quinta-feira, 26 de dezembro de 2013
CARLOS DRUMMOND - POETA DE OLHAR TRÍVIO
ORAÇÃO PARA NOSSA SENHORA DA BALA PERDIDA
sexta-feira, 13 de dezembro de 2013
quarta-feira, 11 de dezembro de 2013
QUATRO POEMAS DO "QTAIS"
chipnoxibiu
xipnuchibiu
shipinuxibil
SUSTENTA HABILIDADES
o pior cego
é aquele que não quer VERDE
lágrima na floresta
testemunha sexo selvagem
entre a motosserra e a árvore
sou selva uma
querem-me toras
se viva, verde
se morta, dólar
ou a gente se Raoni
ou a gente se Sting
uma metade passa fome
outra metade faz regime
VÁCUOS
oxigênios
oxilêncio
.
azul-ozônio
.
cigarras
ziiiiiiiiiiiiiiiiimmmmmm
TORTURA
Levanta-se o véu e rasga-se a túnica
Os corvos ainda bicam o que restou de ti
Uma dor cicuta que espiral perdura
....tortura...
O teu silêncio cobrado em preço físico
O teu algoz agora também teu karma
Tua voz teu suspiro e teu fantasma
Quem içou o dia e eternizou o cinza
Um Deus raivoso fez habitat às sombras
Tiras o capuz e o que vês? Abismos...
Jagunços a conspirar em cadafalsos
– Ora Senhor! Não se trata bandidos a bombons!
– Meus Deus! Meu Deus! Será que vou calabar?
Nunca serás mais o que antes eras
Se o corpo resistiu, o espírito tem chagas
Marcado como gado a ilusão tritura
......tortura............
"QTAIS" É O NOVO LIVRO DO POETA LUIS TURIBA
segunda-feira, 9 de dezembro de 2013
NEM TUDO SÃO FLORES NO ATERRO
domingo, 24 de novembro de 2013
ELZA MARIA E SUAS TERNURAS MUSICAIS
Sua voz traz a nostalgia do mar e do terreiro, o jeito folclórico das lusas lendas e o traço marcado dos azulejos. No entanto, seu canto aponta também para a sensualidade nativa e para os acontecimentos contemporâneos. É dentro deste ambiente musical que a acompanha há 30 anos.
"Dança de Ternuras" surge para fazer a ponte com "Entra na Rosa". Diferente sim, mas na mesmo toada.
sábado, 23 de novembro de 2013
Fwd: Orlando Senna A dança dos milhões
A dança dos milhões
Orlando Senna
Na minha postagem anterior falei sobre o bom desempenho mercadológico do cinema brasileiro em 2013. Sem dúvida os números são expressivos, mas poderiam ser bem melhores se o maior produtor cinematográfico (e audiovisual) da América Latina conseguisse superar dois entraves ao desenvolvimento plenamente satisfatório dessa indústria. Embora a ocupação, este ano, de 18% das salas brasileiras de cinema por filmes nacionais deva ser comemorada, a meta sonhada pelos últimos governos do país (Fernando Henrique, Lula, Dilma) é uma ocupação entre 40% e 50%.
Os entraves mais danosos são a burocracia, enfermidade que atinge toda a máquina estatal (além de ser conduto para a corrupção), e o custo da produção de filmes. Os orçamentos brasileiros são duas vezes maiores, em cálculo otimista, que os argentinos, chilenos e colombianos. São de três a quatro vezes maiores que os orçamentos praticados nos outros países sul-americanos e na América Central. A Espanha faz filmes bem mais baratos que o Brasil. Alguns filmes independentes dos EUA são mais baratos que filmes independentes brasileiros (entenda-se por independente realizações sem vínculos com grandes distribuidoras e/ou corporações midiáticas).
Os produtores culpam o alto custo de serviços e mão de obra, que vêm subindo continuamente nos últimos vinte anos. Absurdamente, enfatiza a produtora Lucy Barreto. A Ancine-Agência Nacional de Cinema crê que os custos cinematográficos estão contextualizados na realidade brasileira, onde os salários aumentaram nas últimas décadas e há carência de mão de obra especializada (e demanda com pouca oferta encarece o produto). O orçamento médio dos filmes longa-metragem brasileiros está entre quatro e cinco milhões de reais (US 1.770.000/US 2.200.000, câmbio aproximado) e o recurso máximo que a Ancine pode destinar a um filme é sete milhões de reais (US 3.100.000). Os filmes com orçamento superior a isso buscam a complementação em outros "guichês" de recursos públicos (editais da Petrobrás, Eletobrás, BNDES, etc) e na coprodução com outros países.
