no campo e na vida. Chega de chororô. 

segunda-feira, 7 de julho de 2014

TODOS VÃO JOGAR PELO NEYMAR...E NÓS TAMBÉM

SOMOS TODOS O MENINO NEYMAR 
NOSSA VÉRTEBRA É INQUEBRANTÁVEL

Luis Turiba

Agrediram o Neymar, mas não quebrarão nossa seleção.
Agora, somos todos Neymar. Povo mestiço: osso duro de roer.
Não vão quebrar nossa coluna. Uma joelhada tirou Neymar da Copa mas não nos tirou do título.
O feitiço contra o feiticeiro, o veneno como cura, 
Somos 200 milhões de Neymar, o moleque bom de bola, o driblador herdeiro de Garrincha, Pelé e do melhor futebol brasileiro.
Ok; concordo: esse time alemão é bom, mas é duro, não tem cintura, não nos assusta, se atrapalhou todo. Tem muito Chucrutes em campo. É freguês.
Nem a Argentina de Messi, nem a Holanda de Robben. Nada há de nos deter, está escrito nas estrelas.
A partir de hoje, estamos todos convocados para substituir o moleque: a começar por São Jorge, o protetor dos guerreiros brasileiros. 
Os Pretos Véios, os caboclos, os budas, Iemanjá, as bruxas e os orixás.
Macunaíma, Zé Pelintra, Sete Portas, Tranca Rua, Exu Ventania, Sobrenatural de Almeida.
Boi bumbá, A Mula sem cabeça, o Saci Pererê, os êres e seus axés. 
Todos os Santos a começar por São Benedito e Nosso Senhor do Bonfim. 
Temos até as bênçãos do papa argentino, que não esquece o povo de Copacabana.
Preparem seus corações pois até o Fred vai fazer gols. 
É a memória de Neymar que estará em jogo nesta terça e também no domingo. E ela falará mais forte não me perguntem como.
Neymar dedicará a vitória contra a Alemanha aos:
- idiotas da objetividade que não acreditaram;
- pessimistas de pijama que torceram contra;
- críticos da obviedade que cuspem no próprio prato;
- torcedores mesquinhos que só pensam em seus pobres clubes e confundem política com a paixão de futebol.
Éhhh! 
É com a gente, Neytodos somos!

quarta-feira, 2 de julho de 2014

A SELEÇÃO BRASILEIRA NO DIVÃ

bandeira chororô: Toni Lucena

 

Luis Turiba

 

a emoção vendida a milímetros e medida em chororôs

me segura qu'eu vou dar um troço, profetizou o poeta Sailormoon

o sistema está nervoso: ócio osso duro de ofícios frouxos

chama a psicóloga para psicogarfá-los

falos falhos, bola no pau superior às favas

chiliques chiques param o chile nas traves,

Preto Véio em campo, cavalo do Sobrenatural de Almeida

Nelson Rodrigues é o craque da Copa

moinhos de vento da Holanda produzem laranja mecânica à beira da estrada

o campeão voltou, o chororô voltou

Júlio César canta um samba de Vanzolini:

dar a volta por cima qu'eu dei, quero ver quem Darwin

Seleção Montanha-Russa: sobe sobe sobe sobe....

desce desce desce

assusta, ufa! vai coração....despeeeeenca mas chega na estação

Santa Fifa, vem aí a FlAlemanhã

Vai Neuer!

Sai Neuer!

Para Neuer! solta dentro da área

que bola redonda bate esse Quadrado

James Bond de bola

a Musa  é nigeriana

não tomar bola pelas Costas Rica

benzâ Odara! Santo Marketing

América Latina: menos Argentina

todo mundo quer ser Benzema

todo mundo quer ser os dentes afiados de Luizito

todo mundo quer ser os cambitos de palitos de Neymar

time que ganha não se Messin

todo mundo é diferente, menos o Iguaín

Shakiri de enxaqueca canta um tango de Shakira com folha seca

Maracanã: feijoada completa na terceira margem do Rio

não chores por Mico Argentina

ah...eles estão descontrolados: plantão no Pinel

no final tudo acaba em pizza ou prorrogação

em tango em pênalti nem bola na trave

agora é que o bicho vai morder

até quem não é de jurar, chorou.