Luis Turiba
Troca-troca na Estação Central do Metrô
Dia dos Namorados. Em algumas horas a seleção brasileira entra em campo e começa a nossa tão polêmica Copa do Mundo – 64 anos depois do Maracanaço, um fantasma que ainda nos ronda. Portanto, a responsa é grande, galera: nada de jogo frouxo.
Senti nas ruas do Rio de Janeiro esse climão pré-estréia. Dava para ouvir um certo burburinho especial no ar: buzinas nervosas, crianças e camelôs soprando histéricas cornetas, todo mundo querendo chegar mais cedo em casa, pessoas comprando camisas e bandeiras para enfeitar janelas e carros. Enfim, vai ter Copa e vamos torcer. Afinal, apesar dos pesares, a seleção ainda é nossa eterna namorada.
O Rio está lotado de gringos. Alemães, colombianos, holandeses, americanos, portugueses, ingleses, japoneses, mexicanos e, pra variar, também argentinos. São ruidosos, escandalosos e vestem, com orgulho, as cores de seus seleções. A partir de hoje (dia 12, quinta) o Brasil é o centro do mundo e o Rio é o umbigo do Brasil.
Andando de metrô pude constatar – para nossa tristeza – que nem um banho de civilidade esse meio de transportes e locomoção de massas tomou para receber aqueles que vieram ao Rio para a Copa. Estações sujas, paredes imundas, chão xexelento e a confusão de sempre – mas ainda bem que estava funcionando, brasileiramente.
Diariamente passam pela estação Central do Brasil cerca de 50 mil passageiros – uma movimentação extraordinária, onde se cruzam pessoas dos mais diferentes lugares que se movimentam de ônibus, trem e metro. E de repente, no meio daquela muvucada toda, surge à minha frente uma biblioteca chamada Estação de Leitura. Um projeto pioneiro e que merece foco, luzes e transparência de todos.
A Estação de Leitura se instalou na Estação Central do Brasil há pouco mais de um mês. É um projeto do Instituto Oldemburg, dirigido por Cristina Oldemburg, em parceria com o Metrô e a prefeitura do Rio. Já são mais de mil leitores associados e uma média de 60 livros emprestados por dia.
A bibliotecária Joanilda Santos e a secretária do projeto Ivanise de Moura entraram em clima de Copa. Vestiram um chapeuzinho verde-e-amarelo e celebraram o projeto Troca-Troca, onde leitores trazem livros de casa e trocam por outros que estão expostos na Estação. As vésperas do jogo de estreia do Brasil foram trocados seis livros. Entre os que foram levados, o escritor alagoano Graciliano Ramos foi o campeão, com dois exemplos: São Bernardo e Vidas Secas.
Pertinho da Estação Leitura há uma galeria de arte, onde quem se der ao trabalho de parar, verá uma belíssima exposição de fotos de grande Evandro Teixeira sobre o livro Vidas Secas.
Enfim, torcedores passam pela Central do Brasil na pressa da pré-Copa, brasileiros e estrangeiros, numa vibração que apenas se anuncia, enquanto uns poucos leitores param na Estação na possibilidade de uma boa leitura. Duas militantes da cultura lutam para dar visibilidade a um projeto que não tem padrão FIFA, mas que tem uma importância transcendental à da Seleção Brasileira, essa eterna namorada do povo brasileiro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário