Algo bem diferente acontecerá na Música Popular Carioca nessa terça-feira, dia 6 de dezembro, às 20h30 horas, no bar Cariocando, Rua Silveira Martins, 139, Catete. Marque esse acontecimento na agenda.
Por Luis Turiba
Tímido, o compositor Fernando Pellon montou um artifício para se apresentar em público pela primeira vez, quando lançou seu primeiro e censuradíssimo disco que tinha o intrigante título de "Cadáver pega fogo durante o velório". Ele entrou no palco vestido de cego.
Tudo muito bem montado. Alguém o levou até o microfone e ele ficou lá, óculos escuro e bengala. Cantar até que cantou legal, foi aplaudido e tudo. Só que os músicos que o acompanhavam saíram de cena e o deixaram lá. Da platéia, as pessoas começaram a gritar: "voltem, esqueceram o ceguinho!" "isso não se faz com um cantor cego".
Em outra ocasião, um samba desse mesmo disco começou a tocar em uma festa e os donos da casa, simplesmente, deram por encerrada aquela noitada. A letra da canção tratava de um assunto que havia trazido desgostos e contrariedade para aquela família. Começava assim: "Quando eu soube que estava canceroso/ ergui louvores aos Criador."
Esse seu samba, por exemplo, foi citado na monografia sobre o ritmo de Roberto Bozzetti, hoje professor de Literatura na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Diz ele:
"O extraordinário talento de letrista de Pellon é capaz de nos poucos versos do samba contar com detalhes, pela presença dos substratos narrativos modalizados a cada passo, sua desdita: abandonado pela mulher, a doença fatal (seria?) é uma vingança da Providência divina, punição pelo lar desfeito (por ela): "pois me desprezaste/me escorraçaste/destruindo nosso ninho de amor". Toda a situação do casal, todo o vínculo homem-mulher segundo as regras sociais estará assegurado pela morte do protagonista que reassume morto o seu lugar ("terás pelo resto da vida pensão alimentícia"), ao passo que ela perdeu-se no lodo das "mulheres largadas": "Só não sei o bordel que te encontro/para te dar a notícia/nem tampouco se atendes por Norma/Marli ou Letícia".
Agora, quase 20 anos depois, o poeta e compositor Fernando Pellon volta novamente a atacar. O lançamento do seu segundo CD, intitulado "Aço frio de um punhal", acontece no bar Cariocando, no Catete. A garantia é que ele não irá mais se vestir de cego. Ao contrário: de olhos bem abertos se apresentará com uma bande de seis músicos.
Seu primeiro CD "Cadáver pega fogo durante o velório" foi considerado um dos melhores discos independentes dos anos 80 e ganhou o prêmio Chiquinha Gonzaga (melhores independentes de 1983), ao lado de Paulo Moura, entre outros. Hoje esse disco é visto como produto cult, cultuado por grupos de roqueiros. Nele, todas as canções são assinadas por Fernando Pellon, sendo duas delas em parceria. Além do autor, cantam no disco de estréia seu parceiro Paulinho Lêmos, Cristina Buarque, Nadinho da Ilha e o então já septuagenário Synval Silva. Inicialmente projetado para conter doze faixas, padrão consagrado no formato LP, o disco acabou saindo com nove apenas, depois de passar praticamente um ano (1983) às voltas com a Censura Federal, naquele final do período da ditadura militar.
Agora, em plena democracia, Pellon está livre para compor e cantar o que bem quiser. No show – o primeiro de sua carreira - vai se apresentar com uma banda de seis músicos. Assim, o autor volta à cena musical tirando onda. Coube ao poeta e letrista Aldir Blanc fazer o texto de apresentação desse novo trabalho:
"O extraordinário autor Fernando Pellon é o "dotô" geólogo reverenciado mundialmente. O fato é que Pellon bate bem com as duas. As violentas e belas imagens que o CD apresenta, valorizadas pelo sempre minucioso trabalha de Jayme Vignoli, são diferentes de tudo que rola por aí com a máscara de "muderno".
Para Aldir Blanc, "música popular se faz com flores de plástico, mistura crime hediondo e mar de delícias,dejetos e desenganos, guimbas e gosmas, daltontrevisanianamente, com ecos de Nelsons, o Cavaquinho e o Rodrigues, a sombra da tuberculose rondando a Rosa da inspiração no buteco imundo, beijos e vômitos rolando com os desejaos pelos últimos degraus da vida."
Blanc resume assim a proposta musical de Fernando Pellon: "ele move-se à vontade nesse universo de beleza infame. Na cama, no carro, no beco escuro, a carícia mais sincera às vezes vem no aço freio de um punhal."
SERVIÇO:
Show "Aço frio de um punhal", entrada grátis, todas as idades
Venda e autógrafo do CD após do show - Preço: R$ 20,00
Couvert: R$ 5,00
Produção de lançamento: Lucia Helena Ramos (21-9829-1043)
www.estudiopv.com
Assessoria de Imprensa: Luis Turiba (21-8288-1825) - turibapoeta@gmail.com
www.myspace.com/fernandopellon
2 comentários:
Turiba, conheco e tenho o disco. Tenho também um grande amigo (Tutuque) que tem parceiria gravada nele. O projeto gráfico é lindo e as musicas tem força - o que não é facil na ambientacao do disco, né? Assino embaixo. F
Fabrízio Morelo Teixeira
Tragicamente Gênial!
Tem 3 anos que escuto esse cara quase todo dia!
Coisa rara!
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