CHICO ANÍSIO, O CHAPLIN BRASILEIRO
Luis Turiba
Hoje foi um dia enfadonho, chato e triste que só poderia terminar com
uma chuva de lágrimas. Dia de se despedir de Chico Anísio, esse genial
brasileiro que nasceu e cresceu junto com a televisão em nosso país e
soube colocar em prática a máxima de Oswald de Andrade: "a alegria é a
prova dos noves". Como milhares de cariocas, também fui me despedir
dele no Theatro Municipal.
Ao me postar perante o corpo daquele ancião de cabelos brancos e
feições tranqüila de missão cumprida, em questão de segundos me passou
à mente um breve filme (quase um clipe) sobre minha feliz infância ao
lado de meus pais e minha irmã em subúrbios do Rio de Janeiro. Já não
me lembro bem se foi na Rua Dona Claudina, o Méier; ou Heráclito
Graças, no Lins. Papai tinha um bom emprego e pode comprar uma
televisão. Ali, naquela sala de jantar familiar da nossa casa de vila,
começamos a assistir inúmeros programas antes ou depois do Repórter
Esso: "Chico City", desse não dá pra esquecer.
Ao nos deixar convivendo com a extraordinária galeria de seus 209
personagens, um dos mais fantásticos e fiéis painéis da sociedade
brasileira nesses últimos 50 anos – material esse que será um dia Tese
de Mestrado e orgulho para antropológicas academias -, Chico Anísio
nos empurrou, a todos, num túnel do tempo em preto e branco. Para além
do aspecto artístico, cultural e sociológico da sua atuação na TV
brasileira, a morte de Chico Anísio despertou na gente um saudosismo
de não sei o quê, uma nostalgia inexplicável, uma saudade tipo
papai-mamãe.
Chico Anísio sempre teve um espaço nobre na televisão. Além de
programas próprios, foi cronista do Fantástico e lançou, por
intermédio da Escolinha do Professor Raimundo, toda uma nova geração
de artistas e humoristas. Mas também resgatou comediantes que estavam
no esquecimento. Todos são unânimes em afirmar que ele era um cara
generoso que olhava o passado com visão de futuro. Ou vice-versa?
Foi moderno e tropicalista quando se transvestiu de Bahiano e seus
Novos Caetanos; desafiou ditadores com a Velhinha Gaúcha que
conversava com o ex-presidente João Batista Figueiredo. O que dizer de
Bento Carneiro, o vampiro brasileiro; o pai de santo baiano Painho,; o
marrento Alberto Roberto , o gay Enrustido e o atualíssimo político
corrupto Justo Veríssimo, personagem que parece ter nascido nos
currais da política nacional.
Foram mais de 60 anos de dedicação à criação, ao riso e as hilárias
tiradas e bordões que retratavam a vida brasileira em todos os seus
ângulos. Erraram feio os que apostaram que seu humor havia ficado
velho e superado. Enquanto teve força e saúde, Chico Anísio aprontou
e jamais pensou em aposentadoria. Sonhou até que morreria trabalhando
no Projac. Agora que partiu, sua galera se sentirá em liberdade, como
um Chaplin de um filme mudo, para povoar a imaginação do mestiço povo
brasileiro. A identificação é total, a começar pelo bolso, pois o
"salário...ó."
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Ou a gente se Raoni
Ou a gente se Sting
Luis Turiba
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Um comentário:
Meio que parafraseando Jô Sosares, agora, a frase "ninguem é insubstituível precia ser repensada, pois o chico tornou meio absurdo, ou pelo menos relativo o seu sentido literal!!
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