ESTAMOS TODOS ELETRIZADOS", diz
Derrick de Kerckhove, herdeiro de McLuhan
Por Luis Turiba
Derrick de Kerckhove foi professor do Departamento de Letras da Universidade de Toronto, no Canadá, mas mora em Barcelona e passa grande parte do ano em Nice, na França, escrevendo e fazendo pesquisas. É, portanto, um cidadão do mundo e vive a "Aldeia Global" vislumbrada por Marshall McLuhan na década de 60, para quem "o meio é a mensagem".
Teórico militante e apaixonado da Era Digital, Derrick está no Rio onde faz palestra hoje (11/12) no fechamento do ciclo de debates "Inter-Agir", que durante o segundo semestre deste ano aconteceu no espaço Oi Futuro do Flamengo.
Batemos um bom papo com Derrick no iluminado cair da tarde de ontem (10/12) no bar do Arpoador In, em Ipanema.Vindo do inverno no Hemisfério Norte, ele se deliciou com a paisagem tropical cantado por Tom Jobim e Vinícius de Moraes.
Ana Lúcia Pardo, coordenadora, pesquisadora e pensadora do ciclo "Inter-Agir" e eu, anotamos algumas das questões que foram levantadas nessa conversa não-linear, que teve também a participação da arquiteta Rosane Araújo, autora do livro "A cidade somos nós", e dos professores Potiguara M. Silveira Júnior e Aristides Alonso. No final, Rosane ganhou de Derrick o livro "Lo que McLuhan no predijo", onde 19 pensadores fazem em textos homenagem ao mestre da comunicação global.
Eis a síntese jornalística da conversa.
Pergunta – Na década de 60, McLuhan previu que o "meio é a mensagem". Com a globalização da internet, o sr. considera que já vivemos essa realidade?
Derrick de Kerckhove – Eu tenho um livro cujo título é "O que McLuhan não previu". Mas ele disse em 1962 que o próximo meio de comunicação poderia ser a expansão da consciência contida na TV. Ele previu que a TV iria se transformar em uma múltipla forma de arte. Isso é o youtube. A televisão é uma forma de arte muita cara, mas é dada de graça para todos via internet no canal youtube. As mudanças aconteceram velozmente. De repente, o melhor sistema de armazenamento de informações, que é a biblioteca, se tornou absoleta, pois vivemos na era onde tudo está conectado e existe o Wikipedia. Todo o poder de decisão agora é dado aos contribuintes, aos participantes. Por último, foi criada uma nova economia. Atualmente na França, os negócios com e pela internet correspondem a 7% do PIB francês e é o dobro do PIB da agricultura naquele país.
Pergunta – Como a internet interfere no psique dos seres humanos nesse atual estágio da civilização?
Derrick de Kerckhove – Precisamos saber qual o atual estágio do uso e da transformação da eletricidade para a comunicação entre seres humanos. Digamos que num primeiro momento foi o do aparecimento do telégrafo. O telégrafo é o ponto de encontro entre a velocidade máxima e a complexidade da linguagem. Esse foi o maior casamento de poderes que já existiu. Depois a invenção de telégrafo, o homem viveu três novos estágios do uso da eletricidade: a luz, o calor e a energia. O próximo estágio é imaterial, quando a eletricidade se transforma em linguagem. Por último, vem o telefone celular, que é a eletricidade atuando em forma de comunicação em cada um de nós. Estamos todos eletrizados.
Pergunta – Quais são as propostas que o Sr. trás para o fechamento do Ciclo de Debates "Inter-Agir"?
Derrick de Kerckhove – Já não dirijo mais o "Programa McLuhan de Cultura e Tecnologia, em Toronto. Dou aulas e faço pesquisas. Moro em Barcelona e vou muito a Nice, na França, e também a Toronto, no Canadá. Aqui no Rio, no Oi Futuro, nós vamos falar sobre a transformação cultural das mídias e sobre o inconsciente digital. Tudo sobre vocês que vocês ainda não sabiam. A Internet hoje influencia em tudo. Nas coisas que você gosta, que você faz e até em como você vota. Tudo que as pessoas podem saber sobre você como se você fosse sua persona digital.
Pergunta – Por quê você fez tanta questão de voltar ao Rio de Janeiro, cidade que já visitou no ano 2000, quando conheceu a comunidade da Cidade de Deus. O que lhe atrai no Brasil, o que busca nesse país tropical?
Derrick de Kerckhove – O Rio de Janeiro é uma marca, um mito. É a concentração da cultura brasileira com toda sua complexidade, dentro de um cenário maravilhoso. O carioca tem a característica dos portugueses e algo mais que se transforma na gente brasileira. Os brasileiros são mais gentis que os portugueses, sem dúvida. Além do mais, o corpo está presente, é atuante, como não acontece em muitas culturas do hemisfério Norte. Se não morasse na Europa, iria arrumar um jeitinho e um lugar para vim morar no Rio – mas não em outro lugar do Brasil.
Pergunta – Qual o impacto da Era Digital no ato criativo? Como isso acontece?
Derrick de Kerckhove- No começo da cultura ocidental, depois da criação do alfabeto, vieram as Musas. Aí, os sentidos foram divididos; ouvir, escrever, falar, dançar. Com a eletricidade, criou-se a digitalização e tudo começou a se juntar novamente. O que antes era ópera, com dança e cantos, hoje pode ser uma arte híbrida. Mesmo o cinema na Era Digital começa a ser outro tipo de cinema. Podemos continuar fazendo Bertolt Brecht como um teatro clássico, mas Antoun já é multimídia. O consumidor passa a ser também o produtor e assim o teatro é autogerado. Sem dúvida, a arte sofreu um grande impacto e é outra na Era Digital.
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