ARRÁ..URRÚ...O MARACA É NOSSO
Luis Turiba
O Maracanã é uma feijoada completa: carne seca, pé de porco, linguiça, farofa, couve, arroz, laranja e muito molho de pimenta. Cheira à beça seu tempero, produz barulhos, mexe com os nervos da galera e o bicho pega.
Ver jogo em estádio é totalmente diferente da televisão. Você não é só um assistente confortável sentado no sofá, mas um partícipe ativo em um espetáculo que envolve milhares e milhõe$. No Maraca... benzâ Deus, essa sensação se quadruplica. É como estar numa rave em pleno vôo de um disco-voador rumo ao buraco negro do gol. E trate de aproveitar, pois o embalo dura só 90 minutos e o tempinho de prorrogação. Mas é suficiente. Você não chuta, é verdade; mas empurra o chute, dando-lhe força, direção e potencia com seus gritos, bandeiras, impulsos.
Nada vem digerido, tudo é pura dialética. A disputa acontece ali em campo em torno de uma bola – a Brazuca -, na força atlética do aqui e agora. A dimensão geo-física-espacial é totalmente outra da costumeira telinha. A bola é mais redonda, os passes são mais precisos, os dribles têm mais magia. É dessa imprevisibilidade apaixonante que nasce a tensão que só o futebol desperta em todo e qualquer lugar do planeta Terra. A Fifa apenas potencializou essa energia. Ou melhor: comercializou esse grande negócio chamado Copa do Mundo.
Aos 64 anos o Maracanã está enxutaço. Nasci com ele, por isso falo com certidão de nascimento debaixo do braço. Sei que custou caro e fez a vida de muita gente. No embalo da corrupção, o "maior do mundo" passou por reformas profundas e estéticas. Implantou cabelos, fez lipo, ponte safena, prótese. Está tudo funcionando.
Fui lá testar. Tudo a contento. Cercado de grades e polícias para os jogos da Copa. É muita gente trabalhando pra te receber, te orientar, te encaminhar, te acolher. Voluntários de megafones nas mãos falando e se comunicando em vários idiomas. Até na hora do clássico xixi, tem um cara ali te orientando. Ah...e os banheiros novos. Exalam perfume. Foi no banheiro que ouvi a frase do jogo: "Pô, que banheiro cheiroso, perfumado! Deixa a torcida do Flamengo vim aqui. Vão roubar tudo isso". Que maldade, gente! A Alemanha jogou e ganhou com a camisa do Mengão.
Arrá..urrú...O Maraca é nosso! Voltar ao velho e bom Maraca numa Copa do Mundo no Brasil é demais prum pobre torcedor. Me coube no grande latifúndio da Fifa o jogo França x Equador. E lá vou eu todo-todo vestido de equatoriano. Como "eu sou apenas um rapaz latino-americano sem dinheiro do banco", vesti minha camisa amarela, joguei minha toalha rubro-negro no ombro e lá fui em família, filho e neto.
Ora, se o Hino Nacional cantado juntinho emociona, imagina La Marseillaise. Milhares de franceses vieram ao Rio para ver a "Le bleu" se classificar para as oitavas-de-final. Pensem na cena: Maraca lotado e vibrante: quando se entoou as primeiras notas do clássico hino francês, a torcida veio junto cantando como se estivesse indo para uma guerra. A Marseillaise é um hino universal, forte e libertador. Como um ingrato torcedor do Equador, não resisti e cantei junto a plenos pulmões. Me senti o próprio "partisan" da Resistência francesa caminhando pelas montanhas para combater soldados nazistas, com minha espingarda caseira em punho. Allez le bleu! Allez le bleu! Mas vamos à letra do hino cantado em uníssono pelo Maraca lotado:
Allons enfants de la Patrie/ Le jour de gloire est arrivé/ Contre nous de la tyrannie/ L'étendard sanglant est levé (2x)/ Entendez vous dans les campagnes/ Mugir ces féroces soldats/ Ils viennent jusque dans vos bras,/ Egorger vos fils, vos compagnes.
E o famoso refrão: A"ux armes citoyens! Formez vos bataillons!/ Marchons, marchons/ Qu'un sang impur abreuve nos sillons."
Foi um grande momento da Copa do Mundo que já teve quase tudo: brochada dos campeões espanhóis; fracasso do metrosexual Cristiano Ronaldo; surpresa dos latinos americanos; mordida do vampiro Suárez; balé do magrela Neymar; recordes de gols; invasão de argentinos, chilenos e mexicanos; o time do Flalemanhã; gol-vôo do holandês Persie; greve financeira de jogadores de Gana que acabaram recebendo (via mala diplomática) U$ 6 milhões num hotel em Brasília; passeatas dos "não-vai-ter-Copa" em plena Copa; vaias da elite branca à presidente Dilma; bundalelês em Copacabana e gringos para todos os lados.
Posso garantir que o Maraca está pronto para voltar a ser o maior do mundo. Chega-se rápido e tranquilo de metrô. A saída também foi maneira. Lá dentro, cadeiras confortáveis, lanches merecas e baratos, cerveja gelada. O burburinho do estádio com seus gritos de guerra é contagiante. O huuuuummmm quando a bola passa raspando a trave continua afiado. O colorido das torcidas é arrepiante.
Nós, brasileiros, somos realmente o melhor do Brasil na Copa- mesmo aqueles que torcem contra e jogam pedras. Mas independente de tudo isso, presenciei alguns mijões atuando atrás das pilastras (fora dos banheiros) no anel superior do Maracanã.
Pois então: o tão carioca "Imagina na Copa" é hoje uma canção planetária de sucesso. Está todo mundo curtindo e o bicho está pegando. Acontece como um clipe cibernético de vitórias e alegrias; dramas e derrotas; angustias e explosões; choros e surpresas. Gols de placas e gols contra. A bandeira nacional pintada na bunda daquela rechonchuda morena no cangote de um gringo na FanFest de Copacabana. De um lado, a ordem. Do outro, o progresso. Chegou a hora dessa gente bronqueada mostrar seu valor, marcar seu gol. Quem será o campeão? Torçamos pelo Brasil, mas se não...pouco importa: o Maracana é nosso. Ah rá! Uh rú!!
Um comentário:
information is verry nice guys,
happy football, brazil good nice and beatifull
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