sábado, 19 de novembro de 2011

DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA, HOMENAGEM A ABDIAS NASCIMENTO

poema escrito antes do 11 de setembro de 2001
 

Glo(bar)libar

Luis Turiba

Bar: três letras que bebem sem parar

Enquanto o mundo pulsa fragmentos

Numa verdadeira CPI da existência

Giuliani é estraçalhado mortalmente

Por um míssil à queima-roupa terra-ar

 

A guerra nas estrelas sangra o asfalto

Então todas as feridas estão expostas

Como é bonita a voz de Bono em Walk On

Os sem-terra são (assim) tão pós-modernos

Essa calcinha-fashion Bünchen é tira-sono

 

Assim na terra como no céu tudo é inferno

Na favela: trabalhador criança avião soldado

Invado? Invada: aqui & lá está tudo armado

Love´s Paredes rebeliões d´encapuzados

Massacres epidemias: onde fica a ONU?

Há dialética nessa tal de guerra étnica?

 

Ah...

Seu eu tivesse nascido um bam-bam-bam

Um Rivaldo uma Xuxa um Lula um a mais

Um traficante general punk perna de pau

(para Niemeyer, W. Bush é um esgoto)

Quem sabe seria eu um instrumento

Do jornalismo da poesia-ciência – um ovo

 

Quando teremos nova guerrilha na Febem?

Por quê não protocolam o protocolo de Kioto?

No céu um jato rasga a mata azul de ozônio

Abaixem-se: lá vem um jipe em marcha-pé

Os neo-nazistas atacam e ateiam fogo

E eu aqui, heterônimo do poeta Zé Limeira

Um vento que balança as praias fofoqueiras

Que de tanto versejar morreu afônico

 

Pois então...

Enroladíssimo nos fios da espionagem

Satélites HIV G-8 New York Times

Chernobyl Êxodo Ira Greenpeace

Mais uma bomba: meu Deus, que foi que fiz?

 

Glo(bar)libar é discutir a Terra no bar

Banalizar o bar libar em taças espumantes

Embananar com teses raras & arfantes

O ar rarefeito que causam as balas perdidas

Ao encontrar os nossos corações errantes

Um dia te levo até o Motel Carandiru

E banco uma noitada no Pavilhão 9

 

Afinal...

Sou um afrodescendente sou transcendente

Sou um negrobrasileiro bonito às pampas

Sou índio sou vira-lata sou puro-sangue

Judeu gay lésbica paraplégico sou cigano

 

Ali no front um soldado faz sua guarda

No jardim a flor aflora que importa a guerra

O poder na ponta do fuzil, diz Mao Tsé Tung

O poder é um cheque do FMI: tango argentino

Milhões são excluídos: chinos & latinos

Milhões estão nas ruas e fazem a cena

Caramuru Roani Juruna Marcos Teresa

Zumbi Pelé João Cândido & Carlos Moura

Benê, Caó & Abdias: são afros bambas

E eu...

Vou levando o planeta em rodas de samba

Preconceito racial é a negação do ser humano

Ninguém afronta: fecha o pano e enrola a conta