Há de ser tudo da lei"
"Raul – o início, o fim e o meio", filme-documentário de Walter Carvalho, que fechou ontem (17, segunda) o Festival de Cinema do Rio, tem todo o perfil para se tornar um filme Cult, desses que são permanentemente assistidos por milhares e milhares de pessoas que amam e cultuam a música de Raul Seixas.
No final da apresentação de quase duas horas, o público que lotou o Cine Odeon, na Cinelândia, aplaudiu calorosamente de pé a obra aos gritos de "Toca Raul", "Viva Raul". Caetano Veloso e Patrícia Pilar estavam entre os que vibraram.
Walter Carvalho, irmão mais novo de Vladimir Carvalho, acertou à mão. Levou perto de quatro anos para fazer o filme: dois filmando e quase dois montando. Mas conseguiu reunir com riqueza de detalhes tudo que se tinha sobre o roqueiro baiano.
Depoimentos riquíssimos sobre o autor de Gita, Ouro de Tolo, Metamorfose Ambulante, Mosca na Sopa e o eterno Maluco Beleza, foram colhidos por parceiros, parentes, amigos, ex-mulheres.
Falas como as do escritor Paulo Coelho, parceiro de Raul; do jornalista Nelson Mota, Caetano Veloso, Tom Zé e Marcelo Nova; além de todas as cinco ex-mulheres do cantor, especialmente o dramático e verdadeiro depoimento de Lena Coutinho, sua última viúva, que confessa ter perdido a batalha (e Raul) para as drogas.
"Raul" tem estréia marcada para o início do verão, em janeiro, e certamente atrairá esse povão apaixonado pelo seu canto, suas lições, mensagens e ensinamentos.
Raul Seixas e Paulo Coelho
"Eu que já andei pelos quatro cantos do mundo procurando",
"Foi justamente num sonho que ele me falou"
Às vezes você me pergunta
Por que é que eu sou tão calado
Não falo de amor quase nada
Nem fico sorrindo ao teu lado
Você pensa em mim toda hora
Me come, me cospe, me deixa
Talvez você não entenda
Mas hoje eu vou lhe mostrar
Eu sou a luz das estrelas
Eu sou a cor do luar
Eu sou as coisas da vida
Eu sou o medo de amar
Eu sou o medo do fraco
A força da imaginação
O blefe do jogador
Eu sou eu fui eu vou
Gita
Eu sou o seu sacrifício
A placa de contra-mão
O sangue no olhar do vampiro
E as juras de maldição
Eu sou a vela que acende
Eu sou a luz que se apaga
Eu sou a beira do abismo
Eu sou o tudo e o nada
Por que você me pergunta
Perguntas não vão lhe mostrar
Que eu sou feito da terra,
Do fogo, da água, do ar
Você me tem todo dia
Mas não sabe se é bom ou ruim
Mas saiba que eu estou em você
Mas você não está em mim
Das telhas eu sou o telhado
A pesca do pescador
A letra A tem meu nome
Dos sonhos eu sou o amor
Eu sou a dona de casa
Nos pegues pagues do mundo
Eu sou a mão do carrasco
Sou raso, largo, profundo
Gita
Eu sou a mosca da sopa
E o dente do tubarão
Eu sou os olhos do cego
E a cegueira da visão
Mas eu sou o amargo da língua
A mãe, o pai, o avô
O filho que ainda não veio,
O início, o fim, e o meio
O início, o fim, e o meio
Eu sou o início, o fim e o meio
Eu sou o início, o fim e o meio
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