Um aspecto importante nesse panorama é que os filmes brasileiros mais caros, as superproduções, não se pagam nas bilheterias. Pode-se dizer que muitos filmes de baixo orçamento também não se pagam — mas o prejuizo para o contribuinte é bem menor. Exemplos deste ano: Flores raras custou 13 milhões de reais (US 5.750.000) e rendeu pouco mais de três milhões (US 1.330.000). O tempo e o vento custou 14 milhões (US 6.195.000) e rendeu menos de sete (US 3.100.000). Serra Pelada custou dez milhões (US 4.400.000) e fracassou solenemente nas bilheterias. A subida da montanha continuará em 2014. Nosso Lar 2, surfando na onda espírita, está captando 17 milhões (US 7.500.000). Amazônia, coprodução Brasil-França em 3D, custou 26 milhões (US 11.500.000), dos quais 16% oriundos de fundos públicos brasileiros.
Não creio que a questão é fazer ou não fazer filmes caros. Em todas as cinematografias robustas, superproduções, filmes médios e criações experimentais convivem e se retroalimentam. A questão é que todos os filmes brasileiros, pequenos e grandes, estão com orçamentos conflitantes com o mercado, todos estão caros para a nossa realidade e cada um deles está caro em relação às suas possibilidades de arrecadação. Binômios essenciais do capitalismo, como custo/benefício e oferta/procura, estão sendo ignorados. Uma palavra às autoridades e empresários responsáveis pelo andar da carruagem: cuidado.
Por Orlando Senna
* Link para outros textos de Orlando Senna no Blog Refletor http://refletor.tal.tv/tag/orlando-senna
sexta-feira, 1 de novembro de 2013
O FUTEBOL DE CASA UM - 150 ANOS DE EXISTÊNCIA
Por Orlando Senna
O futebol está celebrando 150 anos de existência e há muita festa por toda parte. O aniversário de século e meio se refere aos ingleses que, em 26 de outubro de 1863, estabeleceram regras para um jogo de bola com uso de todas as partes do corpo com exceção de braços e mãos, para diferenciá-lo do rúgbi, jogado com as mãos. Celebramos o nascimento do futebol como conhecemos e jogamos hoje, não do jogo com uma bola, que esse se perde na bruma da memória da humanidade. Costumo pensar que todo mundo tem sua história particular com o futebol, porque tenho a minha e porque esse esporte faz parte da vida de bilhões de pessoas e, de uma forma ou outra, outros bilhões tiveram, têm ou terão contato com ele.
Minha história pessoal começa nos últimos minutos da final da Copa do Mundo de 1950, na tarde do dia 16 de julho. Era o Brasil/Uruguai no Maracanã recém inaugurado, a partida mais importante, mais estudada, mais dramática da história do futebol. Brasil jogando pelo empate, perdendo de dois a um, jogo chegando ao fim, 200 mil pessoas abarrotando o estádio e os brasileiros ao pé do rádio. Eu, entrando nos meus dez anos de idade, em minha cidadezinha do interior baiano, estava ao pé do rádio e a cena que ficou impregnada na minha memória é meu avô falando em direção ao rádio, gritando, como se estivesse diante de um grande microfone, tentando ser ouvido pelo principal jogador brasileiro, Ademir Menezes, lá no Maracanã: "Ademir, meu filho, faça esse gol pelo amor de Deus". Gritou a frase várias vezes, como uma prece, como um mantra.
Só isso, um flash, nenhuma memória do que aconteceu antes ou depois da cena. Mas foi a partir dessa desoladora derrota para o Uruguai que me interessei pelo assunto, comecei a jogar, ganhei chuteira e uma bola de couro, escolhi meu time. Virei peladeiro, joguei durante muitos anos, entendi que os times atuavam a partir de estratégias. Quando comecei a jogar a maioria das palavras usadas era inglesa (minha posição era half, meio campista) e era um futebol altamente ofensivo. A armação, ou esquema tático, era 2-3-5, ou seja, sempre cinco atacantes, não importava quantos gols o time sofria e sim quantos fazia.
