Luis Turiba
Paulinho da Viola está usando óculos de lentes amarelas tipo aquelas
do roqueiro Bono Vox. Os cabelos totalmente brancos anunciam os 70
anos que se aproximam. Nesta sexta-feira ele passou duas horas no
histórico auditório da Rádio Nacional, na Praça Mauá, relembrando
histórias do pai, o chorão César Faria, que faria 93 anos se vivo
fosse. Fundador do conjunto Época de Ouro, ao lado de Jacob do
Bandolim e Dino Sete Cordas, César Faria integrou o grupo até o ano de
2006, e se apresentava regularmente na Rádio Nacional
A homenagem foi no programa "Época de Ouro", do jornalista-poeta
Cristiano Menezes. O auditório, com lugares para 300 pessoas, recebeu
o dobro.
Gripadaço, Paulinho se desculpou pela voz – "tive febre ontem" -, mas
cantou, contou e encantou a todos com belas histórias do mundo do
samba e do choro. Não poderia faltar no repertório musical o histórico
samba "14 Anos", que segundo ele não foi feito para César Faria, mas
para todos os pais daquela época. "Tinha eu catorze anos de idade/
quando meu pai me chamou/perguntou se eu queria/ estudar filosofia,
medicina ou engenharia/ tinha eu que ser doutor/ mas a minha
inspiração/ era ter um violão/ para me tornar sambista."
Paulinho revelou que, quando menino, ficava sempre próximo a Jacob do
Bandolim, observando, olhos nos olhos, o mestre afinar o instrumento.
Até que um dia Jacob pediu que ele trocasse as cordas do bandolim.
Para tanto, pedia sempre ao pai para ir às reuniões dos chorões:
"posso ir?", ao que César Faria respondia: "quem não toca, carrega." E
assim, o choro entrou em sua vida.
Paulinho da Viola cantou "Nova Ilusão", "Pelas ruas que sonhei", com
Nilze Carvalho; e os clássicos "Dança da Solidão", "Pecado Capital",
"Coração leviano", "Timoneiro" e sua inesquecível homenagem à Portela
– "Foi um dia que passou em minha vida". Depois, como sempre, muitas
fotos, autógrafos e a elegância de sempre no atendimento aos fãs.
O portelense que desfilou esse ano num carro abre-ala ao lado de
Marisa Montes, gostou da força tradicional do samba e da bateria da
escola de Madureira. Mantêm, porém, sua opinião sobre os espetáculos
do carnavalesco Paulo Barros – "se não compreender e absorver as
mudanças e as evoluções dos desfiles, como os apresentados pela Unidos
da Tijuca, vou ficar um velho chato e ultrapassado", declarou ele
recentemente. Mas histórico compositor da Portela diz que apreciou
muito o desfile da Vila Isabel e o trabalho da carnavalesca Rosa
Magalhães. "Ela é uma das tradições do carnaval carioca e não dá pra
descartá-la", diz Paulinho.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário