quinta-feira, 8 de julho de 2010

Clésio Ferreira e a Peixaria (Por: Paulão de Varadero)


Em homenagem ao Clésio Ferreira


 Amigos:
 
Ontem nos despedimos do Clésio Ferreira, irmão do Climério e do Clôdo, com quem compunha canções tão lindas que estão consagradas no gosto de tantos brasileiros que admiram suas artes. Cantou pra subir, depois de uma enfermidade longa e sofrida, em que não reconhecia mais ninguém. Foi uma das figuras humanas mais doces que conhecí, com todo seu talento e simplicidade, e deixa uma marca profunda no coração daqueles que tiveram o privilégio de ouví-lo cantar e foram seus amigos. Brasília,  Piauí, Timón e o Brasil ficam mais pobres, e nós, com uma saudade enorme, do poeta-compositor magrinho, de cabelo e barba enroladinhos, que tocava violão com o cigarro agarrado no bico, atendendo a todos os pedidos que podia. Valeu Clésio! Vais melhorar os saraus aí nessa Peixaria de Deus.   

  
Paulão de Varadero.
 

                SAUDADES DA PEIXARIA

                                                                     VARADERO

                                                                 (para Clésio Ferreira)


     "...Ano passado eu morri, mas esse ano eu não morro..."

                                             (Zé Limeira, O Poeta do Absurdo)

 


Tenho perdido tantas pessoas amigas

Pessoas tão generosas, tão boas

Ando cansado de enterros

E desse cruel cemitério no final da W-3

A morte tem sido medonha

Tem sido cansativa em sua rotina

Na minha alma, nas retinas

Tenho chorado tanta gente

Alguns com mortes tão sofridas

Outros que furaram a fila em tresloucada corrida

E até aqueles poucos, que passam tranquilamente


Ando com os sapatos empoeirados de fúnebre areia fina

Cansado dos necrotérios, dos crematórios, dos cemitérios

Cansado da morte, da nossa sina, dessa macabra rotina

Velar, orar, chorar, perder, enterrar, encomendar amigos

Meu pai, minha mãe, meu tio, minha tia, entes queridos

Relembro João Cabral , sua cruel Morte e Vida Severina

Relembro Augusto dos Anjos, o poeta arcanjo da Paraíba:

"Recife, Ponte Buarque de Macedo, Eu indo em direção à Casa do Agra,

Assombrado com minha sombra magra, Pensava na morte e tinha medo..."


Mas no meu caso, aqui no Distrito Federal, no cemitério local

O "Campo da Esperança" passou a ser frequentadíssimo ponto

Tenho perdido tantos amigos do peito, irmãos de fé, tantos...

Mas não me acostumo com a morte, sempre me espanto

Nem quero morrer tão cedo, não vou, não estou pronto!


A Peixaria, na 216 Norte, fechou, não tem mais saraus nos dias de sábado

Adriana que encantava, e Clésio, que cantava e tocava, pediram a conta

Ano passado eu morri, mas ano que vem eu não morro, vou tomar todas

No bloco do Pacotão, que para lá na Asa Sul, vou derrubar os governos

E as Virgens da Ponta da Asa, que saía lá da Peixaria, vou comê-las todas

Quando chegar dezembro, estarei vivo, bêbado, com o meu samba pronto


Se Deus deixar, ano que vem eu apronto!


 

Um comentário:

Unknown disse...

Caríssimos,

Fiquei muito triste com a morte do Clésio. Trabalhamos juntos na Fundação Educacional no tempo do Fábio Bruno que também já se foi de viagem. A gente freqüentava muito a peixaria e também me lembro da Adriana ...

Paulão querido, muita linda sua homenagem a todos os amigos especiais que partiram em busca de outros caminhos..

Soube da morte do Jimi pela Graça e meu coração ficou partido...

beijos pra você pro Turiba da

Sandra Maria