Luis Turiba
"Qualquer poema bom provém do amor". É com este verso lapidar que
começa o clássico soneto "Dita", de Antonio Cícero, publicado no
almanak experimental paulista Atlas, de 88. Na página ao lado da mesma
publicação, uma foto de Luz Del Fuego nua, corpo de peixão, enrolada
numa serpente, como a ilustrar outro verso do mesmo poema: "beijando o
espelho d´água da linguagem/ jamais tivemos mesmo outra mensagem".
Abro o meu livro "Cadê?", de 1998, com uma homenagem a todos poemas de
amor – e não são poucos. Um coração vermelho com bolinhas brancas
bordado num pano branco com bolinhas vermelhas, trabalho da designer
Regina Ramalho, vai crescendo ao longo de quatro páginas, até explodir
junto a um breve poema de Maiakovski: "nos outros/ eu conheço o lugar
do coração:/ no peito./ Em mim/ a anatomia perdeu a razão/ sou todo um
coração".
Nesse "explode coração-linguagem" do "Cadê?" há também citações de
versos de Carlos Drummond de Andrade - "Amar" de Claro Enigma - e de
chileno Vicente Huidobro, Altazor, tradução de Antônio Risério. Mas a
primeira das citações dessa "flor da pele das palavras" vem de longe,
de bem antes da descoberta do Brasil, de um tempo onde o português
ainda era um certo jeito errado de se falar o latim. É uma "cantiga de
Senhor" do trovador português Nuno Eanes Cerzeo, poeta do século XII.
É assim, com essa pequena e singela quadrinha, que abro essa seleção
de 10 Poemas de Amor de onde, com sua ajuda, pretendo selecionar no
máximo cinco para a antologia que publicaremos até o final deste ano.
"todas las gentes mia-a mi estranhas son,
e as terras, mia senhor, per u eu ando
tod´al do mund, sem vós,
ei eu perdudo sabor*
todas as pessoas me são estranhas
e os lugares, minha amada, por onde ando
todas as coisas do mundo, sem você,
eu bem sei: perderam o sabor
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