Gil em Vitória
Sempre fui um admirador do músico e compositor Gilberto Gil, que no último dia 23 proferiu uma conferência com o tema "Política e Cultura no Mercado da Música", no Teatro Carlos Gomes, encerrando o Programa de Capacitação em Música organizado pela Secult e o Sebrae, em Vitória. Seguro e sereno, o ex-ministro e popstar mostrou ao público por que a sua passagem pelo Ministério da Cultura mudou paradigmas e colocou a cultura na pauta principal das políticas públicas que visam ao desenvolvimento social e à ampliação do conceito de cidadania.
Além de demonstrar competência e todo o conhecimento necessário para se compreender os impactos provocados pelas novas tecnologias na circulação do produto artístico – em especial da música -, Gil encantou a plateia com suas proposições no tocante aos possíveis caminhos a serem percorridos pelos artistas em busca de espaços de atuação e de recursos financeiros. Enfatizou a necessidade de uma postura sempre ativa do artista, a fim de divulgar o seu trabalho e fazê-lo chegar ao público, em uma sociedade saturada de ofertas de toda ordem.
Naturalmente, tal objetivo só pode ser atingido se a obra tiver qualidade artística suficiente e estar em sintonia com os anseios e sonhos do público desejado. Isso não significa somente qualidade técnica, mas criatividade e valor social do produto artístico a ser consumido.
Para quem conheceu Gil como ministro não foi novidade ver como ele transita com muita propriedade sobre temas e aspectos relevantes da política cultural e da inserção do artista em uma sociedade em constante processo de transformação. Ao longo de sua trajetória como ministro sempre salientou em seus discursos o tripé da política cultural responsável – "a cultura como usina de símbolos, como direito e cidadania e como economia" – e a força da diversidade cultural brasileira fazendo dela uma das alavancas e principais estratégias do nosso desenvolvimento.
Vale citar aqui alguns programas e propostas implementadas sob a sua gestão, como o Cultura Viva, o Plano Nacional de Cultura, já aprovado pelo Congresso Nacional, institucionalizando questões importantes para o futuro das políticas culturais, tais como a legislação de direitos autorais e o financiamento público às artes, e também o programa Cultura e Pensamento, que incentiva a reflexão e a produção crítica sobre fatores que estruturam a cultura e a sociedade.
Tive o prazer de trabalhar no Ministério da Cultura sob a sua batuta durante 3 anos, primeiro na SPC (Secretaria de Políticas Culturais) colaborando na formulação de políticas a serem implementadas, e depois, na coordenação de projetos internacionais, tais como a Copa da Cultura na Alemanha e a participação do Brasil na Feira Internacional de Arte Contemporânea (ARCO) em Madri. Pude constatar assim a firmeza e a suavidade com que conduzia as suas equipes sem nunca perder a alegria, a generosidade e a capacidade de sonhar.
O público deixou o Teatro Carlos Gomes estimulado a descobrir novos caminhos e territórios para a sua atividade artística e satisfeito em ter compartilhado esse momento tão importante da vida cultural do Espírito Santo.
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