Há uns oito anos fui com Pelé ao Festival de Cannes, em uma missão de promoção do cinema brasileiro, e ele, que também começou a jogar no 2-3-5 (temos a mesma idade) disse que esse é um esquema impensável no futebol moderno. Nessa viagem aconteceu outro fato marcante na minha relação com o futebol. Foi uma visão, um choque. Fomos a uma reunião em um barco atracado no cais do porto de Cannes. Eu estava em uma sala de onde podia ver Pelé no convés. De repente notei que ele estava bêbado, cambaleando, com expressão angustiada. Pelé bêbado?! O Atleta do Século embriagado, caindo pelas tabelas?! Impossível! Acordei do rápido transe quando notei alguém tentando ampará-lo e fui ver o que se passava. Dois marinheiros o levaram para terra firme, descendo uma escada estreita, e eu rezando para que nenhum fotógrafo flagrasse o herói naquela situação. Não estava bêbado, claro. É que o Rei do Futebol sofre de enjôo em barcos, depois confessou que cometera uma imprudência, pensou que não ficaria mareado em um barco atracado.
Voltando às minhas habilidades com a bola: eram poucas mas consegui chegar às seleções da minha cidadezinha e do Colégio Marista de Salvador, onde batia bola todo santo dia. Como muitos adolescentes, sonhava ser um grande jogador e achei que tinha ganho uma oportunidade quando o time do Marista foi jogar uma preliminar estudantil na Fonte Nova. Acreditava com toda fé que ia ser escalado, ia jogar no tapete sagrado da Fonte Nova. No vestiário houve um problema com a chuteira do nosso melhor jogador, o Salomão. O técnico (um Irmão Marista com batina e tudo) perguntou quem calçava número 39 e apontou para mim: "dê suas chuteiras ao Salomão". Decepção atordoante.
Nunca joguei na Fonte Nova, mas minhas chuteiras jogaram. Ali, no banco de reservas e descalço, entendi que meu destino não era ser um deus dos estádios. Me acostumei com essa realidade pouco a pouco, mas nunca abandonei o prazer de jogar. Ainda hoje topo um racha nas categorias da Terceira Idade. Eduardo Galeano, citando Fernando Birri e perguntando-se porque tentamos alcançar o horizonte (a utopia) se sabemos que ele sempre se afasta à medida que avançamos, responde "para caminhar". Parafraseio: para jogar. Assim como no futebol é na vida.
Por Orlando Senna
* Links para textos de Orlando Senna no Blog Reflet
terça-feira, 15 de outubro de 2013
BENET DOMINGO, O CATALÃO QUE AMOU O RIO DE JANEIRO
Benet Domingo, a trajetória de uma artista".
No ano de 2014 será o centenário do artista, arquiteto e cenógrafo PereBenet Domingo (1914 - 1969), catalão radicado no Rio de Janeiro durante as décadas de 50 e 60. Em sua breve, porém intensa trajetória artística, podemos observar o grande sucesso e colaboração cultural que aportou para o Brasil e a Espanha. Ainda jovem brilhou como artista em sua terra natal e depois de exilado no Rio de Janeiro trabalhou como cenógrafo teatral e carnavalesco, revolucionando o conceito do carnaval carioca, observando e valorizando a identidade nacional que até então não era vista, pois apenas se valorizava o que era estrangeiro. Apaixonou-se pelo Rio e por seu povo, registrando suas diversidades e riquezas, realizando uma extensa série de desenhos a bico de pena intitulada "Nas esquinas do Rio" na qual se verifica uma rica pesquisa e precioso registro dos anos dourados do Rio de Janeiro capital. Sua obra representa atualmente o resgate da memoria cultural da cidade e das bases de construção do carnaval e da identidade carioca.
PereBenet Domingo nasceu em 1914 em Tortosa, na região do Baixo Ebro da Catalunha, em uma rica família de ideais e lideranças republicanas.
Em sua infância, se diferenciava das demais crianças por admirar e pintar o pôr do sol ao invés de se entreter jogando futebol, pegava sua bicicleta e percorria até 14 km para alcançar uma boa vista à beira rio e pintar ao ar livre suas primeiras telas.
