Brasília tem uma mística planetária. É ainda hoje uma lenda brasileira de alcance internacional. Sempre foi, traz isso do berço e do barro de onde se ergueu.
Na época da sua construção, a ousadia do gesto assombrou o mundo inteiro: surgia do nada do cerrado, como um lance de magia inconcebível, uma moderna cidade com arquitetura de traços, curvas e levezas flutuantes nunca dantes imaginável. No centro de tudo, o homem, o trabalhador, o candango anônimo – milhares deles. Era um tempo de delicadezas e descobertas.
Consciente desse encantamento, o presidente Juscelino Kubitschek dava corda. Trouxe para a cidade em construção as melhores cabeças planetárias. O astronauta russo Yuri Gagarin, por exemplo, o primeiro a rodar no espaço sideral, ao chegar aqui ficou boqueaberto com o que viu e exclamou: "tenho a sensação de estar pousando num planeta diferente".
O intelectual francês Jean Paul Sartre trouxe junto a libertária mulher Simone de Bauvoeir, que também se impressionou com a construção de Brasília, mas foi gélida e ácida: "essa cidade nunca terá alma".
Veio também Fidel Castro, revolucionário que libertara Cuba; o imperador da Etiópia, Yalé Salassiê; a duquesa de Kent, que foi esnobada por Niemeyer; o filósofo inglês Aldus Huxley; o presidente de Portugal, Craveiro Lopes; e o ministro da Cultura do governo do marechal De Gaulle, André Malraux, para quem a cidade era "contemporânea do futuro". Foi ele, aliás, que esculpiu a clássica frase: "Brasília, capital da esperança."
Mas segundo meu amigo e historiador Miguel Setembrino, presidente da Fecomércio/DF, as considerações mais significativas foram feitas pelo então presidente italiano Geovanni Gronchi, que visitou as obras da futura capital no dia 8 de setembro de 1958.
"Na civilização moderna, Brasília é o que mais se assemelha a Roma pelo seu espírito de monumentalidade e perenidade."
Ou seja: não se fala de Brasília impunemente, pois o mundo ainda a olha com respeito da monumentalidade e um toque encantatório da perenidade. A obra de JK, Lúcio Costa e Oscar Niemeyer e todos os seus candangos seguidores é realmente eterna e está acima de factóides políticos de maus administradores.
Tive a oportunidade de comprovar esse veredicto agora, em Madrid, por ocasião da exposição "Brasília, 50 anos: meio século da capital do Brasil". Uma exposição belissimamente montada em três diferentes ambientes da elegante Arqueria de Nuevos Ministérios, na área central e moderna de Madrid.
Com produção e curadoria de Daneille Athayde, que trabalhou duro por quase dois anos para reunir farto material histórico e estético sobre esses primeiros 50 anos de Brasília. Pode não ter sido o mais chamativo de uma Brasília contemporânea, mas foi o possível e suficiente e isso já é muito significativo.
Na exposição, por exemplo, os espanhóis verão peças fundamentais na história da cidade, como os rascunhos iniciais do Plano Piloto de Lúcio Costa; desenhos originais de Oscar Niemeyer e uma sala especial para Athos Bulcão, com painéis de seus azulejos. As fotos históricas de Fontenelle, a supermaquete do arquiteto Antonio José Pereira e as fotos "quase vivas" de cores e luzes de Fabio Colomnini, impressas magistralmente em papel de algodão fine arte com duralidade de 200 anos ou mais. É a Brasília século XXI se dizendo presente, cá estou viva e gloriosa. Danielle conseguiu juntar a Brasília de dois tempos.
Bom mesmo é ver e curtir as fotos, sempre originais, do histórico e pioneiro Mário Fontenelle retrabalhadas em gigantescos banners pendurados nos arcos da galeria dos Novos Ministérios de Espanha. É a vitória de Brasília sobre o grande mundo tremulando numa das mais movimentadas e culturais capitais europeias. Demais....ver o brilho da nossa cidade a oito mil quilômetros de distância.
A vice-governadora de Brasília, Ivelise Longhi, que abriu a exposição que teve patrocínio da Cartão-BRB, ficou tão encantada que prometeu buscar recursos para levá-la a Lisboa e trazê-la também a Brasília no início da próximo ano.
"Aí, não serei mais governadora, mas vou conversar com o futuro governador para trazer essa linda exposição para os festejos do 51 aniversário de Brasília", garantiu Evelise.
Depois de Madrid, "Brasília 50 anos" irá a Lisboa, Milão e uma cidade na Alemanha. Em 2011, quem sabe Paris. A governadora estava acompanhada do presidente do BRB, Nilban de Melo Junior, e da Terracap, Dalmo Alexandre Costa.
Um pequena biblioteca foi montada no andar térreo com centenas de livros para os visitantes fazerem suas consultas sobre Brasília. Lá, poderão encontrar "BRASÍLIA ABSTRATA E CONCRETA" , histórica antologia de textos, visualidades e poemas organizada por Wagner Hermuche, "Brasília do Cerrado, a capital da República", de Lucilia Garsez e Jo Oliveira, "Brasília, que cidade é essa", de Beth Cataldo; "La Brasilíadas", poemas de Nicolas Behr; e muitos outros como o grande catálogo de Athos Bulcão.
Ah, realmente é maravilhosa a sensação ver Brasília de longe, sentir que a cidade inventada por Lucio Costa e Oscar Niermeyer deu certo, é planetária e humanista, sobreviveu e sobrevive a todas tormentas políticas e tentativas de violentá-la do ponto de vista político e moral.
Um comentário:
Meu querido Turiba!
Gostei muito do seu artigo. A exposiçao já deu vontade e o artigo reforça essa vontade de visitar Brasila e ver ao vivo tudo o que refere.
Espero vê-lo em breve.
Um bjinho, Magda
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