sexta-feira, 12 de julho de 2013

MENINOS EU VI, E O QUE VI FOI FEIO


Luis Turiba

"ARCO-ÍRIS

Eu, tarja preta, vesti minha camisa listrada, fiz um cartaz vermelho e fui a passeata chapa-branca"

Fui às ruas para ver, sentir e escrever sobre diferenças entre as manifestações que sacudiram o País em junho, convocadas pela juventude via facebook e internet; e o tal Dia Nacional de Luta, cuja mobilização ficou por conta das centrais dos trabalhadores – CTB, CUT, Força Sindical, Nova Central e UGT.

Primeiro, vamos apontar aspectos econômicos. Sindicalistas estão montados em um poder financeiro real. Assim, mal comparando, a passeata que saiu da Candelária rumo à Cinelândia, mais parecia um desfile de escola de samba; com todo mundo fantasiado (ou uniformizado); com alegorias caras, quase de luxo, como faixas de plástico brilhoso; papel couchê 180 gramas; potentes carros de som; balões publicitários usados em grandes shows/espetaculosos; segurança própria, com todos agrupados em alas. Os militantes marcham certinho e cada ala canta um samba diferente.

Esses sindicalistas estão montados na grana, são bancados pelo governo e recebem verbas do FAT e de outros órgãos público, fora a cobrança de mensalidades, taxas, isso e aquilo. Os estudantes, mesmo os de classe média alta, passam apertados com suas mesadas. Mas a grande maioria, nem isso têm. Daí a luta pelos 20 centavos.

Segundo: mensagens totalmente diferentes. São dois movimentos distintos. Água e azeite, não se misturam.

Nas duas passeatas que fui, ambas convocadas pelo PL e o #vemprarua# – a de cem mil na Rio Branco e a de um milhão que tinha gentes da Candelária à Prefeitura – tive muita alegria e satisfação em ver aquele mar de cartazes de cartolina com milhares de mensagens difusas, criativas e divergentes entre si. Pareceu-me que cada manifestante ali tinha algo importante e diferente a dizer e disse. Eu, por exemplo, levei um Poema, e até me senti um vovô engajado: "Ou a gente se Raoni, Ou a gente se Sting".

Como escreveu o jornalista Marcelo Beraba, de O Estado de São Paulo, no dia anterior da mobilização sindical: "O movimento sindical vem com palavras de ordem bem definidas: redução da jornada de trabalho, fim do fator previdenciário, 10% do PIB para educação, 10% do Orçamento para saúde, transporte público de qualidade e reforma agrária. E o movimento das redes e das ruas? Ninguém sabe. Provavelmente tarifa zero, fora Renan, o uso abusivo dos jatinhos da FAB e de helicópteros, dignidade, respeito, sem Copa, padrão FIFA na saúde e na educação, fim da violência policial."

Cheguei a ouvir várias vezes, líderes sindicais, lá de cima de seus trios elétricos, avisaram para jovens que estavam na periferia da passeata: "tirem essas máscaras. Quem usa máscara é fascista."

Volto ao relato de Marcelo Beraba: "Até que começarem as provocações e ações de guerrilha dos anarcopunks e Black Blocs, que a mídia oficial teima em chamar de "vândalos". Eles se reuniam em grupos de 30 a 40 e se dispersavam. No final se juntaram e seguiram às margens da passeata sindical, pelas calçadas da Av. Rio Branco até a Cinelândia. Eram bem mais de cem, talvez uns 200 jovens mascarados, todos de preto, alguns com bandeiras do anarquismo. Até que entraram em conflito com lideranças das Centrais Sindicais." O pau comeu e de lá se espalhou pela Lapa; e mais à noite juntou aos que estavam em frente ao Palácio Laranjeiras.  

Terceiro: enquanto os sindicatos com sua burocracia paquidérmica só conseguiram juntar 10 mil pessoas, o poder de mobilização da meninada,via rede, foi milhares de bits maior. Nesse quesito esquisito, pintou um nocaute dado pelos meninos em cima dos sindicalistas.

Quarto: são realmente energias bem diferentes essas que mobilizam para as ruas. Não se senti, por exemplo, um pingo de indignação nas passeatas chapa-brancas. Nenhuma criatividade, nem inventividade. Tudo nos conformes. Vieram as ruas para tentar ocupar um espaço construídos por aqueles que realmente querem mudar os rumos da política no Brasil. Sindicalistas não ameaçam nem o governo, nem os políticos. Ou contrário: saíram às ruas para apoiá-los.

Quinto: enquanto a PM trabalhou para proteger e acompanhar a passeata sindicalista, teve uma atitude completamente diferente com os meninos. O que houve na noite de quinta-feira no bairro de Laranjeiras, foi uma verdadeira "vandalização" por parte da Tropa de Choque e de seus Caveirões contra os jovens que foram até o Palácio Laranjeiras.

Toda a população do bairro foi atingida pela violência policial. Durante quatro horas seguidas, ouvi e vi do quarto andar do prédio onde moro, na Rua das Laranjeiras, tiros, bombas, gritarias, incêndios, prisões. E o pior: senti, por volta das 22 horas, como todos os doentes da Casa de Saúde Pinheiro Machado, o maldito gás de pimenta que provoca sufoco na garganta e ardências nos olhos.

Segundo a G1, "os policiais atiraram e quebraram o vidro do estabelecimento. Médicos da unidade ficaram assustados e havia pacientes sendo atendidos no local. Funcionários limparam os cacos da vidraça que ficaram estilhaçados no chão. Os estudantes tiveram que sair protegidos por uma comissão da OAB rumo ao Metrô do Largo do Machado. Quem vandaliza quem?

  

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