Em sua adolescência já frequentava a Escola de Artes de Tortosa, aonde diariamente praticava desenho e pintura desejando seguir a carreira de artista, porém, seu pai não permitiu que ingressasse na Faculdade de Artes sem antes cursar outra carreira, sendo assim, Pere ingressou na Universidade de Arquitetura de Barcelona aonde se formou arquiteto.
No ano de 1936, quando Pere finalmente se preparava para ingressar na tão sonhada Universidade de Belas Artes de Barcelona estourou a Guerra Civil Espanhola. Benet Domingo participou de toda a contenda e foi ferido duas vezes lutando pelos ideais republicanos, ao fim da guerra permaneceu durante seis meses em campo de concentração e todos os seus familiares foram presos e tiveram seus bens confiscados. Seu pai e seu tio por serem lideres da República tiveram que exilar-se em Paris.
Devido às fatídicas circunstâncias do pós-guerra toda a família viveu sob um mesmo teto em Barcelona, totalizando 18 familiares em um apartamento de apenas dois quartos. Nesse então, Benet Domingo trabalhava como vitrinista para ajudar no sustento da casa. Em 1939 finalmente ingressou na Universidade de Belas Artes além de frequentar o Circulo Artístico Barcelonês e suas diárias sessões de modelo vivo. Realizou anualmente exposições individuais nas galerias Pictória e Barcino tendo grande sucesso, obras adquiridas por colecionadores e críticas no Anuário de Arte Barcelonês.
Em 1945, Benet Domingo casou-se com sua prima irmã, a pedagoga, Conchita Domingo com quem teve dois filhos, Pedro Benet (1948) e Pilar Domingo (1953).
Em 1951 apesar de sua bem sucedida carreira artística, Benet Domingo se viu obrigado a abandonar sua amada Barcelona devido a forte pressão da Ditadura Franquista sobre os vencidos. Escolheu como novo lar a cidade do Rio de Janeiro após ver um filme em que a radiante Carmem Miranda aparece emoldurada pela maravilhosa Baia de Guanabara. Chegando ao Rio de Janeiro fez valer seus conhecimentos de arquiteto e sua criatividade artística destacando-se como cenógrafo da importante companhia teatral "Os Artistas Unidos" e sendo o vencedor do concurso para a pintura mural da Igreja de Sant`Ana.
A companhia teatral, Os Artistas Unidos, era dirigida pela grande dama do teatro, HenrietteMourineau e produzida por Carlos Brant e Hélio Rodriguez e se apresentavam no teatro do sofisticado e luxuoso Hotel Copacabana Palace, Benet Domingo foi convidado como cenógrafo oficial da companhia após inaugurar com grande êxito na peça "Jezabel", permanecendo com a Companhia até o seu fim e realizando para ela mais de quinze cenografias. Benet Domingo realizou uma grande exposição com cento e cinquenta obras no Hotel Copacabana Palace, que seguiu itinerância em Belo Horizonte e São Paulo, acompanhando a turnê da Companhia e sob patrocínio da mesma.
No Centro da cidade, no Campo de Santa`Ana, Benet Domingo trabalhou durante um ano coordenando uma equipe de oitenta pessoas na pintura mural do interior e Altar Maior da Igreja de Sant`Ana, pois seu projeto havia sido vencedor para a realização do XXXVI Congresso Eucarístico Internacional no Rio de Janeiro.
Ao observar e conhecer o Centro da cidade e seus personagens, Benet Domingo, percebeu o rico contraste entre Copacabana e o Centro, iniciando assim, uma pesquisa de observação e registro de cada transeunte carioca com suas peculiaridades e diferenças (tal qual Jean Baptiste Debret que ao longo de quinze anos registrou as cenas cotidianas da sociedade da época) a essa série de mais de cinquenta desenhos a bico de pena Benet Domingo deu o nome "Nas Esquinas do Rio" que compõe um valioso e inédito registro da memória cultural da cidade.
Benet Domingo foi convidado a realizar todas as cenografias decorativas para o Hotel Copacabana Palace e seus onze salões, sendo durante dezesseis anos o "homem do Copa" e realizando com elegância e originalidade todos os eventos do Hotel, devido ao grande sucesso de suas cenografias foi convidado a realizar as decorações de carnaval do Hotel Quitandinha, em Petrópolis e do Joquei Club e Maracanãzinho no Rio de Janeiro, foi chamado também pelo cineasta argentino Carlos Hugo Cristensein, a realizar as cenografias cinematográficas para seus longametragens, entre eles: "Matematica Zero amor Dez", "Esse Rio que eu amo" e o "Rei Pelé".
