segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

"VESTIDO DE NOIVA" DE NELSON RODRIGUES GANHA LEITURA PÓS-MODERNA

NELSON RODRIGUES PÓS-TROPICALISTA NA
NOVA MONTAGEM DE VESTIDO DE NOIVA

Luis Turiba

Tenho uma visão totalmente carnal e pessoal de Nelson Rodrigues.
Quando fui "foca" na redação de O Globo, em meados dos anos 70,
entrava na redação às oito da matina e lá estava ele sentado à mesa
batucando na sua velha Remington, sempre com uma ponta de cigarro no
canto da boca, escrevendo sua crônica sobre o Sobrenatural de Almeida
no time Fluminense.

Menino ainda, passava pelo mago e dava um largo "bom-diiiiiaaaaa". Ao
que ele respondia: "hruuunmuumm". Era o próprio "óbvio ululante"
naquela velha redação atrás de uma manchete sensacionalista.

Ontem fui assisti "Vestido de Noiva", adaptação e direção de Renato
Carrera, no SESC do Centro. A peça é histórica. Foi estreada em 1943,
portanto há 70 anos, e dizem que trouxe o Modernismo para o palco. O
"Vestido", diz Sábato Magaldi, "rasga a fronteira da consciência e se
realiza na maior parte como a projeção exterior da subconsciência de
Alaíde, a heroína. Nelson gostava de dizer que a peça foi "a primeira
tragédia carioca".

A montagem de Renato Carrera, com destaque para a atuação da atriz
Patrícia Pinho como a velha cafetina das alucinações psíquicas de
Alaíde, me trouxe aquela incrível sensação que o tempo passou e o
texto de Nelson Rodrigues continua atual para quem busca a
modernidade.

A peça tem um quê de "pós-tropicalismo", de "Programa do Chacrinha" na
era cibernética, de falso brilhante, que muito me agradou. Sua
montagem conseguiu alcançar uma dialética dinâmica, com um jogo de
cores/luzes bem resolvido como se tudo aquilo fosse um carro alegórico
de Paulo Barros com seus segredinhos chineses.

Os cortes são geniais e deixam o conteúdo não linear no ar. A
narrativa plástica de sequências quase rítmicas deu nova vida ao
complexo texto psicológico de um autor à beira da neurose, como foi
Nelson Rodrigues.

Sai do teatro desejando "meeeerda" a trupe que acaba de estrear e que
a peça tenha longa vida pelos palcos que o SESC, essa instituição de
quinta grandeza cultural, pode vir a patrocinar. Para todos que
confeccionaram esse vestido: "Nam Myoho Rengue Kyo!!!

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