Documentário mostra facetas desconhecidas de medalhões da MPB
Chico Buarque, Caetano, Gil, Edu Lobo aparecem em 'Uma noite em 67'.
Longa mostra a noite da final do Festival da Música Popular Brasileira do ano.
Ronaldo Pelli Do G1 RJ
"A gente comemorou a entrevista do Chico, saiu para tomar um chope. Não acreditamos que ele tinha falado isso para a gente", comenta Terra.
O longa começou idealizado como um apanhado da época dos festivais e terminou com um recorte da final do concurso de 1967. A noite foi uma das mais marcantes da História da música brasileira, com direito a Sérgio Ricardo quebrando seu violão sob vaias, guitarras recém-incorporadas ao repertório nacional e um certo grupo iniciante chamado Mutantes, além, é claro, de cantores e músicas que entraram para o imaginário nacional.
"A gente lidou com memória, que é algo muito delicado, muito fugidia", afirma Calil, dando outro exemplo de Chico. "Em alguns momentos a gente conseguiu esse milagre que é eles [os entrevistados] darem declarações que não estavam no discurso. Que o 'gene' da memória despertou alguma coisa. Como quando o Chico fala que era duro ser considerado velho com 23 anos."
Ou ainda como é estranho ver um homem de quase 70 anos dizer que uma de suas músicas mais conhecidas nasceu por conta de uma composição de outra pessoa. Seria só estranho se esse sujeito não fosse Caetano Veloso, a música não fosse "Alegria, alegria", e o outro compositor não fosse Chico Buarque, com a sua "A banda" (veja ao lado vídeo exclusivo).
"Nos depoimentos e nas imagens de arquivo, eles revelam muito como artistas", argumenta Terra. "Caetano é aquele cara mais intelectual, mais cerebral, que está pensando em coisas que vão além da música, o tempo todo. O Chico é um cara brincalhão e que tem uma obra musical densa, relevantíssima. O Gil, que já é um cara mais sensível ao seu tempo, à sua vida. E o Edu, que é o 'músico-músico', que se dedica à música. O filme consegue dar a dimensão de quem é cada um."
Para isso, os dois disseram que estudaram e pesquisaram o período e cada um dos envolvidos com o festival desde 2003.
"Quando a gente foi entrevistar o Chico Buarque e perguntou por que ele se sentia muito sozinho com 23 anos, ele respondeu: 'não, não existia esse negócio'. Então, a gente retrucou: 'mas você escreveu um artigo para o jornal [intitulado] 'Nem toda loucura é genial, nem toda lucidez é velha', na época. E ele: 'é, porque eu estava muito pesado'", lembra Terra.
Além disso, os dois colheram muito material e se deixaram levar por um clima de improvisação.
"A gente fez cerca de 30 entrevistas, 70 horas de filmagens e depoimentos, fora o arquivo, e infelizmente não deu para botar muita coisa, muita coisa relevante, e uma parte do material vai estar contemplada no DVD", explica Calil. Esperemos, após a estreia, o lançamento.