Em 1957 a Secretaria de Turismo convidou Benet Domingo a fazer a cenografia do carnaval de rua, inaugurando assim uma etapa de grandes proporções, aonde o artista vive a sua liberdade de expressão aliada a sua estrutura arquitetônica. Durante dez anos consecutivos foi responsável pela decoração carnavalesca das principais avenidas cariocas, introduzindo a decoração pingente sobre as avenidas e realizando uma cenografia com a identidade e valores nacionais e não mais venezianos.
Benet Domingo foi um marco no carnaval carioca, realizando cenografias únicas e monumentais que valorizavam a cultura e identidade nacional e representavam o espírito brasileiro. Nas cenografias "Rio Sempre Rio" e "Guanabara", que realizou respectivamente no Hotel Copacabana Palace e no Centro da cidade (Avenidas Presidente Vargas e Rio Branco) Benet Domingo realizou sua revolução social, ao colocar no Copacabana Palace o personagem do negro pandeirista como portal de entrada e destaque, fazendo com que o sofisticado folião passasse sob o seu salto e construindo no centro da cidade uma Carmen Miranda de 22 metros de altura que jorrava café sobre o mundo, que girava a seus pés.
Benet Domingo despertou a sensibilidade e o olhar do carioca para sua própria imagem carnavalesca, ensinando o brasileiro a expressar seu próprio carnaval que representava o profundo de sua raça e de sua maneira de sentir.
Em 1969 o homem pisa a lua e Benet Domingo falece. O Rio de janeiro já não era capital, o Hotel Copacabana Palace estava falido e a Ditadura estava instaurada, porém a obra e a memória do que o artista realizou não deverá ser jamais apagada.
sexta-feira, 4 de outubro de 2013
Fwd: Orlando Senna Vozes d'África
Alguns leitores e alguns amigos denunciaram a ausência da África no meu comentário da semana passada, Sua língua. E logo a África, com um bilhão de habitantes e suas mil e 500 línguas. E logo a África, "pasto universal" como disse Castro Alves no poema que empresta o título a este texto: "há dois mil anos te mandei meu grito, que embalde desde então corre o infinito". Só a Nigéria tem 250 línguas, talvez a maior diversidade linguística do mundo, a África do Sul tem onze idiomas oficiais. São cenários desse oceano de falas, que os especialistas organizam polemicamente em quatro famílias (afro-asiáticas, khoisan, nigero-congolesas, nilo-saarianas). Além das línguas faladas, a África é o continente que abriga a maioria das não faladas, ou seja, as línguas de sinais, as sopradas e as tamborizadas.
Ao abordar as falas da África, tenho de reabrir outro tema mencionado no texto da semana passada, as línguas artificiais. No oceano idiomático africano convivem expressões milenares, tanto nativas como colonizadoras, com a invenção de novas articulações linguísticas, ditadas por necessidades de comunicação. Até mesmo os colonizadores inventaram novas formas de se comunicar, como o africânder, desenvolvido a partir do século XVII pelos bôeres (colonos holandeses, alemães, franceses e ingleses), para se entenderem entre si e com os nativos. Sua interface inicial foi o holandês antigo e vicejou no cruzamento com línguas africanas e asiáticas (força de trabalho presente na região) e com outras línguas europeias. Na África do Sul e na Namíbia, o africânder é hoje a língua de comunicação interétnica mais utilizada.
O angolano Pepetela, um dos maiores escritores africanos de todos os tempos (Mayombe, Yaka, O planalto e a estepe), me chamou a atenção para o lingala, língua desenvolvida ao longo do rio Congo a partir do final do século XIX e hoje falada por mais de dez milhões de pessoas na República do Congo, República Democrática do Congo (ex-Zaire), norte de Angola e sul da República Centro-Africana. A maioria das canções dessa zona são em lingala, o que aumenta cada dia mais sua popularidade como língua franca. Ao contrário do africânder, com sua ignição em uma língua colonizadora, o lingala foi sendo formada a partir do bangi, uma língua banto, em conexão com as línguas europeias dos comerciantes e missionários que aportaram na região durante a ocupação belga.
