segunda-feira, 9 de junho de 2014

Fwd: RIO NA COPA

Luis Turiba

 

Holandeses invadem nossa praia

 

Enquanto os alemães participam de pajelanças com os índios pataxós em Cabrália, sul da Bahia – coitados, a maldição do cocar é conhecidíssima entre nós, tupiniquins -; os holandeses estão cada dia mais acariocados.

Depois de mais um treino no campo do Flamengo, na Gávea, Robben, Sneijder e companhia foram pedir proteção a Iemanjá com um banho de mar no Leblon, com direito a caldos e muitas outras ondas. Saravá Van Gogh!

Aliás, os flamengos já chegaram ao Brasil tirando onda. Largaram as malas num hotel em Ipanema e foram imediatamente caminhar chutando ondinha atrás da famosa "Girls from Ipanema".

Quem estava lá na praia no último fim de semana curtindo aquele sol caidaço do outono carioca e testemunhou tudo, foi minha amiga, a poeta paraibana-candango Amneres. De repente, a poeta se viu atropelada literalmente por aqueles quase vikings – e alguns negões sabe-se lá vindos de onde. Fotografou tudo antropofagicamente. 

Mas é bom que se diga: holandeses merecem nosso respeito no futebol. Fomos eliminados por eles em 1974, na Copa da Alemanha, quando os adeptos do futebol-total – ou carrossel holandês, quem pode esquecer tão intenso balé -, tendo à frente o genial craque Johannes Cruijff. Perdemos por 2 a 0. Na Copa da África do Sul, a mesma coisa: 2 a 0, com o goleiro Júlio César mostrando sua famosa mão-de-alface em um dos gols holandeses. Vencemos a Holanda em 1994 por 3 a 2, na semi-final, com aquele golaço de falta do lateral Branco, quando Romário, num lance genial, tirou a bunda da reta e a bola passou zarpando rumo a rede holandesa.

De qualquer maneira sabemos que carne de holandês é gostosa. Ao expor seus corpos no paraíso tropical do Leblon, eles correm altos riscos, mesmo tendo uma esquadra da Marinha a vigiá-lo em alto mar. E aqui vale recorrer ao capítulo 2 do livro "Viva o Povo Brasileiro", de João Ubaldo Riberto, cujo ambiente é datado de 20 de dezembro de 1647.  Diz o texto:

"O caboco Capiroba apreciava comer holandeses. De início não fazia diferença entre holandeses e quaisquer outros estranhos que aparecessem em circunstâncias propícias, até porque só começou a comer carne de gente depois de uma certa idade, talvez quase trinta anos. (...)Saiu para tentar a sorte meio sem esperança e voltou arrastando um holandês louro, louro, já esquartejado e esfolado, para livrar o peso inútil na viagem até a maloca.  O flamengo tinha o gosto um pouco brando, a carne um tico pálida e adocicada, mas tão tenra e suave, tão leve no estômago, tão estimada pelas crianças, prestando-se tão versatilmente a todo uso culinário, que cedo todos deram de preferi-lo a qualquer outro alimento, até mesmo o caboco Capiroba, cujo paladar, antes rude, se tornou de tal sorte afeito à carne flamenga que às vezes chegava mesmo a ter engulhos só de pensar em certos portugueses e espanhóis que em outros tempos havia comido, principalmente padres e funcionários da Coroa, os quais lhe evocavam agora uma memória oleosa, quase sebenta, de grande morrinha e invencível graveolência".

Assim como a França e o Uruguai, a Holanda também deve ser considerada um "fantasma" pela nossa seleção canarinho. E os caras estão gostando da nossa praia.

É. Tomara que o caboco Capiroba esteja solto pelos campos dessa Copa do Mundo num Brasil que não consegue ser padrão FIFA. Macunaíma nos proteja.

Um comentário:

Cris Kozovits disse...

Muito bom, como sempre, amigo Tiriba. Então, não vamos mais comer Caetano, vamos comer holandês!