quinta-feira, 15 de maio de 2014

Fwd: O RIO DA COPA

 O RIO DA COPA (1)


CHOVE BALA NA TERRA DA BOLA 


Luis Turiba

 

Raaá-ta: ta-ta-ta-tá..... raaaá-ta: ta-ta-tá.....trararará...tararará. Rajadas de balas pro ar. Cruzadas de traçantes. Tiros em Madureira são ouvidos em Cascadura. Cristo Redentor tampa os ouvidos. Batucada de bala em um Rio totalmente bolado. Sinfonia metálica, balas perdidas com endereço certo.  Algumas entregue por sedex. Prepare o seu colete de torcedor padrão Fifa: a  Copa vai começar na Arena Bam-bam-bam. Falta só um mês para o Brasil estrear: ratatatá!

 

O camarada Mao Tsé Tung já dizia no seu livrinho vermelho que o poder está na ponta do cano de um fuzil. Como são muitos os poderes nesse nosso querido Rio de Janeiro, também são muitos essas peças de designer espetacular.  Mas Mao, que não era carioca nem nada, só não previu que o fuzil no Brasil se transformaria em um brinquedinho quase ardil. Uma espécie de braço direito dos chefões do tráfico. Fuzil: sinônimo de um bom perfil. Artistas, jogadores, dondocas, celebridades; todo mundo quer fazer um self ao lado de um. Afinal, é um símbolo fálico significativo. Bertold Brecht escreveu a peça "Os fuzis da Senhora Carrar" e Caetano Veloso fez questão de citá-lo em "Alegria Alegria":  por entre fotos e nomes/ sem livros e sem fuzil/ sem fome e sem telefone/ no coração do Brasil." De mais a mais, diz a lenda que mulheres adoram homens com o fuzil calibrado. É status, staff, estoque.


Deixaram crescer, agora atura: cada morro tem sua horda, cada quadrilha seu bando. São 50 fuzis por tropa. Nem UPP dá jeito. Quando elas se instalam, eles somem, são recolhidos. Mas depois voltam com aquelas bocas gulosas. Foi assim no Alemão, na Rocinha, no Pavãozinho. E agora, véspera da Copa, a galera entra literalmente em campo.  


Foi o que se viu dia desses. Time em campo com o clássico uniforme da Seleção Brasileira: camisa amarela, calção azul, meiões branco. Falta dois minutos para o final do jogo. No placar 0 a 0. Penalti: o atacante da seleção corre e bate forte no canto esquerdo. Gooaaaaallll. O atacante corre pra torcida. O técnico do time pega um fuzil. O goleador também. Comemoram metendo o dedo com vontade. Outros jogadores atiram também. As balas cruzam o céu da favela Vila Aliança. O técnico do time conhecido como Peixe veste uma camisa azul , a mesma que a Seleção venceu a Copa de 58 na Suécia. Agora a polícia oferece um bicho de 20 mil reais pela sua cabeça.

 

Uma mensagem do meu filho João, que mora na Suiça,  matou a charada: "pai, de longe o Brasil dá medo."  Tá meio esquisito mesmo, cada dia chove mais bala, fora os protestos. Já não somos mais o país do faz-de-conta. Nem Pindorama, nem do futuro. Somos um país não-seguro. Cada qual com seu escudo. Mas quem paga a conta? Nessa temporada pré-Copa, a tensão dos tiroteios com seus cercos e aniquilamento está na pauta. Abre seu guarda-chuva anti-bélico. Está chovendo bala no país da bola. Vai ter Copa, mas não vai ter Copa. Te liga Felipão. 

 


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