Essa realidade demonstra que o conceito de língua artificial deve ser entendido como o de uma língua construida em laboratório, por alguns poucos linguístas, por "cientistas da palavra", como o Esperanto. O seu antônimo são as ditas línguas naturais (ou ancestrais) e também as línguas que grupos humanos vão inventando e articulando, misturando as existentes, criando novas relações fonéticas com a realidade, com sua realidade. Como são as línguas francas africanas.
E por fim um aspecto exemplar da África no que se refere à sua enorme diversidade linguística e às novas línguas que surgem no turbilhão de sonoridades: a maioria dos países africanos consideram a política linguística um tema estratégico, uma questão vital para o equilíbrio cultural e social dos estados que se formaram na década de 1970 (era pós-colonial) e do próprio continente. São políticas multilinguísticas, um dos símbolos disto é o fato da União Africana, a UA, considerar todas as línguas do continente, as mil e 500, como suas línguas oficiais. Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos, como está na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Ou, em lingala, "bato nyonso na mbotama bazali nzomi pe bakokani na limemya pe makoki".
Por Orlando Senna
* Links para textos de Orlando Senna no Blog Refletor
Sua língua 27/09/2013 http://refletor.tal.tv/ponto-de-vista/orlando-senna-sua-lingua
160 Brasis no Canal Futura 20/09/2013 http://refletor.tal.tv/noticias/america-latina/brasil/orlando-senna-160-brasis-no-canal-futura
A Bahia dessemelhante 13/09/2013 http://refletor.tal.tv/ponto-de-vista/orlando-senna-a-bahia-dessemelhante
Dragão do Mar 06/09/2013 http://refletor.tal.tv/ponto-de-vista/orlando-senna-dragao-do-mar
Grafite 30/08/2013 http://refletor.tal.tv/miscelanea/artes-plasticas-2/grafite
terça-feira, 1 de outubro de 2013
Fwd: Escola de Cinema Darcy Ribeiro lança Núcleo de TV
Escola de Cinema Darcy Ribeiro Lança Núcleo de TV!
A Escola de Cinema Darcy Ribeiro está lançando, no Rio de Janeiro, um Núcleo de Criação e Produção para TV para atender à explosão da demanda de produção de conteúdo nacional após a Lei no 12.485, que transformou essa área em uma das mais promissoras do mercado audiovisual.
O Núcleo de Criação e Produção para TV da ECDR tem ênfase na produção de conteúdo, seriado e transmídia, visando a formação e o aperfeiçoamento de profissionais nas áreas de roteiro, direção e produção para TV. Pré-inscrições pelo site http://www.escoladarcyribeiro.org.br
O Núcleo de TV ECDR oferecerá atividades como Cursos, Oficinas Práticas de Criação, Palestras Temáticas, Consultorias Permanentes e Grupos de Estudo, sobre diversos temas relacionados à criação e produção para TV, como roteiro, narrativa transmídia, gêneros e formatos, storytelling, direitos autorais, formatação de projetos, entre outros.
Com o Núcleo de Criação e Produção para TV, a ECDR quer atender a cadeia produtiva do audiovisual e continuar garantindo a formação de profissionais de qualidade para o setor, expandindo a excelência do seu ensino em arte cinematográfica para a arte televisiva.
PROGRAMA:
• Cursos
Roteiro para Série de TV (48h)
Narrativa Transmídia (48h)
Personagens e Diálogos (32h)
• Oficinas: Práticas de Criação
Criação de Roteiro para Série de TV (56h)
Criação de Roteiro Transmídia (56h)
• Palestras Temáticas
Ficção Seriada: Gêneros e Formatos (4h)
Formatação de Projetos para TV (4h)
Storytelling e Transmídia (4h)
Direitos Autorais e Roteiro (4h)
Indústria da Convergência (4h)
• Consultoria (permanente)
Série de TV – piloto (pacotes de contratação de horas, sob demanda)
Produção de Narrativa Transmídia (pacotes de contratação de horas, sob demanda)
Direitos Autorais
• Grupos de Estudo
Estudos Avançados em Roteiro e Dramaturgia (78h)
• Cursos de Iniciação em Roteiro
Roteiro - básico para alunos do ensino médio (32h, sob demanda)
Escola de Cinema Darcy Ribeiro
Rua da Alfândega, 5 - Centro
Rio de Janeiro, RJ - CEP: 20070 - 000
Tels.: (21) 2233 0224 / (21) 2516 3514
Escola de Cinema Darcy Ribeiro
Rua da Alfândega, n° 05.Centro
Rio de Janeiro.RJ.CEP 20070-000
(21) 2516-3514 - Ramal 113
segunda-feira, 23 de setembro de 2013
MINHA HOMENAGEM A TODOS QUE SOFRERAM NOS PORÕES DO DOI-CODI DA BARÃO DE MESQUITA
Tortura
Luis Turiba
Levanta-se o véu e rasga-se a túnica
Os corvos ainda bicam o que restou de ti
Uma dor cicuta que espiral perdura
....tortura...
