sábado, 18 de setembro de 2010

EN LAS CATACUMBAS DE BARAJAS

Luis Turiba, Madrid
 
Depois da inauguração da exposição "Brasília 50 Anos", o músico Pablo Duque, me deu o seguinte depoimento sobre a experiência que viveu nos labirintos da Duana do aeroporto de Barajas, em Madrid, nas cinco horas em que fico detido. É algo que vale a pena ler, tirar suas lições pois todos nós, de uma maneira ou de outra, estamos na mira desses caçadores de terroristas. Foi assim seu depoimento..... 
 
"Véio...foi sinistro!
Eu sabia, tinha certeza que minha prisão era um tremendo mal entendido e que não iria acarretar nenhum dano à minha formação moral e cultural. Seria, como foi, somente mais uma aventura das muitas que a vida têm me propocionado. No entanto, confesso: foi punk!!!
Os funcionários da Duana Espanhola são todos carrancudos e sem nenhum humor. Isso deu pra notar logo de cara. Depois de uma longa fila cheguei no portão 8 e comecei a viver aquele inferno, pois todas as perguntas tinham por objetivo me embaraçar: quanto tempo vai ficar? cadê o endereço? trouxe isso, trouxe aquilo? quanto dinheiro? cadê o ticket de volta? Eu havia esquecido de imprimir da internet e foi aí que o bicho pegou. Era tudo o que eles queriam pois não havia nada de errado comigo.
- Vem aqui, senta aí e espera, ordenou-me o oficial mau encarado.
Mas como? Tenho direito a ligar para a embaixada do Brasil? Tem gente aí fora me esperando, pois faço parte de uma exposição oficial de Brasília aqui na Espanha.
 
(Pablo bem que tem feições de muçulmano. Pele morena escura, cabelo quase raspado, barba por fazer. Nos aeroportos da Europa, os agentes alfandegários caçam (fantasmas) pessoas pelo seu biotipo. É inacreditável que no século XXI esse tipo de preconceito ainda exista e seja praticado contra cidadãos brasileiros por países europeus com alto índice de desenvolvimento - desenvolvimento???)
 
De nada adiantou meu protesto. Bagagens, documentos, celular, tudo foi recolhido aos costumes. Fiquei só com a roupa do corpo, meus pensamentos e minha indignação. Eles realmente fazem de tudo pra você perder a cabeça, mas eu tinha uma missão pela frente que era entregar o banner com toda a ficha técnica da exposição e montar a sua sonorização com a trilha sonora que compus no Brasil para os vários ambientes.
 
Me levaram para um primeiro ambiente, onde estavam dois argentinos e alguns mulçumanos. Depois comecei a ser levado por um labirinto para outros cubículos mais sinistros. Finalmente descobri que estava sendo acusado por "documentação irregular".
Cá pra nós, meu passaporte é "sujeira" internacional na visão desses paranóicos. Entradas no Egito, Síria, Marrocos, Amsterdan, Peru e Bolívia. Pô!, veio...que currículo mais terceiromundista....
 
Observei que, ao contrário dos argentinos, os mulçumanos estavam calmíssimos. Talvez porque estejam acostumados aos "baculejos internacionais. Mas eram todos bem mais escuros do que eu. Um contraste com os brancos policiais espanhois.
 
Eu não me conformava com aquela situação e já estava no quarto ambiente diferente, quando me levantei e fui perguntar a uma agente pelos meus direitos. Ela foi ríspida, grosseira,gritando:
- Fique sentado! Fique sentado! Você pode ficar 72 horas incomunicável!
 
Não resisti e respondi cinicamente:
 
- Ok, está bem Blanca!
Ela quase espumou. Foi quando me levaram para o cubículo do interrogatório, um lugar fechado com portas de aço. Ali, pra minha surpresa, entrou uma senhora simpática dizendo-se "assistente social". Ao contrário da sargentona, ela foi gentil e pediu-me pra "quedar tranquilo", que era solamente una investigacion e que yo precisava assinar uns papeis e ser interrogado por um agente do Estado Espanhol e um advogado que a Espanha colocava a minha disposição.
 
Passei então para um nova sala grande com algumas mesas de plástico e no centro dela uma maçã. Aquelas frutas me chamaram a atenção...
 
Pedi para ir ao banheiro. E foi lá que resolvi extravassar. Ao lavar o, molhei as mãos, olhei bem pro teto buscando câmeras filmadoras. Me certifiquei que lá não havia nenhuma. Era o primeiro lugar que eu ficava comigo mesmo. Peguei um chumaço de papel higiênico, molhei bastante, fiz um bolo. Liguei o secador de mãos barulhento e pimpa: joguei com toda a minha força aquele bolo molhado no teto. O barulho do impacto foi coberto pelo do secador de mãos.
 
Voltei pra sala e conversei com uma outra pessoa. Voltei ao banheiro e novamente fiz bolos de papel higiênico e sapequei no teto usando a mesma tática e técnica. Senti que isso me aliviava e joguei ali bem umas 15 bolas. O teto daquela masmorra ficou cheio de bolas de papel higiênico.
 
Até que consegui comprar por cinco euros uma ficha telefonica da assistente social. A essa altura, há havia chegado a carta da embaixada e uma ordem do Ministério das Vivendas para me libertar. Aí foi só esperar e correr pra galera......
 
 
 
Me levaram.
 
 
 

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