Em homenagem ao Clésio Ferreira
Amigos:
Ontem nos despedimos do Clésio Ferreira, irmão do Climério e do Clôdo, com quem compunha canções tão lindas que estão consagradas no gosto de tantos brasileiros que admiram suas artes. Cantou pra subir, depois de uma enfermidade longa e sofrida, em que não reconhecia mais ninguém. Foi uma das figuras humanas mais doces que conhecí, com todo seu talento e simplicidade, e deixa uma marca profunda no coração daqueles que tiveram o privilégio de ouví-lo cantar e foram seus amigos. Brasília, Piauí, Timón e o Brasil ficam mais pobres, e nós, com uma saudade enorme, do poeta-compositor magrinho, de cabelo e barba enroladinhos, que tocava violão com o cigarro agarrado no bico, atendendo a todos os pedidos que podia. Valeu Clésio! Vais melhorar os saraus aí nessa Peixaria de Deus.
Paulão de Varadero.
SAUDADES DA PEIXARIA
VARADERO
(para Clésio Ferreira)
"...Ano passado eu morri, mas esse ano eu não morro..."
(Zé Limeira, O Poeta do Absurdo)
Tenho perdido tantas pessoas amigas
Pessoas tão generosas, tão boas
Ando cansado de enterros
E desse cruel cemitério no final da W-3
A morte tem sido medonha
Tem sido cansativa em sua rotina
Na minha alma, nas retinas
Tenho chorado tanta gente
Alguns com mortes tão sofridas
Outros que furaram a fila em tresloucada corrida
E até aqueles poucos, que passam tranquilamente
Ando com os sapatos empoeirados de fúnebre areia fina
Cansado dos necrotérios, dos crematórios, dos cemitérios
Cansado da morte, da nossa sina, dessa macabra rotina
Velar, orar, chorar, perder, enterrar, encomendar amigos
Meu pai, minha mãe, meu tio, minha tia, entes queridos
Relembro João Cabral , sua cruel Morte e Vida Severina
Relembro Augusto dos Anjos, o poeta arcanjo da Paraíba:
"Recife, Ponte Buarque de Macedo, Eu indo em direção à Casa do Agra,
Assombrado com minha sombra magra, Pensava na morte e tinha medo..."
Mas no meu caso, aqui no Distrito Federal, no cemitério local
O "Campo da Esperança" passou a ser frequentadíssimo ponto
Tenho perdido tantos amigos do peito, irmãos de fé, tantos...
Mas não me acostumo com a morte, sempre me espanto
Nem quero morrer tão cedo, não vou, não estou pronto!
A Peixaria, na 216 Norte, fechou, não tem mais saraus nos dias de sábado
Adriana que encantava, e Clésio, que cantava e tocava, pediram a conta
Ano passado eu morri, mas ano que vem eu não morro, vou tomar todas
No bloco do Pacotão, que para lá na Asa Sul, vou derrubar os governos
E as Virgens da Ponta da Asa, que saía lá da Peixaria, vou comê-las todas
Quando chegar dezembro, estarei vivo, bêbado, com o meu samba pronto
Se Deus deixar, ano que vem eu apronto!
Um comentário:
Caríssimos,
Fiquei muito triste com a morte do Clésio. Trabalhamos juntos na Fundação Educacional no tempo do Fábio Bruno que também já se foi de viagem. A gente freqüentava muito a peixaria e também me lembro da Adriana ...
Paulão querido, muita linda sua homenagem a todos os amigos especiais que partiram em busca de outros caminhos..
Soube da morte do Jimi pela Graça e meu coração ficou partido...
beijos pra você pro Turiba da
Sandra Maria
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