O teu silêncio cobrado em preço físico
O teu algoz agora também teu karma
Tua voz teu suspiro e teu fantasma
Quem içou o dia e eternizou o cinza
Um Deus raivoso fez habitat às sombras
Tiras o capuz e o que vês? Abismos...
Jagunços a conspirar em cadafalsos
- Ora Senhor! Não se trata bandidos a bombons!
- Meus Deus! Meu Deus! Será que vou calabar?
Nunca serás mais o que antes eras
Se o corpo resistiu, o espírito tem chagas
Marcado como gado a ilusão tritura
.....tortura.......
sexta-feira, 20 de setembro de 2013
POEMA DE MANOEL DE BARROS NA BRIC-A-BRAC
PERALTAGEM
Manoel de Barros
O canto longo da sariema encompridava a tarde.
E porque a tarde ficasse mais comprida a gente sumia dentro dela.
A gente aproveitava para vasar o rio.
E quando o grito da mãe chegava do outro lado da tarde
A gente já estava no outro lado do rio...
O pai nos chamou de berrante.
Na volta fomos entrando pé ante pé pelas paredes
com medo de um carão do pai.
Logo a tosse do vô cortou o silêncio
E fomos apanhados ali.
Mas não apanhamos nem.
Nossa mãe falou que eu ia viver a vida inteira leso.
Mas ele me poupava.
Ela disse: esse menino vai passar a vida toda enfiando água no espeto.
Foi quase.
sexta-feira, 6 de setembro de 2013
Fwd: Lançamento do CD Juriti, de Paulo Tovar. Dia 14/09, na Martis Penna do TNCS, às 20h.
Sala Marins Pena, dia 14 de setembro de 2013, às 20h
Há sonhos que ultrapassam até os limites entre o céu e a terra, basta que existam amigos, o amor da família e muita paixão pela música. Foi assim que o CD Juriti, de Paulo Tovar, veio à luz. A seleção das músicas de Juriti foi iniciada pelo próprio cantor. Mas, infelizmente, Tovar não teve tempo de terminar a trilha do que seria o seu quarto disco. Dois anos após sua morte, ocorrida em setembro de 2009, a irmã do cantor, Rosana Hummel em parceria com Toronto Viramundo, Felipe Borges Hummel e João Paulo Hummel Mota completaram a seleção das composições.
O trabalho, feito em parceria com as pessoas da família e amigos, resultou em Juriti, que tem produção executiva de Paulo Hummel e direção de produção de Rosana Hummel, irmãos de Tovar, projeto gráfico e ilustrações do artista plástico Zé Nobre, direção musical de Toronto Viramundo, gravação de Daniel Baker e Fernando Rodrigues.
Ao todo, 18 músicas estão no CD, 13 das quais são inéditas e de autoria exclusiva de Tovar, com destaque para Bagdá, Próxima parada e Galináceo apaixonado. Em parcerias, Juriti, música mais gravada e produzida em Brasília, dele e de Aldo Justo; Marco Zero, com Haroldinho Mattos e Espírito que canta, com Itamar Assumpção, entre outras parcerias.
Tovar foi um dos criadores do Concerto Cabeças ao lado de Néio Lúcio, Renato Mattos, Nicolas Behr, Luis Turiba, Chacal, Vicente Sá, Sóter e outros artistas que produziam poesia e arte na cidade. Nascendo um movimento literário denominado poesia de mimeógrafo (década 1970). Tovar tinha base sólida e foi aluno de música da Universidade de Brasília, foi aluno da flautista Odette Ernest Dias e da Escola de Música de Brasília (EMB). A combinação entre música e poesia o levou a estar, ao lado de grandes amigos. O voo da juriti foi seu maior sucesso, porém o reconhecimento veio através de Marco Zero, música ganhadora dos 1º lugares do festival – CantaCut, edição de 2006, nas categorias de melhor música e melhor letra.
