sábado, 5 de novembro de 2011

ESCOLA DE CINEMA DARCY RIBEIRO PULSA CONHECIMENTO, TÉCNICA E ARTE

A diretora Irene Ferraz se dedica a ECDR há 10 anos, transformando o sonho do grande mestre em realidade
 
UMA ESCOLA ATUANTE NO CINEMA BRASILEIRO
 

Por Luis Turiba, do Rio

A Escola de Cinema Darcy Ribeiro (ECDR) está localizada no coração cultural do Rio de Janeiro. Fica na Rua 1º de março, em frente ao CCBB, entre a Candelária e a Praça XV, a um quarteirão do novo centro gastronômico carioca que passa pelo Rio antigo, de um lado; e a Avenida Rio Branco do outro. Ela existe há nove anos e já preparou para o mercado cinematográfico carioca e brasileiro mais três mil profissionais entre técnicos, roteiristas, diretores, iluminadores, montadores, atores e atrizes. Seus alunos são quase todos subsidiados por bolsas de estudos e convênios.

A ECDR demonstrou sua pulsação no último Festival de Cinema do Rio, realizado no início de outubro.  Seus alunos lotaram o Cine Odeon e outras salas, professores fizeram parte do júri, além de prêmios que vieram para o ambiente escolar, com destaque a professora do curso de Montagem Jordana Berg, premiada com a "Melhor Montagem pelo documentário "Marcelo Yuka no Caminho das Setas"; e Wagner Novais, formado no curso de Direção, que recebeu Menção Honrosa do júri pelo filme "Tempo de Criança". Recentemente a aluna formada em Roteiro Cinematográfico pela escola, Julia Murat, foi premiada como "Melhor filme da Mostra Novos Horizontes" no Festival Internacional de Abu Dhabi, pelo roteiro de "Histórias que só existem quando lembradas". 

"A escola é uma nau transatlântica que navega no movimentado mar do cinema brasileiro". É assim que gosta de defini-la sua diretora, Irene Ferraz, que soube como boa timoneira que é, transformar um sonho que nasceu após sua experiência na Escola Internacional de Cinema de Cuba, onde ela foi Coordenadora em 92 e 93, em realidade instalada em quatro andares no Corredor Cultural do Rio.

Ao entrar na ECDR pela porta que fica na esquina da Rua da Alfândega com a 1º de Março, visualizamos num saguão enorme uma gigantesca foto de Ruy Guerra, professor exclusivo da escola; uma bandeira brasileira com a palavra "AMOR", em homenagem a Darcy Ribeiro; e livros, muitos, como se voassem sustentados por linhas de nylon. Ao subirmos para o primeiro andar, onde funciona a secretaria, o café e algumas salas de aula, uma pergunta escrita na parede em letras garrafais intriga o visitante: "O que você faz pelo Brasil?"

Irene Ferraz sabe que "temos de desejar o impossível para sermos realistas". Reuniu uma turma de peso do cinema brasileiro e se inspirou nos pensamentos de Darcy Ribeiro para conceituar as diretrizes da ECDR.

"O Eliezer reconheceu minha capacidade empreendedora e seu incentivo me deu coragem e disciplina de trabalho para construir a escola e o seu cotidiano". Eliezer Batista é hoje presidente do Conselho Deliberativo do Instituto Brasileiro de Audiovisual (IBAV), instituição mantenedora da ECDR. Deste conselho fazem parte personalidades do cinema brasileiro como Cacá Diegues, Nelson Pereira dos Santos, Marieta Severo, Rafael Magalhães e também o arquiteto Oscar Niemeyer.

Nessa breve entrevista, Irene fala sobre as influências e interferências da ECDR no cinema brasileiro e das futuras propostas da instituição:

Pergunta - A cidade do Rio de Janeiro é considerada a mais cenográfica do Brasil. Qual a contribuição da ECDR para o seu desenvolvimento audiovisual?

