sexta-feira, 10 de setembro de 2010

POESIA VISITA À SALA DE AULA

Estudantes soltam a imaginação durante encontro com poetas na escola Alunos da Escola Classe Granja do Torto se divertiram e aprenderam a desenvolver seu talento durante um encontro com poetas que fazem parte do grupo OIPoema. A diretora se entusiasmou com a ideia e destacou a importância do contato direto com os autores

Mara Puljiz

Publicação: 10/09/2010 08:19

O encontro durou pouco mais de meia hora. O vento amenizava o calor corriqueiro na capital federal na tarde de ontem. Com olhares atentos e sentados no pátio de cimento, 24 alunos da 4ª série da Escola Classe Granja do Torto observaram três poetas de Brasília declamar.
Estavam lá Nicolas Behr, Luis Turiba e Amneres Santiago, integrantes do grupo OIPoema, patrocinado pelo Fundo de Apoio à Cultura (FAC). "Para ser poeta é preciso três coisas. Alguém sabe o quê?", Nicolas perguntou, logo de cara, para as crianças. "De imaginação", respondeu uma moça da última fileira. "De rima", emendou o coleguinha ao lado. "Todas as opções estão corretas, mas faltou o papel", disse o poeta. "E do lápis", apressou-se a dizer um outro aluno sentado no canto esquerdo do pátio. Então, para ser poeta, é preciso, na verdade, quatro coisas: imaginação, rima, papel e o lápis. A brincadeira rolou solta.

Durante a visita, as crianças deram gargalhadas, ouviram, tiraram dúvidas e recitaram poemas criados por elas mesmas. A maioria resolveu criar textos em cima do tema mosquito da dengue, doença que tem afetado muitas famílias da região. Maria, 9 anos, levantou-se e deu o recado: "Se deixar água parada, vai se meter em uma cilada". Júlia Vitória, 10 anos, também estava inspirada, mas deixou o Aedes Aegypti de lado. Romântica, a menina preferiu recitar para os colegas um breve trecho que escreveu há dois meses, enquanto estava em casa: "Gosto da lua, gosto do luar, gosto de você em primeiro lugar".

O motivo da visita foi a vontade dos poetas de disseminar o gosto pela leitura. O grupo OIPoema tem passado por várias escolas públicas do Distrito Federal e aumentado o acervo das bibliotecas com livros que muitas vezes ficam engavetados na Secretaria de Cultura. Também fazem parte do projeto Angélica Torres Lima, Cristiane Sobral e Bic Prado, além do designer Luis Eduardo Resende. Todos eles adotaram uma escola das regiões administrativas de Planaltina, Núcleo Bandeirante, Paranoá, Itapoã, Park Way e Varjão. Em 31 de agosto, Luis Turiba adotou a Escola Classe da Vila Buritis, em Planaltina, onde conheceu a sala de leitura das crianças. Ele levou livros próprios e de outros autores para enriquecer a biblioteca do colégio.

Autoestima
Para o poeta, historiador e escritor Nicolas Behr, a poesia significa uma semente plantada no coração dos pequenos.
"Talvez um dia algum deles vire um escritor. A poesia melhora a autoestima e a arte educa. Formar leitores é fundamental para a educação no nosso país", defendeu o autor de inúmeros livros que revelam Brasília como musa inspiradora para a criação de seus poemas. Para Amneres Santiago, o incentivo à leitura significa ainda proporcionar o exercício da cidadania. "As crianças têm sede de contato com a arte, mas ainda faltam experiências que ajudem a complementar a educação básica", acredita.

A Escola Classe Granja do Torto foi o quarto estabelecimento de ensino visitado pelos poetas. Segundo a diretora Danielle Vieira Salles, a presença dos poetas desperta nos alunos um interesse maior pelos livros.
 
 "É muito importante quando eles têm oportunidade de viver experiências desse tipo. As crianças costumam ler obras de vários escritores, mas dificilmente têm contato com eles. Quando elas souberam que os poetas viriam para a escola, ficaram muito ansiosas", ressaltou. E a curiosidade das crianças fez o tempo passar despercebido. Os 30 minutos de poesia trouxeram sorrisos e a vontade de um dia se tornar um escritor famoso para colocar no papel todas as coisas que trazem inspiração.
 
A despedida foi com a música O voo da juriti(1), de Aldo Justo e Paulo Tovar. No pátio, as crianças ficaram de pé e cantaram com o coração e com as mãos erguidas, de braços abertos para dar asas à imaginação. Que surjam daí os escritores do futuro.

1 - O voo da Juriti
De ver o dia nascer pelo avesso
Meu coração mão de pilão
Tem o jeito do avoar
Bota água na bacia
Que a cara do dia
Está querendo vir
Tira a tranca da janela
Que de manhã cedo eu quero ver
O voo da juriti

Personagem da notícia
Inspiração cotidiana

 

Keliane ainda não sabe se vai ser escritora, mas tem prazer em escrever poemas quando está em casa. Quando está triste, feliz e nas horas vagas, a tímida moça de olhos verdes encontra no lápis a inspiração para compor seus versos. Há dois dias, ela escreveu em uma folha de caderno um poema dedicado a uma amiga:

"Que a nossa amizade seja…
Importante como a vida…
Grande como o oceano…
Suave como a brisa…
Bonita como a infância…
Inesquecível como a lembrança…
Viva como a onda…
Quente como o sol…
Especial como VOCÊ!"

Keliane Ataídes Maciel, 10 anos, aluna da 4ª série

 

Um comentário:

Amneres disse...

Caros Turiba e Nicolas,

Foram tardes inesquecíveis, essa com as crianças da Escola-parque da Granja do Torto e a do dia anterior, com as crianças da Escola-Parque do Varjão. Tardes de poesia, luz, troca, alegria. Fiz um poema para agradecer o que recebemos, amigo, por favor, remeta-o àquelas escolas. Beijo.

Sobre se encantar

(para as crianças do ensino fundamental das
escolas-parque do Varjão e da Granja do Torto)

Contos de fada,
histórias da carochinha,
lendas, mitos, fábulas,
absurdas fantasias,
tudo é matéria
prima da poesia,
penso e decido
deixar o verso
brincar de
esconde-esconde
com o papel
em branco da
imaginação.
Deixo aos adultos
dizerem não,
eu digo sim
à magia e ainda
tenho medo de
bruxa malvada
e de bicho-papão.
Tenho medo do
escuro das palavras,
prefiro iluminá-las
com príncipes, duendes,
elfos e fadas,
que me salvarão
a tempo dos ogros
do desalento
e da solidão.
O poema é uma
caixa de lápis-de-cor
recém chegada
às minhas mãos.
Gosto de desenhar
coqueiros, montanhas,
areias, céu azul,
e beira-mar,
e depois pintá-los,
um a um. Desenho
então um coração
vermelho e sinto-o
pulsar. Para fazer
um poema, é preciso
papel, lápis
e imaginação,
disse-nos o poeta,
a mim e a outras
tantas crianças.
Olhei nos seus olhos
e pude ver cintilarem
as nuanças da alegria.
O poema está
na inocência
do olhar, pensei
e pintei um arco-íris
com as cores da
da esperança, ó leitor
imaginário das páginas
desse diário, só
para te ofertar.