Show de lançamento do CD Juriti, de Paulo Tovar
Com os cantores e interpretes de Paulo Tovar: Gerson Deveras, Camila Hummel, Nonato Veras, Aldo Justo, Paulo Djorge, Célia Porto, Ana Paula, Paraibola, Haroldinho Mattos, Áurea Lu, Sérgio Duboc, Renato Matos, Eduardo Rangel e o Grupo Liga Tripa. Acompanhados da banda formada por Daniel Baker nos teclados, Haroldinho Mattos na guitarra, Rodrigo Galvão na bateria e Genaldo Gê Mendonça no baixo.
Local: Sala Martins Pena do Teatro Nacional
Data: Dia 14 de setembro de 2013, às 20h
Preço: Entrada franca
Classificação indicativa: 18 anos.
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Contatos: Rosana Hummel: 61 9934 4566
Peninha: 61 99134380
"A poesia de Paulo Tovar, muitas vezes musicada, traduz Brasília como a cidade modernista, mas também como a cidade sertão, bem aos moldes de quem vivenciou e carrega uma tradição sertaneja. Paulo Tovar nasceu em Catalão, interior goiano. Observador do cerrado, impactado com a construção de Brasília, sua poesia traduz a cidade por meio de um movimento poético que se tornou conhecido entre aqueles jovens como "poesia de mimeográfo" ou "poesia ambulante" que se fortaleceu como expressão cultural de Brasília nos seus primeiros anos. Paulo Tovar escreveu a cidade e sua natureza sertaneja em meio a cidade moderna, num momento em que ainda não se falava de preservação ambiental; transgrediu, por meio da sua poesia, o momento político – a ditadura militar – e junto com outros poetas e músicos da cidade lideraram um movimento poético que denunciava a "cidade silenciada"; a poesia, expressão ativa da cultura da cidade daquele momento, era "publicada" nas paredes, nas paradas, nas ruas, como reação ao contexto repressor. Músico e poeta, Cidadão Honorário de Brasília, post mortem, desde agosto de 2010, traduziu a cidade-sertão, a cidade moderna, marcou época com sua poesia, contribui para que a gente possa entender o que é Brasília."
Cultura e Natureza na Poesia Brasiliense de Paulo Tovar
Regina Coelly F. Saraiva
(Professora Adjunta de História da Faculdade UnB Planaltina – FUP/UnB)
quinta-feira, 5 de setembro de 2013
ROCK IN RIO: UMA LIÇÃO DE COMUNICAÇÃO VIA MÚSICA
AULA DE COMUNICAÇÃO,
PARCERIAS E PATROCÍNIOS
Nascido da ideia de revitalizar uma marca envelhecida, o Rock in Rio transformou-se no maior festival de música do planeta. Conheça seus números, estratégias e como agem as empresas neste grande evento.
CONTRAPARTIDAS - O diretor comercial do evento, o português Raul Azevedo, está trabalhando de 12 a 14 horas por dia para fazer os acertos finais do festival que acontecerá em setembro. Ele gosta de citar, como exemplo mais concreto e popular de contrapartidas, o caminho escolhido pela marca Trident, que distribuirá entre o público um milhão de caixinhas de chicletes.
"Em um momento de retração do mercado de entretenimento no Brasil, especialmente para shows e festivais, a resposta do público à convocatória do Rock in Rio é a comprovação do poder de atração da marca. Somos o maior festival de música do mundo por inúmeros fatores, inclusive no quesito produtos licenciados. O interesse das marcas pelo evento é um fenômeno", afirmou ele.
Em 2004, 2006, 2008 e 2010, o Rock In Rio se realizou em Lisboa, Portugal, com patrocínio da Milenium e na Espanha (2008 e 2010) com patrocínio master da Telephonica. Voltou ao lugar de origem, a Jacarepaguá, Rio de Janeiro, em 2011, na mesma e histórica cidade do rock onde nasceu. Uma história bem sucedida, sem dúvida. Aumenta o som que isso é rock and roll. E rock, é comunicação.