Irene Ferraz – A escola vem fazendo a diferença na formação técnica e artística para o desenvolvimento do cinema no Brasil. Cerca de 90% dos nossos alunos estão sendo inseridos no mercado, para as produtoras, empresas de cinema, TVs. Somos fornecedores de técnicos e criadores para a cadeia produtiva do audiovisual. Posso citar alguns como a TV Brasil, a Globo, a Conspiração Filmes e a Total Filmes. O importante nesse processo é a maneira como a escola forma seus alunos. Temos como lema "inovar sempre", pois sabemos que cinema é movimento e buscamos no mercado profissionais atuantes e conectados com as novas tecnologias. São esses profissionais é que fazem o link, a ligação entre a tradição e o que está por vir no mercado. A experimentação é permanente, pois o audiovisual é uma atividade dinâmica e interativa. A formação dos alunos não poderia ser diferente. Se não for assim, não conseguiremos o resultado esperado, ou seja: colocar esses profissionais no mercado. A cada semestre, novos parâmetros curriculares. A cada etapa, introduzimos novos conteúdos, eliminando outros. É assim que estamos trazendo novas tecnologias através de avaliações contínuas de professores e colaboradores. A cada ano que passa, procuramos ver o que funcionou e o que não funcionou. E assim, posso dizer que o aperfeiçoamento é quase diário e os alunos colaboram muito para isso.

P- Como isso se materializa na prática? Pode dar alguns exemplos?

IF – Em 2012 vamos fazer dez anos de funcionamento. Nesse período, já formamos mais de três mil alunos, do Rio, de todo o Brasil e do mundo que vieram estudar cinema aqui na ECDR. Temos alunos brasileiros de todos os grupos sociais: quilombolas, indígenas, de áreas de conflitos da periferia carioca. São alunos das mais diferentes ONGs, de Pontos de Cultura. Aqui estuda gente do "Nós no Morro", "Afro Reggae", "Tá na Rua", "Teatro do Oprimido", "CUFA", "CECIP", "ArtCult" "Cine Maneiro" "Ecoar". A escola funciona como celeiro para multiplicar a ação dessas Ongs que trabalham no Vidigal, na Rocinha, na Maré, no Complexo do Alemão.

Outra coisa: recebemos aqui a chamada geração Y, os novíssimos que vão ter contatos e aulas com mestres do cinema como Ruy Guerra, Walter Lima Júnior, Aloísio Abranches, Flávio Tambelini. E também gente da nova geração do cinema que também são professores na Escola. 

P - Quais as próximas inovações da ECDR? Quando a escola mergulhará na era digital?

IF – Já estamos vivendo esse novo mundo. A partir da era digital, do software, criou-se uma transversalidade que é irreversível. A escola está cada vez mais aberta para esse mundo novo e tudo o que interferir na linguagem do audiovisual no mundo e no Brasil. Mas o certo é que as novas tecnologias baratearam muito os processos criativos e já estamos vivendo esse processo. O cinema 3D é uma realidade e a escola não pode ficar fora disso. Tanto que já estamos pensando em oficinas de 3D. Tudo isso sem abrir mão dos conteúdos e das linguagens já conquistadas.

P – Então, qual é o rumo da ECDR para esses novos tempos?

IR – Olha, eu tenho medo de ter medo. Não podemos ter medo do futuro, temos que amar o futuro. Acho que a escola tem que tirar partido dessa revolução digital que está em curso. Por isso, vamos pensar em oficinas  voltadas para o processo industrial do cinema. Se o Rio quer se manter como a cidade do cinema no Brasil, deve se conectar à indústria mundial do cinema. O mundo está globalizado e as fronteiras são somente suportes burocráticos, pois a inteligência, os novos softwares e os potenciais criativos estão soltos no planeta. Essa é a essência da Era do Conhecimento. Vamos fazer tudo isso sem perder os vínculos afetivos e efetivos. É assim que vamos identificando os talentos.

SERVIÇO:

As inscrições para os cursos regulares de Roteiro, Direção e Montagem da Escola de Cinema Darcy Ribeiro estão abertas desde o dia 1º de novembro e vão até 29/02/2012.

  

Instituto Brasileiro de Audiovisual

Escola de Cinema Darcy Ribeiro

Rua da Alfândega, n°05, Centro

Rio de Janeiro, RJ

Tel: (21) 2516-3514 / 2516-3527

 

www.escoladarcyribeiro.org.br

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